Semana de 02 a 08 de fevereiro de 2009
A crise econômica internacional atingiu a economia brasileira em cheio, no final do ano passado,encerrando o último trimestre com uma redução de 12,4% na produção industrial, entre novembro e dezembro. Foi a maior queda já registrada, desde 1998. No mesmo período, o número de horas trabalhadas na indústria caiu 8% e o nível de emprego foi reduzido em 0,5%. O índice de utilização da capacidade instalada também recuou de 81,4% para 80,2%. Os dados são da Confederação Nacional da Indústria (CNI), que aposta em uma retomada do crescimento econômico somente a partir do segundo trimestre de 2009.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) também divulgou números que mostramque a produção industrial recuou em doze das quatorze regiões pesquisadas. As maiores quedas foram registradas em Minas Gerias (-16,4%), na Bahia (-15,6%) e em São Paulo (-14,9%).
Paralelamente à redução do nível da atividade econômica, a concessão de férias coletivas e oanúncio de demissões não param de aumentar. A Pirelli, por exemplo, informou, no último dia 04, que vai dar férias coletivas a 2500 trabalhadores da unidade de Santo André, no ABC paulista. Já a General Motors do Brasil anunciou, por meio do seu presidente, Jaime Ardila, que não renovará o contrato de 1.630 trabalhadores temporários de São Caetano do Sul.
Diferentemente da indústria, o setor bancário brasileiro continua praticamente intacto, semnenhuma grande marca da crise e comemora os elevados lucros obtidos em 2008. De acordo com a Austin Rating, agência de classificação de risco, os quatro gigantes do setor, Bradesco, Itaú, Banco do Brasil e Unibanco, podem ter alcançado ganhos em torno de R$ 29 bilhões, cerca de 15% a mais do que o registrado em 2007. Ainda de acordo com a agência, a rentabilidade sobre o patrimônio líquido, do Bradesco, deve ficar em torno de 22,1%, a do Itaú, em 23,4%, a do Unibanco, em 21,3% e a do Banco do Brasil, em 32,9%. Nenhum outro setor da economia tem uma taxa de retorno tão alta como a dos bancos.
Estes dados demonstram toda a solidez do sistema bancário nacional num momento em que osgrandes bancos norte-americanos e europeus estão enfrentando graves problemas financeiros e arcando com prejuízos volumosos. Esta solidez é alcançada, sobretudo, graças à eficácia da política monetária do Banco Central brasileiro no que diz respeito à manutenção da taxa básica de juros real do país, entre as maiores do mundo, o que garante ao sistema financeiro do Brasil um retorno certo e fácil.
Se a tese do descolamento da economia brasileira, das grandes economias mundiais, amplamentedefendida no início da crise, se mostrou falsa, com a forte queda registrada pela produção industrial nacional, a blindagem dos bancos, criada pela política monetária, vem se mostrando consistente, resistindo até mesmo à crise econômica internacional. Os “sólidos fundamentos” da macroeconomia do país parecem, portanto, beneficiar um único setor, o financeiro, em detrimento dos mais diversos ramos e segmentos do setor produtivo. Este setor, nos últimos anos, vem sendo esmagado pela concorrência estrangeira devido às condições desfavoráveis existentes no Brasil. Por outro lado, ano após ano, o setor bancário vem obtendo lucros recordes, registrando elevada rentabilidade e extraordinário crescimento. Logo, os verdadeiros fundamentos que a política econômica do governo busca incessantemente manter sólidos, são os fundamentos microeconômicos do sistema financeiro. É incontestável que, deste pondo de vista, tal política vem alcançando plenamente os seus objetivos.
O Banco Central, sempre preocupado com a “saúde financeira das empresas”, irá liberar, nopróximo dia 27 deste mês, US$ 20 bilhões para que empresas brasileiras paguem suas dívidas no exterior. Mais uma vez, os recursos serão repassados para os bancos comerciais, que devem ofertar linhas de crédito, em moeda estrangeira, para as companhias brasileiras. O dinheiro será retirado das reservas internacionais. Enquanto isto, o saldo da balança comercial fechou o mês de janeiro com um déficit de US$ 518 milhões, de acordo com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Este é o primeiro déficit mensal em oito anos. A maior retração foi registrada na venda de produtos manufaturados, cuja receita caiu 36,76%.
No cenário internacional, a crise continua demonstrando que ainda não chegamos ao fundo dopoço. Que o digam as grandes fabricantes japonesas de eletroeletrônicos. A gigantesca Panasonic prevê um prejuízo de US$ 4,3 bilhões e queda de 15% nas vendas para este ano. A empresa anunciou ainda que deve fechar 27 fábricas, 13 delas no Japão, até o final de março. As demissões de funcionários devem alcançar um total de 15 mil, até março de 2010. Nos Estados Unidos, foram eliminados 522 mil postos de trabalho, somente em janeiro, segundo relatório divulgado pela ADP Employers Services e o primeiroministro britânico, Gordon Brown já trocou a palavra recessão por depressão, que descreve um quadro de recessão profunda e duradoura e que quase sempre é evitada nos discursos das autoridades internacionais, pelo seu tom de gravidade. Assim sendo, dentre todas as grandes corporações capitalistas, sólidos mesmo, são os nossos bancos, pois nem mesmo a crise econômica foi capaz de abalar a sua lucratividade.
Então, temos ou não razão em desconfiar da política econômica?
Texto escrito por:
Diego Mendes Lyra: Mestrando em economia, Professor Substituto do Departamento de Economia da UFPB e pesquisador do Progeb – Projeto globalização e crise na economia brasileira
progeb@ccsa.ufpb.br
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O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) também divulgou números que mostramque a produção industrial recuou em doze das quatorze regiões pesquisadas. As maiores quedas foram registradas em Minas Gerias (-16,4%), na Bahia (-15,6%) e em São Paulo (-14,9%).
Paralelamente à redução do nível da atividade econômica, a concessão de férias coletivas e oanúncio de demissões não param de aumentar. A Pirelli, por exemplo, informou, no último dia 04, que vai dar férias coletivas a 2500 trabalhadores da unidade de Santo André, no ABC paulista. Já a General Motors do Brasil anunciou, por meio do seu presidente, Jaime Ardila, que não renovará o contrato de 1.630 trabalhadores temporários de São Caetano do Sul.
Diferentemente da indústria, o setor bancário brasileiro continua praticamente intacto, semnenhuma grande marca da crise e comemora os elevados lucros obtidos em 2008. De acordo com a Austin Rating, agência de classificação de risco, os quatro gigantes do setor, Bradesco, Itaú, Banco do Brasil e Unibanco, podem ter alcançado ganhos em torno de R$ 29 bilhões, cerca de 15% a mais do que o registrado em 2007. Ainda de acordo com a agência, a rentabilidade sobre o patrimônio líquido, do Bradesco, deve ficar em torno de 22,1%, a do Itaú, em 23,4%, a do Unibanco, em 21,3% e a do Banco do Brasil, em 32,9%. Nenhum outro setor da economia tem uma taxa de retorno tão alta como a dos bancos.
Estes dados demonstram toda a solidez do sistema bancário nacional num momento em que osgrandes bancos norte-americanos e europeus estão enfrentando graves problemas financeiros e arcando com prejuízos volumosos. Esta solidez é alcançada, sobretudo, graças à eficácia da política monetária do Banco Central brasileiro no que diz respeito à manutenção da taxa básica de juros real do país, entre as maiores do mundo, o que garante ao sistema financeiro do Brasil um retorno certo e fácil.
Se a tese do descolamento da economia brasileira, das grandes economias mundiais, amplamentedefendida no início da crise, se mostrou falsa, com a forte queda registrada pela produção industrial nacional, a blindagem dos bancos, criada pela política monetária, vem se mostrando consistente, resistindo até mesmo à crise econômica internacional. Os “sólidos fundamentos” da macroeconomia do país parecem, portanto, beneficiar um único setor, o financeiro, em detrimento dos mais diversos ramos e segmentos do setor produtivo. Este setor, nos últimos anos, vem sendo esmagado pela concorrência estrangeira devido às condições desfavoráveis existentes no Brasil. Por outro lado, ano após ano, o setor bancário vem obtendo lucros recordes, registrando elevada rentabilidade e extraordinário crescimento. Logo, os verdadeiros fundamentos que a política econômica do governo busca incessantemente manter sólidos, são os fundamentos microeconômicos do sistema financeiro. É incontestável que, deste pondo de vista, tal política vem alcançando plenamente os seus objetivos.
O Banco Central, sempre preocupado com a “saúde financeira das empresas”, irá liberar, nopróximo dia 27 deste mês, US$ 20 bilhões para que empresas brasileiras paguem suas dívidas no exterior. Mais uma vez, os recursos serão repassados para os bancos comerciais, que devem ofertar linhas de crédito, em moeda estrangeira, para as companhias brasileiras. O dinheiro será retirado das reservas internacionais. Enquanto isto, o saldo da balança comercial fechou o mês de janeiro com um déficit de US$ 518 milhões, de acordo com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Este é o primeiro déficit mensal em oito anos. A maior retração foi registrada na venda de produtos manufaturados, cuja receita caiu 36,76%.
No cenário internacional, a crise continua demonstrando que ainda não chegamos ao fundo dopoço. Que o digam as grandes fabricantes japonesas de eletroeletrônicos. A gigantesca Panasonic prevê um prejuízo de US$ 4,3 bilhões e queda de 15% nas vendas para este ano. A empresa anunciou ainda que deve fechar 27 fábricas, 13 delas no Japão, até o final de março. As demissões de funcionários devem alcançar um total de 15 mil, até março de 2010. Nos Estados Unidos, foram eliminados 522 mil postos de trabalho, somente em janeiro, segundo relatório divulgado pela ADP Employers Services e o primeiroministro britânico, Gordon Brown já trocou a palavra recessão por depressão, que descreve um quadro de recessão profunda e duradoura e que quase sempre é evitada nos discursos das autoridades internacionais, pelo seu tom de gravidade. Assim sendo, dentre todas as grandes corporações capitalistas, sólidos mesmo, são os nossos bancos, pois nem mesmo a crise econômica foi capaz de abalar a sua lucratividade.
Então, temos ou não razão em desconfiar da política econômica?
Texto escrito por:
Diego Mendes Lyra: Mestrando em economia, Professor Substituto do Departamento de Economia da UFPB e pesquisador do Progeb – Projeto globalização e crise na economia brasileira
progeb@ccsa.ufpb.br
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