sexta-feira, 30 de agosto de 2024

É PRECISO DERRUBAR O GOVERNO LULA

Semana de 19 a 25 de agosto de 2024

 

Nelson Rosas Ribeiro[i] 

           

A canalha bolsonarista está em pânico. Os números fortes da atividade econômica continuam a demonstrar o que nós já apresentamos em nossas últimas análises: a economia está crescendo. O presidente do Banco Central (BC) Roberto Campos Neto voltou a ameaçar raivoso, que o BC está vigilante e, embora os dados digam o contrário, não permitirá que a inflação ultrapasse o teto da meta, o que significa aumentar a taxa de referência Selic. Na análise anterior mostramos dados que comprovavam este crescimento. Agora novos dados, para junho, são apresentados, e apontam na mesma direção. Até o “mercado” admite, contrariado, que, em 2024, o crescimento ficará na casa dos 2,5%. O próprio BC divulgou o seu índice IBC-Br, que é uma estimativa do PIB, e confirma este resultado. Diante disto as consultorias começaram a rever suas previsões. O J.P. Morgan elevou a sua de 2,5% para 2,9%. O Banco ABC Brasil, de 2,4% para 2,6%; a Kinitro Capital e a Terra Investimentos, de 2,5% para 2,6%; a G5 Partners, de 2,3% para 2,5%; o Bank of America (BofA), de 2% para 2,7%; o Santander, de 2% para 2,3% etc., com o comentário da economista do banco, Ana Paula Vescovi, “Estamos impressionados com a atual força da economia brasileira”.

Há mais dados sobre o crescimento. A Fundação Getúlio Vargas (FGV) divulgou o seu índice Nuci, Nível de Utilização de Capacidade Instalada, para a indústria da transformação. Ficou em 83,40 pontos, o maior desde maio de 2011. Este índice mostra que a indústria está produzindo no seu limite e isto foi a resposta dada a uma queda violenta nos níveis de estoques, o que é um reflexo do aumento da demanda. Com efeito, a produção da indústria cresceu 4,1% em junho, segundo o IBGE, e deve continuar a crescer.

A Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) divulgou a informação que a indústria de máquinas e equipamentos teve um crescimento da produção de 2,4%, em junho, em relação a maio. A Associação Brasileira da indústria de Material Plástico também prevê crescimento da produção para atender à crescente demanda da indústria de embalagens, principalmente para a indústria de alimentos, eletrônicos, bebidas e automóveis, o que demonstra o crescimento também destas atividades. 

Como vemos, apesar de toda a sabotagem do congresso e do Banco Central, que tentam dificultar por todos os meios as ações do governo para estimular o crescimento, o país cresce. Aí está a origem do desespero da canalha bolsomínia. Se há crescimento da economia, o povo se beneficia e o governo Lula se fortalece, aumentando a possibilidade de reeleição. O Congresso, enquanto fala no excesso de gastos do governo, cria novas despesas, como as emendas, ou esmaga as receitas, com as desonerações. Só o poder judiciário (STF) tem enfrentado os abusos. Curiosamente todos os parlamentares aprovam as tais emendas visando seus próprios interesses, até mesmo dos partidos da base do governo e mesmo de esquerda.

O objetivo das forças de oposição é muito claro. Uma vez perdidas a eleições e fracassado o golpe, tentam manipular os mecanismos, que a democracia garante, para realizar todo tipo de sabotagem. É preciso derrotar o governo Lula, impedindo-o de governar, mesmo que, para isto, se tenha de desorganizar e destruir o país.

Não basta a dificuldade que o governo enfrenta, diante do caos deixado pela incompetência e demência ideológica do governo anterior. Agora, para realizar todo o processo de reconstrução, tem-se de enfrentar a sabotagem de um Congresso corrupto e conservador, de grupos fanáticos religiosos, de partidos reacionários e golpistas, de um Banco Central dirigido por agentes do mercado financeiro. Cada um em seu terreno específico e usando métodos diferentes, agem na direção do mesmo objetivo: é preciso impedir o governo de governar e concorrer à reeleição.

Este quadro tem que ser alterado sob pena de caminharmos para um novo golpe. Eis a grande importância das eleições que se aproximam. Nenhum voto para os sabotadores e reacionários.


[i] Economista, Professor Emérito da UFPB e Vice Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com). Colaboraram os pesquisadores: Paola Arruda, Brenda Tiburtino, Lara Souza, Raquel Lima e Guilherme de Paula.

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quinta-feira, 22 de agosto de 2024

Copom informa: desemprego baixo não será tolerado!

Semana de 12 a 18 de agosto de 2024

 

Rosângela Palhano Ramalho [i]

            

Se o leitor está atento às notícias econômicas da última semana, percebeu que, apesar das barreiras a superar, tratadas em nossa última análise, a economia brasileira segue apresentando bons resultados. O varejo continua a crescer. A Abrafarma, associação do comércio farmacêutico, informou que o faturamento do setor ultrapassará R$ 100 bilhões este ano. Já o setor de serviços, segundo a Pesquisa Mensal de Serviços do IBGE, continua virtuoso. O resultado mostrou avanço de 1,7% em junho comparado a maio. O setor externo registra recordes. No primeiro semestre de 2024, a balança comercial computou o segundo maior superávit da série histórica: o saldo positivo foi de US$ 43,1 bilhões, puxado essencialmente, pela comercialização do setor primário.

O presidente Lula, em entrevista, retratou bem o cenário econômico atual: “O que está acontecendo no Brasil é o seguinte: a inflação está controlada, o salário e a massa salarial estão crescendo, o desemprego nós vamos chegar logo na menor taxa.” Mas, os resultados profícuos da atividade econômica são, no momento, o principal motivo de preocupação do Comitê de Política Monetária, responsável pela manutenção da taxa de juros em 10,5% na última reunião. Dois de seus membros, Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, e o diretor de política monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, passaram a fazer declarações na imprensa, logo após a divulgação, em 06 de agosto, da ata que resumiu a decisão tomada. Segundo eles, os riscos inflacionários são grandes, pois a economia está aquecida. Por esta razão, o aumento da taxa de juros já “estaria na mesa” da próxima reunião do Copom, que acontecerá entre os dias 17 e 18 de setembro. Os analistas dos principais meios de comunicação do país informam euforicamente que tais declarações estão recuperando a credibilidade do Banco Central. O substantivo teria sido perdido ao longo dos últimos meses, e as expectativas quanto ao aumento da inflação estariam piorando, já que a instituição não teria sinalizado de forma enfática que tomaria a providência necessária para conter a inflação no presente.

Assim, “somos convencidos” de que uma política monetária contracionista é inevitável, pois não suportaríamos o retorno da “besta econômica”. Entretanto, como já afirmamos nesta coluna, não há descontrole inflacionário. Embora o IPCA computado nos últimos 12 meses finalizados em julho, segundo o IBGE, esteja alcançando o teto da meta de 4,5%, a inflação computada no acumulado de 2024 até julho foi de 2,87% e certamente fechará o ano abaixo do teto máximo da meta! Até o Relatório Focus, base de apuração das expectativas dos “especuladores financeiros” e principais interessados na alta dos juros, apurou expectativa anual de inflação de 4,2%, também abaixo do teto. Mas, como as tais expectativas estão próximas do teto definido pelo Banco Central, o “mercado” passou a pressionar o Copom para que aumente os juros, pois só o aperto seria crível. A pressão alcança um tom de ameaça: ou se “ancora” as expectativas ou a reputação da instituição continuará a ser atacada.

A autoridade monetária já sinalizou que vai fazer “o que o senhor mandou” na seguinte frase da sua ata: “O Comitê não se furtará ao seu compromisso com o atingimento da meta de inflação e entende o papel fundamental das expectativas na dinâmica da inflação.” E, afinal, quem ousou despertar a “besta”? O Copom responde: ora, quem trabalha! Com a menor taxa de desemprego em dez anos e aumento das rendas do trabalho e da massa de rendimentos, o que o trabalhador faz? Compra e atrapalha tudo! Segue trecho da ata em que o Copom demonstra sua indignação: “...o nível de ocupação, a taxa de desocupação e a renda vêm sistematicamente surpreendendo...” Ou seja, por essa não se esperava!

Mas não nos preocupemos. O Copom já informou: não será leniente! Não tolerará mais crescimento, nem mais emprego. A “...resiliência da atividade doméstica e sustentação do consumo ao longo do tempo...” citadas em sua ata serão duramente combatidas! Fomos avisados. O arrocho está na mesa...


[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do PROGEB (@progebufpb, www.progeb.blogspot.com; rospalhano@yahoo.com.br, rosangelapalhano31@gmail.com). Colaboraram os pesquisadores: Lara Souza, Maria Fernanda Vieira, Raquel Lima e Brenda Tiburtino.

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quinta-feira, 15 de agosto de 2024

O Brasil está crescendo, mas ainda há barreiras a superar

Semana de 05 a 11 de agosto de 2024

 

Lucas Milanez de Lima Almeida [i]

 

Caro leitor, a semana que passou trouxe algumas informações relevantes sobre a conjuntura brasileira. Há fortes indicativos de que a Economia está se recuperando de forma consistente. Porém, alguns problemas estruturais estão limitando este crescimento.

As primeiras informações que indicam a recuperação da economia são relativas à produção industrial, que apresentou crescimento de 4,1% entre junho e maio de 2024. No primeiro semestre deste ano, o crescimento acumulado é de 2,6%. A produção industrial atual já está 2,8% acima do nível pré-pandemia (fevereiro de 2020). Contudo, ainda está 14,3% abaixo do nível de maio de 2011, quando a produção atingiu seu valor recorde.

Associando estes dados a outros, vemos que nossa recuperação poderia ser ainda melhor. Para compreender o motivo, é preciso resgatar um tema de que já falamos em outros momentos: a desindustrialização. Resumidamente, o Brasil perdeu importantes elos da sua cadeia produtiva dos anos 1990 para cá. Dentre os principais elos perdidos está a indústria que produz máquinas e equipamentos, a chamada indústria de bens de capital. Além disso, também perdemos um pouco a mão no setor de bens de consumo e insumos.

Assim, para a nossa economia funcionar, passamos a depender da importação de muitos desses produtos. Como mostram os gráficos no fim do texto, a quantidade produzida de bens industriais cresceu muito pouco entre janeiro de 2023 e junho de 2024: entre esses dois meses, a produção de bens de capital caiu 1,1%; enquanto isso, a produção de bens de consumo e a de bens intermediários subiu 1,7% e 4,0%, respectivamente. Enquanto isso, as importações cresceram intensamente no mesmo período. Entre janeiro de 2023 e junho de 2024, pelo índice de quantum, as compras de bens de capital cresceram 33,6%, de bens de consumo, 24,6%, e de bens intermediários, 27,5%.

O resultado prático disto é a redução daquilo que os economistas chamam de efeito multiplicador da produção. Para entender esse termo, vamos admitir que um bem de consumo seja produzido no Brasil. Para isto acontecer, será preciso consumir energia elétrica, água, matérias-primas, equipamentos e um conjunto de outros meios de produção no nosso território. Se esses meios de produção vêm de fora, quase nada acontece no país. Mas, se eles são produzidos aqui no Brasil, sua produção vai precisar de energia elétrica, água, matérias-primas, equipamentos e um conjunto de outros meios de produção. Isso vai se multiplicando entre os diversos elos que compõem a estrutura produtiva brasileira. Somado a isso, serão contratados inúmeros trabalhadores, serão gerados empregos, salários, lucros, impostos, etc. Com essa renda criada aqui, haverá circulação de dinheiro e mais demanda, para botar a roda da economia para girar. Isso estimula novamente a produção e dá novo impulso ao crescimento econômico.

O problema é que, entre o impeachment de 2016 e o último ano do governo Bolsonaro, predominaram políticas econômicas que travaram a roda da economia. As medidas adotadas, ao invés de estimularem a produção no Brasil a crescer, passaram a desestimular o crescimento da demanda. Desde então, a economia do país cresceu mal e muito pouco. A mudança só veio no terceiro mandato de Lula, que anunciou (ainda insuficientes) programas de promoção da indústria nacional. Porém, estas ainda estão acontecendo em ritmo lento.

O grande problema dessa demora não é apenas político. De fato, o Congresso Nacional é um grande empecilho para a implementação das propostas do Executivo. Contudo, vem do Banco Central (BC) e de seus representados, o setor bancário-financeiro, a grande resistência econômica. Desde os primeiros meses de mandato, Roberto Campos Neto vem atuando para manter uma política econômica contrária à de Lula. Isto pode ser visto tanto na manutenção da alta taxa de juros, quanto nas declarações que tem feito nos últimos tempos. A situação ficou tão explícita que o próprio BC passou a ameaçar o governo por meios oficiais, como as atas do Copom. Na última, o Comitê foi claro, ao opinar sobre o déficit do orçamento federal (que não está sob ameaça real).

Naturalmente, essa disputa entre “alas” do poder estatal não é mero capricho entre extrema direita (Congresso e BC) e centro-esquerda (Executivo). O que estamos vendo é uma disputa de poder político, para ver quem será o maior beneficiário econômico de uma soma vultosa de dinheiro: o orçamento público. Infelizmente, como sempre acontece, quem termina perdendo é a classe trabalhadora. Nós, meros mortais, não podemos desfrutar do potencial econômico do país com um mínimo de dignidade.

Figura 1 - Índices da produção e de quantum das importações de produtos industriais:
janeiro de 2023 a junho de 2024 (jan/23 = 100)


Fonte: PIM-PF/IBGE e COMEXSTAT/MDIC 



[i] Professor do DRI/UFPB, do PPGCPRI/UFPB e do PPGRI/UEPB; Coordenador do PROGEB. (@progebufpb, www.progeb.blogspot.com; @almeidalmilanez; lucasmilanez@hotmail.com). Colaboraram: Raquel Lima, Maria Vitória Freitas, Lara Souza, Guilherme de Paula e Paola Arruda.

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quinta-feira, 8 de agosto de 2024

A Guerra Invisível da Economia Brasileira

Semana de 29 de julho a 04 de agosto de 2024

 

Paola Teotônio Cavalcanti de Arruda[i]

           

Mais uma semana se inicia e, junto com ela, há uma enxurrada de notícias sobre a importância do cumprimento do arcabouço fiscal e da contenção de gastos. Todos os impasses econômicos do país, de acordo com os grandes veículos de informação, são provenientes dos problemas anteriores ou de seus adjacentes. Assim, se a indústria brasileira vai mal, a responsabilidade é dos custos trabalhistas, dos gastos com a previdência e da despesa pública, que roubam a produtividade nacional. Forjam-se dados e projeções evidentemente falhos, para que se possa reproduzir um discurso conservador, costumeiramente acompanhado de ataques a medidas anticíclicas empreendidas pelo governo.

Fato é que, sem uma leitura crítica do que é divulgado nos jornais, é muito difícil identificar o que realmente corresponde à realidade. Veja bem, caro leitor, nas últimas semanas muito se tem falado sobre a definição da Selic, por parte do Copom. Ainda que, a contragosto da elite monetária, a queda na taxa de juros do país tenha acontecido, continua a haver disparate argumentativo pelo retorno do seu aumento. Não importa o quanto se argumente a favor da redução dos juros no país, demonstrando que isso seria benéfico para a indústria, o emprego, a renda e o consumo. Sempre haverá um modelo econômico limitado, tentando reproduzir para o futuro o que acreditam ter revelado o passado.

Talvez esse seja o maior embate teórico da economia. A ciência econômica sempre atuou para legitimar medidas governamentais que beneficiam interesses específicos, mascarando essas decisões como meras questões técnicas. Com uma linguagem acessível a apenas um círculo restrito de especialistas, o discurso econômico também atua como uma barreira que exclui a população geral da discussão sobre a apropriação da riqueza. Por exemplo, os defensores da manutenção da Selic em 10,5% justificam essa escolha com base na recente alta do dólar, que subiu de R$ 5,15 para mais de R$ 5,60 em dois meses, e no aumento da expectativa de inflação para 2024, de 3,7% para 4,1%. No entanto, essa argumentação é contraditória, pois a margem permitida de inflação para 2024 é de 4,5%, o que indica que o aumento de 0,4 ponto percentual ainda está dentro do limite aceitável. Esse acréscimo, portanto, não é suficiente, nem para justificar a manutenção de uma taxa de juros tão alta, nem um aumento desta taxa, visto que não evidencia risco significativo de descontrole inflacionário.

Ainda que nos passe despercebido, a ciência é uma arena de luta de classes. Não é coincidência que a teoria econômica por trás das decisões do Banco Central esteja em concordância com os interesses do mercado financeiro. Por mais “neutro” e “técnico” que possa parecer um campo de conhecimento, uma teoria ou um método analítico, existe uma corrente teórica, com viés ideológico, orientando a construção e a condução dos modelos do pensamento preponderantes.

A partir desse entendimento, fica mais fácil compreender de onde emanam as ideias de que uma nova Reforma da Previdência, com cada vez menos garantias, é necessária; ou de que serão justamente os benefícios sociais os responsáveis por quebrar a economia do país. É necessário que o povo acredite que trabalhar cada vez mais e receber cada vez menos é um custo essencial a se pagar, em troca da relativa “sustentabilidade” de um sistema previdenciário ou de um sistema econômico. Desmistificar esse discurso é essencial, nesse contexto. E é isso que tentamos fazer aqui, caro leitor, para que não sejamos aprisionados na caverna na ignorância e da manipulação.


[i] Pesquisadora do PROGEB e Graduanda em Relações Internacionais (UFPB) (@progebufpb, www.progeb.blogspot.com; paolatc.arruda@gmail.com). Colaboraram os pesquisadores: Brenda Tiburtino, Raquel Lima e Paulo Victor.

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sábado, 3 de agosto de 2024

Entre a Venezuela e o Copom

Semana de 22 a 27 de julho de 2024

 

Nelson Rosas Ribeiro[i]

           

As eleições na Venezuela continuam a preencher todo o noticiário. É um prato cheio para a cambada bolsomínia e está emparedando o nosso governo. A situação é bastante complexa e o governo Maduro encontra-se em posição delicada para explicar as dúvidas, que se espalham pela comunidade mundial, desejosa de esmagar a experiência “bolivariana”.  Chovem as críticas ao processo eleitoral cuja imparcialidade é posta em dúvida, fato agravado pelas indecisões do governo em divulgar documentos que comprovam sua validade. São igualmente contestadas as resoluções e declarações dos tribunais eleitorais que atestam a vitória do atual presidente Nicolás Maduro. Afirma-se que estes tribunais foram “aparelhados” pelo próprio Maduro e são, portanto, suspeitos. Os críticos assumem-se como donos da verdade incontestável, embora não tenham ido à Venezuela nem tenham feito estudos profundos sobre a realidade do país. A direita furiosa esquece-se que, por cá, eles tentaram impedir as eleições e depois, insatisfeitos com os resultados divulgados, procuraram impedir a posse dos eleitos. Reconhecemos que a situação na Venezuela é bastante complexa, mas não podemos nos comprometer com os possíveis erros que por lá tenham sido cometidos. Esperamos que os documentos e provas, que estão sendo exigidos pela comunidade internacional, sejam fornecidos, a fim de podermos fazer um melhor juízo sobre o caso.

Os acontecimentos na Venezuela são tão importantes que, até o massacre que continua em ocorrer em Gaza, estendendo-se para o Líbano e agora para o Irã, e a luta na Ucrânia, ficaram em segundo plano. O governo de Israel continua a rasgar todas as resoluções da ONU e dos tribunais internacionais e a promover ataques dentro do Líbano e Teerã para executar possíveis dirigentes do Hamas, mesmo que para isto morram dezenas de civis, que nada tem a ver com a situação. Por seu lado, a situação na Ucrânia também tende a se agravar, com o envio de novas armas pelos países ocidentais e os ataques, cada vez mais frequentes, ao território da Rússia. Nada disto tem importância diante da cruzada contra Maduro e a Venezuela.

Internamente, os crimes contra a economia continuam a ser cometidos. O pânico atingiu o Banco Central (BC) após a divulgação do crescimento de 1% da produção industrial, no primeiro trimestre, em relação ao trimestre anterior. Outra notícia que os preocupou, foi a queda do desemprego, que atingiu a taxa de 6,9%, a menor taxa desde 2014. Claro, que com estas desagradáveis notícias o bravo presidente do BC, Roberto Campos Neto, liderou a reunião do Copom mantendo os juros de referência Selic no mesmo patamar, 10,5%, obedecendo aos ditames do “mercado”, para alegria dos especuladores. Toquem os clarins: é preciso deter a inflação (eis o pretexto alegado).

Bravamente o vice-presidente Alckmin, no evento States of the Future, realizado no Rio no âmbito do encontro do G-20, defendia a redução dos juros, afirmando que os juros altos, praticados no país, prejudicam a industrialização.

 Já afirmamos várias vezes, nesta coluna, que o papel do BC tem sido de sabotador do crescimento da economia. O que eles fazem não é por pura maldade, mas por pura ideologia. Eles professem a fé na teoria neoclássica, teoria econômica que afirma que a inflação é o resultado do desequilíbrio entre oferta e procura. Aumentando os juros reprime-se a demanda, ao dificultar os empréstimos e o financiamento das atividades econômicas, quer sejam do comércio, indústria, serviços ou agricultura. Dificulta-se igualmente o consumo, o que reduz as encomendas aos setores produtivos. Para combater a inflação o preço é a miséria, a fome, o desemprego, a falência das empresas, a redução dos salários. Este é o resultado que eles não revelam pois seria vergonhoso demais.

Importante pronunciamento do Vice-presidente quando, no encontro citado, comparou os juros, que os empresários aqui dentro são obrigados a pagar (8%), com os jutos pagos nos financiamentos feitos lá fora (0 ou 1%) e indagou: “… como é que eu vou competir?”.

Não vamos, a não ser que haja uma vassourada nos fanáticos ou corruptos dirigentes do BC, sabotadores do crescimento da economia do país.


[i] Economista, Professor Emérito da UFPB e Vice Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com). Colaboraram os pesquisadores: Ryan Felix, Raquel Lima, Valentine Moura, Lara Souza e Gustavo Figueiredo

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