sábado, 7 de março de 2009
quarta-feira, 4 de março de 2009
Batom: antídoto para a crise econômica
Semana de 09 a 15 de fevereiro de 2009
O déficit comercial dos EUA diminuiu, em dezembro, menos do que o previsto, atingindo o menor patamar em quase seis anos. O aumento das demissões, a falta de crédito e a crise mundial indicam que as importações e as exportações deste país, que caíram em dezembro pelo quinto mês consecutivo, devem se contrair ainda mais.
E os efeitos foram sentidos do outro lado do mundo com as exportações chinesas tendo a maior queda em 13 anos, uma vez que a demanda dos EUA e da Europa encolheu. As importações tiveram um declínio recorde, mostrando o agravamento da crise na terceira maior economia do mundo. Os embarques para o exterior declinaram 17,5% em janeiro, em relação ao mesmo período de 2008, e as importações caíram 43,1%. E tinha quem apostasse na China como novo motor da economia mundial, e que sozinha sustentaria o crescimento global. Estavam redondamente enganados.
No Brasil o consumo de eletricidade no segmento industrial, em janeiro deste ano, caiu 15,73%, em relação ao mesmo mês do ano passado. Esse forte recuo na demanda demonstra os efeitos da crise sobre a atividade industrial brasileira.
A conseqüência dessa maré ruim é uma onda de demissões. Mas o presidente Lula afirmou que as negociações entre empresas e sindicatos é o caminho para resolver questões de trabalho nesse momento de enfrentamento da crise econômica. Nas suas palavras: “O governo só entra na negociação entre o capital e o trabalho no dia em que uma das partes pedir e as duas concordarem. Eu era dirigente sindical e nunca aceitei que o governo se metesse nas minhas negociações. Tudo o que eu queria era liberdade para negociar”.
Já o ministro do Trabalho e Emprego, Carlos Lupi, anunciou ontem três medidas para evitar as demissões no mercado de trabalho, causadas pela crise econômica, que, apenas em dezembro, provocou a perda de emprego para 654 mil trabalhadores, no Brasil. A primeira medida é que o montante inicial da linha de crédito de capital de giro às revendedoras de carros usados, com recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), será de R$ 200 milhões. Outra medida é o acréscimo de dois meses no limite máximo do pagamento do seguro-desemprego para os trabalhadores que foram demitidos por empresas de setores prejudicados pela crise. O teto agora passa a ser de sete meses. A terceira medida é a regulamentação da Bolsa Qualificação Profissional que estabeleceu a carga horária de 60 horas mensais, no mínimo, para realização dos cursos oferecidos por empresas aos trabalhadores com contrato de trabalho suspenso.
Mesmo sem querer ser pessimista algumas questões tornam-se pertinentes. E se essa linha de crédito for insuficiente para aquecer o mercado de revendedoras de veículos? E se, mesmo com o crédito, não houver quem queira tomá-lo? E se depois que acabar o seguro desemprego o trabalhador não conseguir um novo emprego? E se depois do curso de qualificação o emprego não aparecer?
O presidente Lula já pensou em tudo isso e admitiu que, para impulsionar as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) – menina dos olhos do governo e plataforma política da candidatura de Dilma Roussef à presidência - se propõe até a cortar gastos do governo. Abusando um pouco da retórica e no entusiasmo do discurso o presidente declarou: “Nós cortaremos o batom da dona Dilma, nós cortaremos o meu corte de unha, mas não cortaremos uma obra do PAC”.
É um excelente exercício para a imaginação estimar quanto o governo gasta com o batom da Ministra Dilma e o corte de unhas do presidente e imaginar como o corte desses gastos, por parte do governo, seria capaz de estimular a economia, através de obras do PAC. Agora continuando no exercício, imagine o tamanho do estímulo que sofreria a economia se o governo, em vez disso, cortasse a taxa de juros Selic e, consequentemente, passasse a pagar menos juros da dívida. O problema é que a ministra pode comprar o batom com seu próprio dinheiro e o presidente pode ficar com as unhas grandes, mas o mercado financeiro, este sim, não pode ficar sem os milhões que lhes são pagos, de juros, todos os anos.
Texto escrito por:
Nayana Ruth Mangueira de Figueiredo: Professora do Departamento de Economia da UFPB e Pesquisadora do PROGEB – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. progeb@ccsa.ufpb.br
Arquivo para download em formato pdf.
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E os efeitos foram sentidos do outro lado do mundo com as exportações chinesas tendo a maior queda em 13 anos, uma vez que a demanda dos EUA e da Europa encolheu. As importações tiveram um declínio recorde, mostrando o agravamento da crise na terceira maior economia do mundo. Os embarques para o exterior declinaram 17,5% em janeiro, em relação ao mesmo período de 2008, e as importações caíram 43,1%. E tinha quem apostasse na China como novo motor da economia mundial, e que sozinha sustentaria o crescimento global. Estavam redondamente enganados.
No Brasil o consumo de eletricidade no segmento industrial, em janeiro deste ano, caiu 15,73%, em relação ao mesmo mês do ano passado. Esse forte recuo na demanda demonstra os efeitos da crise sobre a atividade industrial brasileira.
A conseqüência dessa maré ruim é uma onda de demissões. Mas o presidente Lula afirmou que as negociações entre empresas e sindicatos é o caminho para resolver questões de trabalho nesse momento de enfrentamento da crise econômica. Nas suas palavras: “O governo só entra na negociação entre o capital e o trabalho no dia em que uma das partes pedir e as duas concordarem. Eu era dirigente sindical e nunca aceitei que o governo se metesse nas minhas negociações. Tudo o que eu queria era liberdade para negociar”.
Já o ministro do Trabalho e Emprego, Carlos Lupi, anunciou ontem três medidas para evitar as demissões no mercado de trabalho, causadas pela crise econômica, que, apenas em dezembro, provocou a perda de emprego para 654 mil trabalhadores, no Brasil. A primeira medida é que o montante inicial da linha de crédito de capital de giro às revendedoras de carros usados, com recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), será de R$ 200 milhões. Outra medida é o acréscimo de dois meses no limite máximo do pagamento do seguro-desemprego para os trabalhadores que foram demitidos por empresas de setores prejudicados pela crise. O teto agora passa a ser de sete meses. A terceira medida é a regulamentação da Bolsa Qualificação Profissional que estabeleceu a carga horária de 60 horas mensais, no mínimo, para realização dos cursos oferecidos por empresas aos trabalhadores com contrato de trabalho suspenso.
Mesmo sem querer ser pessimista algumas questões tornam-se pertinentes. E se essa linha de crédito for insuficiente para aquecer o mercado de revendedoras de veículos? E se, mesmo com o crédito, não houver quem queira tomá-lo? E se depois que acabar o seguro desemprego o trabalhador não conseguir um novo emprego? E se depois do curso de qualificação o emprego não aparecer?
O presidente Lula já pensou em tudo isso e admitiu que, para impulsionar as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) – menina dos olhos do governo e plataforma política da candidatura de Dilma Roussef à presidência - se propõe até a cortar gastos do governo. Abusando um pouco da retórica e no entusiasmo do discurso o presidente declarou: “Nós cortaremos o batom da dona Dilma, nós cortaremos o meu corte de unha, mas não cortaremos uma obra do PAC”.
É um excelente exercício para a imaginação estimar quanto o governo gasta com o batom da Ministra Dilma e o corte de unhas do presidente e imaginar como o corte desses gastos, por parte do governo, seria capaz de estimular a economia, através de obras do PAC. Agora continuando no exercício, imagine o tamanho do estímulo que sofreria a economia se o governo, em vez disso, cortasse a taxa de juros Selic e, consequentemente, passasse a pagar menos juros da dívida. O problema é que a ministra pode comprar o batom com seu próprio dinheiro e o presidente pode ficar com as unhas grandes, mas o mercado financeiro, este sim, não pode ficar sem os milhões que lhes são pagos, de juros, todos os anos.
Texto escrito por:
Nayana Ruth Mangueira de Figueiredo: Professora do Departamento de Economia da UFPB e Pesquisadora do PROGEB – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. progeb@ccsa.ufpb.br
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terça-feira, 3 de março de 2009
A Solidez do Sistema Bancário Nacional
Semana de 02 a 08 de fevereiro de 2009
A crise econômica internacional atingiu a economia brasileira em cheio, no final do ano passado,encerrando o último trimestre com uma redução de 12,4% na produção industrial, entre novembro e dezembro. Foi a maior queda já registrada, desde 1998. No mesmo período, o número de horas trabalhadas na indústria caiu 8% e o nível de emprego foi reduzido em 0,5%. O índice de utilização da capacidade instalada também recuou de 81,4% para 80,2%. Os dados são da Confederação Nacional da Indústria (CNI), que aposta em uma retomada do crescimento econômico somente a partir do segundo trimestre de 2009.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) também divulgou números que mostramque a produção industrial recuou em doze das quatorze regiões pesquisadas. As maiores quedas foram registradas em Minas Gerias (-16,4%), na Bahia (-15,6%) e em São Paulo (-14,9%).
Paralelamente à redução do nível da atividade econômica, a concessão de férias coletivas e oanúncio de demissões não param de aumentar. A Pirelli, por exemplo, informou, no último dia 04, que vai dar férias coletivas a 2500 trabalhadores da unidade de Santo André, no ABC paulista. Já a General Motors do Brasil anunciou, por meio do seu presidente, Jaime Ardila, que não renovará o contrato de 1.630 trabalhadores temporários de São Caetano do Sul.
Diferentemente da indústria, o setor bancário brasileiro continua praticamente intacto, semnenhuma grande marca da crise e comemora os elevados lucros obtidos em 2008. De acordo com a Austin Rating, agência de classificação de risco, os quatro gigantes do setor, Bradesco, Itaú, Banco do Brasil e Unibanco, podem ter alcançado ganhos em torno de R$ 29 bilhões, cerca de 15% a mais do que o registrado em 2007. Ainda de acordo com a agência, a rentabilidade sobre o patrimônio líquido, do Bradesco, deve ficar em torno de 22,1%, a do Itaú, em 23,4%, a do Unibanco, em 21,3% e a do Banco do Brasil, em 32,9%. Nenhum outro setor da economia tem uma taxa de retorno tão alta como a dos bancos.
Estes dados demonstram toda a solidez do sistema bancário nacional num momento em que osgrandes bancos norte-americanos e europeus estão enfrentando graves problemas financeiros e arcando com prejuízos volumosos. Esta solidez é alcançada, sobretudo, graças à eficácia da política monetária do Banco Central brasileiro no que diz respeito à manutenção da taxa básica de juros real do país, entre as maiores do mundo, o que garante ao sistema financeiro do Brasil um retorno certo e fácil.
Se a tese do descolamento da economia brasileira, das grandes economias mundiais, amplamentedefendida no início da crise, se mostrou falsa, com a forte queda registrada pela produção industrial nacional, a blindagem dos bancos, criada pela política monetária, vem se mostrando consistente, resistindo até mesmo à crise econômica internacional. Os “sólidos fundamentos” da macroeconomia do país parecem, portanto, beneficiar um único setor, o financeiro, em detrimento dos mais diversos ramos e segmentos do setor produtivo. Este setor, nos últimos anos, vem sendo esmagado pela concorrência estrangeira devido às condições desfavoráveis existentes no Brasil. Por outro lado, ano após ano, o setor bancário vem obtendo lucros recordes, registrando elevada rentabilidade e extraordinário crescimento. Logo, os verdadeiros fundamentos que a política econômica do governo busca incessantemente manter sólidos, são os fundamentos microeconômicos do sistema financeiro. É incontestável que, deste pondo de vista, tal política vem alcançando plenamente os seus objetivos.
O Banco Central, sempre preocupado com a “saúde financeira das empresas”, irá liberar, nopróximo dia 27 deste mês, US$ 20 bilhões para que empresas brasileiras paguem suas dívidas no exterior. Mais uma vez, os recursos serão repassados para os bancos comerciais, que devem ofertar linhas de crédito, em moeda estrangeira, para as companhias brasileiras. O dinheiro será retirado das reservas internacionais. Enquanto isto, o saldo da balança comercial fechou o mês de janeiro com um déficit de US$ 518 milhões, de acordo com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Este é o primeiro déficit mensal em oito anos. A maior retração foi registrada na venda de produtos manufaturados, cuja receita caiu 36,76%.
No cenário internacional, a crise continua demonstrando que ainda não chegamos ao fundo dopoço. Que o digam as grandes fabricantes japonesas de eletroeletrônicos. A gigantesca Panasonic prevê um prejuízo de US$ 4,3 bilhões e queda de 15% nas vendas para este ano. A empresa anunciou ainda que deve fechar 27 fábricas, 13 delas no Japão, até o final de março. As demissões de funcionários devem alcançar um total de 15 mil, até março de 2010. Nos Estados Unidos, foram eliminados 522 mil postos de trabalho, somente em janeiro, segundo relatório divulgado pela ADP Employers Services e o primeiroministro britânico, Gordon Brown já trocou a palavra recessão por depressão, que descreve um quadro de recessão profunda e duradoura e que quase sempre é evitada nos discursos das autoridades internacionais, pelo seu tom de gravidade. Assim sendo, dentre todas as grandes corporações capitalistas, sólidos mesmo, são os nossos bancos, pois nem mesmo a crise econômica foi capaz de abalar a sua lucratividade.
Então, temos ou não razão em desconfiar da política econômica?
Texto escrito por:
Diego Mendes Lyra: Mestrando em economia, Professor Substituto do Departamento de Economia da UFPB e pesquisador do Progeb – Projeto globalização e crise na economia brasileira
progeb@ccsa.ufpb.br
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O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) também divulgou números que mostramque a produção industrial recuou em doze das quatorze regiões pesquisadas. As maiores quedas foram registradas em Minas Gerias (-16,4%), na Bahia (-15,6%) e em São Paulo (-14,9%).
Paralelamente à redução do nível da atividade econômica, a concessão de férias coletivas e oanúncio de demissões não param de aumentar. A Pirelli, por exemplo, informou, no último dia 04, que vai dar férias coletivas a 2500 trabalhadores da unidade de Santo André, no ABC paulista. Já a General Motors do Brasil anunciou, por meio do seu presidente, Jaime Ardila, que não renovará o contrato de 1.630 trabalhadores temporários de São Caetano do Sul.
Diferentemente da indústria, o setor bancário brasileiro continua praticamente intacto, semnenhuma grande marca da crise e comemora os elevados lucros obtidos em 2008. De acordo com a Austin Rating, agência de classificação de risco, os quatro gigantes do setor, Bradesco, Itaú, Banco do Brasil e Unibanco, podem ter alcançado ganhos em torno de R$ 29 bilhões, cerca de 15% a mais do que o registrado em 2007. Ainda de acordo com a agência, a rentabilidade sobre o patrimônio líquido, do Bradesco, deve ficar em torno de 22,1%, a do Itaú, em 23,4%, a do Unibanco, em 21,3% e a do Banco do Brasil, em 32,9%. Nenhum outro setor da economia tem uma taxa de retorno tão alta como a dos bancos.
Estes dados demonstram toda a solidez do sistema bancário nacional num momento em que osgrandes bancos norte-americanos e europeus estão enfrentando graves problemas financeiros e arcando com prejuízos volumosos. Esta solidez é alcançada, sobretudo, graças à eficácia da política monetária do Banco Central brasileiro no que diz respeito à manutenção da taxa básica de juros real do país, entre as maiores do mundo, o que garante ao sistema financeiro do Brasil um retorno certo e fácil.
Se a tese do descolamento da economia brasileira, das grandes economias mundiais, amplamentedefendida no início da crise, se mostrou falsa, com a forte queda registrada pela produção industrial nacional, a blindagem dos bancos, criada pela política monetária, vem se mostrando consistente, resistindo até mesmo à crise econômica internacional. Os “sólidos fundamentos” da macroeconomia do país parecem, portanto, beneficiar um único setor, o financeiro, em detrimento dos mais diversos ramos e segmentos do setor produtivo. Este setor, nos últimos anos, vem sendo esmagado pela concorrência estrangeira devido às condições desfavoráveis existentes no Brasil. Por outro lado, ano após ano, o setor bancário vem obtendo lucros recordes, registrando elevada rentabilidade e extraordinário crescimento. Logo, os verdadeiros fundamentos que a política econômica do governo busca incessantemente manter sólidos, são os fundamentos microeconômicos do sistema financeiro. É incontestável que, deste pondo de vista, tal política vem alcançando plenamente os seus objetivos.
O Banco Central, sempre preocupado com a “saúde financeira das empresas”, irá liberar, nopróximo dia 27 deste mês, US$ 20 bilhões para que empresas brasileiras paguem suas dívidas no exterior. Mais uma vez, os recursos serão repassados para os bancos comerciais, que devem ofertar linhas de crédito, em moeda estrangeira, para as companhias brasileiras. O dinheiro será retirado das reservas internacionais. Enquanto isto, o saldo da balança comercial fechou o mês de janeiro com um déficit de US$ 518 milhões, de acordo com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Este é o primeiro déficit mensal em oito anos. A maior retração foi registrada na venda de produtos manufaturados, cuja receita caiu 36,76%.
No cenário internacional, a crise continua demonstrando que ainda não chegamos ao fundo dopoço. Que o digam as grandes fabricantes japonesas de eletroeletrônicos. A gigantesca Panasonic prevê um prejuízo de US$ 4,3 bilhões e queda de 15% nas vendas para este ano. A empresa anunciou ainda que deve fechar 27 fábricas, 13 delas no Japão, até o final de março. As demissões de funcionários devem alcançar um total de 15 mil, até março de 2010. Nos Estados Unidos, foram eliminados 522 mil postos de trabalho, somente em janeiro, segundo relatório divulgado pela ADP Employers Services e o primeiroministro britânico, Gordon Brown já trocou a palavra recessão por depressão, que descreve um quadro de recessão profunda e duradoura e que quase sempre é evitada nos discursos das autoridades internacionais, pelo seu tom de gravidade. Assim sendo, dentre todas as grandes corporações capitalistas, sólidos mesmo, são os nossos bancos, pois nem mesmo a crise econômica foi capaz de abalar a sua lucratividade.
Então, temos ou não razão em desconfiar da política econômica?
Texto escrito por:
Diego Mendes Lyra: Mestrando em economia, Professor Substituto do Departamento de Economia da UFPB e pesquisador do Progeb – Projeto globalização e crise na economia brasileira
progeb@ccsa.ufpb.br
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sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009
Procura-se um culpado. Burgueses e proletários, uni-vos
Semana de 26 de janeiro a 01 de fevereiro de 2009
“A pior crise econômica desde a Grande Depressão não é um fenômeno natural, e sim um desastre fabricado pelo homem no qual todos tiveram a sua participação”. É assim que o importante jornal britânico The Guardian, começa o artigo em que aponta os culpados. Ele apresenta uma lista de 25 nomes entre os quais se encontram os ex-presidentes dos EUA, Bill Clinton e George Bush, o primeiro ministro inglês, Gordon Brown, os presidentes dos bancos centrais dos EUA, Alan Greenspan e da Inglaterra, Mervyn King, 15 banqueiros e os dois grandes especuladores Warren Buffet e George Soros. Depois de identificar os criminosos, surpreendentemente, não é apontada nenhuma punição para tão hediondo crime.
Grande contribuição do The Guardian! Antes sabíamos apenas que os culpados eram algunstrambiqueiros do mercado imobiliário americano que emprestaram dinheiro a quem não podia pagar. Agora temos réus.
Se não são apresentadas punições para os criminosos, surgem brilhantes soluções para contornar a desgraça. O próprio Soros, no fórum de Davos, na Suíça, dá seus conselhos. Ele propõe uma “injeção direta de capitais nos bancos falidos”. Em um seminário, o nosso liberal economista Delfim Neto, cortejado por muitos, e em particular pelo presidente Lula, que o nomeou seu consultor, também apresentou sua sugestão: uma estatização temporária dos bancos. Em seguida, com receio de ser mal interpretado, apressou-se em explicar que “estatização não significa a morte do capitalismo”. Era só uma estatização para sanear os ativos podres, em mãos dos bancos, para uma posterior devolução aos seus legítimos donos.
Enquanto estas brilhantes sugestões são apresentadas, para salvar os bancos, o resto do mundocontinua a desabar. A Shell anunciou um prejuízo de US$ 2,81 bilhões, em 2008. A Ford, de US$ 14,6 bilhões, a maior da sua história. A Panasonic estima perder US$ 1,1 bilhão e a Samsung US$ 682 milhões. A General Eletric teve uma queda de 44% nos seus lucros, no último trimestre, o que foi considerado um dos períodos mais difíceis nos seus 117 anos de história. A Wells Fargo, a segunda maior instituição de crédito imobiliário dos EUA, também anunciou um prejuízo de US$ 2,55 bilhões, no quarto trimestre de 2008. O terceiro maior banco do Japão, o Sumitomo Mitsui Financial, informou que, já no terceiro trimestre, teve uma redução de 99% nos seus lucros. Ainda no Japão, a Nomura Holdig Inc, a maior corretora de valores do país, anunciou um prejuízo de US$ 3,8 bilhões, no mesmo período. A Toyotta Motor, em 2009, pretende reduzir a sua produção em 3 milhões de veículos o que significa uma queda de 20% na sua produção. A Boeing, após declarar um prejuízo de US$ 56 milhões, em 2008, anunciou um corte de 10.000 empregados. O Fundo Monetário Internacional, FMI, no documento Perspectivas para oCrescimento Global, previu que, em 2009, a economia mundial crescerá apenas 0,5%.
O desemprego também continua a se expandir. A Toshiba após anunciar um prejuízo de US$ 1,77 bilhão, no trimestre de outubro a dezembro, pretende demitir 4,5 mil trabalhadores. A GM já demitiu 2.000, e a Pfizer, 19 mil. A Starbucks, uma grande rede de cafés, demitirá 6,7 mil empregados e fechará 300 lojas. Na Itália, estima-se em 60.000 o número de postos de trabalho fechados. O Financial Times anunciou que, em apenas um dia, 70.000 trabalhadores foram demitidos no mundo. Nos EUA, na semana que terminou em 17 de janeiro, foram feitos 4,776 milhões de pedidos de seguro desemprego, o número mais elevado desde 1967. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) prevê que, em 2009, 2,4 milhões de trabalhadores perderão os empregos na América Latina.
O agravamento da situação começa a provocar o surgimento de grandes manifestações nas ruas das principais cidades da Europa. Na França, estimou-se em 2,5 milhões o número de participantes no maior protesto dos últimos 20 anos e 69% da população apoiou a greve geral convocada. Manifestações também ocorreram no Reino Unido, Islândia, Bulgária, Grécia, Estônia, Hungria, Letônia, Lituânia, Eslováquia, Eslovênia, Espanha, Rússia, etc. Na Islândia o governo, diante das pressões, foi obrigado a demitir-se. A Grã-Bretanha declarou-se oficialmente em recessão e nos EUA os juros básicos foram mantidos entre 0% e 0,25%. O estado da Califórnia está à beira da falência. O relógio contador de déficit, instalado pelo seu governador Schwarzenegger, contabiliza US$ 500 por segundo e em breve atingirá os US$ 40 bilhões.
No Brasil a situação não está melhor. Segundo a Confederação Nacional da Indústria, CNI, noquarto trimestre a queda da produção industrial, em relação ao terceiro, foi de 17%. O uso da capacidade instalada caiu para 74%. Dos 28 setores pesquisados apenas três tiveram crescimento: bebidas, limpeza e perfumaria e vestuário. Apesar da queda da produção, os estoques cresceram 53,5%. Este trimestre foi o pior dos últimos 10 anos. A indústria de transformação paulista, em dezembro, apresentou uma retração de 5,2%. Esta desaceleração já vinha sendo notada em outubro (-1,7%) e novembro (-3,3%). A CNI espera que nos próximos seis meses continuem a cair, a demanda, as compras e as exportações. As indústrias continuarão a demitir empregados. Só no mês de dezembro, a Fiesp estima que foram demitidos 130.000trabalhadores. Apavorados com a crise os empresários cancelam os investimentos. Segundo os dados do BNDEs cerca de RS$ 155 bilhões já foram suspensos. Com efeito, o paradeiro continua. A Volkswgen Caminhões anunciou uma paralisação de 13 dias, entre fevereiro e 5 de março. A Scania também pretende parar 9 dias neste período. A Volvo do Brasil, que já demitiu 430 trabalhadores, pretende manter a redução da produção e vai estender as férias coletivas por um período de 50 dias.
Diante deste quadro assiste-se a um fato inusitado. Unem-se burgueses e proletários para reduzir o volume de desempregados. A Central Única dos Trabalhadores (Cut) conclama a formação de um pacto de “trabalhadores, empresários e governo”, cada um fazendo a sua parte, para evitar as demissões. As centrais sindicais propuseram “redução de juros, redução de lucro e redução de taxas bancárias”. Todas as soluções estão sendo tentadas. Redução da jornada de trabalho com redução de salários, férias coletivas, suspensão de contrato de trabalho, suspensão dos salários com manutenção do emprego, criação do banco de horas, etc. A Cia Vale do Rio Doce, por exemplo, fechou acordo com 7 sindicatos que representam 17 mil trabalhadores, prevendo a concessão de férias, com a redução de 50% dos salários, mas com garantia de emprego, até 31 de maio. Manifestos conjuntos estão sendo assinados pelas organizações de trabalhadores e de capitalistas pedindo a mudança da política econômica do governo e a redução dos juros.
Por seu lado, o governo, que se cansou de afirmar que a crise não chegaria ao Brasil, que era umproblema do “companheiro Bush”, que era uma marolinha, agora se desespera com medidas de todo tipo para conter a derrocada. Depois de reduzir os impostos sobre os carros novos deparou-se com o entupimento do mercado de carros usados. O Banco do Brasil já está se preparando para disponibilizar R$ 2,5 bilhões para financiamentos das compras deste tipo de veículo, com os recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT). Mais perdido do que sego em tiroteio, o Ministro do Desenvolvimento Indústria e Comercio, assinou uma resolução que estabelecia a exigência de uma licença prévia para importações de cerca de 3 mil itens, o que corresponde a cerca de 60% dos produtos importados. A celeuma causada foi de tal ordem que, por ordem expressa do presidente Lula, a exigência foi revogada. Preocupadas, as empresas de publicidade, lideradas pela ABAP – Associação Brasileira de Agências de Publicidade, convencidas que a crise é resultado do pessimismo dos agentes econômicos, reagiram conjuntamente e preparam uma grande campanha para afastar este pessimismo com o lema: “A gente anda, o Brasil anda”. Agindo no mesmo sentido, o BNDEs abriu uma concorrência para contratar agências de publicidade no sentido de promover a divulgação de suas linhas de financiamento, por quatro anos, com uma modesta verba de R$ 200 milhões.
Para complicar ainda mais a situação, nas quatro primeiras semanas de janeiro, a balançacomercial, finalmente, acumulou um déficit de US$ 645 milhões o que contribuiu para também agravar a situação das transações correntes (conta que registra todas as entradas e saídas de dólares do país). O ano de 2008 fechou com um déficit de US$ 28,3 bilhões, o pior em 10 anos.
Diante deste quadro, enquanto as empresas fecham as portas e os trabalhadores perdem seusempregos e suas conquistas, apenas os bancos e o setor financeiro continuam com seus lucros fabulosos, graças à política seguida pelo Banco Central, sob a batuta do seu maestro, o todo poderoso Henrique Meirelles. Crescem as manifestações para que haja uma forte redução dos juros básicos do país, o maior do mundo, atualmente em 12,75, e, com este objetivo, uma nova e paradoxal consigna passa a ser proclamada: burgueses e proletários, uni-vos.
Texto escrito por:
Nelson Rosas Ribeiro: Professor do Departamento de Economia da UFPB e coordenador do Progeb-Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira
(progeb@ccsa.ufpb.br)
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Grande contribuição do The Guardian! Antes sabíamos apenas que os culpados eram algunstrambiqueiros do mercado imobiliário americano que emprestaram dinheiro a quem não podia pagar. Agora temos réus.
Se não são apresentadas punições para os criminosos, surgem brilhantes soluções para contornar a desgraça. O próprio Soros, no fórum de Davos, na Suíça, dá seus conselhos. Ele propõe uma “injeção direta de capitais nos bancos falidos”. Em um seminário, o nosso liberal economista Delfim Neto, cortejado por muitos, e em particular pelo presidente Lula, que o nomeou seu consultor, também apresentou sua sugestão: uma estatização temporária dos bancos. Em seguida, com receio de ser mal interpretado, apressou-se em explicar que “estatização não significa a morte do capitalismo”. Era só uma estatização para sanear os ativos podres, em mãos dos bancos, para uma posterior devolução aos seus legítimos donos.
Enquanto estas brilhantes sugestões são apresentadas, para salvar os bancos, o resto do mundocontinua a desabar. A Shell anunciou um prejuízo de US$ 2,81 bilhões, em 2008. A Ford, de US$ 14,6 bilhões, a maior da sua história. A Panasonic estima perder US$ 1,1 bilhão e a Samsung US$ 682 milhões. A General Eletric teve uma queda de 44% nos seus lucros, no último trimestre, o que foi considerado um dos períodos mais difíceis nos seus 117 anos de história. A Wells Fargo, a segunda maior instituição de crédito imobiliário dos EUA, também anunciou um prejuízo de US$ 2,55 bilhões, no quarto trimestre de 2008. O terceiro maior banco do Japão, o Sumitomo Mitsui Financial, informou que, já no terceiro trimestre, teve uma redução de 99% nos seus lucros. Ainda no Japão, a Nomura Holdig Inc, a maior corretora de valores do país, anunciou um prejuízo de US$ 3,8 bilhões, no mesmo período. A Toyotta Motor, em 2009, pretende reduzir a sua produção em 3 milhões de veículos o que significa uma queda de 20% na sua produção. A Boeing, após declarar um prejuízo de US$ 56 milhões, em 2008, anunciou um corte de 10.000 empregados. O Fundo Monetário Internacional, FMI, no documento Perspectivas para oCrescimento Global, previu que, em 2009, a economia mundial crescerá apenas 0,5%.
O desemprego também continua a se expandir. A Toshiba após anunciar um prejuízo de US$ 1,77 bilhão, no trimestre de outubro a dezembro, pretende demitir 4,5 mil trabalhadores. A GM já demitiu 2.000, e a Pfizer, 19 mil. A Starbucks, uma grande rede de cafés, demitirá 6,7 mil empregados e fechará 300 lojas. Na Itália, estima-se em 60.000 o número de postos de trabalho fechados. O Financial Times anunciou que, em apenas um dia, 70.000 trabalhadores foram demitidos no mundo. Nos EUA, na semana que terminou em 17 de janeiro, foram feitos 4,776 milhões de pedidos de seguro desemprego, o número mais elevado desde 1967. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) prevê que, em 2009, 2,4 milhões de trabalhadores perderão os empregos na América Latina.
O agravamento da situação começa a provocar o surgimento de grandes manifestações nas ruas das principais cidades da Europa. Na França, estimou-se em 2,5 milhões o número de participantes no maior protesto dos últimos 20 anos e 69% da população apoiou a greve geral convocada. Manifestações também ocorreram no Reino Unido, Islândia, Bulgária, Grécia, Estônia, Hungria, Letônia, Lituânia, Eslováquia, Eslovênia, Espanha, Rússia, etc. Na Islândia o governo, diante das pressões, foi obrigado a demitir-se. A Grã-Bretanha declarou-se oficialmente em recessão e nos EUA os juros básicos foram mantidos entre 0% e 0,25%. O estado da Califórnia está à beira da falência. O relógio contador de déficit, instalado pelo seu governador Schwarzenegger, contabiliza US$ 500 por segundo e em breve atingirá os US$ 40 bilhões.
No Brasil a situação não está melhor. Segundo a Confederação Nacional da Indústria, CNI, noquarto trimestre a queda da produção industrial, em relação ao terceiro, foi de 17%. O uso da capacidade instalada caiu para 74%. Dos 28 setores pesquisados apenas três tiveram crescimento: bebidas, limpeza e perfumaria e vestuário. Apesar da queda da produção, os estoques cresceram 53,5%. Este trimestre foi o pior dos últimos 10 anos. A indústria de transformação paulista, em dezembro, apresentou uma retração de 5,2%. Esta desaceleração já vinha sendo notada em outubro (-1,7%) e novembro (-3,3%). A CNI espera que nos próximos seis meses continuem a cair, a demanda, as compras e as exportações. As indústrias continuarão a demitir empregados. Só no mês de dezembro, a Fiesp estima que foram demitidos 130.000trabalhadores. Apavorados com a crise os empresários cancelam os investimentos. Segundo os dados do BNDEs cerca de RS$ 155 bilhões já foram suspensos. Com efeito, o paradeiro continua. A Volkswgen Caminhões anunciou uma paralisação de 13 dias, entre fevereiro e 5 de março. A Scania também pretende parar 9 dias neste período. A Volvo do Brasil, que já demitiu 430 trabalhadores, pretende manter a redução da produção e vai estender as férias coletivas por um período de 50 dias.
Diante deste quadro assiste-se a um fato inusitado. Unem-se burgueses e proletários para reduzir o volume de desempregados. A Central Única dos Trabalhadores (Cut) conclama a formação de um pacto de “trabalhadores, empresários e governo”, cada um fazendo a sua parte, para evitar as demissões. As centrais sindicais propuseram “redução de juros, redução de lucro e redução de taxas bancárias”. Todas as soluções estão sendo tentadas. Redução da jornada de trabalho com redução de salários, férias coletivas, suspensão de contrato de trabalho, suspensão dos salários com manutenção do emprego, criação do banco de horas, etc. A Cia Vale do Rio Doce, por exemplo, fechou acordo com 7 sindicatos que representam 17 mil trabalhadores, prevendo a concessão de férias, com a redução de 50% dos salários, mas com garantia de emprego, até 31 de maio. Manifestos conjuntos estão sendo assinados pelas organizações de trabalhadores e de capitalistas pedindo a mudança da política econômica do governo e a redução dos juros.
Por seu lado, o governo, que se cansou de afirmar que a crise não chegaria ao Brasil, que era umproblema do “companheiro Bush”, que era uma marolinha, agora se desespera com medidas de todo tipo para conter a derrocada. Depois de reduzir os impostos sobre os carros novos deparou-se com o entupimento do mercado de carros usados. O Banco do Brasil já está se preparando para disponibilizar R$ 2,5 bilhões para financiamentos das compras deste tipo de veículo, com os recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT). Mais perdido do que sego em tiroteio, o Ministro do Desenvolvimento Indústria e Comercio, assinou uma resolução que estabelecia a exigência de uma licença prévia para importações de cerca de 3 mil itens, o que corresponde a cerca de 60% dos produtos importados. A celeuma causada foi de tal ordem que, por ordem expressa do presidente Lula, a exigência foi revogada. Preocupadas, as empresas de publicidade, lideradas pela ABAP – Associação Brasileira de Agências de Publicidade, convencidas que a crise é resultado do pessimismo dos agentes econômicos, reagiram conjuntamente e preparam uma grande campanha para afastar este pessimismo com o lema: “A gente anda, o Brasil anda”. Agindo no mesmo sentido, o BNDEs abriu uma concorrência para contratar agências de publicidade no sentido de promover a divulgação de suas linhas de financiamento, por quatro anos, com uma modesta verba de R$ 200 milhões.
Para complicar ainda mais a situação, nas quatro primeiras semanas de janeiro, a balançacomercial, finalmente, acumulou um déficit de US$ 645 milhões o que contribuiu para também agravar a situação das transações correntes (conta que registra todas as entradas e saídas de dólares do país). O ano de 2008 fechou com um déficit de US$ 28,3 bilhões, o pior em 10 anos.
Diante deste quadro, enquanto as empresas fecham as portas e os trabalhadores perdem seusempregos e suas conquistas, apenas os bancos e o setor financeiro continuam com seus lucros fabulosos, graças à política seguida pelo Banco Central, sob a batuta do seu maestro, o todo poderoso Henrique Meirelles. Crescem as manifestações para que haja uma forte redução dos juros básicos do país, o maior do mundo, atualmente em 12,75, e, com este objetivo, uma nova e paradoxal consigna passa a ser proclamada: burgueses e proletários, uni-vos.
Texto escrito por:
Nelson Rosas Ribeiro: Professor do Departamento de Economia da UFPB e coordenador do Progeb-Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira
(progeb@ccsa.ufpb.br)
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quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009
Revolução Cubana: 50 anos de socialismo desafiando o capitalismo global
Semana de 19 a 25 de janeiro de 2009
Desde a 2ª Guerra Mundial, principalmente, criou-se uma série de indicadores econômicos com o objetivo de medir o desempenho das economias existentes no globo. Ao lado desses indicadores surgiram os indicadores sociais, tendo em vista que a preocupação, após a 2ª Guerra, era buscar o desenvolvimento econômico e não somente o crescimento. A diferença conceitual entre crescimento e desenvolvimento está no fato de que este último consiste não apenas no aumento quantitativo do produto de um país (ou seja, crescimento), mas na distribuição desta maior riqueza, de forma eqüitativa, entre os seus habitantes. Ora, uma olhada nas estatísticas mundiais mostra que crescer com equidade é incompatível com o modo capitalista de produção.
Dentre os indicadores econômicos podem-se destacar: a produção industrial, o volume de vendas do comércio e da indústria, o volume de crédito, o consumo de energia, a produção de papelão, a variação do PIB, etc. Quanto aos indicadores sociais, os mais importantes dizem respeito a dados sobre educação, saúde, saneamento básico, com destaque para o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano). Pode-se afirmar que a taxa de crescimento do PIB figura como o indicador econômico de maior relevância e, observando o desempenho de um país do ponto de vista social, é o IDH que tem o maior destaque.
Ao estudar a dinâmica de desenvolvimento econômico, no capitalismo, o imortal Celso Furtado, respeitado economista brasileiro, chegou a duas importantes conclusões. Em primeiro lugar, que o subdesenvolvimento é um subproduto do capitalismo, e não uma mera etapa que todas as economias capitalistas terão de percorrer, rumo ao desenvolvimento. Em segundo lugar, com base na análise dos dados de uma série histórica de várias economias, Furtado concluiu que o crescimento econômico, no capitalismo, é sempre acompanhado de uma elevação no grau de concentração da riqueza.
Em 1º de janeiro de 2009, Cuba comemorou os 50 anos de sua revolução socialista, em meio a uma grande crise do capitalismo mundial. Os cubanos, há meio século, resistem às dificuldades impostas pelo bloqueio econômico norte-americano e desafiam o capitalismo mostrando indicadores sociais e econômicos muito melhores do que os de muitas economias capitalistas do mundo. Infelizmente, a grande mídia capitalista filtra as informações, divulgando o que Cuba tem de negativo e escondendo os resultados positivos que, se comparados às nações capitalistas, principalmente às subdesenvolvidas (90% do total de economias capitalistas), as envergonhariam. Para se ter uma idéia, a ilha caribenha possui o segundo menor índice de mortalidade infantil das Américas, com 5,3 mortes por mil nascidos vivos, inferior apenas ao Canadá. O dado mostra que o país mais rico do mundo, isto é, os Estados Unidos, com um PIB, que representa 25% da economia mundial, não foram capazes de cuidar tão bem da saúde de suas mulheres e crianças.
Deixando de lado as questões sociais e enfatizando as econômicas, já que no capitalismo são as únicas que interessam, Cuba também não passa vergonha, pelo contrário, constrange seus colegas capitalistas subdesenvolvidos e mesmo os desenvolvidos. De acordo com dados da Comissão Econômica para a América Latina, CEPAL, Cuba crescerá 4,3% em 2008, enquanto que o México, usado como exemplo das vantagens de se engajar ao bloco comercial comandado pelos Estados Unidos, Nafta, crescerá apenas 1,8%. A economia norte-americana terá um resultado inferior ao da mexicana. É válido ressaltar que, em 2008, Cuba teve perdas superiores a US$ 10 bilhões em conseqüência dos furacões Gustav e Ike, o que lhe impediu de repetir o crescimento de 12,1% (o maior crescimento entre os latinos), em 2007, e de 7,3%, em 2006. Em três anos Cuba expandiu seu PIB em 26%. Neste mesmo período, o Brasil cresceu... quanto mesmo?
Na Zona do Euro a previsão para 2009 é de uma retração de 1,9%, de acordo com a Comissão Européia. No último trimestre de 2008, a economia da zona do Euro encolheu 1,5%, depois de cair 0,2% nos dois trimestres anteriores.
As projeções da CEPAL para a economia cubana, em 2009, são de um crescimento de 4%, bastante superior aos de várias economias capitalistas latino-americanas, e aos das economias dos países desenvolvidos, todos em recessão. Além do mais, sem bolsa de valores, Cuba está isenta das preocupações e do desespero que o mundo capitalista tem vivenciado desde que a crise eclodiu. Até a China, antiga economia socialista, agora amarga os males da nova escolha, depois de ter experimentado as suas benesses. Trinta anos depois de ter dado início à nova estratégia de desenvolvimento, a China agora saberá o que é, de verdade, ser capitalista.
O governo desse país informou que o desemprego cresceu pela primeira, vez desde 2003, atingindo 4,2% em 31 de dezembro. Três meses antes a taxa de desemprego urbano era de 4%. As perspectivas são de piora, dado o declínio das exportações. O crescimento econômico chinês caiu para 6,8%, no último trimestre do ano, e 9%, em todo o ano de 2008, contra um crescimento de 13%, em 2007.
De acordo com Nouriel Roubini, professor da Universidade de Nova York que previu a crise econômica atual, a China já está em recessão, apesar do governo ter divulgado dados que mostram um crescimento no quarto trimestre: “A China está em recessão, independente do que os números oficiais, muito manuseados, afirmam”.
O economista disse que os dados sobre o crescimento econômico anual da China são grandemente enganosos porque não refletem a acentuada desaceleração na produção ocorrida durante o quarto trimestre de 2008. Para ele, o declínio na produção de energia elétrica e a contração da indústria de transformação sugerem que o crescimento pode ser negativo.
A China não é a única economia asiática a amargar as conseqüências da crise. O Japão já registrou retração do PIB, e o banco central japonês prevê redução de 1,8%, para o ano orçamentário 2008-2009, e de 2%, para 2009-2010. A Coréia do Sul encolheu 5,4% só no último trimestre do ano, sendo esta a maior retração registrada nos últimos 11 anos.
Referindo-se aos EUA, Roubini afirmou que os prejuízos das instituições norte-americanas, com crédito, poderão chegar ao seu pico no nível de US$ 3,6 trilhões, metade dos quais seriam perdas dos bancos e das corretoras credenciadas como operadoras primárias. Se for assim, isso “significa que, na prática, o sistema bancário dos Estados Unidos está insolvente porque começa a funcionar com um capital de US$ 1,4 trilhão. Isso é uma crise bancária sistêmica”, disse Roubini.
Ainda conforme Roubini, o novo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, terá de empregar até US$ 1 trilhão em recursos públicos para respaldar a capitalização do setor bancário, depois da injeção de US$ 350 bilhões, aplicada pelo governo Bush. E concluiu que “os problemas do Citi, do Bank of America e de outros, sugerem que o sistema (norte-americano) está falido. Na Europa é a mesma coisa”.
Os dados sobre o desastre econômico continuam a chegar de todos os setores da economia mundial.
No Fórum Econômico Mundial as perspectivas para 2009 são as piores. De acordo com o relatório anual divulgado pelo encontro o cenário deste ano contemplará mercados voláteis, falta de liquidez, aumento de desemprego. Associado a isto, a saída dada ao problema, aumento substancial do gasto público, não é vista com otimismo, em função dos déficits governamentais já existentes. Conforme destaca
o relatório: “os gastos maciços destinados pelos governos para ajudar as instituições financeiras ameaçam a já precária saúde fiscal de países como Estados Unidos, Grã Bretanha, França, Itália, Espanha e Austrália”.
No Brasil, a situação não é diferente. A perda de postos de trabalho com carteira assinada atingiu 654.946 trabalhadores, só no mês de dezembro. Segundo informações do Cadastro de Empregados e Desempregados (Caged) este foi o pior resultado registrado para este mês, desde 1992. Conforme dados da CNI (Confederação Nacional das Indústrias) o faturamento da indústria caiu 9,9%, em novembro, em relação a outubro, e o número de horas trabalhadas apresentou retração de 1,5%, a maior queda desde janeiro de 2003, quando teve início a série preparada pela instituição. Pior que isso é que novembro é o segundo mês consecutivo de queda e dos 19 setores pesquisados, somente o de vestuário apresentou aumento de 7,6%. O índice de Utilização da Capacidade Instalada (UCI) também sofreu queda, em novembro, ficando em 81,6%, um ponto percentual a menos que em outubro. A produção brasileira de coque (combustível derivado do carvão usado no processo siderúrgico e também na produção de pastilhas de freio), caiu em torno de 70%. Como o setor opera com apenas 30% de sua capacidade instalada os trabalhadores estão, desde novembro, em férias coletivas e as fundições também estão paralisadas.
O documento divulgado pela CNI afirma ainda que “a intensa queda do faturamento sinaliza a acumulação de estoques indesejados, o que sugere recuos adicionais da produção industrial, nos próximos meses”.
A velocidade com a qual a crise se espalha na economia deixa o governo assustado e uma série de medidas já foram tomadas e outras estão para ser implementadas. O BNDES irá receber do Tesouro um reforço de R$ 100 bilhões para ampliar as linhas de financiamento a investimentos de empresas brasileiras e, o Comitê de Política Monetária (Copom) reduziu em 1 ponto percentual a taxa básica de juros Selic, que ficou em 12,75%.
Infelizmente, a medida do Banco Central não resolve o problema dos juros no Brasil, que continua a possui a maior taxa de juros real do mundo de 7,6%. Com exceção de Hungria e Argentina, as demais economias possuem um juro real inferior a 3%, quando não negativo.
A política monetária de Henrique Meirelles fez o Brasil perder o bonde do crescimento e agora, se não revertida rapidamente, incluirá o país no grupo das economias com os piores resultados dentre os atingidos pela crise.
E enquanto o mundo capitalista se dilacera, com falências, desemprego e, tudo mais de ruim, Cuba busca superar suas dificuldades e fortalecer seu socialismo solitário, que, apesar de todos os erros e dificuldades, tem apresentado resultados que deveriam servir de reflexão para o “moderno” capitalismo de mercado.
Texto escrito por:
Águida Cristina Santos Almeida: Professora do Departamento de Economia e Finanças da Universidade Federal de Campina Grande - UFCG e integrante do PROGEB – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira.
progeb@ccsa.ufpb.br
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Dentre os indicadores econômicos podem-se destacar: a produção industrial, o volume de vendas do comércio e da indústria, o volume de crédito, o consumo de energia, a produção de papelão, a variação do PIB, etc. Quanto aos indicadores sociais, os mais importantes dizem respeito a dados sobre educação, saúde, saneamento básico, com destaque para o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano). Pode-se afirmar que a taxa de crescimento do PIB figura como o indicador econômico de maior relevância e, observando o desempenho de um país do ponto de vista social, é o IDH que tem o maior destaque.
Ao estudar a dinâmica de desenvolvimento econômico, no capitalismo, o imortal Celso Furtado, respeitado economista brasileiro, chegou a duas importantes conclusões. Em primeiro lugar, que o subdesenvolvimento é um subproduto do capitalismo, e não uma mera etapa que todas as economias capitalistas terão de percorrer, rumo ao desenvolvimento. Em segundo lugar, com base na análise dos dados de uma série histórica de várias economias, Furtado concluiu que o crescimento econômico, no capitalismo, é sempre acompanhado de uma elevação no grau de concentração da riqueza.
Em 1º de janeiro de 2009, Cuba comemorou os 50 anos de sua revolução socialista, em meio a uma grande crise do capitalismo mundial. Os cubanos, há meio século, resistem às dificuldades impostas pelo bloqueio econômico norte-americano e desafiam o capitalismo mostrando indicadores sociais e econômicos muito melhores do que os de muitas economias capitalistas do mundo. Infelizmente, a grande mídia capitalista filtra as informações, divulgando o que Cuba tem de negativo e escondendo os resultados positivos que, se comparados às nações capitalistas, principalmente às subdesenvolvidas (90% do total de economias capitalistas), as envergonhariam. Para se ter uma idéia, a ilha caribenha possui o segundo menor índice de mortalidade infantil das Américas, com 5,3 mortes por mil nascidos vivos, inferior apenas ao Canadá. O dado mostra que o país mais rico do mundo, isto é, os Estados Unidos, com um PIB, que representa 25% da economia mundial, não foram capazes de cuidar tão bem da saúde de suas mulheres e crianças.
Deixando de lado as questões sociais e enfatizando as econômicas, já que no capitalismo são as únicas que interessam, Cuba também não passa vergonha, pelo contrário, constrange seus colegas capitalistas subdesenvolvidos e mesmo os desenvolvidos. De acordo com dados da Comissão Econômica para a América Latina, CEPAL, Cuba crescerá 4,3% em 2008, enquanto que o México, usado como exemplo das vantagens de se engajar ao bloco comercial comandado pelos Estados Unidos, Nafta, crescerá apenas 1,8%. A economia norte-americana terá um resultado inferior ao da mexicana. É válido ressaltar que, em 2008, Cuba teve perdas superiores a US$ 10 bilhões em conseqüência dos furacões Gustav e Ike, o que lhe impediu de repetir o crescimento de 12,1% (o maior crescimento entre os latinos), em 2007, e de 7,3%, em 2006. Em três anos Cuba expandiu seu PIB em 26%. Neste mesmo período, o Brasil cresceu... quanto mesmo?
Na Zona do Euro a previsão para 2009 é de uma retração de 1,9%, de acordo com a Comissão Européia. No último trimestre de 2008, a economia da zona do Euro encolheu 1,5%, depois de cair 0,2% nos dois trimestres anteriores.
As projeções da CEPAL para a economia cubana, em 2009, são de um crescimento de 4%, bastante superior aos de várias economias capitalistas latino-americanas, e aos das economias dos países desenvolvidos, todos em recessão. Além do mais, sem bolsa de valores, Cuba está isenta das preocupações e do desespero que o mundo capitalista tem vivenciado desde que a crise eclodiu. Até a China, antiga economia socialista, agora amarga os males da nova escolha, depois de ter experimentado as suas benesses. Trinta anos depois de ter dado início à nova estratégia de desenvolvimento, a China agora saberá o que é, de verdade, ser capitalista.
O governo desse país informou que o desemprego cresceu pela primeira, vez desde 2003, atingindo 4,2% em 31 de dezembro. Três meses antes a taxa de desemprego urbano era de 4%. As perspectivas são de piora, dado o declínio das exportações. O crescimento econômico chinês caiu para 6,8%, no último trimestre do ano, e 9%, em todo o ano de 2008, contra um crescimento de 13%, em 2007.
De acordo com Nouriel Roubini, professor da Universidade de Nova York que previu a crise econômica atual, a China já está em recessão, apesar do governo ter divulgado dados que mostram um crescimento no quarto trimestre: “A China está em recessão, independente do que os números oficiais, muito manuseados, afirmam”.
O economista disse que os dados sobre o crescimento econômico anual da China são grandemente enganosos porque não refletem a acentuada desaceleração na produção ocorrida durante o quarto trimestre de 2008. Para ele, o declínio na produção de energia elétrica e a contração da indústria de transformação sugerem que o crescimento pode ser negativo.
A China não é a única economia asiática a amargar as conseqüências da crise. O Japão já registrou retração do PIB, e o banco central japonês prevê redução de 1,8%, para o ano orçamentário 2008-2009, e de 2%, para 2009-2010. A Coréia do Sul encolheu 5,4% só no último trimestre do ano, sendo esta a maior retração registrada nos últimos 11 anos.
Referindo-se aos EUA, Roubini afirmou que os prejuízos das instituições norte-americanas, com crédito, poderão chegar ao seu pico no nível de US$ 3,6 trilhões, metade dos quais seriam perdas dos bancos e das corretoras credenciadas como operadoras primárias. Se for assim, isso “significa que, na prática, o sistema bancário dos Estados Unidos está insolvente porque começa a funcionar com um capital de US$ 1,4 trilhão. Isso é uma crise bancária sistêmica”, disse Roubini.
Ainda conforme Roubini, o novo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, terá de empregar até US$ 1 trilhão em recursos públicos para respaldar a capitalização do setor bancário, depois da injeção de US$ 350 bilhões, aplicada pelo governo Bush. E concluiu que “os problemas do Citi, do Bank of America e de outros, sugerem que o sistema (norte-americano) está falido. Na Europa é a mesma coisa”.
Os dados sobre o desastre econômico continuam a chegar de todos os setores da economia mundial.
- O Citigroup sofreu perdas, em cinco trimestres consecutivos, totalizando US$ 25,2 bilhões e, as perdas no quarto trimestre de 2008 alcançaram a cifra de US$ 8,29 bilhões.
- A Microsoft divulgou resultados trimestrais que ficaram aquém da expectativa de Wall Street e anunciou que poderá cortar até 5 mil postos de trabalho.
- A Honda reduzirá sua produção de veículos em 1,17 milhão de unidades, até março, e demitirá 3.100 trabalhadores temporários no Japão, em abril. A produção será suspensa por 29 dias, em fevereiro e março, e 35 dias, em abril e maio, na fábrica de Swindon, Inglaterra.
- A Toyota está executando cortes de produção que variam por fábricas e modelos, por meio da eliminação de 29 dias de produção, neste trimestre, em duas linhas de montagem que constrói os sedãs Camry. No tocante ao emprego, planeja demitir 5 mil trabalhadores temporários no Japão e nos Estados Unidos.
- A Nissan, terceira maior montadora do Japão, vai reduzir os planos de produção doméstica em mais 64 mil veículos, em fevereiro e março.
- A Yamaha, segunda maior fabricante de motocicletas do mundo, suspenderá temporariamente as operações nas 11 fábricas nacionais por alguns dias, em fevereiro e março.
- A Circuit City, segunda maior cadeia norte-americana de lojas de produtos eletrônicos, decretou falência, deixando sem emprego 30 mil pessoas e fechando 567 lojas.
- O conglomerado industrial MAN AG vai interromper a produção de suas fábricas de caminhões, na Alemanha, por 42 dias, durante a primeira metade do ano, o que afetará cerca de 9,4 mil trabalhadores.
- A Stora Enso, maior fabricante européia de papel, planeja aumentar os cortes na produção depois de diminuir em 15% sua produção de papel, no quarto trimestre de 2008. A empresa fechou uma unidade de produção de papelão e uma linha de papel cuchê na Alemanha, no trimestre, e deixou de extrair madeira na Finlândia por várias semanas, como parte do plano de redução de custos anunciado em setembro.
- A Metso Oyi, que fabrica maquinário para indústria de papel e celulose, irá eliminar 1,2 mil empregos.
- A Basf, maior companhia do setor químico mundial, reduziu a produção nas fábricas e disse que poderá efetuar mais demissões, além dos 200 postos já eliminados. Atualmente, mais de 1,8 mil empregados trabalham menos horas enquanto as fábricas operam com menos de 75% da capacidade em média.
- A Dow Chemical, empresa norte-americana também do setor químico, já demitiu 5 mil pessoas, fechou algumas unidades e vendeu alguns setores.
- As exportações das gigantes japonesas Sony e Toyota, despencaram 35%, em dezembro, frente ao mesmo mês, em 2007.
- A Sony registrou prejuízo líquido, em 2008, de US$ 2,9 bilhões (260 bilhões de ienes) e a LG, no último trimestre do ano, contabilizou um prejuízo de US$ 489 milhões.
No Fórum Econômico Mundial as perspectivas para 2009 são as piores. De acordo com o relatório anual divulgado pelo encontro o cenário deste ano contemplará mercados voláteis, falta de liquidez, aumento de desemprego. Associado a isto, a saída dada ao problema, aumento substancial do gasto público, não é vista com otimismo, em função dos déficits governamentais já existentes. Conforme destaca
o relatório: “os gastos maciços destinados pelos governos para ajudar as instituições financeiras ameaçam a já precária saúde fiscal de países como Estados Unidos, Grã Bretanha, França, Itália, Espanha e Austrália”.
No Brasil, a situação não é diferente. A perda de postos de trabalho com carteira assinada atingiu 654.946 trabalhadores, só no mês de dezembro. Segundo informações do Cadastro de Empregados e Desempregados (Caged) este foi o pior resultado registrado para este mês, desde 1992. Conforme dados da CNI (Confederação Nacional das Indústrias) o faturamento da indústria caiu 9,9%, em novembro, em relação a outubro, e o número de horas trabalhadas apresentou retração de 1,5%, a maior queda desde janeiro de 2003, quando teve início a série preparada pela instituição. Pior que isso é que novembro é o segundo mês consecutivo de queda e dos 19 setores pesquisados, somente o de vestuário apresentou aumento de 7,6%. O índice de Utilização da Capacidade Instalada (UCI) também sofreu queda, em novembro, ficando em 81,6%, um ponto percentual a menos que em outubro. A produção brasileira de coque (combustível derivado do carvão usado no processo siderúrgico e também na produção de pastilhas de freio), caiu em torno de 70%. Como o setor opera com apenas 30% de sua capacidade instalada os trabalhadores estão, desde novembro, em férias coletivas e as fundições também estão paralisadas.
O documento divulgado pela CNI afirma ainda que “a intensa queda do faturamento sinaliza a acumulação de estoques indesejados, o que sugere recuos adicionais da produção industrial, nos próximos meses”.
A velocidade com a qual a crise se espalha na economia deixa o governo assustado e uma série de medidas já foram tomadas e outras estão para ser implementadas. O BNDES irá receber do Tesouro um reforço de R$ 100 bilhões para ampliar as linhas de financiamento a investimentos de empresas brasileiras e, o Comitê de Política Monetária (Copom) reduziu em 1 ponto percentual a taxa básica de juros Selic, que ficou em 12,75%.
Infelizmente, a medida do Banco Central não resolve o problema dos juros no Brasil, que continua a possui a maior taxa de juros real do mundo de 7,6%. Com exceção de Hungria e Argentina, as demais economias possuem um juro real inferior a 3%, quando não negativo.
A política monetária de Henrique Meirelles fez o Brasil perder o bonde do crescimento e agora, se não revertida rapidamente, incluirá o país no grupo das economias com os piores resultados dentre os atingidos pela crise.
E enquanto o mundo capitalista se dilacera, com falências, desemprego e, tudo mais de ruim, Cuba busca superar suas dificuldades e fortalecer seu socialismo solitário, que, apesar de todos os erros e dificuldades, tem apresentado resultados que deveriam servir de reflexão para o “moderno” capitalismo de mercado.
Texto escrito por:
Águida Cristina Santos Almeida: Professora do Departamento de Economia e Finanças da Universidade Federal de Campina Grande - UFCG e integrante do PROGEB – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira.
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quarta-feira, 28 de janeiro de 2009
Não dá para ficar de fora da crise
Semana de 12 a 18 de janeiro de 2009
No decorrer dos primeiros dias do ano de 2009 foram divulgados dados econômicos sobre as manifestações da crise que, a partir dos países ricos, passaram a se apresentar no território brasileiro. São informações sobre demissão de trabalhadores, fechamento de empresas, queda da produção e das vendas, fatos que começaram a ocupar as agendas dos governantes, empresários e trabalhadores.
Uma pesquisa realizada pelo IBGE no comércio varejista brasileiro afirma que houve queda nas vendas, no último trimestre de 2008, especialmente em outubro e novembro (após ajustes sazonais). Os setores que mais reduziram suas vendas estão ligados ao crédito, como Móveis e eletrodomésticos e Equipamentos de informática, com quedas de 3,3% e 9,8%, sobre outubro, respectivamente. No segmento de veículos e motos, as vendas caíram 20,3%, em comparação a novembro de 2007.
No final do ano verificou-se queda na produtividade industrial. Até setembro de 2008, a taxa acumulada da produtividade chegou quase a 4%, e depois diminuiu para 3,2%, em outubro, e 2,5%, em novembro, conforme cálculos da consultora Tendências. Diante disso, os analistas consideram que, nos próximos meses, além da diminuição da demanda e dos investimentos haverá aumento da taxa de desemprego.
Para o economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI), Rogério César de Souza, os impactos da redução da produção industrial, sobre o emprego, devem aparecer mais intensamente nos primeiros meses de 2009. “A desaceleração já estava em curso antes da crise. O que agora preocupa é o sinal”, completa Rogério.
Já ocorreram demissões em torno de 4,5 mil postos de trabalho na Zona Franca de Manaus, no ano passado, e algumas empresas desse pólo esticaram as férias coletivas e outras negociam redução de jornada. No setor automobilístico, a General Motors do Brasil anunciou dispensa de 744 funcionários na unidade de São José dos Campos (SP), em 13 de janeiro último.
Com o fim das férias coletivas dos empregados ligados às montadoras de carros, houve início das negociações entre as entidades trabalhistas e o empresariado, no intuito de procurar propostas alternativas para evitar demissões. As entidades Central Única dos Trabalhadores (CUT) e Força Sindical defendem o aumento da concessão de férias coletivas ou a redução do número de horas trabalhadas; mas divergem entre si quanto as hipóteses de cortes salariais e da suspensão temporária dos contratos de trabalho, opções colocadas pelas entidades patronais, como a Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp).
O que aparece como unanimidade entre todas as representações, citadas no parágrafo anterior, é a opinião sobre a redução da taxa básica de juros, a Selic. Na reunião com o presidente Lula, no dia 19 de janeiro, os representantes das principais centrais sindicais pediram uma redução de dois pontos percentuais na taxa Selic, atualmente em 13,75% anual. Para Paulo Skaf, presidente da Fiesp, “se a taxa de juros não baixar, parte da culpa do desemprego será do governo”.
Com a divulgação dos principais índices de inflação, como o IPCA (Índice Nacional ao Consumidor Amplo), o qual ficou, em dezembro, em 5,9%, dentro do intervalo da meta do governo, especialistas concordam que não há motivos para que a taxa Selic continue no atual nível. Dentre os principais motivos para a desaceleração dos índices de inflação estão as quedas da atividade econômica e do preço das commodities.
Acuado por todos os lados, o presidente do Banco Central, Henrique Meireles, tenta justificar a política de juros altos ao afirmar em dias anteriores: “A política monetária adotada pelo Banco Central é adequada para preservar o poder de compra da população e a manutenção do ganho real dos salários. Estes são os principais dividendos da estabilidade”.
Enquanto isso, e para agravar a situação, a fuga de divisas do país, nos primeiros seis dias úteis de 2009, atingiu a cifra de US$ 353 milhões. Tal saída foi intensificada pela crise internacional, em um movimento de migração de dinheiro do Brasil para cobrir buracos no caixa das empresas, no exterior.
No dia 21 de janeiro, o Comitê de Política Monetária (Copom) finalmente decidiu reduzir a taxa Selic em um ponto porcentual, para 12,75% ao ano, após uma semana de especulações por vários setores da sociedade. A última redução do juro de pelo menos um ponto porcentual aconteceu há mais de cinco anos, em dezembro de 2003, quando a taxa Selic caiu de 17,5%, para 16,5%.
Com relação às demais economias, o Fundo Monetário Internacional (FMI) afirmou, na última quinzena, que o panorama econômico mundial, para 2009, é “triste”. O Fundo informou também que poderá precisar de outros 150 bilhões de dólares para ajudar os mercados emergentes e nações mais pobres a lidar com os efeitos ocasionados pelo agravamento da crise econômica.
Ao mesmo tempo, o governo da Alemanha apresentou seu primeiro pacote de estímulo econômico com um orçamento de 50 bilhões de dólares. A Alemanha obteve, em 2008, o menor crescimento econômico, em três anos, puxado pela forte desaceleração das exportações. Analistas concordam que o país deve passar pela pior recessão desde o pós-guerra.
O plano prevê investimentos, corte de impostos (como forma de incentivar compras de carros novos), formação de um fundo de garantias para as empresas com problemas, e um prêmio de 100 euros, por filho, para as famílias.
O mau resultado da Alemanha fez com que a China se tornasse a terceira maior economia do mundo, pois, enquanto o país europeu cresceu 1,3%, a China expandiu seu produto em 2,5%, após correção de cálculos do governo chinês. Além de ser a nação que mais contribui para o crescimento mundial, a China é a maior compradora de títulos do Tesouro norte-americano, ao deter 652,9 bilhões de dólares desses papéis.
Contudo, a China também sente as pressões da atual conjuntura econômica. Houve queda das exportações chinesas, em dezembro, por causa da redução na demanda externa por produtos eletrônicos, brinquedos, roupas e aço. A importação também caiu, cerca de 21,3%, como resultado da menor procura por matérias-primas usadas na indústria de transformação. As conseqüências de tais fatos são demissões nas fábricas, protestos, taxa de desemprego urbano chegando a 9% e queda de investimentos estrangeiros.
Para contornar a situação, o governo chinês prepara um pacote de ajuda para proteger suas indústrias siderúrgica e automobilística. As propostas incluem redução ou isenção de tributos sobre a compra de carros, e assistência de 585 milhões de dólares para os setores industriais.
Não apenas as grandes economias, como as dos Estados Unidos, da China e da Alemanha, formularam planos de ajuda financeira. Países importantes como Rússia e França, seguidos por outras nações, como Argentina, Equador e Indonésia, também planejam seus “pacotes”. O que há em comum entre estes planos são as medidas protecionistas. Para a Organização Mundial do Comércio (OMC) a recessão deverá gerar uma reação protecionista, o que ameaça a recuperação da economia mundial. Tal como afirmamos na análise da semana passada, com a intervenção estatal de tipo keynesiana introduzida no cenário, a dúvida que continua a pairar é quanto à forma que ela assumirá.
Texto escrito por:
Maria Carolina Costa Madeira: Jornalista, mestranda de Economia e pesquisadora do Progeb.
progeb@ccsa.ufpb.br
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Uma pesquisa realizada pelo IBGE no comércio varejista brasileiro afirma que houve queda nas vendas, no último trimestre de 2008, especialmente em outubro e novembro (após ajustes sazonais). Os setores que mais reduziram suas vendas estão ligados ao crédito, como Móveis e eletrodomésticos e Equipamentos de informática, com quedas de 3,3% e 9,8%, sobre outubro, respectivamente. No segmento de veículos e motos, as vendas caíram 20,3%, em comparação a novembro de 2007.
No final do ano verificou-se queda na produtividade industrial. Até setembro de 2008, a taxa acumulada da produtividade chegou quase a 4%, e depois diminuiu para 3,2%, em outubro, e 2,5%, em novembro, conforme cálculos da consultora Tendências. Diante disso, os analistas consideram que, nos próximos meses, além da diminuição da demanda e dos investimentos haverá aumento da taxa de desemprego.
Para o economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI), Rogério César de Souza, os impactos da redução da produção industrial, sobre o emprego, devem aparecer mais intensamente nos primeiros meses de 2009. “A desaceleração já estava em curso antes da crise. O que agora preocupa é o sinal”, completa Rogério.
Já ocorreram demissões em torno de 4,5 mil postos de trabalho na Zona Franca de Manaus, no ano passado, e algumas empresas desse pólo esticaram as férias coletivas e outras negociam redução de jornada. No setor automobilístico, a General Motors do Brasil anunciou dispensa de 744 funcionários na unidade de São José dos Campos (SP), em 13 de janeiro último.
Com o fim das férias coletivas dos empregados ligados às montadoras de carros, houve início das negociações entre as entidades trabalhistas e o empresariado, no intuito de procurar propostas alternativas para evitar demissões. As entidades Central Única dos Trabalhadores (CUT) e Força Sindical defendem o aumento da concessão de férias coletivas ou a redução do número de horas trabalhadas; mas divergem entre si quanto as hipóteses de cortes salariais e da suspensão temporária dos contratos de trabalho, opções colocadas pelas entidades patronais, como a Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp).
O que aparece como unanimidade entre todas as representações, citadas no parágrafo anterior, é a opinião sobre a redução da taxa básica de juros, a Selic. Na reunião com o presidente Lula, no dia 19 de janeiro, os representantes das principais centrais sindicais pediram uma redução de dois pontos percentuais na taxa Selic, atualmente em 13,75% anual. Para Paulo Skaf, presidente da Fiesp, “se a taxa de juros não baixar, parte da culpa do desemprego será do governo”.
Com a divulgação dos principais índices de inflação, como o IPCA (Índice Nacional ao Consumidor Amplo), o qual ficou, em dezembro, em 5,9%, dentro do intervalo da meta do governo, especialistas concordam que não há motivos para que a taxa Selic continue no atual nível. Dentre os principais motivos para a desaceleração dos índices de inflação estão as quedas da atividade econômica e do preço das commodities.
Acuado por todos os lados, o presidente do Banco Central, Henrique Meireles, tenta justificar a política de juros altos ao afirmar em dias anteriores: “A política monetária adotada pelo Banco Central é adequada para preservar o poder de compra da população e a manutenção do ganho real dos salários. Estes são os principais dividendos da estabilidade”.
Enquanto isso, e para agravar a situação, a fuga de divisas do país, nos primeiros seis dias úteis de 2009, atingiu a cifra de US$ 353 milhões. Tal saída foi intensificada pela crise internacional, em um movimento de migração de dinheiro do Brasil para cobrir buracos no caixa das empresas, no exterior.
No dia 21 de janeiro, o Comitê de Política Monetária (Copom) finalmente decidiu reduzir a taxa Selic em um ponto porcentual, para 12,75% ao ano, após uma semana de especulações por vários setores da sociedade. A última redução do juro de pelo menos um ponto porcentual aconteceu há mais de cinco anos, em dezembro de 2003, quando a taxa Selic caiu de 17,5%, para 16,5%.
Com relação às demais economias, o Fundo Monetário Internacional (FMI) afirmou, na última quinzena, que o panorama econômico mundial, para 2009, é “triste”. O Fundo informou também que poderá precisar de outros 150 bilhões de dólares para ajudar os mercados emergentes e nações mais pobres a lidar com os efeitos ocasionados pelo agravamento da crise econômica.
Ao mesmo tempo, o governo da Alemanha apresentou seu primeiro pacote de estímulo econômico com um orçamento de 50 bilhões de dólares. A Alemanha obteve, em 2008, o menor crescimento econômico, em três anos, puxado pela forte desaceleração das exportações. Analistas concordam que o país deve passar pela pior recessão desde o pós-guerra.
O plano prevê investimentos, corte de impostos (como forma de incentivar compras de carros novos), formação de um fundo de garantias para as empresas com problemas, e um prêmio de 100 euros, por filho, para as famílias.
O mau resultado da Alemanha fez com que a China se tornasse a terceira maior economia do mundo, pois, enquanto o país europeu cresceu 1,3%, a China expandiu seu produto em 2,5%, após correção de cálculos do governo chinês. Além de ser a nação que mais contribui para o crescimento mundial, a China é a maior compradora de títulos do Tesouro norte-americano, ao deter 652,9 bilhões de dólares desses papéis.
Contudo, a China também sente as pressões da atual conjuntura econômica. Houve queda das exportações chinesas, em dezembro, por causa da redução na demanda externa por produtos eletrônicos, brinquedos, roupas e aço. A importação também caiu, cerca de 21,3%, como resultado da menor procura por matérias-primas usadas na indústria de transformação. As conseqüências de tais fatos são demissões nas fábricas, protestos, taxa de desemprego urbano chegando a 9% e queda de investimentos estrangeiros.
Para contornar a situação, o governo chinês prepara um pacote de ajuda para proteger suas indústrias siderúrgica e automobilística. As propostas incluem redução ou isenção de tributos sobre a compra de carros, e assistência de 585 milhões de dólares para os setores industriais.
Não apenas as grandes economias, como as dos Estados Unidos, da China e da Alemanha, formularam planos de ajuda financeira. Países importantes como Rússia e França, seguidos por outras nações, como Argentina, Equador e Indonésia, também planejam seus “pacotes”. O que há em comum entre estes planos são as medidas protecionistas. Para a Organização Mundial do Comércio (OMC) a recessão deverá gerar uma reação protecionista, o que ameaça a recuperação da economia mundial. Tal como afirmamos na análise da semana passada, com a intervenção estatal de tipo keynesiana introduzida no cenário, a dúvida que continua a pairar é quanto à forma que ela assumirá.
Texto escrito por:
Maria Carolina Costa Madeira: Jornalista, mestranda de Economia e pesquisadora do Progeb.
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segunda-feira, 26 de janeiro de 2009
O regresso a Keynes
Semana de 05 a 11 de janeiro de 2009
A crise, que vem fustigando a economia mundial, com manifestações específicas em cada região do globo, conforme o ritmo e graus de desenvolvimento de cada economia local, ou até mesmo nacional, parece ainda longe do fim.
Nos Estados Unidos, todos aguardam um pacote de estímulos, não inferior a US$ 1 trilhão, que virá com a administração Obama. Ali, a situação caracteriza-se pelas dificuldades de negócio e principalmente pelo crescimento assustador da taxa de desemprego. Somente em dezembro último, detetou-se um corte de 524 mil postos de trabalho, o que elevou a taxa oficial de desemprego para 7,6%, o pior índice em 16 anos. Durante todo o ano de 2008, 2,6 milhões de empregos desapareceram, sendo que 73% deles aconteceu nos quatro últimos meses. O crescimento do desemprego é mais acentuado para trabalhadores latinos. Esse foi o pior resultado anual de desemprego desde 1945.
Todos os setores têm sido atingidos e esse fenômeno não é uma exclusividade americana, mas tem sido comum a todas as economias nacionais, tais como China, India, e as economias europeias, onde as preocupações dos empresários e dos consumidores parecem convergir, pois cresce a taxa de desemprego, que, em novembro último, atingiu os 7,8%.
Ainda nos EUA, o New York Times divulgou que as siderúrgicas aguardam o pacote salvador de Obama. Esse segmento, que entrou em crise no melhor de sua saúde, passou a ser o melhor indicador da evolução da recessão. A produção do aço despencou 50%, desde Setembro. Ou seja, de 2,1 milhões de toneladas por semana, em 30 de Agosto, para 1,02 toneladas por semana, no fim de Dezembro.
Na Áustria, a notícia em destaque foi o controle do Bank Medici, em Viena, pelo órgão regulador da economia das instituições financeiras do país.
Na China, o grupo Lenovo, quarto maior produtor mundial de computadores pessoais, planeja demitir funcionários no centro de operações, em Pequim. A perspectiva da Dell e Lenovo são semelhantes. A Dell, segunda maior produtora mundial de computadores, planeja cortar entre 1,9 e 3 mil postos de trabalho.
Os indianos falam em 10 milhões de demissões e no Chile é anunciado um plano de ajuda financeira de US$ 4 bilhões.
Na Europa, o industrial alemão, Adolf Merckle, endividado, suicida-se.
Economistas, em geral, mesmo aqueles que custaram a admitir a possibilidade de uma crise do sistema mundial capitalista, dividem-se apenas quanto a longevidade do fenômeno. Uns, como Nouriel Roubini, da Universidade de Nova York, que foi dos primeiros americanos a anunciar o desastre da economia de mercado, em 2008, em recente comentário na Bloomberg News, prevê “uma retração profunda e prolongada que vai durar pelo menos até o final de 2009” com uma fraca recuperação, em 2010. Alguns otimistas, no entanto, julgam e difundem a idéia de que se os dominós caírem corretamente, o fundo do poço aproxima-se com mais velocidade e a economia entrará em recuperação, até julho deste ano. Num caso, ou no outro, todos esperam a intervenção do Estado para que a economia encontre um novo ponto de equilíbrio, que, espontaneamente, nunca seria alcançado ou somente o seria, através de um processo lento e doloroso para as populações.
Um pouco por todos os quadrantes do globo apresenta-se o mesmo enredo, muito embora com cenários diferentes, como não podia deixar de ser.
Assistimos o desenrolar de uma crise de superprodução, nada que teoricamente não se conheça e que na adulta vida do capitalismo já não se tenha manifestado anteriormente. No Brasil, no setor exportador, enfrentam-se dificuldades, que prometem ser agravadas em 2009, em consequência da queda da demanda mundial. Lembrem-se que o saldo da Balança Comercial sofreu um duro recuo de 38,2% apresentando um saldo de US$24,735 bilhões. Para 2009, segundo a visão da Associação dos Exportadores do Brasil, pela voz do seu Vice-Presidente, José Augusto de Castro, os embarques brasileiros vão conhecer uma queda no volume de exportações de US$ 29 bilhões com relação a 2008. A CONAB, por sua vez, prevê uma safra 4,9% menor do que em 2007/08. Em um cenário otimista, a produção brasileira de grãos será de 140,2 milhões de toneladas e, em cenário pessimista, 137 milhões de toneladas. Na Bolsa de Valores, o valor de mercado de 45 empresas brasileiras recuou mais de 80%. Segundo dados divulgados, o mercado interno teve um crescimento muito aquém do esperado. O setor de alimentos, que tinha expectativas de crescimento de 4% inicialmente apresentou um crescimento das vendas da ordem dos 1,4% a 2%. Quanto ao mercado de trabalho, por maior que seja a consciência da nação, o desemprego persiste e cresce. O setor financeiro, respondendo aos estímulos e as imposições do soberano mercado, centraliza-se, concentra-se, ao mesmo tempo em que, através dos financiamentos da crise, arranca lucros inimagináveis. As fusões e aquisições seguem o seu rumo inevitável, Nessa semana que passou, o Banco do Brasil anunciou oficialmente (sexta feira, 09.01.09) a compra de 49,99% do capital, com direito a voto, do Banco Votorantim, por R$ 4,2 bilhões. O Banco não foi estatizado por diferença de 0,02% nas ações. Esse foi apenas mais um passo no caminho da concentração desse mercado, que no momento já se apresenta de tal forma, que os dez maiores bancos do país respondem por 94% das 18,9 mil agências bancárias existentes. Se considerarmos, apenas os cinco maiores bancos, a concentração chega a 90,1%, contra 57,4% das agências, em 1999.
Mesmo com um quarto trimestre muito fraco para os negócios, em geral, o Brasil apresentou um novo recorde do volume de fusões e aquisições, cujo volume somou os US$ 95,34 bilhões, 62,25% mais do que o volume apresentado em 2007. O desempenho foi oposto aos resultados somados no mundo, onde foi observada uma retração de 29,2% no ano.
Entretanto, o valor de mercado de 45 empresas brasileiras recuou mais de 80%. A superprodução atinge vários setores. Dados do desempenho da indústria brasileira, de acordo com a Pesquisa da Industrial Mensal do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), dão conta da quebra física da indústria nacional em Novembro com relação a Outubro, de 5,2% e uma retração de 7,9%, entre Setembro e Novembro. A previsão para 2009 é de que o setor de alimentos vai ser muito afetado.
O desemprego no Brasil é cada vez mais preocupante. Somente a Renault suspendeu, na semana em análise, o contrato de 1000 metalúrgicos, durante cinco meses, e a Philips anunciou medida semelhante, ambas empresas protegidas por uma base legal, garantida pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT artigo 476). Com a preocupação de evitar cortes a Força Sindical reuniu-se com a Fiesp, aceitando negociar redução de salários.
Espera-se algumas medidas de intervenção econômica, principalmente mudanças na política financeira. O mercado espera queda na taxa de juro como resultado da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que se deve realizar entre 22 e 23 desse mês. O Ministro Guido Mantega já afirmou, que o recuo da inflação abre espaço para um corte na taxa de juro e até o presidente da Febraban apelou para que a redução desta taxa seja efetivada mais rapidamente, sugerindo inclusive a antecipação da reunião do Copom.
Com esse quadro típico de uma crise cíclica de superprodução, as atenções voltam-se para a personagem principal: a crise. O grande centro emissor de idéias, os Estados Unidos da América, vai dando o mote e as economias em todos os cantões do mundo, vão introduzindo um outro modo de pensar e de agir. Com o Brasil não acontece diferente e, dessa forma, abrem-se as cortinas para a entrada triunfal do keynesianismo, na passarela. A intervenção keynesiana, aclamada de pé, é introduzida na cena, a política econômica avança e está expulsando dos governos, oficialmente, o Consenso de Washington, sem protestos e sem argumentos contrários.
A discussão passa a outro plano. Não se discute liberalismo versos intervencionismos, mas somente o “como intervir”.
Texto escrito por:
Elivan G. Rosas Ribeiro: Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb .
progeb@ccsa.ufpb.br.
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Nos Estados Unidos, todos aguardam um pacote de estímulos, não inferior a US$ 1 trilhão, que virá com a administração Obama. Ali, a situação caracteriza-se pelas dificuldades de negócio e principalmente pelo crescimento assustador da taxa de desemprego. Somente em dezembro último, detetou-se um corte de 524 mil postos de trabalho, o que elevou a taxa oficial de desemprego para 7,6%, o pior índice em 16 anos. Durante todo o ano de 2008, 2,6 milhões de empregos desapareceram, sendo que 73% deles aconteceu nos quatro últimos meses. O crescimento do desemprego é mais acentuado para trabalhadores latinos. Esse foi o pior resultado anual de desemprego desde 1945.
Todos os setores têm sido atingidos e esse fenômeno não é uma exclusividade americana, mas tem sido comum a todas as economias nacionais, tais como China, India, e as economias europeias, onde as preocupações dos empresários e dos consumidores parecem convergir, pois cresce a taxa de desemprego, que, em novembro último, atingiu os 7,8%.
Ainda nos EUA, o New York Times divulgou que as siderúrgicas aguardam o pacote salvador de Obama. Esse segmento, que entrou em crise no melhor de sua saúde, passou a ser o melhor indicador da evolução da recessão. A produção do aço despencou 50%, desde Setembro. Ou seja, de 2,1 milhões de toneladas por semana, em 30 de Agosto, para 1,02 toneladas por semana, no fim de Dezembro.
Na Áustria, a notícia em destaque foi o controle do Bank Medici, em Viena, pelo órgão regulador da economia das instituições financeiras do país.
Na China, o grupo Lenovo, quarto maior produtor mundial de computadores pessoais, planeja demitir funcionários no centro de operações, em Pequim. A perspectiva da Dell e Lenovo são semelhantes. A Dell, segunda maior produtora mundial de computadores, planeja cortar entre 1,9 e 3 mil postos de trabalho.
Os indianos falam em 10 milhões de demissões e no Chile é anunciado um plano de ajuda financeira de US$ 4 bilhões.
Na Europa, o industrial alemão, Adolf Merckle, endividado, suicida-se.
Economistas, em geral, mesmo aqueles que custaram a admitir a possibilidade de uma crise do sistema mundial capitalista, dividem-se apenas quanto a longevidade do fenômeno. Uns, como Nouriel Roubini, da Universidade de Nova York, que foi dos primeiros americanos a anunciar o desastre da economia de mercado, em 2008, em recente comentário na Bloomberg News, prevê “uma retração profunda e prolongada que vai durar pelo menos até o final de 2009” com uma fraca recuperação, em 2010. Alguns otimistas, no entanto, julgam e difundem a idéia de que se os dominós caírem corretamente, o fundo do poço aproxima-se com mais velocidade e a economia entrará em recuperação, até julho deste ano. Num caso, ou no outro, todos esperam a intervenção do Estado para que a economia encontre um novo ponto de equilíbrio, que, espontaneamente, nunca seria alcançado ou somente o seria, através de um processo lento e doloroso para as populações.
Um pouco por todos os quadrantes do globo apresenta-se o mesmo enredo, muito embora com cenários diferentes, como não podia deixar de ser.
Assistimos o desenrolar de uma crise de superprodução, nada que teoricamente não se conheça e que na adulta vida do capitalismo já não se tenha manifestado anteriormente. No Brasil, no setor exportador, enfrentam-se dificuldades, que prometem ser agravadas em 2009, em consequência da queda da demanda mundial. Lembrem-se que o saldo da Balança Comercial sofreu um duro recuo de 38,2% apresentando um saldo de US$24,735 bilhões. Para 2009, segundo a visão da Associação dos Exportadores do Brasil, pela voz do seu Vice-Presidente, José Augusto de Castro, os embarques brasileiros vão conhecer uma queda no volume de exportações de US$ 29 bilhões com relação a 2008. A CONAB, por sua vez, prevê uma safra 4,9% menor do que em 2007/08. Em um cenário otimista, a produção brasileira de grãos será de 140,2 milhões de toneladas e, em cenário pessimista, 137 milhões de toneladas. Na Bolsa de Valores, o valor de mercado de 45 empresas brasileiras recuou mais de 80%. Segundo dados divulgados, o mercado interno teve um crescimento muito aquém do esperado. O setor de alimentos, que tinha expectativas de crescimento de 4% inicialmente apresentou um crescimento das vendas da ordem dos 1,4% a 2%. Quanto ao mercado de trabalho, por maior que seja a consciência da nação, o desemprego persiste e cresce. O setor financeiro, respondendo aos estímulos e as imposições do soberano mercado, centraliza-se, concentra-se, ao mesmo tempo em que, através dos financiamentos da crise, arranca lucros inimagináveis. As fusões e aquisições seguem o seu rumo inevitável, Nessa semana que passou, o Banco do Brasil anunciou oficialmente (sexta feira, 09.01.09) a compra de 49,99% do capital, com direito a voto, do Banco Votorantim, por R$ 4,2 bilhões. O Banco não foi estatizado por diferença de 0,02% nas ações. Esse foi apenas mais um passo no caminho da concentração desse mercado, que no momento já se apresenta de tal forma, que os dez maiores bancos do país respondem por 94% das 18,9 mil agências bancárias existentes. Se considerarmos, apenas os cinco maiores bancos, a concentração chega a 90,1%, contra 57,4% das agências, em 1999.
Mesmo com um quarto trimestre muito fraco para os negócios, em geral, o Brasil apresentou um novo recorde do volume de fusões e aquisições, cujo volume somou os US$ 95,34 bilhões, 62,25% mais do que o volume apresentado em 2007. O desempenho foi oposto aos resultados somados no mundo, onde foi observada uma retração de 29,2% no ano.
Entretanto, o valor de mercado de 45 empresas brasileiras recuou mais de 80%. A superprodução atinge vários setores. Dados do desempenho da indústria brasileira, de acordo com a Pesquisa da Industrial Mensal do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), dão conta da quebra física da indústria nacional em Novembro com relação a Outubro, de 5,2% e uma retração de 7,9%, entre Setembro e Novembro. A previsão para 2009 é de que o setor de alimentos vai ser muito afetado.
O desemprego no Brasil é cada vez mais preocupante. Somente a Renault suspendeu, na semana em análise, o contrato de 1000 metalúrgicos, durante cinco meses, e a Philips anunciou medida semelhante, ambas empresas protegidas por uma base legal, garantida pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT artigo 476). Com a preocupação de evitar cortes a Força Sindical reuniu-se com a Fiesp, aceitando negociar redução de salários.
Espera-se algumas medidas de intervenção econômica, principalmente mudanças na política financeira. O mercado espera queda na taxa de juro como resultado da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que se deve realizar entre 22 e 23 desse mês. O Ministro Guido Mantega já afirmou, que o recuo da inflação abre espaço para um corte na taxa de juro e até o presidente da Febraban apelou para que a redução desta taxa seja efetivada mais rapidamente, sugerindo inclusive a antecipação da reunião do Copom.
Com esse quadro típico de uma crise cíclica de superprodução, as atenções voltam-se para a personagem principal: a crise. O grande centro emissor de idéias, os Estados Unidos da América, vai dando o mote e as economias em todos os cantões do mundo, vão introduzindo um outro modo de pensar e de agir. Com o Brasil não acontece diferente e, dessa forma, abrem-se as cortinas para a entrada triunfal do keynesianismo, na passarela. A intervenção keynesiana, aclamada de pé, é introduzida na cena, a política econômica avança e está expulsando dos governos, oficialmente, o Consenso de Washington, sem protestos e sem argumentos contrários.
A discussão passa a outro plano. Não se discute liberalismo versos intervencionismos, mas somente o “como intervir”.
Texto escrito por:
Elivan G. Rosas Ribeiro: Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb .
progeb@ccsa.ufpb.br.
Arquivo para download em formato pdf.
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