quinta-feira, 31 de julho de 2008

O Estado e o capitalismo: bem-me-quer, mal-me-quer.

Semana de 14 a 20 de julho de 2008

É impressionante como o papel do Estado no mundo atual é moldado conforme as etapas do ciclo econômico e os interesses dos capitalistas. Nas fases de prosperidade, quando grandes somas de lucros são auferidas sem muitos problemas, o Estado é apontado como o responsável pelo entrave ao “desenvolvimento” econômico e à eficiência alocativa, tendo em vista que, nestes momentos, a intervenção estatal, por vezes, compromete a realização de lucros em montantes ainda superiores. Por outro lado, nos períodos de crise, o discurso de que o Estado atrapalha o funcionamento eficiente da economia parece nunca ter existido, e, ao invés disto, o Estado é requisitado a intervir efetivamente, para salvar fortunas e evitar o colapso de grandes companhias, custe o que custar.
É por este motivo que, diferentemente de Keynes, Marx não via, na intervenção do Estado, a solução para os problemas distributivos do modo capitalista de produção. Pelo contrário, em oposição à Keynes, Marx considerava que o Estado estava subordinado ao capital, que o utilizava de acordo com seus interesses.
A história parece dar razão a Marx, pois, desde 1930, o Estado é usado ao “bel prazer” dos interesses dos grandes capitais, ampliando ou contraindo sua participação na economia à medida que é requisitado por aqueles que, de fato, detêm o poder, os donos do capital. Vários exemplos podem ser destacados, e uma das maiores mudanças é a recente passagem do Estado do Bem-Estar Social (Welfare State) para o Estado Neo-Liberal.
Atualmente, o fenômeno se repete na ação do governo norte-americano (Tesouro e Banco Central) desde o estouro da bolha imobiliária em julho do ano passado. O Banco Central dos Estados Unidos (FED) já tomou medidas surpreendentes, principalmente se for lembrado que foi este país o maior defensor e o criador do Estado Neo-Liberal. O FED já emprestou bilhões de dólares aos bancos tomando como garantia títulos com pouco ou nenhum valor de mercado (títulos imobiliários) e sem data prevista de recebimento, tendo em vista que, quando do vencimento, a dívida é automaticamente renovada. Já emprestou, também, dinheiro ao banco JPMorgan para que este comprasse o falido Bear Stearns.
Quanto ao Tesouro norte-americano, este concedeu isenções no imposto de renda de milhares de famílias norte-americanas para que continuassem comprando e, consequentemente, garantindo os lucros das empresas. E, dentre as inúmeras opções de longo prazo que o secretário do Tesouro norte-americano anunciou para breve, destaca-se a estatização das duas maiores instituições de financiamento da casa própria dos Estados Unidos, denominadas de Fannie Mãe e a Freddie Mac. Estas instituições são parcialmente estatais, mas estatizá-las totalmente significa remunerar a parcela do capital privado nelas existente e assumir integralmente o prejuízo, ou seja, o Estado vai assumir seu verdadeiro papel, que é o de defender os interesses do capital. As duas empresas, que financiam quase a metade dos US$ 12 trilhões concedidos como crédito para a compra de imóveis residenciais, registraram mais de US$ 11 bilhões de prejuízo desde o ano passado.
Apesar das ações do Governo; o cenário não mudou para melhor. Pelo contrário, agrava-se cada vez mais. As ações continuam em queda, os bancos continuam registrando prejuízos (como é o caso do Merryll Lynch, que, só no segundo trimestre do ano, registrou um prejuízo de US$ 4,9 bilhões, valor que corresponde ao dobro dos US$ 2,067 bilhões de lucro no mesmo período do ano passado) e as reduções nos lucros continuam estratosféricas (como é o caso do JPMorgan, que sofreu uma queda de 53% nos lucros, no segundo trimestre de 2008).
O índice de pobreza dos Estados Unidos, formado pela soma da taxa de desemprego e da taxa de inflação, registrou o maior nível em 15 anos, fruto da disparada dos preços e da queda nas folhas de pagamento.
Os maus ventos da economia norte-americana já se alastraram pelo mundo, e o “dragão chinês” já sente seus efeitos. Embora ainda mantenha uma significativa taxa de expansão, o PIB chinês sofreu desaceleração no segundo trimestre do ano, crescendo 10,1% ante 10,6% no primeiro trimestre. O enfraquecimento das exportações e as medidas restritivas ao crédito adotadas pelo Governo figuraram como os responsáveis pelo resultado.
Com a desvalorização do dólar, as empresas norte-americanas, com sede na China, estão começando a voltar para casa. É por isso que a China está desvalorizando sua moeda. Infelizmente, conflitos semelhantes, envolvendo os Estados Unidos e outras nações, mostraram que, pela hegemonia econômica, os norte-americanos são capazes de tudo. O Japão que o diga!
O Banco Central do Japão reduziu as projeções para o crescimento da economia e elevou as perspectivas de inflação em função da alta dos combustíveis e das commodities, que inibem os gastos das empresas e dos consumidores. O relatório mensal da instituição, divulgado em 16 de julho, destacou: “o crescimento da economia está desacelerando ainda mais, refletindo o enfraquecimento da expansão dos investimentos de capital, das empresas e do consumo privado, contra o pano de fundo dos altos preços dos combustíveis e das matérias-primas”.
Na Zona do Euro, os sintomas de estagflação também são claros e a opção de política econômica foi em favor da estabilidade, já que o Banco Central Europeu (BCE) elevou a taxa básica de juros para o seu maior patamar em sete anos, ficando em 4,25%. A inflação da zona do euro registrou alta de 4% em junho passado, principalmente em função da alta dos preços dos combustíveis. O resultado do índice, em junho, preocupou as autoridades monetárias por que a variação, entre maio e junho, registrou o seu ritmo mais acelerado, em mais de 16 anos.
Embora os dirigentes do BCE tenham dito que vão agir com firmeza para combater a inflação, consideram que a redução do crescimento da economia pode restringir a liberdade do banco de adotar novos aumentos na taxa de juros.
O estouro da bolha imobiliária constituiu-se como o agente deflagrador de mais uma crise do Modo Capitalista de Produção, que, de acordo com a teoria marxiana, é inerente e necessária ao sistema. Mas, do mesmo modo como a fase de auge, a crise que se iniciou terá também meio e fim, após cumprir com o seu papel regulador. Estando Marx correto, a intervenção do Estado não será capaz de estancar este processo. É exatamente o que tem acontecido, ou seja, a liquidez injetada na esfera financeira criou uma nova bolha especulativa, a das commodities (bens agrícolas e minerais negociados nas bolsas), que a qualquer momento estourará. A injeção amortece o necessário processo de destruição da mercadoria-capital, superabundante, que entope o sistema circulatório da acumulação.
O temor de que o ciclo de valorização das commodities possa estar chegando ao fim já é apontado por Brian Belski, estrategista setorial da Merril Lynch, para os Estados Unidos: “considerando as previsões de desaceleração do crescimento da economia mundial e o terrível desempenho dos mercados de ações dos países emergentes, nós acreditamos que podemos ter testemunhado o pico deste ciclo de commodities”. Ele completou dizendo: “a combinação da deterioração da capacidade de fixação de preços do dólar, que alcançou a maior baixa frente às principais moedas mundiais, e do aumento das taxas de juros para os tomadores com histórico de crédito precário está fornecendo ventos macroeconômicos contrários significativos para as matérias-primas”.
O que impressiona é como um fenômeno cíclico secular é sistematicamente omitido e desfigurado e apresentado sempre como resultado de erros cometidos pelos agentes econômicos. Em contrapartida, o Estado passa de vilão a mocinho, ora lhe cabendo o papel de provedor, ora o de controlador. A coisa se complica num quadro de estagflação, quando se quer ser os dois ao mesmo tempo.
Resta ao Estado perguntar aos donos do capital: bem-me-quer ou mal-me-quer?
Contrariando a sua própria análise da conjuntura atual e a suas declarações, surpreendentemente o FMI revisou para cima as estimativas para o crescimento global, depois de admitir a desaceleração da demanda e a alta da inflação. A revisão estipulou a estimativa de crescimento mundial em 4,1% ante os 3,7% anteriormente previstos. Conforme o Fundo: “a economia global está em um ponto complicado entre a forte desaceleração da demanda, em muitas economias avançadas, e o aumento da inflação em toda parte, notavelmente em países emergentes e em desenvolvimento”.
É difícil compreender como diante de um diagnóstico deste as estimativas foram revistas para cima. Dá para entender?

Texto escrito por
Águida Cristina Santos Almeida: Professora da faculdade IESP e integrante do PROGEB – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira.(progeb@ccsa.ufpb.br)

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segunda-feira, 28 de julho de 2008

Seminário Permanente

Olá Caros Leitores,

além do Grupo de Análise de Conjuntura – GAC e do Grupo de Produção Informática – GPI, o Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira - PROGEB é formado pelo Seminário Permanente – SP, o qual promove apresentações sobre os temas que são estudados pelos pesquisadores do PROGEB.

E é com satisfação que o convidamos a todos para a apresentação do seminário “O setor de serviços na nova metodologia das contas nacionais: uma análise à luz da teoria marxiana”:





Atenciosamente,

Seminário Permanente – SP e Grupo de Produção Informática – GPI, partes integrantes do Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira - PROGEB.

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terça-feira, 22 de julho de 2008

Qual será o próximo alvo?

Semana de 07 a 13 de julho de 2008

Estamos praticamente a um ano do estouro da crise do mercado sub-prime norte-americano. Quando se começa a pensar que a situação foi ultrapassada, surgem novas notícias da catástrofe. No último fim de semana, foi anunciado que, em junho, em relação a 2007, o aumento dos pedidos de execuções de hipotecas, nos Estados Unidos, foi de 53%. Mais de 252 mil imóveis estão em algum estágio desse processo, o que atinge uma em cada 501 famílias, conforme a Realtytrac, empresa de comercialização de dados de inadimplência. Segundo a mesma empresa, o aumento calculado indica que ainda não se alcançou o auge desde ciclo de execuções.
Apesar das tentativas para reverter a situação, através da injeção de dinheiro, o Banco Central americano, o Federal Reserve (Fed), poucos resultados tem conseguido. No dia 12 de julho, por exemplo, foi anunciada a quinta falência bancária do ano. Desta vez, foi o AndyMac, instituição voltada ao financiamentos de casas. Os próximos alvos de atuação do Fed são as agências privadas de crédito hipotecário, Fannie Mae e Freddie Mac, consideradas quebradas, dias atrás, e responsáveis por um terço do total das hipotecas, que giram em torno de 12 trilhões de dólares. As providências tomadas envolvem o acesso às operações de redesconto do Fed e a compra, pelo Tesouro, das ações das instituições. A pergunta que surge no ar é: quem será o próximo?
Preocupado com a atual situação, o presidente do Fed, Ben Bernanke, declarou que o banco considerava possível estender, aos bancos de investimentos, o programa de empréstimos de emergência em 2009. Contraditoriamente, dois dias depois, e tentando por ordem na casa, o secretario do Tesouro, Henry Paulson, em pronunciamento ao Congresso, afirmou: “As instituições financeiras não devem esperar socorro do Fed ou de qualquer outra divisão do governo americano”.
Na Europa, os bancos levantam dinheiro junto a investidores para recompor o seu capital. As entidades bancárias, após informarem que suas baixas contábeis atingiram 134 milhões de dólares, afirmaram precisar de 90 bilhões de euros (141 bilhões de dólares) para estabilizar a sua situação, conforme a Goldman Sachs.
Atingindo os países emergentes, a crise, no mês de junho, provocou uma saída de capital estrangeiro. Os fundos de ações dos mercados emergentes acumularam perdas de 4,3 bilhões, quando os investidores retiraram recursos de todos os grupos de fundos, desde os direcionados para os mercados do bloco Brics – Brasil, Rússia, Índia e China – até os do Leste europeu, Oriente médio e África.
Já no Brasil, o Instituto de Pesquisa de Economia Aplicada (Ipea) revisou para cima a previsão do déficit em transações correntes, para este ano. A saída de capital deve superar a entrada, entre 27,5 e 34,5 milhões de dólares. Esta estimativa é superior à projetada pelo Banco Central, que ficou em 21,5 milhões de dólares. O economista do Ipea, Leonardo Mello, disse que isto se deve à aceleração nas remessas de capital das empresas estrangeiras para compensar os prejuízos da crise do crédito imobiliário.
Além disso, o resultado negativo da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) é reflexo, segundo a Gazeta Mercantil, de resultados corporativos ruins do exterior e da expectativa de alta dos juros e da inflação no país. A perda foi de 180 milhões de reais, das 396 empresas com ações negociadas, e afetou um dos grupos mais privilegiados – os bancos. Em junho, a queda das ações do Itaú, Bradesco, Banco do Brasil, Unibanco e Santander, juntas, totalizou quase R$ 60 milhões em valor de mercado.
Especialistas da área explicam que o setor bancário é penalizado pela relação com o setor financeiro mundial, já que as ações de bancos, na Europa e Estados Unidos, estão muito desvalorizadas devido à crise de crédito imobiliário de alto risco. Pelo visto, a crise do mercado sub-prime continuará como um excelente bode expiatório para a crise atual.
A inflação, e o seu controle, tornaram-se uma preocupação generalizada nas diversas economias. No Brasil, o Banco Central (BC) tenta assegurar que ela não ultrapasse a meta estabelecida, de 4,5%, com uma variação de dois pontos para mais ou para menos. A principal ferramenta de controle utilizada pelo BC tem sido a elevação da taxa básica de juros, a taxa Selic. Atualmente ela se encontra em 12,25% e, segundo a maioria dos economistas, pode chegar a 14, 25% até o fim do ano. Está prevista uma reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) para essa semana, dia 22 ou 23 de julho, e, provavelmente, outro reajuste será aprovado.
Enquanto isso, os índices de inflação anunciam que o teto estipulado oficialmente, até 6,5%, será ultrapassado. Os principais fatores apontados para a elevação desses índices são os preços administrados, como energia elétrica, água e esgoto e álcool, e os dos alimentos. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), calculado pelo IBGE, acumula, em 12 meses, o valor de 6,06% (valor obtido no mês de junho). A expectativa é que a taxa acumulada em julho venha acima dos 6,5%. Em junho de 2007, essa mesma taxa era de 3,69%, o que representa quase uma duplicação. Vale informar que o IPCA é o indicador que baliza a política monetária no Brasil, e representa o consumo das famílias com rendimentos entre um e 40 salários mínimos.
Entre maio e junho, o IGP-DI (Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna) variou de 1,88% para 1,89%, mas a taxa acumulada em um ano apresentou, em junho, um valor muito alto (13,96%) se comparado ao valor acumulado de 12 meses atrás, quando este se situava em patamares inferiores a 5%.
Contundentes foram os resultados dos índices de inflação para as famílias com baixos rendimentos. O Índice de Preços ao Consumidor Classe 1 – IPC-C1, para as famílias que recebem entre 415 e 1.037 reais (1 a 2,5 salários mínimos) – acumulou, em 12 meses, uma elevação de 9,11%, a maior já registrada da série histórica, a qual é realizada, pela Fundação Getúlio Vargas, desde 2004. Já o INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor)acumula, no primeiro semestre, alta de 4,26%, bem acima dos 2,20% registrados, no mesmo período, em 2007. O INPC mede a inflação para as famílias com renda de um a oito salários mínimos.
Todos estes fatos confirmam a corrosão dos rendimentos dos mais necessitados do país. Para o economista da FGV, André Braz, “a tendência da inflação da baixa renda é de aceleração”.
O aumento da inflação também se reflete nos custos do endividamento público, por causa do aumento do valor dos títulos indexados aos índices de inflação e à taxa Selic, ambos em trajetórias ascendentes. Dados do Tesouro Nacional anunciaram que a dívida pública interna cresceu em maio e elevou o estoque total de endividamento do País. O custo médio mensal da dívida pública federal interna subiu de 12,5%, em abril, para 14,2%, em maio. O total da dívida pública mobiliária federal interna atingiu, em maio, R$ 1,239 trilhão, um aumento de 1,71%, em relação ao mês anterior.
Como temos denunciado a crise está em marcha e os indicadores da estagflação são cada vez mais evidentes.

Texto escrito por:
Maria Carolina Costa Madeira: Jornalista, mestranda em economia e pesquisadora do Progeb.
progeb@ccsa.ufpb.br|

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terça-feira, 15 de julho de 2008

GLOBALIZAÇÃO E CRISE NA ECONOMIA BRASILEIRA

O projeto GLOBALIZAÇÃO E CRISE NA ECONOMIA BRASILEIRAé a continuação de uma linha de pesquisa desenvolvida a partir do projeto individual “A TEORIA MARXIANA DOS CICLOS” que deu origem a dois projetos PIBICS: “A teoria marxiana dos ciclos e sua aplicação ao caso brasileiro” (julho de 1996 – julho de 2001) e “A economia brasileira contemporânea sob o impacto da globalização e da crise” (julho de 2001 – julho de 2003).

A execução do projeto sobre o ciclo econômico criou condições para que novos estudos fossem efetuados visando a aplicação da teoria elaborada à economia brasileira. Mudou-se o enfoque da investigação colocando no centro o estudo dos movimentos da economia brasileira analisados do ponto de vista da teoria marxiana. Isso não significou que os estudos teóricos fossem abandonados. Pelo contrário, eles foram retomados e continuados. Com esse objetivo os novos projetos: “A teoria marxiana dos ciclos e sua aplicação ao caso brasileiro” e “A economia brasileira contemporânea sob o impacto da globalização e da crise”, mantiveram uma componente científica e uma componente pedagógica. Na medida em que foram sendo feitas pesquisas empíricas, nas quais a teoria elaborada era utilizada, continuaram os trabalhos de desenvolvimento da própria teoria o que obrigou à preparação de materiais teóricos e textos didáticos que tem sido utilizados nas disciplinas de Economia Política, nos cursos de graduação e pós graduação, com o objetivo de formar novos investigadores capacitados para continuar esta linha de investigação que já vem sendo objeto de atenção do responsável por este projeto, desde os trabalhos de preparação de sua tese de doutoramento intitulada “A acumulação do capital no Brasil: expansão e crise.”

Os projetos PIBIC desenvolvidos serviram de centro catalizador para todo o trabalho de pesquisa agregando, além dos estudantes bolsistas e monitores do Programa de Monitoria, estudantes da graduação e do mestrado, e professores. É com base nessa experiência que está construído o presente projeto que pretende ser uma estrutura mais ampla capaz de abrigar todo o trabalho, envolvendo ensino, pesquisa e extensão, utilizando professores, estudantes de graduação e da pós-graduação e aberto para a colaboração de pessoas de outros centros, no país ou no exterior, que se integrarão em um grupo de pesquisa cujo registro já está feito no banco de dados do CNPq.

No âmbito dos projetos citados foram concluídos, três livros, seis dissertações de mestrado, sete monografias, seis textos para discussão e três textos didáticos editados pelo CME/DEPARTAMENTO DE ECONOMIA e foram escritos dois papers apresentados em congressos.

Livros editados
A CRISE ECONÔMICA: UMA VISÃO MARXISTA, de autoria de Ribeiro, N.R., João Pessoa: UFPB/Editora Universitária, 2008.
O CICLO ECONÔMICO UMA VISÃO MARXIANA, edição experimental feita pelo CME-DE, de autoria de Ribeiro, N.R, que serviu como livro texto para o curso de Economia Política III.
O CAPITAL EM MOVIMENTO: CICLOS, ROTAÇÃO E REPRODUÇÃO, 4ª edição experimental feita pelo CME-DE e utilizado como livro texto nos cursos de Economia Política II.
DINHEIRO, MAIS-VALIA E ACUMULAÇÃO CAPITALISTA, 3ª edição experimental feita pelo CME, organizado por Ribeiro, N.R e utilizado como livro texto nos cursos de Economia Política I.

Dissertações de Mestrado
O SUPPLY CHAIN MANAGEMENT E SEUS REFLEXOS NA CONCORRÊNCIA, CAMPOS, Luis Henrique Romani , CME - UFPB, Fevereiro de 2000.
O PROGRAMA DE DESLIGAMENTO VOLUNTÁRIO DO BANCO DO BRASIL E SUA INFLUÊNCIA NO ESTADO DA PARAÍBA, SILVA, Paulo Roberto da, CME - UFPB, 20 de Fevereiro de 2000.
O PROBLEMA DO DESEMPREGO NO ATUAL CONTEXTO DE EVOLUÇÃO DO CAPITALISMO, SAITO, Anderson Issao, CME – UFPB, 21 fevereiro de 2001.
A GESTÃO DA CADEIA DE SUPRIMENTOS NA INDÚSTRIA AUTOMOBILISTA BRASILEIRA (1957-1998), REIS, Serli Vieira dos, CME - UFPB, 08 de março de 2001.
O PLANEJAMENTO ECONÔMICO NA REPÚBLICA DE CABO VERDE, NEVES, Fernando Fonseca, CME – UFPB, 4 de fevereiro de 2002.
O DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO EM ANGOLA APÓS A DESCOLONIZAÇÃO, ESTEVES, Francisco Patrício, CME - UFPB, 4 de Fevereiro de 2002.
O MOVIMENTO CÍCLICO DA ECONOMIA BRASILEIRA E A INDÚSTRIA DE BENS DE CAPITAL: 1980-2000, SILVA, Rosângela Palhano da, CME – UFPB, 2002.

Monografias
EURO – NOVA ETAPA NA INTEGRAÇÃO MUNDIAL, monografia de conclusão de curso apresentada por Aristides Nascimento Lopes Semedo à Coordenação do Curso de Economia, do Centro de Ciências Sociais Aplicadas, da Universidade Federal da Paraíba, e aprovada no dia 02/09/99.
A CRISE ECONÔMICA NO BRASIL: OS ANOS 70 e 80, monografia de conclusão de curso apresentada por Rosângela Palhano da Silva à Coordenação do Curso de Economia, do Centro de Ciências Sociais Aplicadas, da Universidade Federal da Paraíba, e aprovada no dia 02/03/2000.
A CRISE ECONÔMICA NO BRASIL: NOS ANOS 90, monografia apresentada por Marlene Lopes de Oliveira à Coordenação do Curso de Economia, do Centro de Ciências Sociais Aplicadas, da Universidade Federal da Paraíba, e aprovada no dia 02/03/2000.
O PLANO REAL: ESTABILIZAÇÃO E CRISE, monografia apresentada por Fernando Jorge Fonseca Neves à Coordenação do Curso de Economia, do Centro de Ciências Sociais Aplicadas, da Universidade Federal da Paraíba, e aprovada no dia 03/03/2000.
CRIAÇÃO E TRANSFERÊNCIA DO VALOR NO SETOR TÊXTIL: ESTUDO DO CASO DA FIAÇÃO, monografia apresentada por Jailton Chaves da Silva à Coordenação do Curso de Economia, do Centro de Ciências Sociais Aplicadas, da Universidade Federal da Paraíba, no dia 15/03/2000.
O IMPACTO DA GLOBALIZAÇÃO E DA CRISE NAS COMUNIDADES RIBEIRINHAS: O CASO DE TAMBAÚZINHO, monografia de conclusão de curso apresentada por Elaine Alves Pegado à Coordenação do Curso de Economia, do Centro de Ciências Sociais Aplicadas, da Universidade Federal da Paraíba e aprovada no dia 05/09/2001.
O CICLO ECONÔMICO NO BRASIL NOS ANOS 90, monografia de conclusão de curso apresentada por Adonias Vidal de Medeiros Junior à Coordenação do Curso de BEconomia, do Centro de Ciências Sociais Aplicadas, da Universidade Federal da Paraíba e aprovada no dia 03/05/2002.
A NATUREZA DO ENDIVIDAMENTO EXTERNO BRASILEIRO: OS ANOS 90, monografia de conclusão de curso apresenta por Osvaldo Cândido da Silva Filho à Coordenação do Curso de Economia, do Centro de Ciências Sociais Aplicadas, da Universidade Federal da Paraíba e aprovada no dia.

Textos elaborados
A Mais-Valia, O Dinheiro e As Formas de Organizar a Produção no Capitalismo.Textos utilizados como parte da bibliografia da disciplina de Economia Política I no Curso de Ciências Econômicas da Universidade Federal da Paraíba, modificados e editados posteriormente em livro pelo CME-DE.
A crise atual: acidente ou necessidade,Ribeiro, N.R.. Texto para discussão N 139, Edição do Curso de Mestrado em Economia da UFPB, João Pessoa.
Os Valores de Troca e as Equações do Valor, Ribeiro, N.R. Texto para discussão Nº 138, Edição do Curso de Mestrado em Economia da UFPB, João Pessoa, março de 2000.
A crise? Qual crise Texto apresentado no Primeiro Encontro de Economia Clássica e Política, realizado na Universidade Federal Fluminense, Rio de Janeiro, 1996.
A crise -Conteúdo e formas de manifestação, Ribeiro, N.R., Texto para discussão N 136, Edição do Curso de Mestrado em Economia da UFPB, João Pessoa.
O supply chain management é um rompimento com a estrutura do capitalismoRibeiro Nelson Rosas e Campos, L.H.Romani de; Texto para discussão N 150, Edição do CME, UFPB, João Pessoa. Apresentado como comunicação no IV Encontro Anual da Sociedade Brasileira de Economia Política e publicado nos anais eletrônicos do encontro.
Das crises às flutuações – Ciência ou ideologia. Texto para discussão N 137, Edição do CME, UFPB, João Pessoa.
Contração, recessão, desaceleração... O retorno da crise econômicaRibeiro N.R. e Palhano, R. Texto para discussão N 245, Editado pelo CME – UFPB, João Pessoa.
O ciclo econômico nos anos 90 e a indústria de bens de capitais.Ribeiro N.Rosas e Silva, Rosângela Palhano da. Texto apresentado no V Encontro dos Economistas de Língua Portuguesa e publicado nos anais. Recife, 2004.
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Identificação do Projeto

Título: GLOBALIZAÇÃO E CRISE NA ECONOMIA BRASILEIRA.

Área de Concentração:Economia

Localização do Projeto:
Departamento de Economia
Centro de Ciências Sociais Aplicadas
Universidade Federal da Paraíba
Campus I, Cidade Universitária
João Pessoa - PB

Localização do Projeto:
Coordenador do Projeto: 6 (seis) horas semanais
Pesquisadores: 4 (quatro) horas semanais.

Elementos de identificação dos professores participantes
Nome:NELSON ROSAS RIBEIRO - (Coordenador do Projeto).
Categoria Funcional:PROFESSOR ADJUNTO IV.
Regime de Trabalho :DEDICAÇÄO EXCLUSIVA.
Titulação:PROFESSOR EMÉRITO DA UFPB E DOUTOR EM ECONOMIA PELA UNIVERSIDADE TÉCNICA DE LISBOA, LISBOA - PORTUGAL.

Nome:ROSÂNGELA PALHANO RAMALHO
Categoria funcional :PROFESSORA ASSISTENTE
Regime de trabalho:DEDICAÇÃO EXCLUSIVA.
Titulação: MESTRADO EM ECONOMIA PELA UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

Nome:REJANE GOMES CARVALHO.
Categoria funcional:PROFESSORA ASSISTENTE.
Regime de trabalho:DEDICAÇÃO EXCLUSIVA.
Titulação:DOUTORANDA EM SOCIOLOGIA NA UFPB, CAMPUS I.

Nome:LUCAS MILANEZ DE LIMA ALMEIDA
Categoria funcional:PROFESSOR AUXILIAR.
Titulação:MESTRADO EM ECONOMIA PELA UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA


Até o momento o PROGEB conta com os seguintes pesquisadores estudantes:

1 Pesquisador mestrando (externo): ERIC GIL DANTAS
1 Pesquisador Doutorando (externo): ANTONIO CARNEIRO DE ALMEIDA JUNIOR
2 Pesquisadores bolsistas do PROBEX: CLAUBER CAVALCANTE E  RAPHAEL SENA
1 Pesquisadora voluntária: ROBERTA PEREIRA E NATHANAEL BRITO
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segunda-feira, 14 de julho de 2008

A Ameaça à Estabilidade da Economia Brasileira

Semana de 30 de junho a 06 de julho de 2008

O governo Lula não tem medido esforços para exibir o que ele chama de “os sólidos fundamentos macro-econômicos do Brasil”. Para mostrar esta solidez, além de ostentar com grande pompa o título de “investment grade”, recém conquistado, o governo tem apresentado dois indicadores: o superávit primário e as reservas.
Preocupado em tranqüilizar os especuladores financeiros, o Governo Lula, alegando o pagamento dos juros da dívida, procura manter, a qualquer custo, o superávit primário (total das receitas menos a soma das despesas do estado antes do pagamento dos juros), o que vem sendo conseguido graças ao aumento do esforço fiscal. Nos primeiros cinco meses do ano, a economia de recursos foi de R$ 74,9 bilhões, cifra que representa 6,55% do Produto Interno Bruto (PIB). No mesmo período do ano passado, o resultado foi de R$ 60 bilhões, o equivalente a 5,89% do PIB. O chefe do departamento econômico do Banco Central, Altamir Lopes, atribuiu o bom resultado ao aquecimento da atividade econômica, que permitiu a elevação da arrecadação. O crescimento do montante arrecadado fez com que a relação dívida/PIB recuasse para 40,8%.
Por seu lado, as reservas internacionais atingiram uma marca histórica. De acordo com o Banco Central, o montante chegou a US$ 200,2 bilhões. Há um ano, a cifra era de US$ 145,5 bilhões, o que representou um crescimento de 37,5%. Para o secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, isso dá ao Brasil um certo nível de segurança do ponto de vista das relações internacionais. Ele não revela, porém, qual o preço que se tem de pagar por esta segurança.
Entretanto, um fator externo anda ameaçando a estabilidade macroeconômica brasileira: a crise econômica internacional. Além da quebradeira geral do mercado financeiro (com a contínua desvalorização do dólar), a queda no consumo tem levado ao fechamento de empresas, ao aumento do desemprego e à redução do comércio mundial. A política do BC tem agravado ainda mais a situação valorizando o real frente ao dólar e comprometendo, ainda mais, o saldo da balança comercial, que vem perdendo o fôlego. No primeiro semestre deste ano, o superávit de US$ 11,37 bilhões foi 44,47% menor do que os US$ 20,58 bilhões registrados em igual período do ano passado.
O Brasil junta-se à orquestra mundial colaborando com as contradições de sua crise interna de superprodução, pois, como era de se esperar, o nível de atividade econômica do país também vem sendo reduzido. Após dois meses consecutivos de crescimento, a produção industrial caiu 0,5%, em maio, na comparação com abril. Em relação ao ano passado, a indústria mantém ainda um desempenho positivo, com expansão de 2,4%, mas em ritmo inferior ao registrado no mês anterior, quando cresceu 10%. Os dados foram divulgados recentemente pelo IBGE.
Neste mundo globalizado, um fator importante que vem contribuindo para a desaceleração é o enfraquecimento do setor externo, já que os principais parceiros comerciais do Brasil, os Estados Unidos e a Argentina, estão enfrentando dificuldades.
Apesar dos dados da indústria, para alguns economistas, “ainda não se configurou uma tendência de desaceleração”. O fato é que a crise mundial, deflagrada pela crise dos Estados Unidos, está sendo agravada pela elevação generalizada dos preços, tornando o cenário externo mais desfavorável e constituindo uma verdadeira ameaça ao quadro de estabilidade econômica, amplamente ressaltado pelo Governo.
Nem as reservas internacionais, que atingiram uma marca histórica, nem a relação dívida/PIB, em queda, são suficientes para conter os efeitos globais da estagflação (inflação na estagnação), que vem ganhando força no cenário econômico mundial. A tendência é de que o Brasil acompanhe o movimento global, que no momento é de desaceleração. Esse é um processo que não pode ser evitado pela política econômica, mas apenas deformado, o que tem ocorrido com alguma freqüência e que está fazendo do Brasil um país cada vez mais defasado, não só em relação às principais potências econômicas, mas também em relação aos seus parceiros ditos “emergentes”.
Um forte indício de que a estabilidade da economia brasileira está cada vez mais ameaçada se encontra na recente declaração do novo titular da Secretaria de Política Econômica (SPE) do Ministério da Fazenda, Nelson Henrique Barbosa Filho. Segundo ele, o governo pode ser obrigado a revisar para baixo a projeção de crescimento da economia para 2009 em decorrência do cenário de inflação. A taxa de crescimento esperada para o próximo ano pode cair, de 5%, para 4,5%.
Enquanto os primeiros sinais de desaceleração, em relação à economia brasileira, começam a aparecer, no cenário internacional, as grandes instituições financeiras continuam demitindo funcionários. O JP Morgan, que comprou o Bear Stearns em maio, está fechando cerca de 10% dos postos de trabalho da sua divisão de banco de investimento na Europa. Desde a deflagração da crise, há aproximadamente um ano, já foram registradas perdas de cerca de US$ 40 bilhões, somente entre os bancos. Um dos mais afetados foi o Citigroup, que acumula prejuízos de aproximadamente US$ 43 bilhões. No mercado de títulos imobiliários, estima-se um prejuízo de US$ 1 trilhão. Com a desvalorização dos imóveis, a cifra anterior deve ser acrescentada, entre US$ 4 trilhões a US$ 6 trilhões.
No âmbito das previsões, o Fundo Monetário Internacional (FMI) já advertiu contra o perigo de estouro de crises financeiras pelo mundo devido aos altos preços do petróleo e dos alimentos. Segundo Dominique Strauss-Khan, diretor gerente do FMI, alguns países estão a ponto de desmoronar. Em comunicado, ele declarou que “se os preços dos alimentos seguirem aumentando e se as cotações do petróleo se mantiveram, alguns governos já não estarão em condições de alimentar a sua população, nem de manter a estabilidade de suas economias”.
Nesse mar de turbulências, desmoronarão também os “sólidos fundamentos macro-econômicos” do Brasil e a falsa aparência de estabilidade que eles trazem consigo, encobrindo a sua fragilidade econômica e financeira em relação ao movimento da economia mundial.

Texto escrito por:
Diego Mendes Lyra: Professor Substituto do Departamento de Economia/UFPB, mestrando e pesquisador do Progeb – Projeto globalização e crise na economia brasileira
Nelson Rosas Ribeiro: Professor do Departamento de Economia e coordenador do Progeb (progeb@ccsa.ufpb.br)

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sábado, 12 de julho de 2008

Crescimento ou inflação: dilema ou falso debate?

Semana de 23 a 29 de junho de 2008

O Banco Central elevou a projeção de inflação, para este ano, de 4,6% para 6%. As novas perspectivas foram divulgadas no Relatório Trimestral de Inflação. Caso o reajuste dos preços ultrapasse 6,4%, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, será obrigado a justificar, em carta aberta, as razões para o descumprimento da meta. Meirelles reiterou o compromisso do Banco Central com o controle inflacionário: “o Banco Central está comprometido a manter a inflação na meta, pelos próximos anos”.
Diante da sugestão de medidas de congelamento de preços do tipo das adotadas pelos gestores econômicos da Venezuela, do Uruguai, do México e da Argentina, o presidente Lula foi claro: “Não quero mais artificialismo”. A determinação de Lula é de que a inflação seja contida através de estímulo à produção agrícola para alcançar safras recordes nos próximos dois anos.
Para o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), a piora dos índices inflacionários contaminou as expectativas para 2009, elevando-as. Isto é preocupante, porque pode levar a uma indexação prévia, que, por si só, já garantiria um acréscimo da inflação para o próximo ano. A solução encontrada pela própria Presidência da República foi ordenar que o Ipea deixe de divulgar as projeções de inflação a cada três meses, como era feito, e faça-o apenas quando for conveniente e no início de cada ano, para não alimentar mais projeções pessimistas.
Ora, para tentar mudar as expectativas quanto à inflação futura, o governo adota uma solução burocrática: deixar de divulgar dados sobre ela. Porventura pensa iludir os agentes econômicos consumidores ou capitalistas?
Já o presidente do Ipea, Marcio Pochman, tem opinião contrária. Para ele, a pressão inflacionária é originada principalmente no mercado internacional, e, por isto, o Banco Central está errando a mão ao elevar a taxa Selic para contê-la. Ele afirma que o mercado atravessa um período de inflação de custos, contaminada pelo mercado externo e sua causa não é o desequilíbrio entre oferta e procura. Ele declarou: “Eu acho que grande parte da inflação é importada e está contaminando o mundo inteiro, desde o ano passado. Ela é mais de custo do que de demanda”. Afirmou ainda que, por se tratar de uma inflação de custos, o aumento do juro não é o melhor instrumento para enfrentá-la e completou: “O Banco Central pode matar um ciclo de crescimento vigoroso que se desenha para a economia brasileira”.
Quanto ao crescimento, o Ipea continua otimista e avalia, em sua Carta de Conjuntura, que a pouca interferência do aperto monetário nos investimentos está baseada em dois fatos: em primeiro lugar, os planos de investimento já estão em andamento e, em segundo lugar, o atual nível da taxa de câmbio ainda estimula e facilita as importações de bens da capital, o que eleva a capacidade produtiva. Por conta disso, a taxa de investimento pode apresentar alta entre 12,4% e 14,4%.
Obstinado, o BC, com base na sua teoria, para tentar arrefecer a economia, impedir a propagação da alta dos preços e trazer a inflação para o centro da meta, poderá estender o ciclo de aperto monetário até o primeiro semestre de 2009. Essa é a leitura que foi feita, por analistas, do seu Relatório Trimestral de Inflação.
Enquanto o Ipea discute o famoso dilema entre crescimento e inflação, os mais entendidos no assunto já falam em stagflação, o que é o mesmo que aumento agudo da inflação combinado à queda no crescimento econômico e no emprego. De outro modo, a discussão se torna vazia, pois nem o Banco Central vai conter a inflação aumentando a taxa de juros, nem os investimentos vão se manter indefinidamente, porque o tal descolamento da economia brasileira do resto da economia mundial (que se encontra em crise) só existe na cabeça dos que querem conter a inflação escondendo os números. Para quem tem dúvidas, é só observar a queda da produção industrial dos últimos meses.
Enquanto a produção industrial cai, a inflação, medida pelo IGP-M (Índice Geral de Preços – Mercado), chegou a 1,98% neste mês, atingindo a taxa mais alta, desde fevereiro de 2003. No ano, a inflação já atingiu 6,82%, ou seja, a estagflação já está em marcha.
Preocupado com a contenção dos gastos, o governo anunciou um corte de R$ 8,2 bilhões nas despesas previstas no Orçamento da União deste ano para garantir o aumento da meta de superávit primário e o reajuste dos benefícios do programa Bolsa Família. Esse esforço concentrar-se-á nas empresas estatais, ou seja, nos investimentos. O ajuste orçamentário tem por objetivo central auxiliar no combate a inflação. A principal medida é a elevação do valor dos dividendos a serem pagos pelas estatais ao Tesouro Nacional, os quais passarão dos R$ 9,5 bilhões.
A poupança do governo central (Tesouro, Previdência e Banco Central), para garantir o pagamento dos juros da dívida pública, já atingiu R$ 53,6 bilhões entre janeiro e maio deste ano. Chamada de superávit primário, essa economia ficou 43,3% acima dos R$ 37,4 bilhões que foram poupados no mesmo período do ano passado. A maior capacidade de gerar divisas para pagar os juros da dívida pública se deve, em grande parte, ao forte aumento da arrecadação de tributos, que, nos cinco primeiros meses, teve crescimento real (descontado a inflação) de 10,65%, quase o dobro do atual ritmo de expansão da economia.
O problema da dívida externa está aparentemente resolvido, pelo menos no curto prazo, com as reservas internacionais do Brasil atingindo a marca histórica de US$ 200 bilhões. Desde o inicio do governo Lula, já cresceram 400%. Mas essa farra pode acabar. As expectativas de piora do saldo comercial e aumento das remessas de lucros e dividendos ao exterior levaram o Banco Central a elevar a projeção de déficit nas transações correntes para US$ 21 bilhões neste ano.
“Somos um ótimo refúgio para capitais especulativos e um espaço de oferta de recursos naturais – exatamente o que o mundo espera de nós”, disse Cesar Benjamin, consultor da Gazeta Mercantil.
O retorno dos déficits em transações correntes coloca o país diante de um velho problema: o crescimento da economia brasileira, nos próximos anos, poderá voltar a depender do financiamento externo. O rombo nas contas externas divide, porém, as opiniões dos especialistas. Enquanto alguns alertam para o risco de repetir o passado, deixando o país cada vez mais vulnerável a outra crise cambial, outros argumentam que hoje a situação é bem mais confortável e que o regime de câmbio flutuante pode proporcionar um ajuste suave.
“O Brasil tem uma economia fechada. Só consegue crescer importando senão enfrenta problemas de demanda”, afirmou Nelson Carneiro, economista sênior da Austin Rating. Apesar de já termos visto esse filme antes, na avaliação do economista, é hora de o país discutir a substituição de importação por produção local para mudar esse perfil (filme que também já vimos).
Outro entrave ao crescimento é a infra-estrutura. O PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), principal objetivo do segundo mandato do governo Lula, foi insuficiente, até agora, para elevar os investimentos em infra-estrutura ao patamar exigido pelo país. Levantamento da Abidib (Associação Brasileira da Infra Estrutura e Indústrias de Base) revela que para isto o país precisaria gastar R$ 108,4 bilhões por ano. Só assim os sistemas de transporte, energia, saneamento e telecomunicações não se tornariam obstáculos ao crescimento econômico. O país não tem conseguido cumprir a meta.
Um grande impulsionador da economia tem sido o crédito. O volume de recursos emprestado pelo sistema financeiro brasileiro alcançou R$ 1,044 trilhão – ou 36,5% do PIB (Produto Interno Bruto) no mês de maio, a maior relação desde 1995, quando atingiu 36,8%, - um crescimento de 2,6% no mês e de 32,4% em 12 meses. Mas, para Philip Pastor Wagner, economista do Unibanco, “As concessões de crédito estão perdendo o fôlego, em parte pelas medidas restritivas aplicadas pelo governo, em parte porque os bancos começam a mostrar preocupação com a capacidade de pagamento dos tomadores, mesmo que a inadimplência ainda se mantenha em taxas não preocupantes (subiu de 7,1% em abril para 7,3 em maio), dentro do padrão”.
Mas, mesmo que a economia brasileira resistisse à alta da taxa Selic, à inflação, aos gargalos da infra-estrutura, a uma tributação maior, aos altos pagamentos de juros da dívida, à redução dos investimentos por parte das estatais e ainda aos déficits no balanço de pagamentos, e mantivesse os atuais ritmos de crescimento da economia, da recuperação do salário mínimo e as ações de transferência de renda, somente em 2016 o Brasil deixaria de ser um país “primitivo” no que se refere à distribuição de renda.
Na prática, em oito anos, diminuirá a diferença (hoje em 23,5 vezes) entre a média salarial dos mais ricos e os mais pobres, segundo projeção feita pelo presidente do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), Marcio Pochmann, a pedido da Folha de São Paulo. Para tentar diminuir as desigualdades, Lula disse que pretende usar a receita futura, gerada pelos depósitos de petróleo contidos na camada pré-sal, para aumentar os investimentos em saúde e educação. “Essa é uma chance para que os pobres brasileiros usem esse dinheiro, e não para termos pessoas com muito petróleo e três ou quatro relógios e um Rolex no bolso. Nós queremos tirar proveito dessa riqueza para garantir que o Brasil possa dar um grande salto adiante”, disse Lula.
Além de prometer a riqueza futura, o Presidente parece ter mudado de idéia a respeito do pedido de adesão à Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), pois quer que o país se concentre no refino local do petróleo que produz. Afinal, descobriu o grande furo da auto suficiência. Se a desigualdade vai diminuir nos próximos oito anos, ainda é uma incógnita. Mas o número de milionários, esse sim já sofreu um aumento de 19,1% no ano passado, o terceiro maior avanço no mundo, superado apenas por Índia e China, igualmente emergentes.

Texto escrito por:
Nayana Ruth Mangueira de Figueiredo - Professora do Departamento de Economia da UFPB, Mestranda e pesquisadora do Progeb - Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira (progeb@ccsa.ufpb.br)

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Grupo de Análise de Conjuntura (GAC)

O Grupo de Análise de Conjuntura – GAC é o órgão permanente do PROGEB encarregado da pesquisa e observação da realidade econômica através dos órgãos de divulgação, jornais, revistas, sites especializados, órgãos do governo, instituições de pesquisa, etc, ou da coleta direta.
Ele deve ocupar-se em procurar dados que sirvam de base para o trabalho dos pesquisadores e às atividades de extensão.

Atividades:
No cumprimento de suas funções o GAC deverá desenvolver as seguintes atividades:
  1. Pesquisar dados sobre a evolução da atividade econômica ;
  2. Fornecer os elementos empíricos necessários ao trabalho dos pesquisadores e das assessorias prestadas pelo projeto;
  3. Auxiliar a execução dos cursos de Economia Política na graduação e pós-graduação;
  4. Participar na organização dos seminários, palestras e mini-cursos do projeto;
  5. Contribuir para a formação e treinamento de novos pesquisadores;
  6. Realizar semanalmente reuniões para análise dos dados obtidos e acompanhar a evolução da conjuntura;
  7. Preparar um Comentário de Conjuntura semanal a ser disponibilizado na Home page.

Membros envolvidos:
Para o seu funcionamento o GAC contará com a participação de:
Professores ligados ao PROGEB;
Alunos monitores das disciplinas de economia política;
Alunos estagiários de pós-graduação;
Alunos estagiários do curso de graduação;
Outros alunos voluntários que desejem participar.
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terça-feira, 1 de julho de 2008

Porque a galinha não vira águia?

Semana de 09 a 15 de junho de 2008

Há mais de uma década o Brasil cresce aquém de quase todos os países emergentes e alguns desenvolvidos. Houve anos em que só não ficou em último lugar porque o Haiti conseguiu ser pior,deixando-o na penúltima posição das Américas. No ano passado, o PIB brasileiro cresceu 5,7%, uma taxa bastante elevada se comparada com taxas de anos anteriores, porém, quando comparada com outras economias, em 2007, o Brasil, mais uma vez, ficou atrás.
Apesar disto, 2008 começou com o otimismo em alta, na expectativa de que o resultado de 2007 será repetido por um longo período de tempo e que o “vôo de galinha” dará lugar ao “vôo da águia”, iniciando o crescimento sustentável tão prometido pelo governo Lula. Mas, os resultados do PIB no primeiro trimestre já começam a indicar que a galinha não virará águia.
No primeiro trimestre de 2008, em comparação com o mesmo período de 2007, a economia brasileira cresceu 5,8%, sendo esta a maior expansão desde 1996. No acumulado de 12 meses, o resultado também foi recorde. Porém, o ritmo de crescimento já dá sinais de desaceleração, pois, de janeiro a março,o PIB cresceu 0,7%, em relação ao último trimestre de 2007, resultado que projeta uma taxa anualizada de 3% contra um esultado anualizado de mais de 6% no quarto trimestre de 2007. Isto mostra que, no primeiro trimestre, houve uma forte desaceleração, já que um crescimento de 6% ao ano (com base nos dados dos 3 últimos meses de 2007), caiu pela metade (quando a referência são os 3 primeiros meses de 2008).
Segundo o IBGE, o crescimento da indústria (6,9%), dos investimentos (15,2%) e do consumo das famílias (6,9%) liderou a expansão do PIB no primeiro trimestre de 2008, em relação a igual período de 2007. O consumo das famílias foi puxado pela continuidade do aumento do crédito (33,7%) e de uma elevação de 6,9% da massa salarial. O resultado da indústria deveu-se ao crescimento da construção civil e de alguns ramos da indústria de transformação como: máquinas e equipamentos, utomobilística, metalurgia, gás e petróleo e material elétrico. Embora o consumo das famílias tenha crescido 6,6% no primeiro trimestre, o indicador já denota sinais de desaceleração, já que a alta foi de apenas 0,3% na comparação com o quarto trimestre de 2007.
O emprego industrial de abril sofreu queda de 0,2% em relação a março, e a folha de pagamento caiu 1,3%. Apesar do resultado, o emprego fechou o primeiro quadrimestre com alta de 3%.
O governo mostrou-se satisfeito com estes resultados, apresentando como positiva a desaceleração verificada, interpretada pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, como “um pouco de água fria na fervura”. A influência do BC no governo leva-o a acreditar que o desequilíbrio entre a oferta e a demanda é o principal responsável pela aceleração dos preços. Na ata do Copom, embora reconheça que o aumento internacional do preço das commodities e dos alimentos afeta a inflação, o BC aponta um excesso de demanda sobre a oferta como o principal responsável por ela. Com a intenção de restabelecer o equilíbrio, o BC afirma que continuará elevando a taxa de juros.
Sob esta alegação, a taxa básica de juros, que já era a maior do mundo, voltou a ser elevada passando a 12,25%. Pode-se constatar, porém, dois grandes absurdos cometidos na execução desta política econômica.
O primeiro é diagnosticar a inflação brasileira como excesso de demanda. Em que dados o Banco Central está se baseando para tal? A expansão das importações é menos um efeito do crescimento da renda doméstica e mais um efeito-preço, ou seja, reflexo da valorização cambial provocada pela própria política de juros altos do BC, o que, somado a uma taxa de crescimento do investimento superior ao crescimento do consumo, não permite concluir que o país está enfrentando grandes dificuldades para atender a sua demanda.
O segundo grande erro é elevar a taxa de juros para combater uma inflação que atualmente é mundial, causada em grande medida pela especulação em torno das commodities, nas bolsas mundiais. O preço das commodities continua batendo recordes na bolsa de Chicago, aumentando a pressão sobre os preços mundiais. Desde janeiro, os contratos de soja e milho subiram 34,67% e 45,59%, respectivamente. O preço do trigo também teve alta expressiva de 7,2% e o açúcar de 5,3%.
No Brasil, o IPCA subiu 0,79% em maio (acima do 0,55% de abril), tendo sido os alimentos os principais vilões deste resultado. No ano, o IPCA acumulou alta de 2,88%, sendo o grupo alimentos e bebidas o responsável por 1,34%, ou seja, 48% do índice.
Assim, o preço que teremos que pagar pela tentativa de conter uma inflação, causada por motivos exógenos, será o aumento da dívida pública e o comprometimento ainda maior da competitividade da indústria brasileira (com a valorização cambial), o que coloca em xeque a manutenção da atividade econômica.
Graças a esta política, a galinha não vira águia e, agora, num cenário internacional totalmente desfavorável (ao contrário dos anos anteriores em que tal política equivocada ocorria num contexto de crescimento mundial), a conjunção dos erros do BC levará a uma metamorfose contrária, ou seja, a galinha não virará águia e sim voltará a ser uma franga (que nem sequer um pequeno vôo é capaz de fazer).
O quadro de estagflação rompe as fronteiras da economia norte-americana e se alastra pelo mundo inteiro. As últimas vítimas são o Japão e a Argentina. No Japão os preços recordes do petróleo e das matérias-primas desencorajaram as empresas a fazerem contratações e investirem, conforme relatório do governo. A produção da indústria de transformação está caindo e os lucros se deteriorando.
A economia da Argentina também demonstra sinais de desaceleração, tendo a venda de máquinas agrícolas caído em 50%, em decorrência de uma greve de 90 dias de milhares de agricultores, revoltados com a acentuada alta nos impostos das exportações de soja e outros alimentos. O diretor da consultoria Ecolatina, Ricardo Delgado, destacou: “o agravamento do conflito (agrário) começa a funcionar como um catalisador de um processo gradual e permanente de deterioração da economia”.
Na Venezuela, a inflação disparou no mês de maio, pois enquanto o BC venezuelano projetava uma variação de 1,9% para o tradicional índice de preços que mede a inflação em Caracas, o índice variou 3,5%, impulsionado por uma alta geral nos preços no país.
E, nos Estados Unidos, os sinais da crise são cada vez mais fortes. De acordo com Livro Bege (relatório do Banco Central – Fed), a atividade econômica se mantém fraca, com uma desaceleração do consumo devido à disparada dos preços do petróleo e dos alimentos. De um lado, o mercado de trabalho está em declínio, limitando aumentos salariais. De outro, os custos dos alimentos e combustíveis continuam subindo. O desemprego no país atingiu a maior marca em 20 anos, chegando a 5,5%. Há uma perda de postos de trabalho em cinco meses seguidos. Os empregadores fazem cortes para proteger lucros, em um momento em que os preços das matérias-primas disparam e as vendas desaceleram. O panorama da economia mundial continua a mover-se em um quadro de agravamento da crise que se alastra cada vez mais.

Texto escrito por:
Águida Cristina Santos Almeida - Professora da faculdade IESP e integrante do PROGEB – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira(progeb@ccsa.ufpb.br)
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