Semana de 01 a 07 de abril de 2013
Lucas Milanez de Lima Almeida[i]
Como Carlos Gomes e Marianne Hanson, analistas da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo, explicam, o sistema de controle da inflação “consiste em um conjunto de regras que visa criar uma âncora de política monetária baseada nas expectativas dos agentes. Ao se comprometer exclusivamente com uma meta para a inflação e ajustar a taxa de juros para o alcance dessa meta, a política monetária atua diretamente sobre as expectativas, e a demanda agregada converge para o pleno emprego no longo prazo. A transparência na comunicação e a credibilidade monetária são premissas essenciais para esse modelo”.
Mas, o que este economês quer dizer? Vejamos a subjetividade desta proposição.
Primeiro: o elemento mais importante para a política econômica, ou seja, o determinante para as decisões que o Estado deve tomar ao longo dos anos, é ditado pela previsão que os sapientes agentes fazem do que vai acontecer no futuro. Assim, dadas as expectativas para o amanhã, o governo decide como serão as medidas de hoje. Chegamos ao segundo ponto. Se não houver nenhum imprevisto e o governo se comprometer a cumprir o que as expectativas previram, ou seja, se o governo “criar uma âncora de política monetária baseada nas expectativas” e se dedicar, custe o que custar, à realização do que os agentes acham que vai acontecer, as coisas realmente acontecerão num tempo mais ou menos longo. Chegamos ao terceiro ponto.
A demanda prevista será satisfeita pela oferta prevista de acordo com os preços conhecidos por todos (incluindo ai a inflação). Com isto, não haveria problema econômico nenhum, pois, como todos já sabiam o que ia ocorrer, o fizeram racionalmente, de livre e espontânea vontade. Porém, tudo isto só é possível se o governo anunciar de maneira clara se irá, ou não, se comprometer. Chegamos ao quarto ponto.
Para que tudo dê certo, é preciso que o governo tome medidas claras e consistentes com as expectativas dos agentes. Além disso, se, por ventura, ocorrer qualquer desvio de política econômica, este tem que ser explicitado previamente, sob o risco de o governo perder sua credibilidade e, com isso, causar algum problema à economia.
Este é o conteúdo teórico do que o governo faz lá em Brasília.
Mas, como isto funciona na prática? As expectativas utilizadas pelas autoridades advêm dos chamados “analistas de mercado”. Estes são “especialistas” que, dentre outras coisas, fazem investigações e previsões acerca da atividade econômica. Em sua grande maioria (pelo menos aqueles que têm mais abertura na mídia), são funcionários e sócios de empresas do setor financeiro, que vivem da negociação dos conhecidos ativos financeiros. Estes papéis, que por acaso rendem juros ao seu detentor, são contratos de dívida e/ou propriedade, que se estabelecem entre governos, empresas e/ou pessoas físicas, e são negociados no mercado de capitais. Pois bem, muitos destes analistas abriram a boca, a tampa das suas canetas e a capa dos seus tablets para afirmar que “com a inflação não se brinca”.
A inflação oficial, que é usada como principal parâmetro dos preços, é medida pelo IPCA. Este índice reúne nove categorias de gastos de 90% das famílias brasileiras. Atualmente, contando os últimos doze meses encerrados em fevereiro, este índice subiu 6,31%. O limite estabelecido pelo Banco Central é de 6,5%, ou seja, se a coisa continuar do jeito que está, as expectativas dos agentes podem ser frustradas...
Era o que faltava para o canto dos “analistas de mercado” virar coro. A repercussão foi tão grande que na semana passada o presidente do BC foi à Comissão de Assuntos Econômicos do Senado e afirmou que o IPCA de março será decisivo para a próxima reunião do BC, nos dias 16 e 17 de abril. O fato é que deste encontro sairá o novo nível da taxa básica de juros. Segundo as palavras do chefe, “Se e quando necessário, o BC ajustará sua política monetária”, ou seja, se houver um aumento dos preços, provavelmente haverá um aumento dos juros.
Ótimo para os agentes econômicos que moram em 18 capitais do Brasil. Criaram suas expectativas, mas, diante dos problemas climáticos e da quebra de safra, tiveram que sofrer neste primeiro trimestre do ano.
Coitados!
Segundo o Dieese, ocorreu uma subida de 6% a 24% no preço da cesta básica. Mas, com as medidas salvadoras de aumento da taxa que remunera o setor financeiro, com certeza o clima vai melhorar e os preços vão baixar...
[i] Professor do Departamento de Economia da UFPB e pesquisador do Progeb. (www.progeb.blogspot.com.)
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