quinta-feira, 25 de abril de 2013

Copom eleva os juros


Semana de 15 a 21 de abril de 2013


Nelson Rosas Ribeiro[i]




Desde que os dados sobre a aceleração da inflação foram divulgados que o assunto passou a ser a elevação da taxa de juros. Tudo o que a teoria econômica oficial consegue tirar do seu mofado baú de soluções contra a inflação é isto. Ou seja, a política monetária, tão falada, reduz-se a um único instrumento: a manipulação da taxa de juros. O guardião da moeda, encarregado desta função, é o Conselho de Política Monetária Copom, órgão do Banco Central (BC), composto por oito diretores, incluindo entre eles o presidente do BC, Tombini.
Toda a especulação sobre a esperada reunião, encerrada quarta feira 17, variou entre o sobe, mantém ou desce a taxa, dependendo das frases, adjetivos, suspiros, espirros das autoridades do país (Dilma, Mantega, Tombini, etc.), e dos humores do “mercado”.
A batalha foi ganha pelos especuladores financeiros: a taxa Selic subiu 0,25%, passando a 7,5%.
Quais foram os argumentos?
A inflação, nos últimos 12 meses, ultrapassou o teto da meta, que é 6,5%, o que exige a elevação dos juros, de acordo com o “manual” da inflação.
Em sentido contrário operaram outros fatos. A economia do país está em desaceleração, acompanhando a tendência mundial. O governo reduziu as estimativas de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), de 4,5%, para 3,5%, e o Fundo Monetário Internacional (FMI), de 3,5%, para 3%, concordando com o “mercado” e o próprio BC. A situação da economia mundial também não é boa. Os EUA patinam sem direção definida e a zona do euro desacelera com a ameaça de ruptura das economias dos dois grandes, França e Alemanha. Até os Brics encontram-se em situação difícil e mesmo o gigante chinês reconhece seu desaquecimento e admite que as taxas de crescimento do PIB, que caíram para 7,7%, tendem a continuar em queda, para valores próximos de 6%. Por seu lado, o FMI já reajustou para baixo a taxa de crescimento da economia mundial, de 3,5%, para 3,3%.
Segundo o “manual”, a solução para este quadro é a redução dos juros.
E agora BC? A taxa sobe, desce ou se mantém?
Embora não se queira reconhecer, nos encontramos diante de um fenômeno que já ficou conhecido como estagflação, o que significa estagnação com inflação. Este fenômeno apareceu no Brasil na crise do início dos anos 60 e depois, a nível mundial, na crise dos anos 70. A teoria econômica oficial não encontrou explicação e, felizmente, ele saiu da cena.
Mas, não se trata apenas de uma questão de teoria ou ideologia. É também uma questão de política e interesses econômicos. E o BC, com o seu atual complexo de autonomia (qual adolescente problemático), resolveu mostrar que é crescidinho e... tome juros.
Assim, lá vamos nós, juros acima, tentando combater uma inflação que ninguém sabe o que é. Talvez seja provocada por São Pedro (que não manda ou manda chuvas), pelos chineses (que resolveram consumir, o que aumentou os preços das commodities), pelos americanos (que resolveram tomar mais café), pelos agricultores brasileiros (que não tem mais tomates) ou pelo dragão (que anda solto por aí sem ter mais nada a fazer a não ser amedrontar o PT, Dilma, Mantega, etc). Isto para não falar dos trabalhadores que teimam em pedir aumentos de salários absurdos muito maiores que “os ganhos de produtividade”, segundo Delfim Neto. É curioso que ninguém se lembra dos preços administrados pelo governo, dos serviços de eletricidade, água, gás, transporte público, telefone, planos de saúde, etc., que, através das tais agências reguladoras, garantem gorda lucratividade aos concessionários. O pior é que sobre todos estes “causadores” da inflação, a taxa de juros não tem nenhuma influência.
Mas, ainda falta. Ninguém se lembra dos preços de monopólio praticados pelos grandes grupos monopolistas que atuam no país, nem dos impostos e das taxas de juros mais elevadas do mundo, cobradas nos financiamentos ao consumo, e que são embutidas nos preços dos produtos.
Diante da pobreza teórica dos economistas oficiais e dos poderosos interesses dos especuladores financeiros, o BC, mais uma vez, mostrou a quem deve servir. E é para isto que ele precisa ser “independente”.


[i] Professor Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br); (www.progeb.blogspot.com).
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