sexta-feira, 13 de dezembro de 2024

BRASIL CRESCE, MAS QUEM PERDE COM ISSO?

Semana de 02 a 08 de dezembro de 2024

 

Paola Teotônio Cavalcanti de Arruda[i]

           

O mercado, sempre tão entusiasmado com promessas de austeridade, recebeu o anúncio do pacote de corte de gastos do Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, com insatisfação e estardalhaço. O motivo da fúria? A inclusão inesperada da isenção do Imposto de Renda, para quem ganha até R$5 mil, no pacote. A preocupação era a de que tal medida reduzisse a arrecadação dos cofres públicos e diminuísse o efeito da redução de despesas gerado pela implementação dos cortes.

A “grande” preocupação dos rentistas brasileiros não se materializa nem na teoria, nem na prática, uma vez que, junto à proposta, já havia uma solução para a questão, baseada em números: a taxação na alíquota de 10% para quem possui renda acima de R$ 50 mil por mês - ou R$ 600 mil por ano. Assim, teoricamente, a contramedida agiria como um neutralizador, fazendo com que a arrecadação não fosse alterada.

Já na prática, boa parte dos “problemas” e “preocupações” do mercado com o gasto público seria resolvida com a redução dos gastos com os juros da dívida. De acordo com dados da Agência Brasil, estes gastos ficaram em torno de R$ 111,564 bilhões, até o mês de outubro deste ano, equivalendo a quase metade do orçamento público e a praticamente o dobro dos R$ 61,947 bilhões registrados em outubro de 2023.

Assim, pode-se dizer que, hoje, há no Brasil, um novo programa de transferência de renda, só que voltado à elite rentista: uma parte muito grande do orçamento fica retida no pagamento de juros altíssimos, enquanto despesas com saúde e educação são alvo de restrição. A contenção de gastos parece só ter serventia, se significar retirar de quem tem menos, ou seja, dar menos educação ao filho do pobre, piorar o acesso à saúde de quem não tem dinheiro para custear o próprio tratamento. Enquanto os cortes só podem atingir a parcela mais vulnerável da população, as receitas do Estado não devem, jamais, alcançar a parcela 1% mais rica do país, e os juros não podem, em hipótese alguma, cair – pois isso implicaria grande perda à elite do capitalismo financeiro.

Para o discurso econômico dominante, a “culpa” pela “inflação” brasileira e pelos “desequilíbrios fiscais” advém do próprio povo. O salário-mínimo aumentou, o nível de desemprego é o menor desde 2014, e a pobreza atingiu o menor patamar da série histórica, desde 2012. O brasileiro está comendo mais, comprando mais e, consequentemente, demandando mais. A economia está girando, o país está crescendo – acima do esperado – e a pressão sobre os preços pode ser contida com uma expansão da oferta. Coisa boa, correto?

Para o COPOM, erradíssimo! Veja bem, caro leitor, não sou eu quem está dizendo, foi o próprio Comitê de Política Monetária. Em nota, o Comitê registrou que o aumento na taxa de juros é necessário para atuar “na suavização das flutuações do nível de atividade e do pleno emprego”. Isso quer dizer que, para o órgão, nem o PIB pode subir muito, nem o desemprego descer demais. Através de eufemismos, o que o Comitê quis dizer foi que não se deve permitir que o país cresça.

O desespero vem em conjunto com os dados do desempenho econômico recente, que mostram que o crescimento do PIB superou consistentemente as previsões nos três últimos trimestres, indicando uma economia mais resiliente que o esperado. No primeiro trimestre, a projeção era de 0,7%, mas o crescimento real atingiu 1,1%. No segundo, a expectativa de 0,9% foi superada com um crescimento de 1,4%, enquanto no terceiro trimestre, o PIB cresceu 0,9%, acima da previsão de 0,8%.

Esse contexto revela um paradoxo: enquanto a economia brasileira dá sinais de vigor e supera expectativas, os atores do mercado financeiro e o próprio COPOM pretendem conter o crescimento e não o celebrar. A insistência em políticas que priorizam juros altos e cortes nos serviços essenciais reflete a escolha política de proteger os interesses de uma elite financeira em detrimento do bem-estar da maioria da população. Essa postura conservadora diante de avanços econômicos apenas reforça a desigualdade e limita o potencial de progresso coletivo.


[i] Pesquisadora do PROGEB e Graduanda em Relações Internacionais (UFPB). (paolatc.arruda@gmail.com). Colaboraram: Rubens Gabriel, Miguel Oliveira, Guilherme de Paula e Maria Júlia.

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