Semana de 15 a 21 de julho de 2024
Rosângela Palhano Ramalho [i]
Caro leitor, há algum tempo os indicadores
da economia brasileira vêm apresentando sinais animadores. Mas precisamos usar
um filtro depurador no noticiário, pois tornou-se rotina, o uso do “se”, do
“mas” e do “apesar”, quando se trata de reconhecer que a atividade econômica
está aquecida e que o governo tem contribuído para tal. De um lado, temos as
viúvas do bolsonarismo, que, como fiéis participantes de uma seita, ignoram os
crimes de seu líder e ainda atacam os acertos do atual mandatário. De outro, temos
um grupo inebriado por um instrumental teórico comprovadamente falho, a
destilar seu horror à política econômica direcionada aos pobres e aos efeitos
produzidos por ela.
O fato é que o recuo dos juros iniciado em
agosto de 2023 melhorou as condições de financiamento interno, favorecendo o
consumo e a atividade produtiva. Estes efeitos passaram a ser observados já no
último trimestre de 2023 e foram consolidados no crescimento de 0,8% no
primeiro trimestre de 2024. O Instituto de Estudos para o Desenvolvimento
Industrial (Iedi), apurou a melhora das condições internas e a atribuiu ao
ciclo de queda dos juros, fazendo com que o crescimento da indústria se
situasse acima da média mundial. Em ranking composto por 116 países o Iedi
posicionou a produção industrial brasileira no primeiro trimestre deste ano
entre as 50 melhores, com o Brasil ocupando a 45ª colocação. Outros dois
levantamentos, divulgados esta semana, confirmam esta tendência. A LCA
Consultoria, registrou recordes nas demissões voluntárias entre abril e maio.
Este é um indicador importante porque mostra que o mercado de força de trabalho
está aquecido ao ponto de os trabalhadores estarem se afastando, a pedido, para,
provavelmente ocuparem postos de trabalho com maior nível de remuneração. Outra
sondagem importante foi feita pela Eletros, associação dos fabricantes de
eletrônicos, eletrodomésticos e portáteis. As indústrias do setor bateram
recorde de vendas no primeiro semestre do ano, alcançando o volume de 51,5
milhões de unidades vendidas ao varejo, alta de 34%, quando comparada a 2023.
Quando olhamos para o agregado nacional,
percebe-se que o crescimento econômico extrapolou o primeiro trimestre. Segundo
o Monitor do PIB da Fundação Getúlio Vargas (FGV), a economia brasileira
cresceu 0,3% em maio, perante abril. É o melhor resultado dos primeiros cinco
meses do ano e, segundo o órgão, a alta foi impulsionada pelos investimentos
produtivos, já que a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) subiu 4,5% no
trimestre finalizado em maio. Novas compras de máquinas e equipamentos provocam
um efeito de arrastamento em toda a economia, já que a capacidade produtiva do
país está sendo ampliada.
Um alento vem do Sul. A queda da economia
gaúcha causada pelas enchentes foi revertida rapidamente devido a intervenção
dos governos. Embora a economia do Rio Grande do Sul tenha registrado queda de
9% em maio, em relação a junho, segundo o Índice de Atividade Econômica
Regional do Banco Central (IBCR), a economia brasileira, cresceu 0,25% no mesmo
período, de acordo com o Índice de Atividade Econômica do Banco Central
(IBC-Br). O indicador trimestral da economia gaúcha, que comporta juntos os
meses de março, abril e maio, registrou alta de 0,2%, revertendo o resultado de
maio. Junho começou com números animadores. O Itaú Unibanco apurou que a
contração de 27,9%, em maio, das transações realizadas via cartão de crédito ou
pix para o setor de serviços foi revertida para alta de 1,2%. A queda de 16,7%
das compras de bens do varejo ampliado, reverteu-se em alta de 20,1%, e outras
recuperações significativas foram registradas nos setores de material de
construção, móveis e eletrodomésticos e no segmento de escritório, informática
e comunicação. Com isso, as perspectivas pessimistas relativas ao impacto no
PIB nacional estão sendo revertidas.
O Ministério da Fazenda resolveu não mudar
a previsão e continua projetando um crescimento de 2,5% do PIB para este ano, e
o presidente Lula chegou a afirmar que “se o dinheiro que colocamos em
circulação nesse país estiver rodando, a gente vai crescer mais do que 2,5%.”
Tal percepção foi reafirmada pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que
cogitou a revisão para cima da taxa oficial já nos próximos dias.
Portanto, parece redundante alertar que esta é a realidade e que não adianta fingir que ela inexiste. Entretanto, o jornalismo econômico está repleto de opiniões impregnadas de ranços políticos e ideológicos que comprometem as análises e ajudam a propagar ignorância. Agora, a imprensa é obrigada a noticiar mais um dissabor: o aquecimento da economia. O resultado reforça que as “vontades” – nem boas, nem más – não impedem a evolução dos fatores objetivos que conduzem a economia. Gostem ou não... E pelo visto, o segundo semestre estará guarnecido de boas notícias no âmbito econômico.
[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e
pesquisadora do PROGEB (@progebufpb, www.progeb.blogspot.com; rospalhano@yahoo.com.br,
rosangelapalhano31@gmail.com). Colaboraram os pesquisadores: Brenda Tiburtino,
Valentine de Moura, Gustavo Figueiredo e Raquel Lima.
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