quarta-feira, 17 de julho de 2024

A economia, a aprovação de Lula e o próximo ataque do “mercado”

Semana de 08 a 14 de julho de 2024

 

Lucas Milanez de Lima Almeida [i]

 

A semana passada terminou com boas notícias para Lula. Como se noticiou nos principais veículos de comunicação (não tanto quanto se fosse uma notícia ruim), o aumento da aprovação do presidente foi captado por mais um instituto de pesquisa. Dessa vez, foi a Quaest que, em julho de 2024, registrou que 54% dos brasileiros aprovam o trabalho que o presidente Lula está fazendo. Esse percentual está acima dos 50% de maio de 2024, mas bem abaixo dos 60% de agosto de 2023 (a máxima desse terceiro mandato).

A pesquisa já trouxe indicativos relevantes sobre o motivo da aprovação. Na seara econômica, ela melhorou, pois o Brasil aumentou a contratação de trabalhadores e a renda por eles recebida, sobretudo para quem ganha menos. O trabalho de Lula só é mais desaprovado do que aprovado dentre aqueles que recebem mais de 5 salários mínimos, 54% contra 42%, respectivamente. Dentre os que têm renda entre 2 e 5 salários mínimos, a aprovação é de 50% e a desaprovação, 47%. Por sua vez, a esmagadora maioria dos que ganham até 2 salários mínimos aprova o governo Lula 3 (69% contra 26%).

Não demorou e muitas foram as análises que relativizaram esses dados. Naturalmente, pesquisa de opinião é um bom o marco sobre o que a população acha de um governante. Mas, certamente, alguns eventos próximos à pesquisa podem ajudar ou atrapalhar no resultado. Nesse contexto, os que buscaram desqualificar a melhoria na opinião pública sobre Lula apontaram como fator importante os discursos recentes do presidente sobre três temas específicos, chamando-os de “populistas”: a defesa da valorização do salário mínimo e dos benefícios sociais, a defesa da isenção da carne como item da cesta básica e as críticas às altas taxas de juros (política do Banco Central).

Porém, curiosamente, esses são os pontos que o “mercado” normalmente ataca quando o assunto é a “disciplina” fiscal. São, principalmente, as políticas que beneficiam a parte mais numerosa da população brasileira, a dos pobres. E não são poucos os que defendem cortes de gastos a todo custo. Por exemplo, alguns até propõem a desvinculação das aposentadorias e dos benefícios sociais do salário mínimo. Sabe o que isto significa? Significa que os aposentados e os atendidos por programas de renda mínima não teriam reajuste nos seus benefícios, quando os salários se reajustassem. Ou seja, em algum momento algumas famílias passariam a receber um rendimento abaixo do (salário) mínimo previsto em lei. Para os demais que recebem um pouco mais que o mínimo, por causa da inflação, restaria consumir cada vez menos remédios, alimentos, lazeres, etc.

Ideias desse tipo são muito velhas e começaram a surgir ainda nos anos 1960, como uma crítica ao chamado Estado de Bem-Estar Social. Este era um pacto social onde, através do Estado, os ganhos econômicos eram mais bem distribuídos entre empresários e trabalhadores. Havia políticas de manutenção do emprego, da produção e da renda. Havia assistência social efetiva para a classe trabalhadora. Mas, a grave crise dos anos 1970 escancarou uma dura realidade: no capitalismo, o Estado não pode gerir o “mercado” em condições “normais”. Seria necessário, defendiam eles à época e os nossos liberais atuais, que o “mercado” voltasse a regular a geração e a distribuição da riqueza. Ao Estado só caberia aparar algumas arestas neste processo. Vieram, então, as reformas neoliberais.

Historicamente, o PT sempre foi o principal partido brasileiro quando o assunto é a luta pelos direitos dos trabalhadores. Contudo, para chegar ao poder, os presidentes eleitos pelo partido, Lula e Dilma (ele mais do que ela), cederam às mais diversas pressões vindas das cantigas neoliberais. É compreensível que essas concessões ao empresariado aconteçam em alguma medida, afinal, esse ainda é o capitalismo. Mas, o tamanho do golpe sobre a classe trabalhadora sempre vai depender da conjuntura econômica do país, bem como da correlação de forças entre as classes e frações de classes sociais (as disputas entre elas pela apropriação da riqueza e pelo poder político).

Lula já prometeu que não mexeria no orçamento que atende aos mais pobres (provavelmente, a classe média é quem vai pagar). Porém, a situação econômica atual, apesar de melhor, ainda está longe daquela dos anos 2000. Como o Congresso Nacional e o Banco Central têm jogado contra, resta à opinião pública ser o contrapeso dessa inevitável disputa. Sabendo disso, estejam certos de que o “mercado”, cada vez mais, vai defender as reformas que atingem diretamente os mais pobres e, indiretamente, seu maior inimigo, a popularidade do Presidente da República.


[i] Professor do DRI/UFPB, do PPGCPRI/UFPB e do PPGRI/UEPB; Coordenador do PROGEB. (@progebufpb, www.progeb.blogspot.com; @almeidalmilanez; lucasmilanez@hotmail.com). Colaboraram: Ryann Félix, Maria Vitória Freitas, Maria Fernanda Vieira, Lara Souza, Valentine de Moura, Gustavo Figueiredo e Paola Arruda.

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