quinta-feira, 7 de novembro de 2024

A QUEM ESTÁ SERVINDO A ECONOMIA DO BRASIL?

Semana de 28 de outubro a 03 de novembro de 2024

 

Paola Teotônio Cavalcanti de Arruda[i]

           

A cobertura da grande mídia tem intensificado o tom alarmista ao tratar da alta recente do câmbio, que chegou a R$5,70, e dos juros de longo prazo, atualmente na casa dos 7% ao ano, descontada a inflação. De maneira insistente, editoriais como os do Valor Econômico atribuem essa oscilação a uma suposta falta de controle das despesas públicas pelo governo. Essa narrativa sugere que o único caminho viável para estabilizar o câmbio e conter a inflação seria o corte de gastos públicos e o aumento dos juros, desprezando outras alternativas econômicas possíveis e mascarando interesses mais profundos.

Curiosamente, os mesmos editoriais que sempre defenderam juros elevados começam a admitir que uma Selic alta sufoca o crescimento econômico. No entanto, em vez de reconhecer o impacto negativo dessa política para a economia e para a população, reforçam a pressão sobre o governo, ao insinuar que o próximo passo, caso os gastos públicos não sejam contidos, será elevar ainda mais os juros no país. A “inflaciofobia” alimentada no país serve como justificativa para uma política fiscal austera. Câmbio alto encarece os preços e para reduzi-los teríamos que arcar com mais um aumento dos juros. Para que isto não aconteça, o governo deveria se esforçar reduzindo os gastos já que estes compõem a demanda nacional. Resultado: demanda contida, inflação controlada. Em última instância, quaisquer que sejam as soluções,  os interesses do setor financeiro continuarão a ser protegidos e os seus  altos rendimentos, às custas do erário público, estarão garantidos.

Portanto, essa pressão pela austeridade fiscal não é uma solução neutra ou inevitável, mas um discurso conveniente para o mercado financeiro. O governo já sinalizou que vai ceder e está se reunindo para discutir onde serão feitos os cortes nas despesas. Ao focar exclusivamente nos cortes de gastos como solução, desconsidera-se a importância de políticas fiscais que favoreçam o crescimento econômico e a justiça social, negligenciando o debate sobre as consequências de uma Selic alta para o investimento produtivo e o bem-estar dos brasileiros. Negligencia-se que as causas inflacionárias são variadas e que a taxa de juros não deve ser o único instrumento utilizado para seu controle. Na prática, o Banco Central responde automaticamente a qualquer pequena elevação na expectativa de inflação, mesmo quando os indicadores reais estão em processo de convergência para a meta, o que gera aumentos injustificados na taxa de juros.

Fato é que a polarização ideológica e econômica no Brasil criou um ciclo vicioso que impede o avanço da economia e transfere o ônus para a população. Em vez de convergir para soluções práticas que promovam crescimento e inclusão, debates sobre temas econômicos são frequentemente marcados por posturas dogmáticas, que se traduzem em políticas rígidas e medidas paliativas que pouco beneficiam o bem-estar coletivo. Essa tensão ideológica acaba prejudicando o brasileiro comum, que enfrenta juros altos, desemprego e perda de poder de compra, enquanto as elites financeiras e os rentistas encontram espaço para lucrar.

Nesse cenário, a verdadeira solução para melhorar a economia brasileira exige uma superação desse impasse ideológico, com a adoção de políticas econômicas que equilibram responsabilidade fiscal com o compromisso de gerar oportunidades e reduzir desigualdades. Mas, não se pode esperar que a elite faça isso por iniciativa própria. Por isso, a participação política dos cidadãos é fundamental para pressionar por um sistema econômico que seja verdadeiramente inclusivo e sustentável, garantindo que as políticas públicas atendam ao bem comum e não apenas a interesses restritos. A sociedade tem o potencial de assumir um papel muito importante na formulação e na fiscalização dessas políticas, ajudando na construção de uma nova realidade, mais justa e equilibrada.

Mas, para que isso ocorra, é também necessário conseguir se comunicar com as pessoas, mostrar o que tem sido feito, quais são os entraves para que mais seja concretizado e o que é necessário para que o Brasil realmente prospere. A grande questão que surge é: estamos conseguindo nos fazer ouvir? O discurso progressista tem chegado até as pessoas e, mais importante, tem feito sentido para elas? Que pessoas queremos atingir com nossas políticas? Quais lugares estamos deixando de alcançar? É sobre isso que precisamos refletir.


[i] Pesquisadora do PROGEB e Graduanda em Relações Internacionais (UFPB). (paolatc.arruda@gmail.com). Colaboraram: Lara Souza, Maria Fernanda Vieira, Guilherme de Paula e Raquel Lima.

Share:

0 comentários:

Postar um comentário

Novidades

Recent Posts Widget

Postagens mais visitadas

Arquivo do blog