domingo, 30 de maio de 2010

Cautela e caldo de galinha não fazem mal a ninguém





Semana de 17 a 23 de maio de 2010

A notícia mais otimista da semana é que a economia americana dá sinais de recuperação. Esses sinais são tênues, embora significativos. Por um lado, na esfera da oferta, testemunha-se uma melhoria na utilização do potencial instalado, que passou de 73,1%, segundo os dados de março, para 73,7%, em abril. Por outro, no lado da demanda, as vendas a varejo aumentaram, em abril, mais do que o previsto.
Em que pese o otimismo que tais notícias podem promover, convém que o realismo seja também despertado por outros dados de sinal contrário e também sobre a economia americana. Dados do Departamento de Comércio dão conta que as permissões para novas construções, em abril, despencaram 11%. Nesse contexto, o Federal Reserve, FED, Banco Central americano, estima que o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), da economia dos EUA, nesse ano, ficará entre 3,2% e 3,7%.
Na Europa, entretanto, a situação parece bem mais difícil. Anuncia-se a formação de uma nova onda de desequilíbrios econômicos, já chamada de “crise encubada do sistema financeiro internacional”. E isto acontece num momento em que os efeitos dos desajustes decorrentes da crise mundial iniciada em 2007 ainda não foram contornados.
Pontualmente, sabe-se pelas notícias diariamente divulgadas que nos países do Sul da Europa, nomeadamente Grécia, Portugal e Espanha, a fase de recessão tem sido mais dura e de mais difícil combate. Mas, essas realidades locais dão apenas os sinais de uma perturbação muito grave que atinge a União Européia como um todo. O Euro, por exemplo, caiu, na sexta feira 14, ao patamar mais baixo desde o colapso do Lehman Brothers, Isto é uma consequência direta dos temores de uma “desintegração” da zona do Euro. Se de fato, essa for a expectativa, a situação de toda a zona se complica mais ainda e, consequentemente, sobrarão prejuízos, por enquanto não calculados, que se distribuirão por toda a economia planetária.
A Primeira-ministra alemã, Angela Merkel, defende que a crise da União Européia é a maior atravessada por aquele espaço integrado, desde o tratado de Roma, em 1957. Nas suas palavras, “o euro está em perigo. Se o euro fracassar, a Europa fracassará”. Essa senhora pode ser chamada, com pertinência, de “senhora do destino”, Em recente declaração á imprensa, depois que a Alemanha, unilateralmente, proibiu as vendas a descoberto de bônus dos governos da zona do Euro, ela defendeu a criação de um imposto global sobre transações financeiras. Em princípio este imposto seria bancado pela Alemanha, França e Reino Unido. Ao apelar para a honestidade dos bancos, ela disse: “Se não houver honestidade poderemos não fazer a coisa certa do ponto de vista técnico, mas faremos a coisa certa do ponto de vista político”. Sugeriu ainda a criação de uma agência européia independente para avaliação de crédito. As preocupações generalizadas, ao mesmo tempo, estão levando os europeus a estudar a possibilidade de impor limites constitucionais ao déficit público.
O que se pode dizer, diante de tal situação, que já não se tenha dito ao longo dessa crise? Que ela é uma crise de confiança; que atinge o “hard core” das economias; que ela toma um aspecto de crise financeira, tendo como epicentro as finanças públicas; que ela tem efeitos no pensamento dos que fazem o governo, gerando incertezas sobre qual a melhor política econômica a seguir; que, por fim, ela pode vir a alimentar um ciclo vicioso nessa espécie de “monopólio”, nesse jogo onde impera a competição em detrimento da solidariedade?
O que se sabe é que essa situação pode conduzir a economia mundial rumo ao protecionismo, em tudo oposto a abertura e ao liberalismo, penosamente construído até o início da crise mundial.
Não se pense, no entanto, que o Brasil está fora de perigo. E a Argentina, nosso principal parceiro de Mercosul, já indicou o caminho para a reestruturação da dívida.
O sistema das maravilhas está mal. Nesse caso, parece pertinente dizer que água benta, caldo de galinha e cautela não fazem mal a ninguém!


Texto escrito por:

Elivan Gonçalves Rosas Ribeiro: Professora do Departamento de Economia da UFPB e Pesquisadora do PROGEB - Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. 
Email: progeb@ccsa.ufpb.br
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