sábado, 14 de junho de 2025

DOR NA PALESTINA, FELICIDADE (AINDA INCOMPLETA) NO BRASIL

Semana de 02 a 08 de junho de 2025

   

Lucas Milanez de Lima Almeida [i]

 

Caro leitor, antes de iniciar a análise propriamente dita, preciso destacar dois temas que trazem sentimentos opostos.

O primeiro é a, cada vez mais, escancarada ação genocida do Estado de Israel contra a população da Palestina. Se, desde o começo, a desproporção do ataque do Estado judeu já foi flagrante, não é de hoje que o que tem acontecido por lá se transformou em um massacre abominável. Campos de concentração, há. Pessoas passando fome, também. O que está faltando para que isto seja chamado de holocausto palestino, câmara de gás?

 O segundo tema a ser destacado é que, nesta semana que ainda não terminou, não há a menor possibilidade de qualquer brasileiro com o mínimo de intelecto escrever algo e não falar do prazer em ver militares sentados no banco dos réus da justiça civil. É muita alegria ver um troglodita, metido a corajoso, se amofinar diante de um juizado composto pela Suprema Corte do país. Nesse momento, para além das lembranças de toda a pressão contra as Eleições de 2022, vem à mente, também, o conjunto de iniquidades praticadas por Bolsonaro durante a pandemia de Covid-19. É possível que, pela primeira vez na nossa história, vejamos uma rápida (mesmo que tímida) resposta às atrocidades praticadas por militares brasileiros. Para termos a cereja em cima do bolo, só faltaria mesmo a burguesia que o apoiou pagar junto. Mas, eu sei, isto é querer demais... Enfim, vamos aos fatos da semana que já acabou.

 Como já foi trazido na análise passada, há uma verdadeira guerra de narrativas acerca dos fatos sobre a economia brasileira. Os dados mostram uma melhora significativa em várias dimensões, desde a queda na desigualdade de renda até o aumento nos investimentos e nas exportações. Porém, os noticiários vivem afirmando que isto é um problema para o país, que não deveríamos crescer tanto e gerar tanto emprego.

De acordo com os dados oficiais do IBGE, a economia brasileira cresceu 1,4% entre o último trimestre de 2024 e o primeiro trimestre de 2025. No contexto das confusões internacionais, lideradas por Donald Trump, nosso crescimento foi maior do que o da União Europeia (0,3%) e o do G7 (0,1%), ficando atrás, contudo, de outros países emergentes, como a China (5,4%).

Detalhando um pouco, é importante destacar que houve uma forte contribuição da Agropecuária no crescimento geral, que saltou 12,2% no período. Esta cifra reflete uma recuperação da forte queda do fim do ano passado (-4,4%). No caso dos Serviços, não houve uma mudança significativa em relação ao período anterior, crescendo 0,3% nesses primeiros meses de 2025. Contudo, a Indústria de Transformação foi o ponto negativo, literalmente, tendo em vista que o PIB do setor caiu 1,0%. Por sua vez, a Construção Civil reduziu em 0,8% seu PIB. A situação geral da Indústria só não foi pior por causa da Indústria Extrativa (+2,1%) e dos Serviços Industriais de Utilidade Pública (+1,5%).

Para encerrar a descrição dos dados sobre o PIB, alguns componentes da demanda foram destaques positivos: os aumentos de 3,1% nos Investimentos e de 2,9% nas Exportações. Isto mostra maior pujança da atividade econômica, pois corresponde, por um lado, a um aumento na capacidade produtiva, nas contratações e na geração de renda, e, por outro, a um aumento nas vendas internacionais, o que traz uma maior quantidade de dólares para o país. Contudo, o aumento de 5,9% nas Importações reflete uma fraqueza de longa data na estrutura produtiva brasileira. Nas últimas décadas, sempre que precisamos crescer, tivemos que comprar mais do resto do mundo por falta de capacidade produtiva interna. Isto se reflete, sempre, no aumento da inflação.

Bom, reforçando o que já foi dito em análises anteriores, em especial a da semana passada, não dá para encontrar uma conexão crível entre os fatos e a narrativa que tem sido criada sobre a economia do Brasil. Muito longe do ideal, as políticas que estão sendo adotadas buscam romper a perversa lógica da contenção da inflação pelo sufocamento da economia. O problema é que, como têm mostrado as pesquisas de intenção de votos, parece que isto não chega plenamente à realidade das pessoas. Mas aí o problema já é outro, está no próprio capitalismo.

Deixemos essa discussão para outro dia...


[i] Professor (DRI/UFPB; PPGCPRI/UFPB; PPGRI/UEPB) e Coordenador do PROGEB. (@progebufpb, www.progeb.blogspot.com; @almeidalmilanez; lucasmilanez@hotmail.com). Colaboraram: Antonio Fontes, Bruno Lins, Camylla Martins, Guilherme de Paula,  Lara Souza, Nelson Rosas, Rosângela Palhano e Victoria Rodrigues.

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