Semana de 30 de junho a 06 de julho de 2008
O governo Lula não tem medido esforços para exibir o que ele chama de “os sólidos fundamentos macro-econômicos do Brasil”. Para mostrar esta solidez, além de ostentar com grande pompa o título de “investment grade”, recém conquistado, o governo tem apresentado dois indicadores: o superávit primário e as reservas.
Preocupado em tranqüilizar os especuladores financeiros, o Governo Lula, alegando o pagamento dos juros da dívida, procura manter, a qualquer custo, o superávit primário (total das receitas menos a soma das despesas do estado antes do pagamento dos juros), o que vem sendo conseguido graças ao aumento do esforço fiscal. Nos primeiros cinco meses do ano, a economia de recursos foi de R$ 74,9 bilhões, cifra que representa 6,55% do Produto Interno Bruto (PIB). No mesmo período do ano passado, o resultado foi de R$ 60 bilhões, o equivalente a 5,89% do PIB. O chefe do departamento econômico do Banco Central, Altamir Lopes, atribuiu o bom resultado ao aquecimento da atividade econômica, que permitiu a elevação da arrecadação. O crescimento do montante arrecadado fez com que a relação dívida/PIB recuasse para 40,8%.
Por seu lado, as reservas internacionais atingiram uma marca histórica. De acordo com o Banco Central, o montante chegou a US$ 200,2 bilhões. Há um ano, a cifra era de US$ 145,5 bilhões, o que representou um crescimento de 37,5%. Para o secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, isso dá ao Brasil um certo nível de segurança do ponto de vista das relações internacionais. Ele não revela, porém, qual o preço que se tem de pagar por esta segurança.
Entretanto, um fator externo anda ameaçando a estabilidade macroeconômica brasileira: a crise econômica internacional. Além da quebradeira geral do mercado financeiro (com a contínua desvalorização do dólar), a queda no consumo tem levado ao fechamento de empresas, ao aumento do desemprego e à redução do comércio mundial. A política do BC tem agravado ainda mais a situação valorizando o real frente ao dólar e comprometendo, ainda mais, o saldo da balança comercial, que vem perdendo o fôlego. No primeiro semestre deste ano, o superávit de US$ 11,37 bilhões foi 44,47% menor do que os US$ 20,58 bilhões registrados em igual período do ano passado.
O Brasil junta-se à orquestra mundial colaborando com as contradições de sua crise interna de superprodução, pois, como era de se esperar, o nível de atividade econômica do país também vem sendo reduzido. Após dois meses consecutivos de crescimento, a produção industrial caiu 0,5%, em maio, na comparação com abril. Em relação ao ano passado, a indústria mantém ainda um desempenho positivo, com expansão de 2,4%, mas em ritmo inferior ao registrado no mês anterior, quando cresceu 10%. Os dados foram divulgados recentemente pelo IBGE.
Neste mundo globalizado, um fator importante que vem contribuindo para a desaceleração é o enfraquecimento do setor externo, já que os principais parceiros comerciais do Brasil, os Estados Unidos e a Argentina, estão enfrentando dificuldades.
Apesar dos dados da indústria, para alguns economistas, “ainda não se configurou uma tendência de desaceleração”. O fato é que a crise mundial, deflagrada pela crise dos Estados Unidos, está sendo agravada pela elevação generalizada dos preços, tornando o cenário externo mais desfavorável e constituindo uma verdadeira ameaça ao quadro de estabilidade econômica, amplamente ressaltado pelo Governo.
Nem as reservas internacionais, que atingiram uma marca histórica, nem a relação dívida/PIB, em queda, são suficientes para conter os efeitos globais da estagflação (inflação na estagnação), que vem ganhando força no cenário econômico mundial. A tendência é de que o Brasil acompanhe o movimento global, que no momento é de desaceleração. Esse é um processo que não pode ser evitado pela política econômica, mas apenas deformado, o que tem ocorrido com alguma freqüência e que está fazendo do Brasil um país cada vez mais defasado, não só em relação às principais potências econômicas, mas também em relação aos seus parceiros ditos “emergentes”.
Um forte indício de que a estabilidade da economia brasileira está cada vez mais ameaçada se encontra na recente declaração do novo titular da Secretaria de Política Econômica (SPE) do Ministério da Fazenda, Nelson Henrique Barbosa Filho. Segundo ele, o governo pode ser obrigado a revisar para baixo a projeção de crescimento da economia para 2009 em decorrência do cenário de inflação. A taxa de crescimento esperada para o próximo ano pode cair, de 5%, para 4,5%.
Enquanto os primeiros sinais de desaceleração, em relação à economia brasileira, começam a aparecer, no cenário internacional, as grandes instituições financeiras continuam demitindo funcionários. O JP Morgan, que comprou o Bear Stearns em maio, está fechando cerca de 10% dos postos de trabalho da sua divisão de banco de investimento na Europa. Desde a deflagração da crise, há aproximadamente um ano, já foram registradas perdas de cerca de US$ 40 bilhões, somente entre os bancos. Um dos mais afetados foi o Citigroup, que acumula prejuízos de aproximadamente US$ 43 bilhões. No mercado de títulos imobiliários, estima-se um prejuízo de US$ 1 trilhão. Com a desvalorização dos imóveis, a cifra anterior deve ser acrescentada, entre US$ 4 trilhões a US$ 6 trilhões.
No âmbito das previsões, o Fundo Monetário Internacional (FMI) já advertiu contra o perigo de estouro de crises financeiras pelo mundo devido aos altos preços do petróleo e dos alimentos. Segundo Dominique Strauss-Khan, diretor gerente do FMI, alguns países estão a ponto de desmoronar. Em comunicado, ele declarou que “se os preços dos alimentos seguirem aumentando e se as cotações do petróleo se mantiveram, alguns governos já não estarão em condições de alimentar a sua população, nem de manter a estabilidade de suas economias”.
Nesse mar de turbulências, desmoronarão também os “sólidos fundamentos macro-econômicos” do Brasil e a falsa aparência de estabilidade que eles trazem consigo, encobrindo a sua fragilidade econômica e financeira em relação ao movimento da economia mundial.
Preocupado em tranqüilizar os especuladores financeiros, o Governo Lula, alegando o pagamento dos juros da dívida, procura manter, a qualquer custo, o superávit primário (total das receitas menos a soma das despesas do estado antes do pagamento dos juros), o que vem sendo conseguido graças ao aumento do esforço fiscal. Nos primeiros cinco meses do ano, a economia de recursos foi de R$ 74,9 bilhões, cifra que representa 6,55% do Produto Interno Bruto (PIB). No mesmo período do ano passado, o resultado foi de R$ 60 bilhões, o equivalente a 5,89% do PIB. O chefe do departamento econômico do Banco Central, Altamir Lopes, atribuiu o bom resultado ao aquecimento da atividade econômica, que permitiu a elevação da arrecadação. O crescimento do montante arrecadado fez com que a relação dívida/PIB recuasse para 40,8%.
Por seu lado, as reservas internacionais atingiram uma marca histórica. De acordo com o Banco Central, o montante chegou a US$ 200,2 bilhões. Há um ano, a cifra era de US$ 145,5 bilhões, o que representou um crescimento de 37,5%. Para o secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, isso dá ao Brasil um certo nível de segurança do ponto de vista das relações internacionais. Ele não revela, porém, qual o preço que se tem de pagar por esta segurança.
Entretanto, um fator externo anda ameaçando a estabilidade macroeconômica brasileira: a crise econômica internacional. Além da quebradeira geral do mercado financeiro (com a contínua desvalorização do dólar), a queda no consumo tem levado ao fechamento de empresas, ao aumento do desemprego e à redução do comércio mundial. A política do BC tem agravado ainda mais a situação valorizando o real frente ao dólar e comprometendo, ainda mais, o saldo da balança comercial, que vem perdendo o fôlego. No primeiro semestre deste ano, o superávit de US$ 11,37 bilhões foi 44,47% menor do que os US$ 20,58 bilhões registrados em igual período do ano passado.
O Brasil junta-se à orquestra mundial colaborando com as contradições de sua crise interna de superprodução, pois, como era de se esperar, o nível de atividade econômica do país também vem sendo reduzido. Após dois meses consecutivos de crescimento, a produção industrial caiu 0,5%, em maio, na comparação com abril. Em relação ao ano passado, a indústria mantém ainda um desempenho positivo, com expansão de 2,4%, mas em ritmo inferior ao registrado no mês anterior, quando cresceu 10%. Os dados foram divulgados recentemente pelo IBGE.
Neste mundo globalizado, um fator importante que vem contribuindo para a desaceleração é o enfraquecimento do setor externo, já que os principais parceiros comerciais do Brasil, os Estados Unidos e a Argentina, estão enfrentando dificuldades.
Apesar dos dados da indústria, para alguns economistas, “ainda não se configurou uma tendência de desaceleração”. O fato é que a crise mundial, deflagrada pela crise dos Estados Unidos, está sendo agravada pela elevação generalizada dos preços, tornando o cenário externo mais desfavorável e constituindo uma verdadeira ameaça ao quadro de estabilidade econômica, amplamente ressaltado pelo Governo.
Nem as reservas internacionais, que atingiram uma marca histórica, nem a relação dívida/PIB, em queda, são suficientes para conter os efeitos globais da estagflação (inflação na estagnação), que vem ganhando força no cenário econômico mundial. A tendência é de que o Brasil acompanhe o movimento global, que no momento é de desaceleração. Esse é um processo que não pode ser evitado pela política econômica, mas apenas deformado, o que tem ocorrido com alguma freqüência e que está fazendo do Brasil um país cada vez mais defasado, não só em relação às principais potências econômicas, mas também em relação aos seus parceiros ditos “emergentes”.
Um forte indício de que a estabilidade da economia brasileira está cada vez mais ameaçada se encontra na recente declaração do novo titular da Secretaria de Política Econômica (SPE) do Ministério da Fazenda, Nelson Henrique Barbosa Filho. Segundo ele, o governo pode ser obrigado a revisar para baixo a projeção de crescimento da economia para 2009 em decorrência do cenário de inflação. A taxa de crescimento esperada para o próximo ano pode cair, de 5%, para 4,5%.
Enquanto os primeiros sinais de desaceleração, em relação à economia brasileira, começam a aparecer, no cenário internacional, as grandes instituições financeiras continuam demitindo funcionários. O JP Morgan, que comprou o Bear Stearns em maio, está fechando cerca de 10% dos postos de trabalho da sua divisão de banco de investimento na Europa. Desde a deflagração da crise, há aproximadamente um ano, já foram registradas perdas de cerca de US$ 40 bilhões, somente entre os bancos. Um dos mais afetados foi o Citigroup, que acumula prejuízos de aproximadamente US$ 43 bilhões. No mercado de títulos imobiliários, estima-se um prejuízo de US$ 1 trilhão. Com a desvalorização dos imóveis, a cifra anterior deve ser acrescentada, entre US$ 4 trilhões a US$ 6 trilhões.
No âmbito das previsões, o Fundo Monetário Internacional (FMI) já advertiu contra o perigo de estouro de crises financeiras pelo mundo devido aos altos preços do petróleo e dos alimentos. Segundo Dominique Strauss-Khan, diretor gerente do FMI, alguns países estão a ponto de desmoronar. Em comunicado, ele declarou que “se os preços dos alimentos seguirem aumentando e se as cotações do petróleo se mantiveram, alguns governos já não estarão em condições de alimentar a sua população, nem de manter a estabilidade de suas economias”.
Nesse mar de turbulências, desmoronarão também os “sólidos fundamentos macro-econômicos” do Brasil e a falsa aparência de estabilidade que eles trazem consigo, encobrindo a sua fragilidade econômica e financeira em relação ao movimento da economia mundial.
Texto escrito por:
Diego Mendes Lyra: Professor Substituto do Departamento de Economia/UFPB, mestrando e pesquisador do Progeb – Projeto globalização e crise na economia brasileira
Nelson Rosas Ribeiro: Professor do Departamento de Economia e coordenador do Progeb (progeb@ccsa.ufpb.br)
Nelson Rosas Ribeiro: Professor do Departamento de Economia e coordenador do Progeb (progeb@ccsa.ufpb.br)
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