terça-feira, 12 de janeiro de 2010

O Processo de Recuperação com Desemprego

Semana de 30 de novembro a 06 de dezembro de 2009


A indústria brasileira de papelão deverá encerrar 2009 com um desempenho estável em relação ao ano passado. Nos últimos meses do ano, as vendas do setor têm acelerado, mostrando um dinamismo melhor do que o esperado. Considerado como um indicador do nível da atividade econômica, o crescimento do ritmo de vendas de embalagens de papelão aponta para uma possível reanimação da economia brasileira depois da crise. Entretanto, é preciso analisar esse dado com cautela, já que é comum, no período de fim de ano, uma aceleração no ritmo de vendas, como conseqüência da injeção do décimo terceiro salário e outras gratificações natalinas.
O Pólo Industrial de Manaus, também voltou a dar sinais de recuperação. Na última reunião do conselho de administração da Superintendência da Zona Franca de Manaus, foram aprovados 25 novos projetos industriais e de serviços, que somam um total de US$ 462,4 milhões em investimentos. De acordo com dados do Instituo Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os setores industriais que produzem para o mercado interno foram os que registraram maior capacidade de recuperação, desde o início da crise. Dentre todos os setores, os de bebidas, perfumaria e produtos químicos estão entre os que apresentaram melhor desempenho, com crescimento de 11,3%, 9% e 3,2%, respectivamente, no mês de outubro, em relação a setembro do ano passado.


Variação (%) da produção industrial em novembro de 2009 com relação ao mesmo mês do ano anterior(*)

(*) Para melhor visualização do gráfico clique sobre a imagem


Variações (%) da produção industrial - Novembro de 2009 (*)

(*) Para melhor visualização do gráfico clique sobre a imagem
Muitos dados divulgados têm mostrado certo vigor na recuperação da economia brasileira. Entretanto, o economista Paul Krugman, ganhador do prêmio Nobel de Economia em 2008, advertiu para o excesso de euforia em relação ao Brasil. Segundo Krugman, a economia brasileira reagiu bem à crise e se encontra num momento favorável, mas é preciso tomar cuidado com o excesso de otimismo em relação ao país, que tem levado a uma exagerada e preocupante valorização da sua taxa de câmbio. Como se sabe, na medida em que se valoriza o real frente ao dólar, as importações são facilitadas e as exportações dificultadas o que trás grandes prejuízos à indústria nacional.
Além do Brasil, outras economias também estão apresentando sinais de recuperação. Na China, a disparada da atividade industrial, em pleno início do processo de recuperação da economia mundial, vem criando uma enorme preocupação em relação ao excesso de capacidade produtiva que está sendo gerada. Segundo relatório da Câmara Européia de Comércio na China, a capacidade produtiva de aço neste país era de 660 milhões de toneladas em 2008, enquanto que a demanda pelo aço chinês era de 470 milhões de toneladas. A diferença, de acordo com o relatório, é absorvida por novos investimentos, cujo resultado é a criação de uma capacidade produtiva ainda maior. Mas, o acelerado ritmo de crescimento da economia chinesa não está preocupando apenas os analistas econômicos. Especialistas em mudanças climáticas alertam para o perigo que o rápido crescimento da China representa para o Planeta. De acordo com cálculos do Ministério do Meio Ambiente do Brasil, se o país continuar crescendo no mesmo ritmo dos últimos dez anos, as emissões de gases-estufa estarão 130% maiores em 2020, em relação a 2005, cenário considerado catastrófico.
Na Índia, o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 7,9% entre julho e setembro, em relação à igual período de 2008, conforme divulgado pelo Departamento de Estatística em Nova Déli. No caso dos Estados Unidos, a recuperação continua ocorrendo em ritmo lento e gradual. No setor de construção, por exemplo, os gastos se mantiveram praticamente estáveis em outubro, comparativamente a setembro. 
A reanimação da economia global, nesta fase inicial, tem mostrado que, apesar de alguns países já terem saído da fase de crise/depressão e iniciado a reanimação, o nível de desemprego continua estável e parece estar longe de retroceder. Na zona do euro, a taxa de desemprego manteve-se, em outubro, no patamar mais elevado da última década, segundo o Departamento de Estatística da União Européia. Isto porque as empresas continuam eliminando postos de trabalho, mesmo depois da crise. Em meio a tudo isso, o Banco Central Europeu prepara sua “estratégia de saída” do mercado, para desfazer as medidas de intervenção tomadas para socorrer bancos e instituições financeiras em dificuldades durante a crise.
Na Espanha, empresários de 70 companhias estão planejando investir no Brasil. Analistas espanhóis avaliam o Brasil como a melhor alternativa para os seus investidores, diante da elevada taxa de desemprego do seu país, de aproximadamente 20%, e de uma significativa redução no consumo, fatores que criaram um cenário pessimista para a economia espanhola.
O Unite, maior sindicato de trabalhadores do Reino Unido, entrou em contato com a Kraft, gigante norte-americana do setor de alimentos, para pedir garantias de que não haverá demissões e de que serão assegurados as condições dos empregos e as pensões, caso a empresa compre a Cadbury, companhiamais de seis mil empregados. A Kraft, por meio do seu porta-voz, Michael Mitchell, afirmou que “certasgarantias pretendidas pelos trabalhadores não poderão ser asseguradas enquanto a empresa não entrar nasinstalações da fábrica”.  
Nos Estados Unidos, o descontentamento dos trabalhadores desempregados tem provocado manifestações. Nos últimos quatro meses, dezenas de metalúrgicos demitidos pela ArcelorMittal têm feito piquete em frente aos portões da usina de Hennepin, fechada recentemente pela companhia, que pretende produzir mais utilizando menos recursos e aproveitando melhor a capacidade instalada. A reestruturação das fábricas é uma característica comum em períodos de crise econômica, quando as empresas buscam reduzir custos e aumentar a eficiência técnica e assim, como a ArcelorMittal, muitas outras empresas estão tentando atingir este mesmo objetivo. O resultado é sempre a eliminação dos postos de trabalho que perdem sua função e, portanto, demissões de trabalhadores. Isto significa que o lento e complicado processo de recuperação da economia não será marcado pela criação de um grande número de empregos, mas, ao contrário, pela manutenção de desemprego num patamar mais elevado que o do período que antecedeu a crise.
Esta é uma das características do ciclo econômico no capitalismo contemporâneo que seremos obrigados a suportar.


Texto escrito por:
Diego Mendes Lyra: Mestrando em economia, Professor Substituto do Departamento de Economia da UFPB e pesquisador do Progeb – Projeto globalização e crise na economia brasileira . 
Email: progeb@ccsa.ufpb.br

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