Semana de 17 a 23 de junho de 2024
Rosângela Palhano Ramalho [i]
Esta semana os holofotes do noticiário
econômico estiveram sobre o Copom. Em sua 6ª reunião do ano vigente, o Comitê
de Política Monetária deliberou sobre o percentual da taxa de juros interna.
Desde a semana passada que se produz um roteiro. Finalmente, chegou o grande
dia, e os atores entraram em cena! E, de novo, representaram brilhantemente
seus papeis, pois mantiveram o script desejado pelo mercado financeiro, que não
só esperava o rompimento dos cortes, mas “exigia” uma “decisão unânime”. O país
que detém a segunda maior taxa de juros real do mundo, “precisava” demonstrar
que tem uma autoridade monetária “autônoma”. As sete quedas consecutivas da
Selic foram interrompidas e a taxa foi mantida em 10,5% ao ano. Em nota, o
Copom afirma que as incertezas econômicas externas, a elevação das projeções de
inflação, as expectativas desancoradas e a “resiliência na atividade” exigem
“cautela”.
Assistindo o episódio atentamente, é
possível ver falhas na execução da película. O atual sistema de metas
inflacionárias considera a variação de 1,5 ponto percentual para cima e para
baixo da meta estipulada, que é de 3%. O último Boletim Focus apurou que a
projeção do IPCA para este ano aumentou de 3,90% para 3,96%, portanto a
projeção de alta inflacionária está longe de comprometer o teto da meta, sendo
o descontrole da inflação uma mera obra de ficção! Além disso, em seu
comunicado, o Copom usa o termo “resiliência” para demonstrar sua insatisfação
com a economia que “insiste” em crescer. O clima de suspense foi criado e não
se sabe qual o roteiro do próximo capítulo. E, para completar, um pouco de
terror: “a política monetária deve se manter contracionista por tempo
suficiente em patamar que consolide não apenas o processo de desinflação, como
também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas.”
Para a infelicidade de alguns, a economia
segue crescendo. Os dados do primeiro semestre mostram que o impulso se deu
pela melhoria da renda e espera-se que no segundo semestre, o crédito seja o
carro-chefe em virtude das quedas seguidas dos juros. Temendo a interrupção da
recuperação econômica, o presidente reclamou. Lula sabia que a taxa de juros
seria mantida e bradou o mais alto que pôde contra o Banco Central, parte
integrante do Copom. Em entrevistas, afirmou que a única “coisa desajustada” é
o “comportamento do Banco Central”, já que seu presidente “não tem nenhuma
capacidade de autonomia” pois tem “lado político”. Lula referia-se ao jantar
oferecido a Campos Neto pelo governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, que
ele aceitou sem nenhum pudor. Entre políticos e banqueiros, o presidente do
Banco Central saiu do evento como ministro da Fazenda do anfitrião caso seja
eleito presidente em 2026. A imprensa não se furtou em rememorar outros
episódios em que Campos Neto demonstrou ser capacho da extrema-direita:
frequentava churrascos na residência oficial quando Bolsonaro era presidente;
nas eleições de 2022, votou fantasiado de verde e amarelo e, estava inscrito em
um grupo de mensagens que referendava os atos golpistas de 08 de janeiro de
2023.
Concretizada a manutenção da taxa de juros,
Lula sustentou as críticas: “Foi uma pena que o Copom manteve os juros porque
quem está perdendo é o povo brasileiro. Quanto mais alto os juros, menos
dinheiro sobra para a gente investir aqui dentro.” E ele tem razão. Um cálculo
simples encomendado e divulgado pelo Jornal Valor Econômico, mostra que a
manutenção da taxa básica em 10,5% trará um custo anual de R$ 78 bilhões para
as empresas e pode afetar os investimentos de longo prazo. Com uma taxa de
9,5%, o peso do juro seria de R$ 70,6 bilhões e se fosse de 9%, seria de R$
66,9 bilhões. Houve reação dos empresários. A Abimaq, associação da indústria
de máquinas e equipamentos, e a CNC e CNI, confederações do comércio e
indústria, reclamaram. Elas temem que “a dose do remédio” se transforme “em
veneno” e consideraram a decisão “inadequada e excessivamente conservadora.”
No fechamento do capítulo desta série, Campos Neto aspirou o papel de protagonista e Lula que não é amador, o expôs como vilão. E de uma só vez, ao criticar as ações do Copom, provocou a decisão unânime que era desejada pelo mercado, desgastou a imagem de Campos Neto e ainda protegeu da pressão o diretor de Política Monetária do Comitê, Gabriel Galípolo, seu candidato à presidência do Banco Central. O presidente, demonstra habilidade em se esquivar dos ataques ao seu governo. Assim, o making-of dos próximos episódios vai sendo produzido. Aguardemos as novas cenas...
[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e
pesquisadora do PROGEB (@progebufpb, www.progeb.blogspot.com; rospalhano@yahoo.com.br,
rosangelapalhano31@gmail.com). Colaboraram os pesquisadores: Brenda Tiburtino,
Valentine de Moura, Paulo Victor Carneiro e Raquel Lima.
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