Semana de 19 a 25 de abril de 2010
À medida que a atividade econômica é mensurada, reafirma-se o cenário de recuperação da economia brasileira. Dados sobre o nível de estoques da indústria reforçam a tese de que o PIB poderá crescer 7,1% este ano. Cerca de 11% das empresas que participaram da Sondagem da Indústria, feita pela FGV, em março, informaram ter estoques insuficientes. Aliada a isto, a confiança do empresário industrial permanece elevada, segundo a Confederação Nacional da Indústria.
Tais fatos são confirmados pelo ritmo de expansão do PIB. A Serasa apurou, no 1º bimestre do ano, um crescimento de 7,3%, do PIB, impulsionado pelo aumento de 24,3% no investimento produtivo, de 10,5% no consumo e de 13,3% nas exportações. A previsão otimista não se limita ao âmbito interno. O FMI prevê crescimento do PIB, em 2010, de 5,5% e 4,1%, em 2011. Este crescimento, segundo o órgão, não será prejudicado pela alta valorização do mercado acionário interno, apesar da elevação do preço dos ativos e do aumento do crédito.
Além disso, a divulgação dos resultados de algumas empresas aponta para a nova fase do ciclo. No Brasil, a Coca-Cola vendeu 12% a mais, no primeiro trimestre deste ano, e no ramo da construção, as empresas esperam elevar as vendas em torno de 50%, até o final de 2010, em relação a 2008. No setor bancário, o Citigroup lucrou US$ 4,4 bilhões, US$ 2,84 bilhões a mais que no primeiro trimestre do ano anterior.
Enquanto os sinais da reanimação são sentidos, o governo se preocupa em regulamentar a ação dos bancos e operadoras do setor de cartões de crédito. O ingresso de mais de 30 milhões de novos consumidores, que migraram das classes D e E, para a C, entre 2002 e 2008, favoreceu o abuso das operadoras, principalmente na cobrança de tarifas que, nem mesmo as instituições conseguem justificar. Campeão de queixas no Procon, o setor é desregulamentado e o governo busca meios de fiscalização para evitar que este fácil acesso ao crédito, ao invés de estimular a economia, cause um superendividamento da população, contribuindo para abortar a reanimação econômica.
Para o mundo, o cenário é de incertezas. O grupo dos G-20 perde forças na discussão em torno dos efeitos da crise mundial à medida que os países-membros renascem para a nova fase. Decisões em relação à criação de um imposto mundial sobre os bancos e a definição de um mecanismo de avaliação para pressionar a China a valorizar sua moeda, ficaram estagnadas no último encontro que aconteceu em Washington. E por falar na China, sua economia continua crescendo a taxas elevadas. O PIB, no primeiro trimestre, cresceu em torno de 12%, enquanto que, no primeiro trimestre de 2009, cresceu 8,9%. Segundo analistas, o desaquecimento chinês é necessário porque já se verificam bolhas no mercado imobiliário e aumento excessivo da oferta monetária. Porém, será difícil convencer uma economia que gera US$ 4,9 trilhões a manter-se num cenário de austeridade, tendo de equacionar uma entrada de cerca de 10 milhões de chineses, por ano, na população economicamente ativa e, além disso, adotar um padrão cambial rigoroso.
Enquanto se propõe o desaquecimento do crescimento chinês, buscam-se, nos dados da economia americana, algum sinal da bendita recuperação. Classificados como “róseos” e certamente registrados no Livro Bege do Federal Reserve, os dados de março refletem uma possível reanimação: a venda de casas está em alta (aumentou em 7%), após três meses de queda; os pedidos de seguro desemprego estão em baixa (caíram em 24 mil); e a inflação está sob controle, já que o nível de preços no atacado subiu apenas 0,7%. Os analistas dizem que “a recuperação parece que vai continuar” e o presidente Barack Obama declara que as medidas adotadas pelo governo interromperam a queda livre do setor imobiliário. E é aí que reside o grande problema: será que a recuperação é sustentável, já que os incentivos fiscais só terminam no segundo semestre? Uma grande dúvida paira sobre a economia americana.
Este é o nível de questionamento em relação à nova fase do ciclo econômico: a reanimação é sustentável? Ao contrário das outras fases do ciclo econômico que vêm disfarçadas sob várias nomenclaturas (depressão, contração, retração, recessão, desaceleração, desaquecimento, turbulência...), esta fase (a de reanimação, recuperação) é facilmente aceita e aplaudida pelos analistas e comentaristas econômicos. O fato é que, o Brasil está saindo na frente. Isto é o que os números nos dizem, mas não iremos longe sem o suporte mundial.
Rosângela Palhano Ramalho: Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do PROGEB - Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira.
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