segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Os Méritos do Governo Lula

Semana de 28 de dezembro de 2009 a 03 de janeiro de 2010


Não só sobre os economistas, como também sobre os demais agentes econômicos, paira novamente a dúvida acerca de como se dará a recuperação das economias do globo após uma das maiores crises que o Modo de Produção Capitalista já sofreu. É fato que a maioria destas economias dá, pelo menos, algum sinal de recuperação, mas a possibilidade de uma recuperação em forma de “w”, agora chamada de “duplo mergulho”, ainda não foi descartada, principalmente devido aos dados referentes aos países desenvolvidos.
Na União Européia, UE, a possibilidade de um novo mergulho baseia-se no aumento progressivo do endividamento dos governos. Os déficits de orçamento do bloco, que em 2008 representavam 2% do Produto Interno Bruto (PIB), passaram, em 2009, para 6,4%, ou seja, mais que triplicaram. Diante da situação, agências de classificação de risco rebaixaram as notas de países como Grécia e Espanha. Além disso, países como Irlanda, Portugal, França, Inglaterra (que não faz parte da UE, mas guarda relaçãoeconômica com esta) e Espanha, novamente, foram alertados sobre a possível redução de suas notas. Assim, uma vez que a função do dinheiro como meio de pagamento é apontada por nós como uma das formas de manifestação das crises, os países integrantes deste bloco econômico, que já estão em “recuperação”, devem, pelo menos, conseguir aprovação na “prova final” para afastar o espectro do “duplo mergulho”.
Nos Estados Unidos, apesar dos menores níveis de desemprego e do otimismo nas bolsas, o índice que computa os preços das moradias permaneceu estável em outubro, sinalizado ser possível uma nova queda. A confiança dos consumidores, indicador do consumo futuro, subiu, de 50,6 em novembro, para 52,9 pontos em dezembro, um nível considerado por alguns analistas como muito baixo.
Já no Brasil, os dados são mais favoráveis. Como exemplo, podemos citar o Nível de Utilização da Capacidade Instalada, Nuci, que, segundo a Fundação Getúlio Vargas (FGV), atingiu 83,8% em dezembro, apenas 2,9 pontos percentuais abaixo do maior valor da série histórica, alcançado em junho de 2008, o que mostra que estão sendo criadas as pressões para a retomada dos investimentos no país. Em virtude disto, levanta-se a questão: para quem vão os méritos das relativas boas condições nas quais o país se encontra?
Na edição do dia 28/12/2009 do seu programa semanal de rádio, o presidente Luís Inácio “Lula” da Silva apontou claramente seu governo como um candidato a receber tais méritos após atribuir ao Programa de Aceleração do Crescimento, PAC, o “poder” de mitigar a crise econômica. Analisando mais detalhadamente, entretanto, não poderíamos concluir o mesmo. Segundo levantamento recente do Contas Abertas, das 12.520 obras e ações do PAC que foram anunciadas há quase três anos, apenas 1.229, que representam 9,8% do total, estão concluídas. Mesmo se considerarmos em valor, metodologia utilizada pelo governo, a porcentagem do que foi efetivamente gasto em relação ao que se planejava gastar chegou apenas a míseros 32,9%.
O restante da política fiscal do governo Lula, até a deflagração da crise no Brasil, resumiu-se, em linhas gerais, ao esforço para obtenção de superávits primários, estratégia aconselhada pelo FMI. Após a deflagração da crise, entretanto, não podemos deixar de assinalar a intervenção acertada do estado na economia, através da redução (em alguns casos, até isenção) do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). Não pretendemos julgar se a intervenção estatal em períodos de crise é apropriada ou não, já que tais políticas de intervenção têm geralmente como conseqüência a piora no déficit público. Com a expressão “acertada” queremos assinalar que, ao contrário de vários outros países que utilizaram como política anticíclica a injeção incessante de recursos no setor financeiro, a política adotada pelo governo brasileiro, devido às suas características, esteve diretamente vinculada ao consumo. Ou seja, qualquer agente queusufruísse do incentivo estaria necessariamente contribuindo para a manutenção do nível de atividade econômica. Para se ter uma idéia, um estudo antigo feito pela Fiat revelou que a redução do IPI ajudou a vender 300 mil carros a mais no ano de 2009. Assim, visto que, neste ano, a indústria automobilística brasileira conseguiu vender 3,1 milhões de veículos para o mercado interno, um aumento de 8% em relação aos números de 2008, se o estudo estiver correto, as vendas teriam sofrido uma leve queda em 2009, não fosse o incentivo.
Esta postura, entretanto, provavelmente só se tornou possível, pois, devido a sua política monetária contracionista, a equipe do governo Lula fez com que, não o Estado, mas a população e as empresas tivessem que injetar incessantemente recursos no sistema financeiro durante todo o período de gestão deste governo. Observa-se que a Selic, taxa básica de juros, foi mantida em um patamar bastante elevado, chegando a ganhar o título de taxa real de juros mais alta do mundo por um tempo considerável. Beneficiada por uma tal taxa básica de juros, a prosperidade financeira dos bancos do país não sofreu nenhum dos impactos causados pela crise. Este tipo de política monetária, por sua vez, teve conseqüências. Mesmo após a redução que a Selic sofreu durante o ano de 2009, de 13,75%, para 8,75%, e mesmo com a implantação do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para ingresso de recursos estrangeiros no país, o fluxo cambial, que depende em boa parte da atratividade oferecida pelas taxas de juros, acumulou, de janeiro a dezembro de 2009, um saldo positivo de US$ 28,89 bilhões. Em virtude disto, o setor exportador nacional sofreu e sofre com a valorização do Real, o que diminui a competitividade de seus produtos no exterior.
A análise teórica dos fatos observados nos leva, portanto, a concluir que, dado que o papel da crise consiste em destruir capital em excesso, a amenização das fases de crise e depressão da economia brasileira não se deve ao PAC, mas sim à inibição do crescimento desta economia durante os períodos de ascenso do ciclo econômico e, em menor grau, aos incentivos oferecidos pelo governo. A apreciação dos prós e contras de tal estratégia, deixamos a cargo do leitor.
Temos, todavia, que reconhecer um mérito pessoal do presidente Lula. Durante a inauguração de uma Unidade de Pronto Atendimento, UPA, em São Bernardo (grande São Paulo), o presidente defendeu a distribuição dos recursos de acordo com as necessidades dos estados ou municípios. Ele afirmou que “não se pode deixar de dar comida a um porco porque não gosta do dono do porco (...). Ou seja, você precisa tratar as pessoas com o respeito que as pessoas precisam ter nesse país”. Com isto, o presidente pretendia negar a prática, por sua parte, de discriminação partidária. A conclusão evidente é de que, embora nós, cidadãos brasileiros, sejamos os porcos, propriedade dos vários governadores dos estados da União, cadaum de nós que habitar este vasto grupo de chiqueiros chamado Brasil receberá alimento, de seus donos, deacordo com nossas necessidades, graças ao glorioso senso de justiça do nosso presidente.


Texto escrito por:
Antonio Carneiro de Almeida Júnior: Economista, Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Econômico da UFPR, PPGDE/UFPR, e pesquisador do PROGEB - Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira.
Email: progeb@ccsa.ufpb.br

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terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Um ano de crise

Semana de 21 a 27 de dezembro de 2009


Neste ano de 2009, tivemos o privilégio de assistir um dos espetáculos mais marcantes do processo de acumulação capitalista: a crise econômica. Os nossos leitores são testemunhas da forma como previmos e acompanhamos o desenrolar do fenômeno que caracteriza e demarca o fim de um ciclo e o início de outro. Já sabemos, e todos os economistas o sabem, que as economias capitalistas se desenvolvem em ciclos de expansão e desaceleração, fenômeno conhecido como ciclo econômico ou ciclo de Juglar. Também é conhecido que este ciclo é composto por quatro fases: crise, depressão, reanimação e auge. É igualmente sabido que ninguém conseguiu, até o presente, impedir este movimento, que é inerente às economias capitalistas, mas não se verificava nas economias socialistas, para desespero dos apologistas do sistema. Não é por outra razão que tentam de todas as formas esconder, disfarçar e/ou mistificar o fenômeno.
Afirmações do tipo de “desenvolvimento equilibrado”, “crescimento sustentado”, etc., não passam de puro charlatanismo. A dura verdade é que o equilíbrio e a sustentabilidade não se conseguem manter, via de regra, por mais de 11 anos, teoricamente, o tempo limite de duração, em condições normais, de um ciclo econômico.
A deflagração da crise, em 2007, a partir dos EUA, causou-nos alguma surpresa, pois só a esperávamos mais para o final da década. No entanto já havíamos previsto que a forma principal de manifestação que ela assumiria deveria ser inevitavelmente financeira, o que de fato veio a ocorrer. 
Outro fato que convém destacar é o atraso da economia brasileira em acompanhar o ritmo da economia mundial. Este é um acontecimento que ainda precisa de explicação e que será objeto de nossos estudos. Mais uma vez, havíamos previsto que, não só os chamados países emergentes em geral, mas também o Brasil em particular, e com atraso, entrariam inevitavelmente na fase de crise, acompanhando a economia mundial. Contrariamente ao que se desejava, a “marolinha” virou tsunami e, apesar de todas as promessas, agora convenientemente esquecidas, o Brasil afundou na recessão.
Ao sentir-se enganado pelos conselheiros do Henrique Meirelles, presidente do Banco Central do Brasil (BCB), e apanhado com a mão na cumbuca, o presidente Lula exigiu uma mudança na política econômica. A nova política anticíclica adotada as pressas demonstra que o comando da economia passou para a turma do Ministro Mantega. Os resultados da mudança são visíveis: a queda da taxa de referência Selic para os 8,75% atuais, a desoneração dos impostos de vários produtos, as ajudas financeiras a muitas instituições, a redução das taxas de juros dos bancos oficiais, os programas de construção de habitações, o PAC, o aumento do salário mínimo, etc. Estima-se que, com as medidas de desoneração de impostos, por exemplo, em 2010, haverá uma queda na arrecadação de R$ 5,032 bilhões.
O governo Lula, no desespero, tem pressa. As eleições aproximam-se e o seu grande trunfo para superar a antipatia da candidata por ele escolhida terá de ser a recuperação da economia e dos níveis de emprego.
De fato, conforme viemos mostrando, a economia mundial passou, da fase de crise, para a de depressão e esboça o início da reanimação. O problema é que, na situação atual, esta reanimação está sendo lenta e contraditória, o que significa que poderá se arrastar por um tempo superior ao desejado pelos planos eleitoreiros do governo.
Para o próximo ano não se pode prever uma recuperação rápida da economia mundial. A economia dos EUA continua a passo de tartaruga. O Reino Unido ainda se afunda na depressão. No terceiro trimestre do ano, a economia encolheu 0,2%, superando as estimativas dos analistas que apontavam para 0,1%. O Japão continua em crise, que é considerada a pior desde a Segunda Guerra Mundial. A situação de desespero fez o governo aprovar um gasto recorde de US$ 1 trilhão de dólares para tentar minorar a situação. Suas exportações mantêm-se em queda pelo 14º mês consecutivo. Em novembro, comparando-se com o mesmo mês do ano anterior, a queda foi de 6,2%. A União Européia arrasta-se iniciando a recuperação juntamente com os demais emergentes Rússia, Índia e China. Os Bancos Centrais estão endividados, os orçamentos dos governos estourados. Por seu lado, o Banco Mundial continua aconselhando os Estados a manterem seus programas de ajuda às instituições financeiras, com recursos não se sabe de onde.
Neste ambiente, o desafio para o governo brasileiro, é tentar uma reanimação forçada, com a aplicação de uma política econômica ainda mais agressiva, para ganhar as eleições. Com efeito, o governo, de acordo com afirmações do presidente Lula, no “café da manhã com os jornalistas”, no dia 21 passado, já pensa na possibilidade de tornar permanentes as desonerações fiscais já adotadas. Lula afirmou ainda que manterá o aumento dos gastos públicos e do endividamento, que já vem crescendo continuamente. Depois do ato demagógico do pagamento da dívida ao FMI, que na verdade representou a troca de uma dívida barata (com juros baixos) por uma dívida cara (com juros altos), a dívida interna, que vem crescendo continuamente, só em novembro, aumentou 1,39%, atingindo R$ 1,390 trilhões. A dívida total, somando-se interna e externa, também em novembro, subiu, de R$ R$ 1,472 trilhões, para R$ 1,491 trilhões, um aumento de 1,32%.
O setor imobiliário, conhecido pela sua capacidade de geração de empregos, tem recebido todo tipo de estímulo. O crédito imobiliário cresceu, durante o ano, em torno de 10% e, para 2010, espera-se que este crescimento atinja os 50%. Só em novembro, as liberações de recursos atingiram R$ 3,635 bilhões, volume 58% maior que no mesmo mês do ano passado. É um recorde no país. O FGTS, além do programa “Minha casa minha vida”, pretende liberar, no próximo ano, mais R$ 23 bilhões. Os bancos privados, até o final do ano, deverão financiar cerca de 300 mil unidades. A Caixa de Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil (Previ) pretende, também no próximo ano, investir R$ 3 bilhões no financiamento de imóveis.
Apesar de toda essa fúria, o país continua sem política industrial. O déficit na balança comercial do setor industrial deverá atingir, no próximo ano, um recorde que deverá ultrapassar os R$ 11,26 bilhões registrados em 1998. Segundo o Instituto para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), o déficit para 2009 está estimado entre US$ 6 bilhões e US$ 7 bilhões, aproximando-se dos US$ 7,17 bilhões do ano passado.
A política econômica agressiva e aventureira deve estimular o crescimento da economia. O sucesso
dependerá, em parte, da recuperação da economia mundial. Para o ano que termina, as estimativas para a variação do PIB estão em torno de zero. Os analistas financeiros avançam um número negativo de 0,23%. Para 2010, só promessas e esperanças. O custo da aventura será pago pelo governo eleito.

Estes são os nossos prognósticos para o ano novo de 2010.
Apesar de tudo desejamos a todos muitas felicidades.


Texto escrito por:
Nelson Rosas Ribeiro: Professor do Departamento de Economia da UFPB e coordenador do Progeb-Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira.
Email: progeb@ccsa.ufpb.br

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segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

O ano do presidente Lula

Semana de 14 a 20 de dezembro de 2009


Como os dados vêm demonstrando, parece que a situação de crise foi ultrapassada e uma tímida recuperação se iniciou. A questão agora é saber se esta recuperação é sustentável ou não. O próprio FMI explicita suas dúvidas ao recomendar a manutenção dos pacotes de ajuda dos governos às empresas em dificuldades.
Com efeito, o panorama internacional não tem sido muito favorável. Na economia norte-americana, embora se acredite que o processo de recuperação já se iniciou, grande parte das empresas pensa que o consumo está longe de atingir os níveis pré-crise, mesmo considerando uma recuperação no emprego. Muitas empresas, não querendo ver a dura realidade do esmagamento da capacidade de consumo da população, afirmam que a crise provocou fortes modificações comportamentais nos americanos, levandoos a um estado de espírito “cuidadoso, prático, mais consciente da sociedade e envergonhado com demonstrações exageradas de riqueza”. Jim Taylor, vice-presidente do conselho da firma de pesquisa de mercado Harrison Group, por exemplo, afirma que “estamos aparentemente num momento de mudança cultural, como não víamos desde a segunda Guerra”. Ele completa: “as pessoa estão se acostumando a ter cautela e não sei como é que se desfaz isso”.
Se, de fato, a queda dos gastos, em consumo, nos Estados Unidos estiver sendo motivada por modificações nos valores culturais, o capitalismo estará condenado, a não ser que seja encontrada outra economia, com a mesma capacidade de consumo da americana e, além disso, disposta a gastar. Porém, se o comportamento comedido dos americanos estiver sendo motivado por restrições orçamentárias, o filme tantas vezes assistido, terá reprise, é questão de tempo.
Enquanto a economia norte-americana não deslancha na velocidade necessária a tornar sólido o processo de recuperação, o governo de Obama está numa encruzilhada, pois o déficit orçamentário não para de crescer. Por sua vez, o governo já declarou que só se preocupará com o déficit quando o problema do desemprego for resolvido. Torna-se, então, urgente alguém de boa vontade informar ao presidente Obama que, enquanto o gasto for feito para dar dinheiro aos bancões, o desemprego persistirá.
Além do déficit do governo, em trajetória ascendente, outra questão “tira o sono” dos gestores da política econômica dos Estados Unidos: o persistente processo de desvalorização do dólar frente a todas as demais moedas. Uma das medidas do Banco Central americano (FED), para combater este movimento, seria elevar a taxa de juros do país (como o fez na década de 80). Contudo, o fraco desempenho daeconomia inviabiliza qualquer elevação nesta taxa. E como se não bastasse, os dados sobre a inflação também começam a preocupar.
Além do mais, dados do próprio BC norte-americano demonstram que a economia desse país se encontra ainda em uma fase em que os agentes, empresas, bancos e famílias, estão lutando para pagar suas dívidas e por isso pretendem gastar o mínimo possível. Esta fase precede à retomada que, por isso, está apenas começando.
Em outros países a situação também não está tranqüila. Há meses, vários governos vêm anunciando a necessidade de suspender os pacotes de ajuda. Todavia, os indicadores econômicos não permitem que esta medida seja tomada. A França é um dos exemplos. Por meio de endividamento público e de recursos devolvidos pelos bancos socorridos na crise, o governo lançará um pacote de 35 bilhões de euros para ajudar a indústria. Os recursos serão empregados também em investimento nas universidades e para pesquisa sobre energia renovável e carros elétricos.
Por outro lado, a situação financeira mundial não está normalizada. Segundo relatório do FMI os bancos precisam levantar, até o ano que vem, mais de US$ 1,5 trilhão para se manterem solventes. Até agora a crise de insolvência não se instalou, principalmente, em função dos pacotes de ajuda governamentais. Mas, a situação está se tornando mais difícil, pois os governos já estão começando a suspender as ajudas, fato que tem preocupado o FMI que, no relatório citado, alerta para a importância da permanência desses programas.
No Brasil, os dados referentes ao fluxo de comércio exterior e à produção industrial melhoraramsubstancialmente. O que mais surpreende é a taxa de desemprego que hoje já está em nível semelhante aoperíodo pré-crise. A situação da economia tem se mostrado tão favorável que o presidente Lula chegou abrincar com o presidente dos Estados Unidos dizendo que, enquanto no país dele vem se perdendo postosde trabalho, no Brasil vem se ganhando.
A divulgação da pesquisa PNAD, pelo IBGE, mostrou também que a desigualdade de renda diminuiu e o índice de Gini, geralmente usado como indicador, sofreu ligeira melhora.
Outro indicador positivo refere-se à concessão de crédito por parte dos bancos, que já atingiu o nível pré-crise, com uma média diária de concessões de R$ 7,3 bilhões (verificada em outubro do ano passado). Até outubro, o saldo total de operações de crédito alcançou montante equivalente a 46% do PIB (R$ 1,37 trilhão). Para os mais otimistas este percentual pode chegar a 48% do PIB até dezembro deste ano e algo entre 52% a 53% do PIB no próximo ano.
Deste modo, acredita-se que o processo de retomada já é incontestável e que está ancorado na recuperação do emprego formal, no aumento da renda e na elevação do consumo doméstico. Para economistas da UFRJ esta combinação seria perfeita não fosse o efeito do câmbio sobre o consumo e a produção domésticos.
Para fechar com “chave de ouro”, o marketing do presidente Lula proclama aos quatro ventos que foi em sua gestão que se conseguiu trazer dois eventos de repercussão internacional para o país: a Copa do Mundo de Futebol e as Olimpíadas.
Pois é! Tudo parece conspirar em favor do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Sem dúvida, se as eleições fossem hoje e ele tivesse direito a um terceiro mandato, seria eleito no primeiro turno, como bem mostram as sondagens de opinião.
Contudo, algumas ressalvas precisam ser feitas. A realização desses dois eventos internacionais custará aos cofres públicos bilhões de reais. Só com a olimpíada, a perspectiva de gasto público é de aproximadamente R$ 30 bilhões. Apesar dos empregos que serão gerados, é complicado imaginar como o governo gastará tanto dinheiro num contexto em que, há mais de duas décadas, o investimento público em infra-estrutura e os gastos sociais (como saúde e educação) têm sido minguados.
Alertas têm sido feitos em vários estudos que demonstram que o país só não teve outro apagão energético e um novo tipo de apagão denominado de “apagão logístico” em função de suas pífias taxas de crescimento econômico. Como o Brasil vem crescendo pouco, desde os anos 90, a demanda por energia e infra-estrutura não é capaz de expor o tamanho do problema, hoje existente, no que diz respeito à infraestrutura e à matriz energética. Sabe-se que uma parcela considerável do custo país se deve a tais questões.
A diminuição da desigualdade deve ser comemorada. Sem dúvida ela é positiva. Mas, a situação social do Brasil é tão crítica que esta melhora se deve a políticas consideradas como paliativas, dado o fato de não ensejarem uma mudança na estrutura sócio-econômica do país. Uma grande parcela na pequena melhora na distribuição de renda se deu em função do programa Bolsa Família e do ganho real no salário mínimo (incontestável no Governo Lula). Contudo, muita coisa precisa ser mudada, pois o índice de Gini do Brasil continua num intervalo considerado de forte concentração da renda.
Um estudo feito pelo IPEA, com base nos dados da PNAD, permite se ter uma idéia desta concentração, no Brasil. O estudo concluiu que um rico gasta em 3 dias o que um pobre leva um ano para gastar. Pior ainda, os ricos perfazem apenas 1% da população brasileira.
Para economistas da UFRJ e Unicamp há uma desindustrialização em movimento em função da forte competição de produtos estrangeiros, sobretudo os chineses, devido à excessiva valorização da moeda brasileira frente ao dólar. De acordo com os economistas das referidas instituições este efeito cambial pode “furar” esse ciclo de crescimento.
Segundo o economista David Kupfer, da UFRJ, a economia brasileira está numa armadilha, denominada de doença holandesa versus doença brasileira. A primeira consiste na excessiva entrada de dólares que inviabiliza a produção, levando à desindustrialização da economia, com uma crescente desarticulação de cadeias produtivas. A segunda é marcada pela heterogeneidade setorial, em que há segmentos industriais desenvolvidos e sofisticados convivendo com outros em decadência.
Assim, o problema do câmbio brasileiro, não enfrentado pelo governo com a devida seriedade, põe em forte risco a indústria do país e todo o resto, já que os demais setores da economia operam em função do movimento da atividade industrial.
Quanto à melhora nos demais dados, é importante frisar que a recuperação vem se dando em várias economias, mas se sabe que esta se apóia em bases extremamente frágeis, pois a situação financeira mundial está longe de ser resolvida.
E, neste final de ano, não poderíamos deixar de desejar aos nossos leitores as maiores felicidades nas datas festivas e no próximo ano que se aproxima. Ao presidente Lula, deixamos um recado: aproveite os bons ventos, porque o futuro é incerto.


Texto escrito por:
Águida Cristina Santos Almeida: Professora do Departamento de Economia e Finanças da Universidade Federal de Campina Grande - UFCG e integrante do PROGEB – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. 
Email: progeb@ccsa.ufpb.br 

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quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

O que será do amanhã...

Semana de 07 a 13 de dezembro de 2009


O famoso samba deu o tom das discussões acerca do resultado do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, de 2009, e das perspectivas para o próximo ano. A divulgação do resultado de um crescimento do PIB de 1,3% no terceiro trimestre do ano mostrou um desempenho abaixo do esperado pelo governo e pelos analistas externos, que o estimavam em torno de 2%. O fato provocou um grande alvoroço. Esperava-se que as políticas fiscais realizadas pelo governo federal, para aquecer o consumo interno e aumentar os investimentos, dariam um resultado melhor. Além de ter ficado muito abaixo do previsto, foi desastroso quando comparado com o mesmo período de 2008, pois mostrou uma queda de 1,2%.


Taxas de crescimento do PIB (*)

(*) Para melhor visualização do gráfico clique sobre a imagem


Produto Interno Bruto a preços de mercado
Taxa (%) acumulada em quatro trimestres(*)

(*) Para melhor visualização do gráfico clique sobre a imagem
  O ministro da Fazenda, Guido Mantega, em entrevista coletiva no dia 10 de dezembro, comentou que, ao contrário do que muitos consideraram, o resultado obtido não foi um “pibinho”, se compararmos com o desempenho dos países da União Européia e os Estados Unidos, que estiveram no centro da crise financeira. Adicionalmente, Mantega afirmou que o desempenho do último trimestre do ano será melhor e que, embora não se atrevesse a adiantar números, está esperando resultados positivos para 2010, em função do aumento dos investimentos e do crescimento da demanda interna.
Apesar de aparentar confiança e otimismo, por via das dúvidas, o governo preparou outro pacote com medidas de desoneração. Depois dos carros, eletrodomésticos, móveis, etc., o governo prorrogou, para junho de 2010, o prazo de isenção do IPI sobre os bens de capital, um dos setores mais abalados com a crise econômica. Dentre os bens de capital beneficiados com a desoneração encontram-se válvulas e congeladores industriais, partes de vários tipos de máquinas e arvores de transmissão. Outro setor beneficiado foi o de materiais elétricos para as indústrias petroquímicas, que tiveram as alíquotas reduzidas à zero, não só para o IPI, como para o PIS-Cofins e os impostos de importação.
As entidades de representação patronal, como as federações das indústrias de São Paulo (Fiesp) e do Rio Grande do Sul (Fiergs), também demonstraram otimismo em relação ao próximo ano. Ambas prevêem crescimento e aumento do produto interno, motivados pelo consumo doméstico.
Um dos indicadores em que se baseiam as previsões dos empresários é a utilização da capacidade instalada, que vem aumentando nos últimos meses, chegando a 80,5%, em outubro, ainda abaixo do verificado há um ano: 82,4%.



Utilização da capacidade instalada na indústria (*)
(*) Para melhor visualização do gráfico clique sobre a imagem
Existem dois aspectos relevantes no cenário nacional a serem observados no próximo ano: a situação das exportações e do emprego. Segundo a Fiesp, o emprego no setor industrial terá um comportamento defasado se comparado com a recuperação da atividade no país para o próximo ano. Na comparação de 2009 com 2008, em outubro, a produção industrial caiu 10,6% e o emprego, 5,7%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, IBGE.
A Fiesp informou ainda que a queda das exportações industriais brasileiras é responsável pela metade da queda de 10% da produção do setor ao longo deste ano. Das 22 famílias de produtos industrializados analisadas, 17 tiveram queda das vendas externas.
Diante deste contexto, os empresários consideram que o governo se utiliza da situação internacional para justificar os maus resultados das exportações brasileiras, não levando em consideração a exagerada valorização do real frente ao dólar. Para o gerente executivo de Política Econômica da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Flávio Castelo Branco, “na agenda de combate à crise, o setor exportador ficou em segundo lugar”.
É esperado, portanto, que a recuperação da economia brasileira se dê lentamente e com algumas pedras no sapato do governo, e não se sabe ao certo como elas serão retiradas.
Após meses de atuação direta das entidades monetárias e dos Tesouros de vários países, no intuito de conter a falência do sistema financeiro e de grandes empresas, em um montante (praticamente inimaginável) de 13 trilhões de dólares, vários países estão receosos quanto à restituição dos valores transferidos ou à sua data de retorno aos cofres públicos.
Os temores tornaram-se mais concretos após o Dubai World, braço de investimentos do emirado árabe de Dubai, informar que poderá não honrar os compromissos com seus credores. Um grupo de bancos composto pelo Royal Bank of Scotland (RBS), HSBC, Lloyds e dois bancos dos Emirados Árabes Unidos formou um comitê para discutir a renegociação das dívidas da companhia, algo em torno de 60 bilhões de dólares.
Na Europa, países da Zona do Euro e da região do leste estão com sérios problemas de “saúde financeira”. A Espanha, por exemplo, além de encontrar-se em recessão, espera para 2010 um déficit fiscal de 8,1% do PIB. Na Rússia, a moeda local (rublo) sofre grave desvalorização frente ao dólar, e a Grécia não consegue mais controlar suas finanças públicas, tendo atingido uma dívida pública de 113,4% do PIB.
Para o economista-chefe da DLM Invista, Alberto Rocha, “a crise de Dubai gerou desconfiança sobre o destino das aplicações dos recursos dos bancos europeus e sobre a capacidade de pagamento dos governos”. Conforme Rocha, a maior preocupação é o Leste europeu, uma verdadeira “caixa preta”, já que não se sabe ao certo de quanto dinheiro os países da região vão precisar.
Nos Estados Unidos, o chamado Tarp (Programa de Alívio de Ativos Problemáticos) “investiu” no último ano fiscal, que foi até setembro de 2009, 245 bilhões de dólares no sistema financeiro. O Tesouro norte-americano esperava que, no longo prazo, os lucros com as atividades do programa chegassem a 76 bilhões, contudo, foram reavaliados em 19 bilhões de dólares.
Quanto à recuperação econômica dos Estados Unidos, o presidente do Federal Reserve (Fed, Banco Central dos EUA), Ben Bernanke, listou três fatores negativos que são uma das causas do ritmo moderado de expansão: a fraqueza no mercado de trabalho, a cautela dos consumidores e a oferta limitada de crédito. “Ainda temos um longo caminho a percorrer antes de termos certeza de que a recuperação será sustentável”, assinala Bernanke. 
Conforme dados do Fed, houve um declínio de 3,5 bilhões de dólares no crédito ao consumidor desde julho de 2008. Como o consumo das famílias corresponde a dois terços da economia estadunidense, a menor disponibilidade de crédito configura-se como fator consideravelmente prejudicial à recuperação econômica.
Um dos fatores explicativos da queda do crédito para pessoa física é a menor demanda, pois as famílias encontram-se preocupadas em pagar as dívidas que já têm e em gastar menos. Os dados revelam um processo de adaptação a uma nova realidade pós-crise: Os mercados de títulos lastreados por créditos de veículos e de hipotecas encolheram 33% e 35%, respectivamente, desde o fim de 2007. Em 2005, mais de 6 bilhões de ofertas de cartões de crédito chegaram às caixas de correios das casas norte-americanas, este ano apenas 1,4 bilhão foram enviadas. A Visa informou que, em 2009, pela primeira vez, o uso do débito automático foi maior do que do crédito.
Mohamed El-Erian, diretor presidente da Pimco, uma das maiores companhias de investimentos, é taxativo sobre a realidade econômica nos Estados Unidos: “A idéia de que vamos voltar ao nível em que estávamos é falsa. Será uma jornada atribulada para um novo destino com efeitos de longo prazo significativos”.
Como vemos, se há dúvidas sobre o amanhã, uma certeza parece consolidar-se cada vez mais: a de que o processo de recuperação que agora se inicia na economia mundial será muito lento.


Texto escrito por:
Maria Carolina Costa Madeira: Jornalista, mestre em Economia da UFPB e pesquisadora do PROGEB – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira.
Email: progeb@ccsa.ufpb.br

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terça-feira, 12 de janeiro de 2010

O Processo de Recuperação com Desemprego

Semana de 30 de novembro a 06 de dezembro de 2009


A indústria brasileira de papelão deverá encerrar 2009 com um desempenho estável em relação ao ano passado. Nos últimos meses do ano, as vendas do setor têm acelerado, mostrando um dinamismo melhor do que o esperado. Considerado como um indicador do nível da atividade econômica, o crescimento do ritmo de vendas de embalagens de papelão aponta para uma possível reanimação da economia brasileira depois da crise. Entretanto, é preciso analisar esse dado com cautela, já que é comum, no período de fim de ano, uma aceleração no ritmo de vendas, como conseqüência da injeção do décimo terceiro salário e outras gratificações natalinas.
O Pólo Industrial de Manaus, também voltou a dar sinais de recuperação. Na última reunião do conselho de administração da Superintendência da Zona Franca de Manaus, foram aprovados 25 novos projetos industriais e de serviços, que somam um total de US$ 462,4 milhões em investimentos. De acordo com dados do Instituo Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os setores industriais que produzem para o mercado interno foram os que registraram maior capacidade de recuperação, desde o início da crise. Dentre todos os setores, os de bebidas, perfumaria e produtos químicos estão entre os que apresentaram melhor desempenho, com crescimento de 11,3%, 9% e 3,2%, respectivamente, no mês de outubro, em relação a setembro do ano passado.


Variação (%) da produção industrial em novembro de 2009 com relação ao mesmo mês do ano anterior(*)

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Variações (%) da produção industrial - Novembro de 2009 (*)

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Muitos dados divulgados têm mostrado certo vigor na recuperação da economia brasileira. Entretanto, o economista Paul Krugman, ganhador do prêmio Nobel de Economia em 2008, advertiu para o excesso de euforia em relação ao Brasil. Segundo Krugman, a economia brasileira reagiu bem à crise e se encontra num momento favorável, mas é preciso tomar cuidado com o excesso de otimismo em relação ao país, que tem levado a uma exagerada e preocupante valorização da sua taxa de câmbio. Como se sabe, na medida em que se valoriza o real frente ao dólar, as importações são facilitadas e as exportações dificultadas o que trás grandes prejuízos à indústria nacional.
Além do Brasil, outras economias também estão apresentando sinais de recuperação. Na China, a disparada da atividade industrial, em pleno início do processo de recuperação da economia mundial, vem criando uma enorme preocupação em relação ao excesso de capacidade produtiva que está sendo gerada. Segundo relatório da Câmara Européia de Comércio na China, a capacidade produtiva de aço neste país era de 660 milhões de toneladas em 2008, enquanto que a demanda pelo aço chinês era de 470 milhões de toneladas. A diferença, de acordo com o relatório, é absorvida por novos investimentos, cujo resultado é a criação de uma capacidade produtiva ainda maior. Mas, o acelerado ritmo de crescimento da economia chinesa não está preocupando apenas os analistas econômicos. Especialistas em mudanças climáticas alertam para o perigo que o rápido crescimento da China representa para o Planeta. De acordo com cálculos do Ministério do Meio Ambiente do Brasil, se o país continuar crescendo no mesmo ritmo dos últimos dez anos, as emissões de gases-estufa estarão 130% maiores em 2020, em relação a 2005, cenário considerado catastrófico.
Na Índia, o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 7,9% entre julho e setembro, em relação à igual período de 2008, conforme divulgado pelo Departamento de Estatística em Nova Déli. No caso dos Estados Unidos, a recuperação continua ocorrendo em ritmo lento e gradual. No setor de construção, por exemplo, os gastos se mantiveram praticamente estáveis em outubro, comparativamente a setembro. 
A reanimação da economia global, nesta fase inicial, tem mostrado que, apesar de alguns países já terem saído da fase de crise/depressão e iniciado a reanimação, o nível de desemprego continua estável e parece estar longe de retroceder. Na zona do euro, a taxa de desemprego manteve-se, em outubro, no patamar mais elevado da última década, segundo o Departamento de Estatística da União Européia. Isto porque as empresas continuam eliminando postos de trabalho, mesmo depois da crise. Em meio a tudo isso, o Banco Central Europeu prepara sua “estratégia de saída” do mercado, para desfazer as medidas de intervenção tomadas para socorrer bancos e instituições financeiras em dificuldades durante a crise.
Na Espanha, empresários de 70 companhias estão planejando investir no Brasil. Analistas espanhóis avaliam o Brasil como a melhor alternativa para os seus investidores, diante da elevada taxa de desemprego do seu país, de aproximadamente 20%, e de uma significativa redução no consumo, fatores que criaram um cenário pessimista para a economia espanhola.
O Unite, maior sindicato de trabalhadores do Reino Unido, entrou em contato com a Kraft, gigante norte-americana do setor de alimentos, para pedir garantias de que não haverá demissões e de que serão assegurados as condições dos empregos e as pensões, caso a empresa compre a Cadbury, companhiamais de seis mil empregados. A Kraft, por meio do seu porta-voz, Michael Mitchell, afirmou que “certasgarantias pretendidas pelos trabalhadores não poderão ser asseguradas enquanto a empresa não entrar nasinstalações da fábrica”.  
Nos Estados Unidos, o descontentamento dos trabalhadores desempregados tem provocado manifestações. Nos últimos quatro meses, dezenas de metalúrgicos demitidos pela ArcelorMittal têm feito piquete em frente aos portões da usina de Hennepin, fechada recentemente pela companhia, que pretende produzir mais utilizando menos recursos e aproveitando melhor a capacidade instalada. A reestruturação das fábricas é uma característica comum em períodos de crise econômica, quando as empresas buscam reduzir custos e aumentar a eficiência técnica e assim, como a ArcelorMittal, muitas outras empresas estão tentando atingir este mesmo objetivo. O resultado é sempre a eliminação dos postos de trabalho que perdem sua função e, portanto, demissões de trabalhadores. Isto significa que o lento e complicado processo de recuperação da economia não será marcado pela criação de um grande número de empregos, mas, ao contrário, pela manutenção de desemprego num patamar mais elevado que o do período que antecedeu a crise.
Esta é uma das características do ciclo econômico no capitalismo contemporâneo que seremos obrigados a suportar.


Texto escrito por:
Diego Mendes Lyra: Mestrando em economia, Professor Substituto do Departamento de Economia da UFPB e pesquisador do Progeb – Projeto globalização e crise na economia brasileira . 
Email: progeb@ccsa.ufpb.br

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segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Uma recuperação sofrida

Semana de 23 a 29 de novembro de 2009


A recuperação da economia mundial continua em marcha. Como vínhamos falando, a fase de crise do ciclo econômico já foi ultrapassada. Passamos à fase de depressão e estamos lentamente entrando na reanimação. Isto parece ser a voz comum a todos os analistas. O problema que se discute agora é o ritmo desta recuperação e sua solidez. O diretor gerente do Fundo Monetário Internacional, Dominique Straus- Kahn, em Londres, reconheceu que os países desenvolvidos continuam vulneráveis e dependentes dos estímulos dos governos e recomendou a manutenção das políticas financeiras, monetárias e fiscais de apoio, a fim de não estrangular a recuperação. Já o economista chefe do mesmo banco, Olivier Blanchard, em entrevista ao jornal “Le Monde”, alertou os países emergentes quanto à formação de bolhas especulativas, acumulação de reservas e movimentos incontroláveis de capitais, atraídos por juros elevados. O medo de possíveis calotes por parte dos governos ricos, endividados com os trilhões de dólares das ajudas concedidas, assumiu uma forma de manifestação com a declaração do pequeno e rico emirato de Dubai de que o conglomerado estatal Dubai World pediu moratória para uma dívida calculada em US$ 59 bilhões. O efeito Dubai, como passou a ser chamado, propagou-se derrubando todas as bolsas que reagiram com intenso nervosismo. Londres caiu 3,28%; Frankfurt, 3,25%; Zurique, 2,16% Amsterdã, 3,62%, etc. A quebradeira continuou por todo o dia seguinte.
Este pessimismo é agravado pelas notícias do desempenho da economia dos EUA. O desemprego continua a crescer; as previsões de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) foram reduzidas, de 3,5%, para 2,8%; o número dos bancos com problemas elevou-se para o mais alto nível dos últimos 16 anos, atingindo 552; 50 bancos já quebraram no terceiro trimestre deste ano e o Federal Deposit Insurance Corp. (FDIC), órgão que garante os depósitos bancários, determinou o fechamento de mais bancos, chegando a 124 o número de fechamentos só em 2009, nível mais elevado dos últimos 17 anos.
Na zona do euro, há sinais de recuperação, mas os analistas também demonstram preocupação. A taxa de desemprego subiu, de 9,5% em agosto, para 9,7% em setembro, patamar mais alto desde 1999; a valorização de 18%, do euro frente ao dólar ameaça as exportações do bloco; o ritmo de crescimento das encomendas da indústria caiu em novembro, em relação a outubro e o presidente do Banco Central Europeu (BCE), Jean-Claude Trichet, alertou que a economia deverá recuperar-se “gradualmente” em 2010. No outro lado do mundo, vários ministros do governo japonês pressionam o Banco Central exigindo uma intervenção mais dura para combater uma nova ameaça, a deflação.


Taxa de desemprego para a zona do euro - Nov.09 (***)

(*) Dados para o 3º trimestre de 2009
(**) Dados para o mês de setembro de 2009
(***) Para melhor visualização do gráfico clique sobre a imagem


Neste ambiente, contraditoriamente, os dados apontam para uma retomada mais sólida em alguns setores da economia brasileira. Desta vez, parece que o ministro Mantega ainda continua mantendo a liderança na determinação das linhas da política econômica. A redução de IPI para os carros flex foi prorrogada até março de 2010. Os veículos com motores a gasolina seguirão a tabela progressiva já anunciada. Para os caminhões, a alíquota será zero até 30 de junho de 2010. Para os fabricantes de móveis, a alíquota também será zero até 31 de março do próximo ano e, para materiais de construção, até 30 de junho. Os produtos da linha branca também continuam com o IPI reduzido. Somadas as benesses, a renúncia fiscal será de R$ 25,66 bilhões apenas neste ano. O ministro promete ainda analisar a redução dos impostos para os materiais escolares e desonerar as folhas de salários das empresas.
Mas, a fúria do governo não fica por aí. O Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) resolveu financiar a compra de caminhões e camionetes com juros de 2% ao ano, 10 anos para pagar e três de carência. Ao mesmo tempo, o ministro da Defesa anunciou a aquisição de 2.000 blindados de um novo modelo, o Guarani, para reequipar as forças armadas nacionais, a serem fabricados pela Fiat/Iveco, em Sete Lagoas (MG), e ao custo de US$ 1,5 milhão cada um.
No mercado de trabalho, também é comemorado o saldo positivo de empregos cujo número atingiu 933 mil até setembro. Lamentavelmente, destes novos empregos, 99,8% correspondem a salários até dois mínimos, dos quais 45% foram vagas de um salário mínimo. Entre os demitidos, 425 mil correspondiam a salários superiores a dois mínimos. Observa-se, portanto, uma certa degradação nos níveis de salários, o que pode ser justificado pela alta da participação da construção civil, que bateu recordes de admissão de novos trabalhadores.
No setor financeiro, continuando a política de bombeiro dos bancos oficiais, que durante a crise socorreram, com empréstimos, a Sadia e o banco Safra, o Banco do Brasil comprou o Banco Votorantim, e a Caixa Econômica adquiriu 49% do capital votante do Banco Panamericano, entregando R$ 750 milhões ao grupo Silvio Santos.
O desespero do governo para estimular a economia, a qualquer custo, antes das eleições, vemcomprometendo o superávit primário, antes, tão defendido por ele próprio como imprescindível ao bem da1,17%, para 1% do PIB, afastando-se ainda mais da meta que era de 2,5% para todo o ano. Por outro lado,o déficit nominal do setor público continuou crescendo, passando, de 4,29%, para 4,61% no mesmoperíodo. Neste caso, os juros da dívida são apontados como o maior responsável pelo aumento, apesar daqueda da taxa selic de 13,75% para 8,75%. 
E para completar a felicidade nacional, enquanto esperamos o “excelente Natal” prometido pelo presidente do Banco Central, H. Meireles, assistimos, em outubro, ao maior déficit do ano nas contas externas do país e ao desabamento do dólar ao menor patamar dos últimos 16 meses, enquanto nos envenenamos com as nossas emissões de gases estufa que aumentaram 62% nos últimos 15 anos.


Texto escrito por:
Nelson Rosas Ribeiro: Professor do Departamento de Economia da UFPB e coordenador do Progeb-Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira
Email: progeb@ccsa.ufpb.br


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Começando a refletir sobre as eleições presidenciais de 2010

Semana de 16 a 22 de novembro de 2009

A era FHC ficou conhecida como aquela em que se estenderam, para o Brasil, as chamadas políticas neoliberais. A partir do segundo mandato do governo Fernando Henrique Cardoso, com a quebra da âncora cambial, foi adotada a política de metas inflacionárias, marcada de um lado pelas elevadas taxas de juros e, de outro, pelos superávits primários astronômicos. Os juros foram elevados sob o argumento de que era necessário para controlar a inflação. Já os superávits primários, que consistem na economia que o governo faz para pagar os juros da dívida, aumentavam gradualmente para garantir aos especuladores financeiros que o governo teria condições de honrar com os compromissos assumidos, sempre crescentes.
Foi ao longo dos dois mandatos de FHC que foram feitas uma série de reformas que resultaram em uma menor intervenção do Estado, com conseqüências desastrosas para os problemas sociais e a distribuição de renda. Além disso, foram implementadas reformas regulatórias na economia, dando ao capital estrangeiro o mesmo tratamento do capital nacional e promovendo uma série de privatizações de empresas estatais, bem como a venda de empresas estatais, ou parte destas, ao capital internacional.
Paralelamente a este receituário de política econômica, assistiu-se a uma mudança na política social, que passou de uma estratégia de universalização para uma de focalização. Com isto, os direitos não seriam mais garantidos em constituição e a política descriminaria quem teria direito aos benefícios, escolhendo-se os mais “pobres dentre os pobres”, sendo todas estas mudanças indicadas (de forma compulsória) pelo Banco Mundial e pelo FMI.
Ao longo deste período (1994-2002), viveu-se, então, uma piora nas condições sociais e distributivas do país, que já não gozava de situação confortável. Assim, sob esta conjuntura, Lula assumiu o comando, em 2003, deixando todos que nele votaram, com a expectativa de que romperia a política até então utilizada.
Infelizmente, não foi o que ocorreu. Manteve-se a política econômica, com o agravante de que se aumentou a meta de superávit primário e se reduziu a meta de inflação, exigindo do governo um maior esforço fiscal, o que implicou em mais cortes na área social. Para se ter uma idéia, os juros da dívida interna, nos dois mandatos de FHC, totalizaram R$ 577,2 bilhões e, só no primeiro mandato de Lula, esta cifra ficou em R$ 590,6 bilhões, ou seja, somando tudo, pagou-se mais de R$ 1 trilhão em juros. Por sua vez, apesar do arrocho fiscal para pagá-los, a dívida cresceu em R$ 913,7 bilhões, já que o superávit alcançado foi de R$ 489,8 bilhões.
Infelizmente, não foi o que ocorreu. Manteve-se a política econômica, com o agravante de que se aumentou a meta de superávit primário e se reduziu a meta de inflação, exigindo do governo um maior esforço fiscal, o que implicou em mais cortes na área social. Para se ter uma idéia, os juros da dívida interna, nos dois mandatos de FHC, totalizaram R$ 577,2 bilhões e, só no primeiro mandato de Lula, esta cifra ficou em R$ 590,6 bilhões, ou seja, somando tudo, pagou-se mais de R$ 1 trilhão em juros. Por sua vez, apesar do arrocho fiscal para pagá-los, a dívida cresceu em R$ 913,7 bilhões, já que o superávit alcançado foi de R$ 489,8 bilhões.
No que se refere à política social, o governo Lula não se afastou muito do anterior. Pode-se dizer que as mudanças foram basicamente quantitativas, tendo em vista que apenas foram unificados os programas já existentes. Os programas como Bolsa Escola, Bolsa Alimentação, Auxílio Gás e o Cartão Alimentação (do Fome Zero) foram unificados num programa único denominado de Bolsa Família, cuja principal característica, em relação aos demais, é a sua abrangência, já que atualmente a quantidade de pessoas beneficiadas é muito maior.
Todavia, optou-se por uma política social de governo em vez de uma política social de Estado, pelo fato de ser mais barata, mais restrita, não precisar da garantia constitucional e, ainda vincular, ao gestor, um eleitorado fiel que, por ingenuidade, atribui o mísero valor recebido à benevolência do governante e não a um direito institucional.
Em poucas palavras, pode-se resumir que a base do governo de Lula assenta em dois amplos pilares: no primeiro está a política econômica, que garante rendimento ao capital financeiro; no segundo está o Bolsa Família, que transfere uma quantia quase que irrisória aos pobres dentre os pobres do país, liberando, aparentemente, o Estado de suas reais obrigações.
É preciso ainda levar em conta que a política econômica de elevados superávits primários e altas taxas de juros traz outros danos à economia do país. Além de elevar a dívida pública, pressiona a moeda nacional à valorização, já que atrai volume expressivo de capitais especulativos de curto prazo. Para se ter uma idéia do quanto o juro brasileiro é vantajoso ao especulador estrangeiro, um levantamento da FIESP mostrou que, de agosto de 2003 a outubro de 2009, a valorização do real frente ao dólar foi de 42%, enquanto a média mundial de valorização de outras moedas frente a moeda americana foi de 19%, ou seja, uma diferença de 23 pontos percentuais.
Esta sobrevalorização exacerbada, da moeda brasileira em relação ao dólar, tem contribuído para o aprofundamento do fenômeno denominado de “desindustrialização” ou “doença holandesa”, configurado pela constante perda de participação da indústria na economia do país. Há mais de uma década que o capital produtivo cede lugar ao capital especulativo, levando o Brasil à piora constante no ranking de competitividade. Várias são as indústrias que já abandonaram o país em busca de condições mais favoráveis para os investimentos. Além disso, é cada vez mais freqüente a importação de peças e componentes, em detrimento da produção nacional. Consequentemente, a indústria automobilística e de eletroeletrônicos passa a comprar peças e componentes importados, restringindo a atividade industrial do país à simples montagem dos produtos, com o desaparecimento de várias cadeias produtivas.
A conseqüência é a queda da participação dos produtos industrializados nas exportações do país. De acordo com Roberto Gianneti da Fonseca, diretor de comércio exterior da FIESP, essa tendência será mantida e aprofundada em 2010 caso o câmbio se mantenha no patamar de R$ 1,70, ao mesmo tempo em que a China não valorize sua moeda e as demais moedas continuem se valorizando frente ao dólar menos que o real. Gianneti destaca que a crise mundial contribuiu para a queda das exportações brasileiras, mas o câmbio tem uma forte influência no resultado. Para minorar os malefícios, ele defende uma taxa de câmbio entre R$ 2,00 e R$ 2,20.
Como o governo não pretende tomar medidas mais severas para conter a apreciação da moeda nacional, Lula já transmitiu sua mensagem aos empresários dizendo que a solução para problema é “evoluir tecnologicamente para ganhar dinheiro exportando, mesmo com o dólar mais barato”. Os empresários deveriam responder ao presidente que ficaria mais fácil aderir a sua proposta se a política econômica oferecesse as condições necessárias para tal, reduzindo o custo do investimento à níveis aceitáveis, (inclusive o custo da energia, que é um dos maiores do mundo) e dotando o país de infraestrutura de qualidade.
Assim, enquanto a prioridade do Banco Central consistir em remunerar o capital financeiro, é certo que a política econômica dificilmente mudará. O pior é que a justificativa empregada para o uso de tal política é a constante preocupação com o controle da inflação. De fato, embora não seja o principal fator, a valorização cambial contribui para este controle, já que, ao facilitar as importações, quebra o poder dos oligopólios nacionais.
Desta maneira, pode-se concluir que os dois partidos com chances de vitória nas urnas, no próximo ano, praticam a mesma política econômica e social. O que fazer então?
De fato, um governante que rompesse com a atual estrutura certamente seria condenando pelo próprio povo, que é manipulado pelos meios de comunicação convencionais comprometidos, por motivos diversos, com os interesses do capital financeiro.
Assim, se têm dois grandes desafios: o primeiro é conseguir conscientizar a sociedade brasileira que a saída, ou pelo menos, a melhora da situação atual, não se dará mantendo a equipe atual, nem tão pouco trazendo de volta a equipe que governou o país antes de Lula. O segundo desafio consiste em identificar que outro candidato ou partido é capaz de romper com o atual modelo, oferecendo uma alternativa capaz de melhorar a situação social e econômica do país.


Texto escrito por:
Águida Cristina Santos Almeida: Professora do Departamento de Economia e Finanças da Universidade Federal de Campina Grande - UFCG e integrante do PROGEB – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. 
Email: progeb@ccsa.ufpb.br


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