Semana de 08 a 14 de julho de 2024
Lucas Milanez de Lima
Almeida [i]
A
semana passada terminou com boas notícias para Lula. Como se noticiou nos
principais veículos de comunicação (não tanto quanto se fosse uma notícia
ruim), o aumento da aprovação do presidente foi captado por mais um instituto
de pesquisa. Dessa vez, foi a Quaest que, em julho de 2024, registrou que 54%
dos brasileiros aprovam o trabalho que o presidente Lula está fazendo. Esse
percentual está acima dos 50% de maio de 2024, mas bem abaixo dos 60% de agosto
de 2023 (a máxima desse terceiro mandato).
A
pesquisa já trouxe indicativos relevantes sobre o motivo da aprovação. Na seara
econômica, ela melhorou, pois o Brasil aumentou a contratação de trabalhadores
e a renda por eles recebida, sobretudo para quem ganha menos. O trabalho de
Lula só é mais desaprovado do que aprovado dentre aqueles que recebem mais de 5
salários mínimos, 54% contra 42%, respectivamente. Dentre os que têm renda
entre 2 e 5 salários mínimos, a aprovação é de 50% e a desaprovação, 47%. Por
sua vez, a esmagadora maioria dos que ganham até 2 salários mínimos aprova o
governo Lula 3 (69% contra 26%).
Não
demorou e muitas foram as análises que relativizaram esses dados. Naturalmente,
pesquisa de opinião é um bom o marco sobre o que a população acha de um
governante. Mas, certamente, alguns eventos próximos à pesquisa podem ajudar ou
atrapalhar no resultado. Nesse contexto, os que buscaram desqualificar a
melhoria na opinião pública sobre Lula apontaram como fator importante os
discursos recentes do presidente sobre três temas específicos, chamando-os de
“populistas”: a defesa da valorização do salário mínimo e dos benefícios
sociais, a defesa da isenção da carne como item da cesta básica e as críticas
às altas taxas de juros (política do Banco Central).
Porém,
curiosamente, esses são os pontos que o “mercado” normalmente ataca quando o
assunto é a “disciplina” fiscal. São, principalmente, as políticas que
beneficiam a parte mais numerosa da população brasileira, a dos pobres. E não
são poucos os que defendem cortes de gastos a todo custo. Por exemplo, alguns
até propõem a desvinculação das aposentadorias e dos benefícios sociais do
salário mínimo. Sabe o que isto significa? Significa que os aposentados e os
atendidos por programas de renda mínima não teriam reajuste nos seus
benefícios, quando os salários se reajustassem. Ou seja, em algum momento
algumas famílias passariam a receber um rendimento abaixo do (salário) mínimo
previsto em lei. Para os demais que recebem um pouco mais que o mínimo, por
causa da inflação, restaria consumir cada vez menos remédios, alimentos,
lazeres, etc.
Ideias
desse tipo são muito velhas e começaram a surgir ainda nos anos 1960, como uma
crítica ao chamado Estado de Bem-Estar Social. Este era um pacto social onde,
através do Estado, os ganhos econômicos eram mais bem distribuídos entre
empresários e trabalhadores. Havia políticas de manutenção do emprego, da
produção e da renda. Havia assistência social efetiva para a classe
trabalhadora. Mas, a grave crise dos anos 1970 escancarou uma dura realidade:
no capitalismo, o Estado não pode gerir o “mercado” em condições “normais”.
Seria necessário, defendiam eles à época e os nossos liberais atuais, que o
“mercado” voltasse a regular a geração e a distribuição da riqueza. Ao Estado
só caberia aparar algumas arestas neste processo. Vieram, então, as reformas neoliberais.
Historicamente,
o PT sempre foi o principal partido brasileiro quando o assunto é a luta pelos
direitos dos trabalhadores. Contudo, para chegar ao poder, os presidentes
eleitos pelo partido, Lula e Dilma (ele mais do que ela), cederam às mais
diversas pressões vindas das cantigas neoliberais. É compreensível que essas
concessões ao empresariado aconteçam em alguma medida, afinal, esse ainda é o
capitalismo. Mas, o tamanho do golpe sobre a classe trabalhadora sempre vai
depender da conjuntura econômica do país, bem como da correlação de forças
entre as classes e frações de classes sociais (as disputas entre elas pela
apropriação da riqueza e pelo poder político).
Lula já prometeu que não mexeria no orçamento que atende aos mais pobres (provavelmente, a classe média é quem vai pagar). Porém, a situação econômica atual, apesar de melhor, ainda está longe daquela dos anos 2000. Como o Congresso Nacional e o Banco Central têm jogado contra, resta à opinião pública ser o contrapeso dessa inevitável disputa. Sabendo disso, estejam certos de que o “mercado”, cada vez mais, vai defender as reformas que atingem diretamente os mais pobres e, indiretamente, seu maior inimigo, a popularidade do Presidente da República.
[i] Professor do DRI/UFPB, do PPGCPRI/UFPB e do PPGRI/UEPB;
Coordenador do PROGEB. (@progebufpb, www.progeb.blogspot.com; @almeidalmilanez; lucasmilanez@hotmail.com). Colaboraram: Ryann Félix, Maria Vitória Freitas, Maria
Fernanda Vieira, Lara Souza, Valentine de Moura, Gustavo Figueiredo e Paola
Arruda.
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