Semana de 10 a 16 de maio de 2010
Texto escrito por:
Email: progeb@ccsa.ufpb.br
A crise econômica que estourou em 2008 levou muitos governos a abrirem os seus cofres, para salvar alguns setores de suas economias. Por outro lado, a desaceleração da produção provocou uma queda acentuada na arrecadação. Como resultado da expansão das despesas e redução das receitas, o déficit dos países ricos aumentou em quase sete vezes, desde 2007, de acordo com dados da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE). Este fato já está sendo chamado de crise da dívida, cujo epicentro se encontra na Europa. O mercado internacional já sente o aperto da liquidez, principalmente entre os bancos, e a percepção a respeito da instabilidade financeira da economia global, continua crescendo. Mais uma vez, o sistema financeiro internacional se apóia nos governos e bancos centrais, dos quais esperam medidas para, pelo menos, impedir que a situação piore.
Entretanto, a saúde fiscal dos governos já não é a mesma que existia por ocasião da primeira crise. Alguns analistas de mercado acreditam que a situação atual, é pior do que a vivida após a quebra do Lehman Brothers pois, estaria havendo uma convergência de efeitos negativos: o do endividamento dos países, com os seus orçamentos estourados, e o do enfraquecimento do sistema financeiro, ambos interligados, no âmbito do cenário internacional. É neste quadro que a União Européia articula a elaboração de um pacote de “socorro financeiro” à Grécia, um dos países mais afetados pela nova onda de turbulências financeiras. Inicialmente, estava prevista uma ajuda de 500 bilhões de euros, para tentar evitar que a crise grega se espalhasse para outros países da zona do euro. No entanto, ao final das negociações e acordos entre os líderes europeus e o Fundo Monetário Internacional (FMI), ficou acertada uma ajuda de apenas 110 bilhões de euros, bem abaixo do que inicialmente havia sido pensado.
A Grécia deverá receber este montante em parcelas, ao longo de três anos, desde que cumpra todas as medidas estipuladas para o saneamento de suas finanças, como a redução dos gastos e a elevação dos impostos. Do montante total, a Grécia recebeu, até agora, 14,5 bilhões de euros, correspondentes a primeira parcela do pacote. Ressalte-se que todo esse esforço dos países europeus, não foi realizado pura e simplesmente para ajudar um membro do bloco econômico a que pertence. Mas sim, e, principalmente, para salvar os bancos estrangeiros que emprestaram muito dinheiro a Grécia, agora em dificuldades financeiras, dentre os quais estão bancos franceses, alemães e até mesmo norte-americanos.
Como resultado das medidas impostas pela União Européia, o governo grego aprovou um projeto de reforma no sistema de aposentadorias, que prevê uma redução das pensões de 7%, em média, até 2015, e um aumento da idade mínima necessária para aposentadoria. Estas medidas acabaram fazendo crescer ainda mais a tensão dentro do país, levando os sindicatos gregos a convocarem uma greve geral.
Outros governos também estão implementando medidas restritivas, para reduzir seus déficits orçamentários. Em Portugal, foi anunciado um aumento de impostos e um corte nos salários dos servidores. No Reino Unido, foi confirmado o corte de gastos, também acompanhado de elevação de impostos. Na Itália, o governo anunciou um corte de fundos para fomentar o desenvolvimento, em quatro regiões do país.
Aproveitando esta onda internacional de cortes de gastos, no Brasil, o ministro da fazenda, Guido Mantega, anunciou que o governo vai colocar um pé no freio na economia, para impedir um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), este ano, maior do que 7%, sinalizando que no caso do Brasil, este é o teto para um crescimento sem pressões inflacionárias. Além da elevação da taxa de juros, já em processamento, agora haverá também uma redução dos gastos do governo, com o objetivo de desaquecer a economia brasileira. O ministro anunciou um corte de R$ 10 bilhões no orçamento. Nos últimos meses o Banco Central brasileiro vinha fazendo vários alertas, quanto ao risco dos gastos públicos estarem contribuírem para acelerar a inflação.
Como se vê, mais uma vez, prevaleceu à visão monetarista ortodoxa, no controle da política econômica. Resta agora aguardar o impacto disto, sobre o desempenho da economia.
Texto escrito por:
Diego Mendes Lyra: Mestrando em economia, Professor Substituto do Departamento de Economia da UFPB e pesquisador do Progeb – Projeto globalização e crise na economia brasileira
Email: progeb@ccsa.ufpb.br
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