quinta-feira, 28 de novembro de 2024

NO PRESENTE, BUSCA-SE FREAR A ECONOMIA; DO PASSADO, VEM À TONA A TRAMA GOLPISTA

Semana de 18 a 24 de novembro de 2024

 

Rosângela Palhano Ramalho [i]

           

Prezado leitor, em meio às negociações sobre o corte dos gastos, o “mercado” amplia a pressão sobre o governo, para que o aperto monetário continue e seja intensificado com um aumento dos juros em 0,75 ponto percentual na próxima reunião do Copom. O subjetivismo característico da análise econômica tradicional prevê que, dessa forma, a tal desancoragem das expectativas de inflação será resolvida. Ou seja, para ancorar as expectativas apuradas pelo relatório Focus, construído a partir das expectativas do “mercado”, o “mercado” exige uma dosimetria maior de juros que remunera, vejam só, os rentistas do próprio “mercado”! A raposa continua a vigiar o galinheiro. Nunca é demais lembrar que, se lançarmos o olhar para a realidade concreta e objetiva, as estatísticas reforçam que não há pressão inflacionária à vista, já que o IPCA acumulado até novembro, segundo o IBGE, fechou em 3,88%, ainda longe dos 4,5% previstos como limite máximo do regime de metas de inflação.

Mesmo com o Banco Central se esforçando para desacelerar a economia e conter ameaças inflacionárias fictícias, a economia tem apresentado resultados cada vez melhores. Espera-se que 2024 feche com crescimento de 3,3% do PIB. Esta estimativa é da Secretaria de Política Econômica, que vem ajustando para cima a previsão que no início do ano era de 2,2%. Assim, aqueles que se empenham em impor suas pautas ao governo, seja para obter proveito financeiro, seja por questões ideológicas (pessoais, políticas ou intelectuais), têm recebido consecutivos choques da realidade. O último foi a queda da taxa de desemprego para 6,4% no terceiro trimestre de 2024, segundo apuração do IBGE. Em relação ao trimestre anterior houve queda de 0,5 ponto percentual. O desemprego recuou em todas as faixas etárias, e a queda mais representativa aconteceu entre os trabalhadores de 25 a 39 anos. Portanto, os dados conjunturais mostram, de forma cristalina, que 2024 será um ano bom para a economia o que contraria os arautos do fim do mundo. E ainda: o crescimento não trará aceleração inflacionária.

No cenário externo, enquanto o mundo e os americanos assistem, atônitos, a formação da equipe de governo de Donald Trump, composta até agora por lunáticos, adeptos das mais descabidas teorias da conspiração e do desejo de desmontar o setor público, o Brasil caminha para punir aqueles que tramaram contra a nossa democracia. Lá, não só não puniram Trump pelos crimes cometidos na invasão do Capitólio, em 6 de dezembro de 2021, como ainda permitiram a sua candidatura. Sua vitória nas eleições produziu um delírio momentâneo dos golpistas brasileiros que, enganando a si mesmos, viram naquele resultado uma oportunidade de anistiar os criminosos que, em 8 de janeiro de 2023, invadiram e depredaram a Praça dos Três Poderes em Brasília, à espera de uma intervenção militar. Segundo a fantasia coletiva, a eleição de Trump facilitaria a tramitação da proposta de anistia no Poder Legislativo, geraria pressão para que o ministro da Suprema Corte Alexandre de Moraes liberasse o passaporte de Bolsonaro, a fim de que ele pudesse participar da posse americana em janeiro e, ainda, o ministro poderia até ser impedido de entrar nos Estados Unidos, simplesmente por estar aplicando a lei àqueles criminosos de boa intenção.

Ora, se achavam que o resultado eleitoral americano iria intimidar as investigações em andamento no Brasil estavam redondamente enganados! Eis que em 19 de novembro foi deflagrada pela Polícia Federal, a Operação Contragolpe. Quatro militares do Exército e um agente da Polícia Federal foram presos por planejar um golpe de Estado para impedir a posse do presidente Lula e o pleno exercício do Poder Judiciário. A estratégia incluía o assassinato do atual presidente da República, do vice-presidente e do ministro Alexandre de Moraes do STF. Dois dias depois, ainda no âmbito desta operação, a Polícia Federal indiciou o ex-presidente Jair Bolsonaro, o general Walter Braga Netto, candidato a vice-presidente na chapa derrotada nas eleições de 2022, o general Augusto Heleno, que foi chefe do Gabinete de Segurança Institucional e outras 34 pessoas pelos crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado e organização criminosa.

O resultado das investigações não deixa dúvidas. Não foi algo corriqueiro. Não foi um ato isolado. Foi uma estratégia planejada, com partes executadas e, felizmente, fracassada... O fato de terem fracassado por incompetência e/ou burrice, não os exime do crime, muito menos quer dizer que estes indivíduos não sejam perigosos. São criminosos periculosos e violentos que autointitulados de patriotas, ousaram urdir-se contra as estruturas institucionais do seu próprio país tomando como exemplo o golpe de 1964. Prisão para todos os que tramaram contra a democracia brasileira!


[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do PROGEB (@progebufpb, www.progeb.blogspot.com; rospalhano@yahoo.com.br, rosangelapalhano31@gmail.com). Colaboraram os pesquisadores: Raquel Lima, Lara Souza, Guilherme de Paula, Ícaro Formiga e Brenda Tiburtino.

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