quinta-feira, 5 de dezembro de 2024

SELIC VERSUS CRESCIMENTO: DUAS TEORIAS EM CONFRONTO

Semana de 25 de novembro a 01 de dezembro de 2024

 

Nelson Rosas Ribeiro[i]

           

Apesar de toda a complexidade da realidade local e internacional, há duas questões que ocupam o centro dos debates: o COPOM com a taxa de juros Selic, por um lado, e o crescimento ou resiliência da economia, por outro. As duas grandes questões não são apresentadas como opostas o que esconde o verdadeiro problema. A elevação da inflação, medida pelo IPCA-15, para novembro, mostrou um crescimento de 0,62%. Anualizado até este mês, isto representaria 4,47% acima do teto da meta de 4,5%. O Banco Central (BC) entrou em pânico. A Selic, que já havia sido aumentada de 10,75% para 11,25%, passou a ser estimada em valores em torno dos 13%. O “mercado”, faminto de juros, já urra exigindo novos aumentos. Aponta como causa da inflação o crescimento da economia, promovido pela política fiscal expansionista do governo, as políticas sociais, com a transferência de renda, os aumentos do salário-mínimo, o aumento do emprego etc. Segundo o BC, tudo isto provoca o aumento da demanda e este aumento é o responsável pelo crescimento da inflação. Justificam com a velha e caduca lei da oferta e procura, que eu chamo de “lei do Biu de Riachão de Bacamarte”: quando a procura aumenta, os preços sobem. Eis o raciocínio primário. Segundo esta teoria, a única solução para conter a inflação é reduzindo a procura. E como fazê-lo? Chame o poderoso Banco Central. Ele consulta seus inspiradores e apresenta a única solução que conhece, pois está nos manuais: elevar a taxa de juros para deter o consumo e os investimentos. Trata-se, portanto, de uma questão de teoria econômica. Este é o remédio que tem sido aplicado e que continuará a sê-lo.

Agora, a outra preocupação do “mercado”. Com efeito, a economia, apesar de todos os entraves, continua crescendo teimosamente. É resiliente, para utilizar uma palavra muito querida hoje. Depois de crescer 1,4%, no segundo trimestre, voltou a crescer 0,9%, no terceiro (julho a setembro). Os investimentos cresceram 2% e a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), 2,2%. Com isto, o Ministério da Fazenda elevou a previsão de crescimento do PIB deste ano, de 3,2%, para 3,3%. A taxa de inflação também foi elevada, de 4,25%, para 4,4%, ainda dentro do teto da meta. Para o ministério isto não é preocupante, pois o crescimento atual da inflação se deve a fatores sazonais e ao câmbio e está sob controle.

O crescimento da economia, porém, se deve ao aumento dos investimentos privados, ou seja, apesar de todo o berreiro, os empresários sabem como ganhar dinheiro e não querem perder as oportunidades. Não só os nacionais, mas também os estrangeiros. No primeiro semestre, o Brasil está em segundo lugar no mundo, como principal destino para os Investimentos Diretos Estrangeiros. Internamente, o ambiente dos negócios permanece favorável. Um levantamento feito pelo Valor Data, com 399 empresas não financeiras, mostrou ganhos de 84% nos lucros, no segundo trimestre. Segundo Daniel Gewehr, estrategista chefe para a América Latina do Itaú BBA, “os resultados mostram que a economia continua bastante robusta”. O crescimento da economia deve-se à dinâmica gerada por suas próprias leis. Este movimento tem, certamente, sido estimulado pelas medidas tomadas pelo governo e mesmo pela própria existência de um Estado que cumpre com suas funções administrativas, e tem um projeto de melhorar as condições de vida de um povo, diferentemente do anterior, que primou pela incompetência e imobilidade. A política econômica adotada pelo governo atual tem por base uma teoria econômica: o desenvolvimentismo. O caminho para combater a inflação não é, portanto, reprimindo a demanda, mas estimulando a oferta. Cumprindo as promessas de campanha, o governo precisa promover o desenvolvimento, reduzir a fome, aumentar o emprego, os rendimentos dos trabalhadores, melhorar a educação, a saúde, as condições de moradia etc.

A pretexto de combater a inflação elevando a taxa Selic, o que se pretende, na verdade, é prejudicar o governo, desgastando sua imagem, mesmo que para isto seja necessário impedir o crescimento, aumentar o desemprego e a fome, reduzir os salários, destruir a economia do país. Eis o que se esconde por trás do debate sobre inflação x Selic.


[i] Economista, Professor Emérito da UFPB e Vice Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com). Colaboraram os pesquisadores: Paola Arruda, Brenda Tiburtino, Lara Souza e Guilherme de Paula.

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