Semana de 25 a 31 de março de 2013
Nelson Rosas Ribeiro[i]
Fala-se que nada mete mais medo a um elefante do que um rato. Se é verdade, jamais saberemos as razões, diante da impossibilidade de consultar quaisquer dos dois animais. Na economia, a situação também se repete. Como é possível que o pequeno rato Chipre ainda continue nas manchetes causando pânico ao grande elefante eurozona, apesar de sua diminuta população (um milhão de habitantes) e da sua ridícula importância econômica (0,2% do produto da zona).
A questão não se encontra no fato do pequeno país se mostrar incapaz de saldar ou rolar a sua dívida, mas na solução proposta para evitar a bancarrota, uma vez que ela envolvia a quebra do sistema bancário nacional. Para abrir as portas a um empréstimo de 10 bilhões de euros, o governo, endossado pela troika FMI, BCE (Banco Central Europeu) e CE (Comissão Europeia), decidiu punir os clientes dos bancos roubando-lhes parte de seus depósitos (6,75%, para os valores inferiores a 100 mil euros e 40%, para valores superiores a este montante). A revolta da população levou o parlamento a derrubar a decisão o que provocou outra solução: roubar 40% dos correntistas com mais de 100 mil euros. Só no Bank of Cyprus, esta medida afetou 19 mil correntistas com depósitos de 8,01 bilhões de euros. Além disso, o Laiki Bank, o segundo maior do país, teve suas atividades encerradas e seus cientes, com mais de €100 mil, perderão tudo ou quase tudo, o que atingirá um montante de €3,2 bilhões.
Com exceção dos milionários russos, que utilizam as facilidades bancárias cipriotas para esconder suas fortunas desonestas, a nova solução parece ter agradado a todos. Um rato mata-se com uma chinelada. Talvez a coisa ficasse por aí não fosse a infeliz franqueza do Sr Jeroen Dijsselbloem, presidente do Eurogrupo, que reúne os ministros das finanças dos países do bloco. Ele declarou que a solução cipriota seria um modelo de resolução das crises bancárias futuras. O elefante eurozona tremeu diante da possibilidade de uma corrida generalizada sobre todos os bancos. A repercussão imediata foi observada na queda das ações dessas empresas nas bolsas, principalmente na Espanha e Itália. O presidente Jeroen correu desesperado para desdizer apressadamente o que havia dito. No entanto, embora atenuada, a inquietação ainda persiste.
O poderoso euro está novamente ameaçado por um rato. Vários são os comentários nesse sentido. O prêmio Nobel Paul Krugman considerou que, com as medidas adotadas, “Chipre está fora do euro”. Guntram Wolff, economista do Centro de Estudos Bruegel, de Bruxelas afirmou que “um euro cipriota não é mais um euro”.
Mas o problema não é apenas monetário. Foi levantada a contestação sobre a existência dos paraísos fiscais e a possibilidade de pequenos países abrigarem grandes centros financeiros. Países como Luxemburgo, com seus 500.000 habitantes e com um sistema bancário gigante, cujos ativos equivalem a 22 vezes o seu PIB, através de seu ministro da fazenda, protestou. O diretor do banco central de Malta, outro pequeno país, também partiu para o combate. Os ativos dos maiores bancos de Malta correspondem a 300 vezes o seu PIB.
Apesar de amenizada, a crise do euro e da eurozona continua, desta vez alimentada pelos paraísos fiscais, covis de ladrões tão necessários ao sistema capitalista que parece não poder prescindir da sua existência.
Este ambiente agressivo na economia mundial empurra para os países “emergentes” volumes crescentes de capitais em busca de segurança e melhores remunerações. No ano de 2012 o Brasil bateu mais um recorde na captação de recursos no exterior. Para cá vieram US$67,3 bilhões com um crescimento de 1,5% sobre 2011. Apesar de tanto dinheiro disponível, o dólar continua em alta e as ratazanas do capital financeiro já especulam com o aumento da taxa Selic, a pretexto de combater a inflação, considerada “resistente” pelo presidente do BC, Tombini. O “mercado” continua apostando nisto e testando o BC quanto à taxa de câmbio. Curiosamente, o Goldman Sachs, através de um relatório da Global, Investment Research, muito preocupado com a situação do país, recomenda a imediata elevação da taxa Selic e projeta que ela irá a 8,5% até julho.
Resta saber se, mesmo diante da forte desaceleração da produção industrial observada em fevereiro, ouviremos os bons conselhos de nossos amigos americanos que, em seu país, mantêm sua taxa básica de juros inferior a 0,25%.
[i] Professor Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br); (www.progeb.blogspot.com).
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