quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

O que será do amanhã...

Semana de 07 a 13 de dezembro de 2009


O famoso samba deu o tom das discussões acerca do resultado do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, de 2009, e das perspectivas para o próximo ano. A divulgação do resultado de um crescimento do PIB de 1,3% no terceiro trimestre do ano mostrou um desempenho abaixo do esperado pelo governo e pelos analistas externos, que o estimavam em torno de 2%. O fato provocou um grande alvoroço. Esperava-se que as políticas fiscais realizadas pelo governo federal, para aquecer o consumo interno e aumentar os investimentos, dariam um resultado melhor. Além de ter ficado muito abaixo do previsto, foi desastroso quando comparado com o mesmo período de 2008, pois mostrou uma queda de 1,2%.


Taxas de crescimento do PIB (*)

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Produto Interno Bruto a preços de mercado
Taxa (%) acumulada em quatro trimestres(*)

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  O ministro da Fazenda, Guido Mantega, em entrevista coletiva no dia 10 de dezembro, comentou que, ao contrário do que muitos consideraram, o resultado obtido não foi um “pibinho”, se compararmos com o desempenho dos países da União Européia e os Estados Unidos, que estiveram no centro da crise financeira. Adicionalmente, Mantega afirmou que o desempenho do último trimestre do ano será melhor e que, embora não se atrevesse a adiantar números, está esperando resultados positivos para 2010, em função do aumento dos investimentos e do crescimento da demanda interna.
Apesar de aparentar confiança e otimismo, por via das dúvidas, o governo preparou outro pacote com medidas de desoneração. Depois dos carros, eletrodomésticos, móveis, etc., o governo prorrogou, para junho de 2010, o prazo de isenção do IPI sobre os bens de capital, um dos setores mais abalados com a crise econômica. Dentre os bens de capital beneficiados com a desoneração encontram-se válvulas e congeladores industriais, partes de vários tipos de máquinas e arvores de transmissão. Outro setor beneficiado foi o de materiais elétricos para as indústrias petroquímicas, que tiveram as alíquotas reduzidas à zero, não só para o IPI, como para o PIS-Cofins e os impostos de importação.
As entidades de representação patronal, como as federações das indústrias de São Paulo (Fiesp) e do Rio Grande do Sul (Fiergs), também demonstraram otimismo em relação ao próximo ano. Ambas prevêem crescimento e aumento do produto interno, motivados pelo consumo doméstico.
Um dos indicadores em que se baseiam as previsões dos empresários é a utilização da capacidade instalada, que vem aumentando nos últimos meses, chegando a 80,5%, em outubro, ainda abaixo do verificado há um ano: 82,4%.



Utilização da capacidade instalada na indústria (*)
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Existem dois aspectos relevantes no cenário nacional a serem observados no próximo ano: a situação das exportações e do emprego. Segundo a Fiesp, o emprego no setor industrial terá um comportamento defasado se comparado com a recuperação da atividade no país para o próximo ano. Na comparação de 2009 com 2008, em outubro, a produção industrial caiu 10,6% e o emprego, 5,7%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, IBGE.
A Fiesp informou ainda que a queda das exportações industriais brasileiras é responsável pela metade da queda de 10% da produção do setor ao longo deste ano. Das 22 famílias de produtos industrializados analisadas, 17 tiveram queda das vendas externas.
Diante deste contexto, os empresários consideram que o governo se utiliza da situação internacional para justificar os maus resultados das exportações brasileiras, não levando em consideração a exagerada valorização do real frente ao dólar. Para o gerente executivo de Política Econômica da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Flávio Castelo Branco, “na agenda de combate à crise, o setor exportador ficou em segundo lugar”.
É esperado, portanto, que a recuperação da economia brasileira se dê lentamente e com algumas pedras no sapato do governo, e não se sabe ao certo como elas serão retiradas.
Após meses de atuação direta das entidades monetárias e dos Tesouros de vários países, no intuito de conter a falência do sistema financeiro e de grandes empresas, em um montante (praticamente inimaginável) de 13 trilhões de dólares, vários países estão receosos quanto à restituição dos valores transferidos ou à sua data de retorno aos cofres públicos.
Os temores tornaram-se mais concretos após o Dubai World, braço de investimentos do emirado árabe de Dubai, informar que poderá não honrar os compromissos com seus credores. Um grupo de bancos composto pelo Royal Bank of Scotland (RBS), HSBC, Lloyds e dois bancos dos Emirados Árabes Unidos formou um comitê para discutir a renegociação das dívidas da companhia, algo em torno de 60 bilhões de dólares.
Na Europa, países da Zona do Euro e da região do leste estão com sérios problemas de “saúde financeira”. A Espanha, por exemplo, além de encontrar-se em recessão, espera para 2010 um déficit fiscal de 8,1% do PIB. Na Rússia, a moeda local (rublo) sofre grave desvalorização frente ao dólar, e a Grécia não consegue mais controlar suas finanças públicas, tendo atingido uma dívida pública de 113,4% do PIB.
Para o economista-chefe da DLM Invista, Alberto Rocha, “a crise de Dubai gerou desconfiança sobre o destino das aplicações dos recursos dos bancos europeus e sobre a capacidade de pagamento dos governos”. Conforme Rocha, a maior preocupação é o Leste europeu, uma verdadeira “caixa preta”, já que não se sabe ao certo de quanto dinheiro os países da região vão precisar.
Nos Estados Unidos, o chamado Tarp (Programa de Alívio de Ativos Problemáticos) “investiu” no último ano fiscal, que foi até setembro de 2009, 245 bilhões de dólares no sistema financeiro. O Tesouro norte-americano esperava que, no longo prazo, os lucros com as atividades do programa chegassem a 76 bilhões, contudo, foram reavaliados em 19 bilhões de dólares.
Quanto à recuperação econômica dos Estados Unidos, o presidente do Federal Reserve (Fed, Banco Central dos EUA), Ben Bernanke, listou três fatores negativos que são uma das causas do ritmo moderado de expansão: a fraqueza no mercado de trabalho, a cautela dos consumidores e a oferta limitada de crédito. “Ainda temos um longo caminho a percorrer antes de termos certeza de que a recuperação será sustentável”, assinala Bernanke. 
Conforme dados do Fed, houve um declínio de 3,5 bilhões de dólares no crédito ao consumidor desde julho de 2008. Como o consumo das famílias corresponde a dois terços da economia estadunidense, a menor disponibilidade de crédito configura-se como fator consideravelmente prejudicial à recuperação econômica.
Um dos fatores explicativos da queda do crédito para pessoa física é a menor demanda, pois as famílias encontram-se preocupadas em pagar as dívidas que já têm e em gastar menos. Os dados revelam um processo de adaptação a uma nova realidade pós-crise: Os mercados de títulos lastreados por créditos de veículos e de hipotecas encolheram 33% e 35%, respectivamente, desde o fim de 2007. Em 2005, mais de 6 bilhões de ofertas de cartões de crédito chegaram às caixas de correios das casas norte-americanas, este ano apenas 1,4 bilhão foram enviadas. A Visa informou que, em 2009, pela primeira vez, o uso do débito automático foi maior do que do crédito.
Mohamed El-Erian, diretor presidente da Pimco, uma das maiores companhias de investimentos, é taxativo sobre a realidade econômica nos Estados Unidos: “A idéia de que vamos voltar ao nível em que estávamos é falsa. Será uma jornada atribulada para um novo destino com efeitos de longo prazo significativos”.
Como vemos, se há dúvidas sobre o amanhã, uma certeza parece consolidar-se cada vez mais: a de que o processo de recuperação que agora se inicia na economia mundial será muito lento.


Texto escrito por:
Maria Carolina Costa Madeira: Jornalista, mestre em Economia da UFPB e pesquisadora do PROGEB – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira.
Email: progeb@ccsa.ufpb.br

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