quarta-feira, 4 de março de 2009

Batom: antídoto para a crise econômica

Semana de 09 a 15 de fevereiro de 2009


O déficit comercial dos EUA diminuiu, em dezembro, menos do que o previsto, atingindo o menor patamar em quase seis anos. O aumento das demissões, a falta de crédito e a crise mundial indicam que as importações e as exportações deste país, que caíram em dezembro pelo quinto mês consecutivo, devem se contrair ainda mais.
E os efeitos foram sentidos do outro lado do mundo com as exportações chinesas tendo a maior queda em 13 anos, uma vez que a demanda dos EUA e da Europa encolheu. As importações tiveram um declínio recorde, mostrando o agravamento da crise na terceira maior economia do mundo. Os embarques para o exterior declinaram 17,5% em janeiro, em relação ao mesmo período de 2008, e as importações caíram 43,1%. E tinha quem apostasse na China como novo motor da economia mundial, e que sozinha sustentaria o crescimento global. Estavam redondamente enganados.
No Brasil o consumo de eletricidade no segmento industrial, em janeiro deste ano, caiu 15,73%, em relação ao mesmo mês do ano passado. Esse forte recuo na demanda demonstra os efeitos da crise sobre a atividade industrial brasileira.
A conseqüência dessa maré ruim é uma onda de demissões. Mas o presidente Lula afirmou que as negociações entre empresas e sindicatos é o caminho para resolver questões de trabalho nesse momento de enfrentamento da crise econômica. Nas suas palavras: “O governo só entra na negociação entre o capital e o trabalho no dia em que uma das partes pedir e as duas concordarem. Eu era dirigente sindical e nunca aceitei que o governo se metesse nas minhas negociações. Tudo o que eu queria era liberdade para negociar”.
Já o ministro do Trabalho e Emprego, Carlos Lupi, anunciou ontem três medidas para evitar as demissões no mercado de trabalho, causadas pela crise econômica, que, apenas em dezembro, provocou a perda de emprego para 654 mil trabalhadores, no Brasil. A primeira medida é que o montante inicial da linha de crédito de capital de giro às revendedoras de carros usados, com recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), será de R$ 200 milhões. Outra medida é o acréscimo de dois meses no limite máximo do pagamento do seguro-desemprego para os trabalhadores que foram demitidos por empresas de setores prejudicados pela crise. O teto agora passa a ser de sete meses. A terceira medida é a regulamentação da Bolsa Qualificação Profissional que estabeleceu a carga horária de 60 horas mensais, no mínimo, para realização dos cursos oferecidos por empresas aos trabalhadores com contrato de trabalho suspenso.
Mesmo sem querer ser pessimista algumas questões tornam-se pertinentes. E se essa linha de crédito for insuficiente para aquecer o mercado de revendedoras de veículos? E se, mesmo com o crédito, não houver quem queira tomá-lo? E se depois que acabar o seguro desemprego o trabalhador não conseguir um novo emprego? E se depois do curso de qualificação o emprego não aparecer?
O presidente Lula já pensou em tudo isso e admitiu que, para impulsionar as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) – menina dos olhos do governo e plataforma política da candidatura de Dilma Roussef à presidência - se propõe até a cortar gastos do governo. Abusando um pouco da retórica e no entusiasmo do discurso o presidente declarou: “Nós cortaremos o batom da dona Dilma, nós cortaremos o meu corte de unha, mas não cortaremos uma obra do PAC”.
É um excelente exercício para a imaginação estimar quanto o governo gasta com o batom da Ministra Dilma e o corte de unhas do presidente e imaginar como o corte desses gastos, por parte do governo, seria capaz de estimular a economia, através de obras do PAC. Agora continuando no exercício, imagine o tamanho do estímulo que sofreria a economia se o governo, em vez disso, cortasse a taxa de juros Selic e, consequentemente, passasse a pagar menos juros da dívida. O problema é que a ministra pode comprar o batom com seu próprio dinheiro e o presidente pode ficar com as unhas grandes, mas o mercado financeiro, este sim, não pode ficar sem os milhões que lhes são pagos, de juros, todos os anos.

Texto escrito por:
Nayana Ruth Mangueira de Figueiredo: Professora do Departamento de Economia da UFPB e Pesquisadora do PROGEB – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. progeb@ccsa.ufpb.br

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