Semana de 09 a 15 de junho de 2025
Paola Teotônio Cavalcante de Arruda[i]
Na última sexta-feira (13), Israel lançou
uma série de ataques aéreos contra instalações nucleares iranianas, incluindo
os complexos de Natanz e Arak. A ofensiva foi justificada por Tel Aviv como uma
ação “preventiva” para conter o avanço do programa nuclear do Irã, que, segundo
Israel, estaria próximo de alcançar capacidade armamentista. Em resposta, o Irã
iniciou contra-ataques com mísseis e drones, marcando uma escalada direta e
inédita entre os dois países, que historicamente vinham se enfrentando por meio
de proxies e operações indiretas.
Assim, o atual conflito entre Irã e Israel
não ocorre em um vácuo geopolítico, tampouco seus desdobramentos se limitam ao
Oriente Médio. Ele reverbera em múltiplas camadas: diplomáticas, militares e,
principalmente, econômicas. A análise conjunta desses três elementos permite
enxergar a complexidade e os dilemas do sistema internacional diante de uma
escalada militar envolvendo dois atores historicamente antagônicos.
No campo diplomático, o comportamento das
potências globais expõe uma ambiguidade estratégica. Os Estados Unidos,
tradicional aliado de Israel, oscilam entre um apoio tácito à ofensiva de
Netanyahu e tentativas de dissociação retórica. Isso fica evidente nas
declarações ambíguas de Donald Trump, que ao mesmo tempo em que exaltou o
poderio militar americano e insinuou ter o líder iraniano sob mira, também
recuou, ao afirmar que não tomaria medidas imediatas e adotou um tom sarcástico
diante das reações do Irã. Sua retórica beligerante, ao mesmo tempo em que
ameaça diretamente o líder iraniano, também sugere a busca por uma
"rendição completa" como solução. Já Rússia e China, ainda que
aliadas do Irã em discurso, também não apresentam sinais de envolvimento ativo.
A retórica de mediação desses países parece mais orientada à manutenção de
influência regional e proteção de seus próprios interesses estratégicos – como
as sanções que enfrentam – do que a qualquer real disposição de confronto com
Israel ou os EUA.
O Irã, por sua vez, adota um discurso de
resistência que ecoa seu histórico de confrontos indiretos com o Ocidente, mas
a rejeição ao ultimato americano pode ser interpretada tanto como firmeza
nacionalista, quanto como uma jogada calculada para evitar negociações em
posição de fraqueza. A cautela na resposta – ainda que envolta em ameaças –
indica que Teerã entende os riscos de uma guerra aberta com o aparato militar
americano.
Essa hesitação generalizada pode ser
entendida como um sinal de que ainda não existe grande interesse entre as
potências em transformar o embate em uma guerra regional de grandes proporções.
Por enquanto, os aliados ideológicos parecem agir com parcimônia. A guerra
parece isolada no plano formal, mas certamente será acompanhada de efeitos
colaterais e transnacionais profundos.
No campo econômico, um dos impactos sobre o
qual mais se fala é o efeito em cadeia, desencadeado via preços. O conflito
afeta diretamente o preço do petróleo, um dos ativos mais sensíveis ao risco
geopolítico. Como o Fed, o BCE e outros bancos centrais encontram-se acuados
entre inflação, volatilidade cambial e risco sistêmico. Paralelamente, a
instabilidade no Golfo Pérsico tende a elevar a volatilidade nas bolsas de
valores e a comprometer a previsibilidade dos bancos centrais. Uma das
consequências disso poderá ser a ruptura de modelos tradicionais de política
monetária: os BCs perderão capacidade de previsão, as moedas se tornarão
erráticas e os investidores passarão a operar em modo defensivo.
Esse cenário impõe uma leitura pragmática.
Nenhuma potência parece querer, de fato, entrar em guerra; mas os países também
não podem se mostrar passivos, sob pena de perder influência. O resultado é um
teatro de declarações firmes, que inflamam as tensões, enquanto a economia
global paga o preço da instabilidade. A “guerra que não interessa a ninguém”
torna-se, paradoxalmente, um fator de desorganização estrutural dos mercados e
da ordem global.
Enquanto isso, em um timing digno de
roteiro político mal escrito, um grupo de prefeitos brasileiros decidiram
embarcar rumo a Israel justamente no auge da escalada militar com o Irã. Entre
eles, Cícero Lucena, prefeito de João Pessoa. Em vez de priorizar agendas
locais urgentes — como saneamento básico, saúde pública e educação — o prefeito
optou por visitar um país em guerra, sob o pretexto de “troca de experiências”
e “inovação tecnológica”. Aparentemente, a gestão de conflitos armados entrou
no currículo da administração municipal. Resta saber se os gestores voltarão
com drones, escudos antimísseis ou apenas com selfies ao lado de bunkers,
enquanto suas cidades seguem enfrentando problemas bem mais concretos e menos
cinematográficos.
[i]
Pesquisadora do PROGEB e Graduan
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