segunda-feira, 28 de março de 2011

Novamente a herança maldita

Semana de 21 a 27 de março de 2011


Como temos comentado, em análises anteriores, o governo Dilma continua prisioneiro de uma herança maldita que não pode nem denunciar, nem renunciar: uma dívida pública cara e crescente que, demagogicamente, o governo Lula propagandeou ter pago ao liquidar a dívida com o Fundo Monetário Internacional (FMI); um processo de inflação que teima em persistir; a desaceleração da economia que, paradoxalmente, o governo pretende intensificar; uma ameaça de desindustrialização; e um processo de redução do saldo da balança comercial e de mudança na sua composição, com o retorno do país à condição de primário exportador. Isto para não falar da enxurrada de dólares que afoga o país e das taxas de juros mais elevadas do mundo que aqui são praticadas e que penalizam os investidores produtivos.

Acrescente-se ainda uma conjuntura internacional adversa onde, se não bastassem os problemas econômicos resultantes do rescaldo da crise passada, com seus aspectos financeiros e especulativos e a quebradeira dos próprios estados, intervieram agora fatores extra-econômicos. Por um lado, os de ordem política decorrentes das revoltas nos países árabes detentores do petróleo. Por outro lado, os fatores naturais, terremotos e tsunamis, agravados agora pelo desastre atômico do Japão, todos com inevitáveis conseqüências econômicas de difícil previsão.

Nestas condições, a análise de conjuntura econômica torna-se uma árdua tarefa, pois os fatores em presença não estão submetidos apenas às leis da economia.

O governo está diante de uma difícil tarefa: cumprir suas promessas eleitorais de desenvolver o país, fazer crescer a produção, reduzir a pobreza, melhorar a distribuição de riqueza e os indicadores sociais (saúde, educação, etc.). Isto tudo com o compromisso também de impedir a inflação.

Há economistas que consideram tal tarefa impossível, como L. C. Mendonça de Barros, para quem atingir o “duplo objetivo” de manter o crescimento e combater a inflação “é incompatível e um deles terá de ser deixado de lado”. E ele se atreve a prognosticar que “a corda vai rebentar do lado da inflação”. Mendonça de Barros é acompanhado pela grande maioria dos economistas e analistas oficiais, partidários da “equivocada ideologia que produziu o pensamento único apoiado numa ciência monetária: o FMI”, para usar as palavras do Professor Delfim Neto, que ainda os denominou “idiots savants”.

Mas esta ideologia é tida como verdade absoluta e indiscutível e contagia mesmo os contestadores heterodoxos alinhados com o ministro Mantega. Não é por outra razão que as medidas de política econômica adotadas pelo governo acertam, ora no cravo, ora na ferradura, acendem uma vela a deus e outra ao diabo. Apesar da presidenta Dilma afirmar que não concorda com o diagnóstico da inflação como uma inflação de demanda, as medidas adotadas dirigem-se para a contenção precisamente da demanda. Os cortes do orçamento visam reduzir as despesas do governo. O aumento dos juros desestimula os investimentos e dificulta o crédito e, portanto, visa dificultar as compras das empresas e das famílias. Isto tudo significa comprimir a demanda. No mesmo sentido agem as tais medidas macro prudenciais e o controle do aumento dos salários.

Com esta política econômica, os banqueiros e agentes financeiros exultam (vejam o lucro recorde do BNDES de R$ 9,9 bilhões), o setor industrial reclama e o povo? Com uma mão o governo pretende distribuir renda, mas com a outra maneja o porrete para impedir o consumo.

Os conflitos serão inevitáveis e já começaram, paradoxalmente, afetando as obras do PAC. Há dezenas de milhares de trabalhadores em greve e violências nos canteiros de obra das represas de Santo Antônio e Jirau e nos portos de Suape e Pecém.

Com toda esta confusão, os prognósticos para 2011 tornam-se confusos. Para o Produto Interno Bruto (PIB), as taxas de crescimento variam de 3% a 6,15%, e para a inflação as estimativas oscilam entre 5,13% e 6,91%.

Quem acertará nestas loterias?


Texto escrito por:

Nelson Rosas Ribeiro: Professor do departamento de Economia, Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br); (www.progeb.blogspot.com).
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