Semana de 28 de outubro a 03 de
novembro de 2024
Paola Teotônio Cavalcanti de Arruda[i]
A cobertura da grande mídia tem
intensificado o tom alarmista ao tratar da alta recente do câmbio, que chegou a
R$5,70, e dos juros de longo prazo, atualmente na casa dos 7% ao ano,
descontada a inflação. De maneira insistente, editoriais como os do Valor
Econômico atribuem essa oscilação a uma suposta falta de controle das despesas
públicas pelo governo. Essa narrativa sugere que o único caminho viável para
estabilizar o câmbio e conter a inflação seria o corte de gastos públicos e o
aumento dos juros, desprezando outras alternativas econômicas possíveis e
mascarando interesses mais profundos.
Curiosamente, os mesmos editoriais que
sempre defenderam juros elevados começam a admitir que uma Selic alta sufoca o
crescimento econômico. No entanto, em vez de reconhecer o impacto negativo
dessa política para a economia e para a população, reforçam a pressão sobre o
governo, ao insinuar que o próximo passo, caso os gastos públicos não sejam
contidos, será elevar ainda mais os juros no país. A “inflaciofobia” alimentada
no país serve como justificativa para uma política fiscal austera. Câmbio alto
encarece os preços e para reduzi-los teríamos que arcar com mais um aumento dos
juros. Para que isto não aconteça, o governo deveria se esforçar reduzindo os
gastos já que estes compõem a demanda nacional. Resultado: demanda contida,
inflação controlada. Em última instância, quaisquer que sejam as soluções, os interesses do setor financeiro continuarão
a ser protegidos e os seus altos
rendimentos, às custas do erário público, estarão garantidos.
Portanto, essa pressão pela austeridade
fiscal não é uma solução neutra ou inevitável, mas um discurso conveniente para
o mercado financeiro. O governo já sinalizou que vai ceder e está se reunindo
para discutir onde serão feitos os cortes nas despesas. Ao focar exclusivamente
nos cortes de gastos como solução, desconsidera-se a importância de políticas
fiscais que favoreçam o crescimento econômico e a justiça social,
negligenciando o debate sobre as consequências de uma Selic alta para o
investimento produtivo e o bem-estar dos brasileiros. Negligencia-se que as
causas inflacionárias são variadas e que a taxa de juros não deve ser o único
instrumento utilizado para seu controle. Na prática, o Banco Central responde
automaticamente a qualquer pequena elevação na expectativa de inflação, mesmo
quando os indicadores reais estão em processo de convergência para a meta, o
que gera aumentos injustificados na taxa de juros.
Fato é que a polarização ideológica e
econômica no Brasil criou um ciclo vicioso que impede o avanço da economia e
transfere o ônus para a população. Em vez de convergir para soluções práticas
que promovam crescimento e inclusão, debates sobre temas econômicos são
frequentemente marcados por posturas dogmáticas, que se traduzem em políticas
rígidas e medidas paliativas que pouco beneficiam o bem-estar coletivo. Essa
tensão ideológica acaba prejudicando o brasileiro comum, que enfrenta juros
altos, desemprego e perda de poder de compra, enquanto as elites financeiras e
os rentistas encontram espaço para lucrar.
Nesse cenário, a verdadeira solução para
melhorar a economia brasileira exige uma superação desse impasse ideológico,
com a adoção de políticas econômicas que equilibram responsabilidade fiscal com
o compromisso de gerar oportunidades e reduzir desigualdades. Mas, não se pode
esperar que a elite faça isso por iniciativa própria. Por isso, a participação
política dos cidadãos é fundamental para pressionar por um sistema econômico
que seja verdadeiramente inclusivo e sustentável, garantindo que as políticas públicas
atendam ao bem comum e não apenas a interesses restritos. A sociedade tem o
potencial de assumir um papel muito importante na formulação e na fiscalização
dessas políticas, ajudando na construção de uma nova realidade, mais justa e
equilibrada.
Mas, para que isso ocorra, é também necessário conseguir se comunicar com as pessoas, mostrar o que tem sido feito, quais são os entraves para que mais seja concretizado e o que é necessário para que o Brasil realmente prospere. A grande questão que surge é: estamos conseguindo nos fazer ouvir? O discurso progressista tem chegado até as pessoas e, mais importante, tem feito sentido para elas? Que pessoas queremos atingir com nossas políticas? Quais lugares estamos deixando de alcançar? É sobre isso que precisamos refletir.
[i] Pesquisadora do PROGEB e Graduanda em Relações
Internacionais (UFPB). (paolatc.arruda@gmail.com). Colaboraram: Lara Souza, Maria Fernanda Vieira,
Guilherme de Paula e Raquel Lima.
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