Semana de 07 a 13 de julho de 2008
Estamos praticamente a um ano do estouro da crise do mercado sub-prime norte-americano. Quando se começa a pensar que a situação foi ultrapassada, surgem novas notícias da catástrofe. No último fim de semana, foi anunciado que, em junho, em relação a 2007, o aumento dos pedidos de execuções de hipotecas, nos Estados Unidos, foi de 53%. Mais de 252 mil imóveis estão em algum estágio desse processo, o que atinge uma em cada 501 famílias, conforme a Realtytrac, empresa de comercialização de dados de inadimplência. Segundo a mesma empresa, o aumento calculado indica que ainda não se alcançou o auge desde ciclo de execuções.
Apesar das tentativas para reverter a situação, através da injeção de dinheiro, o Banco Central americano, o Federal Reserve (Fed), poucos resultados tem conseguido. No dia 12 de julho, por exemplo, foi anunciada a quinta falência bancária do ano. Desta vez, foi o AndyMac, instituição voltada ao financiamentos de casas. Os próximos alvos de atuação do Fed são as agências privadas de crédito hipotecário, Fannie Mae e Freddie Mac, consideradas quebradas, dias atrás, e responsáveis por um terço do total das hipotecas, que giram em torno de 12 trilhões de dólares. As providências tomadas envolvem o acesso às operações de redesconto do Fed e a compra, pelo Tesouro, das ações das instituições. A pergunta que surge no ar é: quem será o próximo?
Preocupado com a atual situação, o presidente do Fed, Ben Bernanke, declarou que o banco considerava possível estender, aos bancos de investimentos, o programa de empréstimos de emergência em 2009. Contraditoriamente, dois dias depois, e tentando por ordem na casa, o secretario do Tesouro, Henry Paulson, em pronunciamento ao Congresso, afirmou: “As instituições financeiras não devem esperar socorro do Fed ou de qualquer outra divisão do governo americano”.
Na Europa, os bancos levantam dinheiro junto a investidores para recompor o seu capital. As entidades bancárias, após informarem que suas baixas contábeis atingiram 134 milhões de dólares, afirmaram precisar de 90 bilhões de euros (141 bilhões de dólares) para estabilizar a sua situação, conforme a Goldman Sachs.
Atingindo os países emergentes, a crise, no mês de junho, provocou uma saída de capital estrangeiro. Os fundos de ações dos mercados emergentes acumularam perdas de 4,3 bilhões, quando os investidores retiraram recursos de todos os grupos de fundos, desde os direcionados para os mercados do bloco Brics – Brasil, Rússia, Índia e China – até os do Leste europeu, Oriente médio e África.
Já no Brasil, o Instituto de Pesquisa de Economia Aplicada (Ipea) revisou para cima a previsão do déficit em transações correntes, para este ano. A saída de capital deve superar a entrada, entre 27,5 e 34,5 milhões de dólares. Esta estimativa é superior à projetada pelo Banco Central, que ficou em 21,5 milhões de dólares. O economista do Ipea, Leonardo Mello, disse que isto se deve à aceleração nas remessas de capital das empresas estrangeiras para compensar os prejuízos da crise do crédito imobiliário.
Além disso, o resultado negativo da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) é reflexo, segundo a Gazeta Mercantil, de resultados corporativos ruins do exterior e da expectativa de alta dos juros e da inflação no país. A perda foi de 180 milhões de reais, das 396 empresas com ações negociadas, e afetou um dos grupos mais privilegiados – os bancos. Em junho, a queda das ações do Itaú, Bradesco, Banco do Brasil, Unibanco e Santander, juntas, totalizou quase R$ 60 milhões em valor de mercado.
Especialistas da área explicam que o setor bancário é penalizado pela relação com o setor financeiro mundial, já que as ações de bancos, na Europa e Estados Unidos, estão muito desvalorizadas devido à crise de crédito imobiliário de alto risco. Pelo visto, a crise do mercado sub-prime continuará como um excelente bode expiatório para a crise atual.
A inflação, e o seu controle, tornaram-se uma preocupação generalizada nas diversas economias. No Brasil, o Banco Central (BC) tenta assegurar que ela não ultrapasse a meta estabelecida, de 4,5%, com uma variação de dois pontos para mais ou para menos. A principal ferramenta de controle utilizada pelo BC tem sido a elevação da taxa básica de juros, a taxa Selic. Atualmente ela se encontra em 12,25% e, segundo a maioria dos economistas, pode chegar a 14, 25% até o fim do ano. Está prevista uma reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) para essa semana, dia 22 ou 23 de julho, e, provavelmente, outro reajuste será aprovado.
Enquanto isso, os índices de inflação anunciam que o teto estipulado oficialmente, até 6,5%, será ultrapassado. Os principais fatores apontados para a elevação desses índices são os preços administrados, como energia elétrica, água e esgoto e álcool, e os dos alimentos. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), calculado pelo IBGE, acumula, em 12 meses, o valor de 6,06% (valor obtido no mês de junho). A expectativa é que a taxa acumulada em julho venha acima dos 6,5%. Em junho de 2007, essa mesma taxa era de 3,69%, o que representa quase uma duplicação. Vale informar que o IPCA é o indicador que baliza a política monetária no Brasil, e representa o consumo das famílias com rendimentos entre um e 40 salários mínimos.
Entre maio e junho, o IGP-DI (Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna) variou de 1,88% para 1,89%, mas a taxa acumulada em um ano apresentou, em junho, um valor muito alto (13,96%) se comparado ao valor acumulado de 12 meses atrás, quando este se situava em patamares inferiores a 5%.
Contundentes foram os resultados dos índices de inflação para as famílias com baixos rendimentos. O Índice de Preços ao Consumidor Classe 1 – IPC-C1, para as famílias que recebem entre 415 e 1.037 reais (1 a 2,5 salários mínimos) – acumulou, em 12 meses, uma elevação de 9,11%, a maior já registrada da série histórica, a qual é realizada, pela Fundação Getúlio Vargas, desde 2004. Já o INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor)acumula, no primeiro semestre, alta de 4,26%, bem acima dos 2,20% registrados, no mesmo período, em 2007. O INPC mede a inflação para as famílias com renda de um a oito salários mínimos.
Todos estes fatos confirmam a corrosão dos rendimentos dos mais necessitados do país. Para o economista da FGV, André Braz, “a tendência da inflação da baixa renda é de aceleração”.
O aumento da inflação também se reflete nos custos do endividamento público, por causa do aumento do valor dos títulos indexados aos índices de inflação e à taxa Selic, ambos em trajetórias ascendentes. Dados do Tesouro Nacional anunciaram que a dívida pública interna cresceu em maio e elevou o estoque total de endividamento do País. O custo médio mensal da dívida pública federal interna subiu de 12,5%, em abril, para 14,2%, em maio. O total da dívida pública mobiliária federal interna atingiu, em maio, R$ 1,239 trilhão, um aumento de 1,71%, em relação ao mês anterior.
Como temos denunciado a crise está em marcha e os indicadores da estagflação são cada vez mais evidentes.
Apesar das tentativas para reverter a situação, através da injeção de dinheiro, o Banco Central americano, o Federal Reserve (Fed), poucos resultados tem conseguido. No dia 12 de julho, por exemplo, foi anunciada a quinta falência bancária do ano. Desta vez, foi o AndyMac, instituição voltada ao financiamentos de casas. Os próximos alvos de atuação do Fed são as agências privadas de crédito hipotecário, Fannie Mae e Freddie Mac, consideradas quebradas, dias atrás, e responsáveis por um terço do total das hipotecas, que giram em torno de 12 trilhões de dólares. As providências tomadas envolvem o acesso às operações de redesconto do Fed e a compra, pelo Tesouro, das ações das instituições. A pergunta que surge no ar é: quem será o próximo?
Preocupado com a atual situação, o presidente do Fed, Ben Bernanke, declarou que o banco considerava possível estender, aos bancos de investimentos, o programa de empréstimos de emergência em 2009. Contraditoriamente, dois dias depois, e tentando por ordem na casa, o secretario do Tesouro, Henry Paulson, em pronunciamento ao Congresso, afirmou: “As instituições financeiras não devem esperar socorro do Fed ou de qualquer outra divisão do governo americano”.
Na Europa, os bancos levantam dinheiro junto a investidores para recompor o seu capital. As entidades bancárias, após informarem que suas baixas contábeis atingiram 134 milhões de dólares, afirmaram precisar de 90 bilhões de euros (141 bilhões de dólares) para estabilizar a sua situação, conforme a Goldman Sachs.
Atingindo os países emergentes, a crise, no mês de junho, provocou uma saída de capital estrangeiro. Os fundos de ações dos mercados emergentes acumularam perdas de 4,3 bilhões, quando os investidores retiraram recursos de todos os grupos de fundos, desde os direcionados para os mercados do bloco Brics – Brasil, Rússia, Índia e China – até os do Leste europeu, Oriente médio e África.
Já no Brasil, o Instituto de Pesquisa de Economia Aplicada (Ipea) revisou para cima a previsão do déficit em transações correntes, para este ano. A saída de capital deve superar a entrada, entre 27,5 e 34,5 milhões de dólares. Esta estimativa é superior à projetada pelo Banco Central, que ficou em 21,5 milhões de dólares. O economista do Ipea, Leonardo Mello, disse que isto se deve à aceleração nas remessas de capital das empresas estrangeiras para compensar os prejuízos da crise do crédito imobiliário.
Além disso, o resultado negativo da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) é reflexo, segundo a Gazeta Mercantil, de resultados corporativos ruins do exterior e da expectativa de alta dos juros e da inflação no país. A perda foi de 180 milhões de reais, das 396 empresas com ações negociadas, e afetou um dos grupos mais privilegiados – os bancos. Em junho, a queda das ações do Itaú, Bradesco, Banco do Brasil, Unibanco e Santander, juntas, totalizou quase R$ 60 milhões em valor de mercado.
Especialistas da área explicam que o setor bancário é penalizado pela relação com o setor financeiro mundial, já que as ações de bancos, na Europa e Estados Unidos, estão muito desvalorizadas devido à crise de crédito imobiliário de alto risco. Pelo visto, a crise do mercado sub-prime continuará como um excelente bode expiatório para a crise atual.
A inflação, e o seu controle, tornaram-se uma preocupação generalizada nas diversas economias. No Brasil, o Banco Central (BC) tenta assegurar que ela não ultrapasse a meta estabelecida, de 4,5%, com uma variação de dois pontos para mais ou para menos. A principal ferramenta de controle utilizada pelo BC tem sido a elevação da taxa básica de juros, a taxa Selic. Atualmente ela se encontra em 12,25% e, segundo a maioria dos economistas, pode chegar a 14, 25% até o fim do ano. Está prevista uma reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) para essa semana, dia 22 ou 23 de julho, e, provavelmente, outro reajuste será aprovado.
Enquanto isso, os índices de inflação anunciam que o teto estipulado oficialmente, até 6,5%, será ultrapassado. Os principais fatores apontados para a elevação desses índices são os preços administrados, como energia elétrica, água e esgoto e álcool, e os dos alimentos. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), calculado pelo IBGE, acumula, em 12 meses, o valor de 6,06% (valor obtido no mês de junho). A expectativa é que a taxa acumulada em julho venha acima dos 6,5%. Em junho de 2007, essa mesma taxa era de 3,69%, o que representa quase uma duplicação. Vale informar que o IPCA é o indicador que baliza a política monetária no Brasil, e representa o consumo das famílias com rendimentos entre um e 40 salários mínimos.
Entre maio e junho, o IGP-DI (Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna) variou de 1,88% para 1,89%, mas a taxa acumulada em um ano apresentou, em junho, um valor muito alto (13,96%) se comparado ao valor acumulado de 12 meses atrás, quando este se situava em patamares inferiores a 5%.
Contundentes foram os resultados dos índices de inflação para as famílias com baixos rendimentos. O Índice de Preços ao Consumidor Classe 1 – IPC-C1, para as famílias que recebem entre 415 e 1.037 reais (1 a 2,5 salários mínimos) – acumulou, em 12 meses, uma elevação de 9,11%, a maior já registrada da série histórica, a qual é realizada, pela Fundação Getúlio Vargas, desde 2004. Já o INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor)acumula, no primeiro semestre, alta de 4,26%, bem acima dos 2,20% registrados, no mesmo período, em 2007. O INPC mede a inflação para as famílias com renda de um a oito salários mínimos.
Todos estes fatos confirmam a corrosão dos rendimentos dos mais necessitados do país. Para o economista da FGV, André Braz, “a tendência da inflação da baixa renda é de aceleração”.
O aumento da inflação também se reflete nos custos do endividamento público, por causa do aumento do valor dos títulos indexados aos índices de inflação e à taxa Selic, ambos em trajetórias ascendentes. Dados do Tesouro Nacional anunciaram que a dívida pública interna cresceu em maio e elevou o estoque total de endividamento do País. O custo médio mensal da dívida pública federal interna subiu de 12,5%, em abril, para 14,2%, em maio. O total da dívida pública mobiliária federal interna atingiu, em maio, R$ 1,239 trilhão, um aumento de 1,71%, em relação ao mês anterior.
Como temos denunciado a crise está em marcha e os indicadores da estagflação são cada vez mais evidentes.
Texto escrito por:
Maria Carolina Costa Madeira: Jornalista, mestranda em economia e pesquisadora do Progeb.
progeb@ccsa.ufpb.br|
progeb@ccsa.ufpb.br|
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