Semana de 16 a 22 de setembro de 2024
Nelson Rosas Ribeiro[i]
Duas notícias nos atropelaram ao começar a
escrever esta Análise: o Federal Reserve (Fed), Banco Central dos EUA, resolveu
reduzir os juros básicos em 0,5% e, na contramão, o Banco Central do Brasil
decidiu elevar a nossa taxa básica em 0,25%, de 10,5% para 10,75%. Para o Fed,
a medida visa a estimular o crescimento, uma vez que a inflação está controlada
e convergindo para a meta de 2%. O Fed, além de ser responsável pelo controle
da moeda, deve cuidar do desemprego e do crescimento. A duplicidade de missão
deste tipo, no nosso caso, nunca saiu do papel, mesmo estando claramente na LC
179/21, que trata da autonomia do banco central, onde afirma que um dos
objetivos da instituição é “fomentar o pleno emprego”. No entanto, os
argumentos apresentados pelo nosso BC são ilógicos e absurdos. Aguardaremos a
publicação da ata da reunião para maiores comentários. Por enquanto vamos
lembrar que, como mostramos na análise anterior, a inflação continua contida e
dentro da meta. O IPCA-15 de setembro (indicador antecedente da inflação) foi
de 0,13%, inferior ao de agosto, que ficou em 0,19%. O acumulado em 12 meses
estimou uma inflação de 4,12%, dentro do intervalo da meta, que é de 3%, com
uma tolerância de 1,5%, para mais ou para menos. Assim, não há no horizonte
nenhum novo motivo de alarme que justifique o açodamento. A decisão de elevar
os juros é, portanto, puramente política e visa a prejudicar o programa de
crescimento do governo Lula. O que está aterrorizando o BC são os prognósticos
de crescimento da economia, com o aumento do emprego e melhora no rendimento
dos trabalhadores. Até a OCDE já aumentou suas estimativas, para o crescimento
do Brasil, de 1,9%, neste ano, para 2,9%. Atenção! Perigo! O crescimento vem
aí! Eis o nervosismo do BC.
Se no campo econômico não há grandes
novidades, no campo político há acontecimentos que merecem referência. A
afirmação de que o governo pretende criar uma “autoridade climática”, com
poderes para enfrentar as emergências que têm surgido, como consequência do
aquecimento global, pôs a “bancada ruralista” no Congresso em polvorosa. O
presidente da câmara, Arthur Lira, saiu furioso afirmando que a tal autoridade
terá de ser escolhida em consenso com o Legislativo. A bancada ruralista, a
Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) e a Comissão de Meio Ambiente da
Câmara também já se mobilizaram, recusando o nome da ministra do Meio Ambiente,
Marina Silva, como possível indicada, bem como o seu ministério, como local de
sede para a “Autoridade”. O PL foi mais ousado e já se pronunciou contra a
criação do novo cargo. Um abacaxi para o
Lula resolver. Mais uma vez evidencia-se o caráter reacionário do Congresso
Nacional, onde cada ação tem que ser arrancada com grandes dificuldades.
A campanha eleitoral continua sem grandes
novidades. Em alguns estados e cidades a disputa revela-se como um embate entre
Lula e Bolsonaro. Ambos estão empenhados no confronto e fazemos votos de que a
derrota do milico seja esmagadora. No entanto, é de espantar a falta de
compreensão, das forças de esquerda, para a importância deste embate.
Continuamos a não saber fazer política e racionalizar o voto. Aqui em João
Pessoa, o PT, por exemplo, não consegue unir nem suas próprias forças.
No panorama internacional, os dois grandes
acontecimentos continuam a dominar todos os noticiários: a guerra na Ucrânia e
o conflito em Gaza, que corre o risco de tornar-se uma guerra generalizada na
região.
A guerra na Ucrânia assume novas dimensões, com a Europa fornecendo armas que permitem a Zelensky atingir mais profundamente o território da Rússia. A utilização de armas, cada vez mais potentes, leva-nos à beira do conflito atômico. Em Gaza, continua a violência sem limites dos bombardeios Israelenses, que, com o conflito estendendo-se ao Hezbolah, ocorrem também no sul do Líbano. Com o pretexto de liquidar dirigentes do grupo árabe, Israel bombardeia indiscriminadamente as cidades, não respeitando residências, escolas, hospitais etc. Já se contam em centenas o número de mortos e feridos. E tudo isto com a conivência, e mesmo o apoio, dos países da União Europeia e dos EUA. Os generais da OTAN certamente estão exultantes. A falência completa da civilização ocidental continua em marcha. É preciso buscar uma nova alternativa.
[i] Economista, Professor Emérito da UFPB e Vice Coordenador do
Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira;
nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com). Colaboraram os
pesquisadores: Paola Arruda, Brenda Tiburtino, Lara Souza, Raquel Lima e
Guilherme de Paula.