domingo, 28 de julho de 2013

Comentando a Economia

Roberta Pereira de Lima[i]

Desemprego no Brasil cresce pela 1ª vez desde 2009[ii]

     Segundo dados do IBGE, a taxa de desemprego em junho comparado a maio, ficou em torno de 6%. Esta taxa é a menor desde 2009, quando chegou a 7%. Porém, é um dado curioso, tendo em vista que a economia brasileira começou a desacelerar já em 2009, quando o PIB teve uma queda de 0,2%. O fato é que, nos últimos anos, a economia brasileira teve uma desaceleração e, mesmo assim, o nível de emprego se mantém, até mesmo cresceu em alguns momentos - o que não é de se esperar quando uma economia está em crise e principalmente quando a indústria, que é um importante setor e responsável por boa parcela dos empregos, acumula quedas significativas. Estudos apontaram que a causa deste fenômeno em junho se deve a sustentação dada pelo setor de serviços, que agora, perde fôlego. Entretanto, não se pode esquecer que a metodologia do IBGE só considera desempregados aqueles indivíduos que procuraram empregos há 30 dias e que não exerceram nenhum tipo de atividade (remunerada ou não remunerada), contados a partir da última entrevista. Ou seja, é fato que tal metodologia deixe lacunas ou não retrate fielmente a realidade do desemprego no Brasil.

Share:

quinta-feira, 25 de julho de 2013

A depressão continua



Semana de 15 a 24 de julho de 2013


Nelson Rosas Ribeiro[i]




A economia mundial arrasta-se pelos mesmos caminhos que temos apontado em nossas análises. Os dados da semana apenas confirmam as tendências. O ciclo econômico continua sua marcha mantendo-se na passagem das fases crise-depressão por um tempo anormalmente prolongado. Poucos são os sinais que indicariam a transição para a fase de reanimação. Este prolongamento é uma característica particular do ciclo atual.
O núcleo mais crítico da crise estacionou sobre a União Europeia (UE) e particularmente sobre a zona do euro. A situação de impasse nos países conhecidos como PIIGS (Portugal, Islândia, Itália Grécia e Espanha) se mantem. Os gigantes Alemanha e França enfrentam dificuldades. A notícia que marcou a semana foi o pedido de concordata da gigante multinacional Pescanova S.A., empresa de pesca com sede na Espanha, que emprega mais de 10.000 pessoas em 26 países e que acumulou uma dívida de 3,28 bilhões de euros. É considerada a terceira maior concordata da história da Espanha.
As dificuldades de crédito fizeram o Banco Central Europeu (BCE) mudar os seus critérios de aceitação de garantias para a concessão de empréstimos ao setor bancário. O BCE decidiu aceitar títulos de dívidas de pequenas empresas, recebíveis de cartões de crédito, financiamentos de automóveis, etc. São títulos chamados de ABS (Asset Backed Securities) de má reputação e que eram recusados anteriormente, após a crise de 2008.
Da China também não chegam boas novas. Continuam as notícias sobre desaceleração e é previsto o mais fraco crescimento do PIB desde 1990. As estimativas variam em torno de 7,5%, com tendência para baixa. No segundo trimestre, todos os setores apresentaram fraco crescimento. O Fundo Monetário Internacional (FMI) demonstrou preocupação com a situação e sugeriu medidas de reformas estruturais nos setores financeiro e fiscal. Previu ainda a possibilidade do crescimento da China cair para 4% com possibilidades de falências e perdas financeiras.
Dos EUA, sopram melhores ventos. O Federal Reserve (Fed), Banco Central Americano, prevê uma taxa de crescimento moderada e as estimativas estão em torno de 2%, embora o ritmo de 1,8%, obtido no primeiro trimestre, tenha caído para 1%, no segundo. O sistema bancário, porém, encontra-se no melhor dos mundos e as preocupação são como esconder os lucros elevados que estão esperando receber. O J. P. Morgan, por exemplo, espera receber US$ 25 bilhões ou mais este ano. O Goldman Sachs dobrou seu lucro líquido no segundo trimestre atingindo o valor de US$ 1,93 bilhão, ultrapassando os US$ 962 milhões obtidos em 2012. Elevados lucros também foram reportados pelo Citigroup, Bank of America e Wells Fargo. Fala-se em uma “nova e menos controversa era em Wall Street”.
No Brasil as notícias não são boas. A tendência para a queda no preço das commodities, o fortalecimento do dólar, as mudanças na política monetária dos EUA, a resistência da inflação, a ameaça de fuga de capitais, o endividamento das famílias, etc., agravam os baixos ritmos de crescimento do PIB, cuja estimativa giram em torno de 2%. Para piorar a situação, a arrecadação da Receita Federal, em junho, ficou 5 bilhões abaixo do previsto, comprometendo a meta de 2,3% do PIB para o superávit primário que, de acordo com o BC, terá uma alteração na metodologia dos cálculos, passando agora a ser um “superávit primário estrutural”. O objetivo é corrigir e impedir os trambiques do governo na contabilidade com os “truques contábeis e outras artimanhas”.
O pessimismo dos agentes econômicos aumenta, agravado pela onda de protestos que assolou o país.
Em boa hora chegou o Papa Francisco para desviar as atenções do povo das nossas desgraçase semear as esperanças na sua intermediação junto a Deus que, como ele mesmo disse, é brasileiro.
            Vamos aguardar para ver.


[i] Professor Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br); (www.progeb.blogspot.com).
Share:

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Se liga, Dilma!

Semana de 08 a 14 de julho de 2013


Rosângela Palhano Ramalho[i]



            Estamos no terceiro ano do mandato de Dilma Rousseff e os seus problemas parecem não ter fim. As manifestações ocorridas em todo o Brasil exigiram uma resposta do governo que veio em tom de “eu não tenho nada com isso”, mas vou sugerir algumas mudanças. Em seu discurso, que propõe um pacto, mas que a põe de fora dos problemas, a presidente anuncia o Plano Nacional de Mobilidade Urbana, para a melhoria do transporte coletivo, a destinação de 100% dos royalties do petróleo para a educação e a contratação de médicos do exterior para expandir o atendimento do SUS. Além disto, entrou na pauta a reforma política.
            No início do mês, a proposta sobre a destinação dos royalties para a educação e também para a saúde foi aprovada pelo Senado e está retornando à Câmara dos Deputados após modificações feitas pelos senadores.
No que diz respeito ao Plano de Mobilidade Urbana, o governo começou a discutir a distribuição dos R$ 50 bilhões para projetos da área. Mas, a grande maioria dos estados e municípios está no limite de sua capacidade de endividamento. A prefeitura de São Paulo, por exemplo, que deseja investir R$ 6,5 bilhões para a construção de 150 km de corredores de ônibus, e o governo de São Paulo, que necessita de um aporte de R$ 10,8 bilhões, estão impedidos de receber recursos, pois os montantes ultrapassam e muito, as suas capacidades de endividamento. Os que se encontram nesta situação têm agora que apelar para o critério da “excepcionalidade” que só o ministro da Fazenda, Guido Mantega, pode conceder.
            A proposta de contratação de médicos estrangeiros também provocou grande polêmica. Ela será usada para suprir a carência da população de baixa renda e atender os municípios que não têm o serviço médico. De imediato, médicos e associações que os representam saíram às ruas em manifestações contra a vinda dos estrangeiros que atuariam sem o exame de revalidação do diploma. Esta semana, os médicos ganharam uma nova pauta para os protestos: o governo decidiu que, após os anos de graduação em Medicina, os novos médicos, a partir de 2015, deverão prestar dois anos de serviço à rede pública de saúde. A Associação Médica Brasileira cogita lançar uma ação de inconstitucionalidade contra o Estado, pois, segundo a instituição, a medida fere o direito de ir e vir do cidadão.
            A reforma política pensada em dois dias, começou com proposta de eleição de uma mini Constituinte e findou como a convocação de um plebiscito. A proposta não toca no assunto da reeleição, obviamente, já que a intenção era de que as novas regras valessem para o pleito de 2014. Ela esbarrou no limite de tempo para aprovação e nos diferentes interesses corporativos dos deputados. Admitida a impossibilidade, foi criada uma comissão que apresentará sugestões de projetos para as mudanças das regras das campanhas eleitorais, a forma de votar e de representação e a atuação dos políticos eleitos.
            Todas as ideias postas para dar uma satisfação ao “povo manifestado” esbarraram em polêmicas e problemas que parecem infinitos. A popularidade da presidente caiu vertiginosamente. Uma pesquisa divulgada pela Confederação Nacional do Transporte mostra que a avaliação do governo foi considerada positiva para 31,3% dos entrevistados, quando em junho era de 54,2%. Foi registrada também uma queda na avaliação pessoal da presidente, de 73,7%, para 49,3%.
            Com popularidade e economia em baixa (o FMI revisou a previsão de crescimento do PIB de 3% para 2% e o Banco Central divulgou queda de 1,4% da atividade econômica em maio), Dilma cobrou resposta aos que nos espionavam em solo americano e ainda teve que manipular as manifestações do Dia Nacional de Lutas organizado pelas Centrais Sindicais, em 11 de julho, para que a frase “Se liga, Dilma” substituísse o “Fora Dilma!”. A presidente que já fora vaiada na abertura da Copa das Confederações, ao cancelar sua participação na terça (9) na abertura da XVI Marcha de Prefeitos, viu o ato se repetir, desta vez por aproximadamente 4.000 prefeitos que participavam do evento.
            Por fim, o fantasma Lula ainda a assombra. Nos bastidores ainda é considerado o seu retorno em 2014, embora muitos o neguem. O fato é que a presidente está acuada e com a espada da crise sobre a cabeça. Só nos resta agora dar o seguinte conselho: Se liga, Dilma!



[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com)
Share:

terça-feira, 9 de julho de 2013

O panorama econômico pós-manifestações

Semana de 01 a 07 de julho de 2013


Eric Gil Dantas [i]



O governo ainda tateia respostas às grandes manifestações que varreram o Brasil no último mês. Em três semanas, segundo pesquisa da Datafolha, a popularidade da presidente Dilma – somando os que avaliam o seu governo entre ótimo e bom – caiu 27 pontos, saindo de 57%, na primeira semana de junho, para 30%, depois dos grandes protestos.
Entre as insatisfações apontadas, não concentradas em uma só bandeira, apesar da diminuição da tarifa ter sido a sua principal, está também uma economia que não para de escorregar. Os números da indústria brasileira divulgados na última semana, pelo IBGE, mais uma vez, preocupam. A queda da produção física, em maio, foi de 2%, ante o mês de abril. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) já diminuiu a previsão de crescimento do PIB industrial do ano de 2013, de 2,6%, para 1%. Para o PIB geral a queda da previsão da instituição foi de 3,2%, para 2%.
O outro dado preocupante, divulgado também pelo IBGE, foi o da inflação do mês de junho. No acumulado dos últimos 12 meses ela estourou o teto da meta (de 6,5%) ficando em 6,7%. Entre os componentes principais apontados para este aumento da inflação está o aumento do dólar, cuja cotação se aproximava dos R$2,28, um dos maiores valores dos últimos anos. Com isto, como a eterna receita do Banco Central manda, na reunião desta semana do Comitê de Política Monetária (COPOM) a taxa básica de juros (a SELIC) deverá ser novamente elevada, como política anti-inflacionária. A SELIC, que hoje está em 8,75%, deverá ter um aumento igual ao do mês de maio, quando subiu 0,5%. Segundo a pesquisa Focus, pesquisa semanal feita pelo Banco Central, esta taxa deverá terminar o ano de 2013 em 9,25%.
Em meio a todas estas dificuldades, o ministro da fazenda, Guido Mantega, deverá ainda anunciar um corte de gastos públicos da ordem de 15 bilhões de reais, para garantir o superávit primário (economia feita pelo governo para pagamento de juros da dívida pública) cuja meta foi estabelecida em 2,3% do PIB brasileiro, o que equivaleria a cerca de R$63,1 bilhões. O corte não deverá agradar muito os parlamentares, já que a previsão da maior parte dos cortes é de emendas parlamentares ao orçamento federal de 2013, que está em cerca de R$7 bilhões.
Para completar o quadro da complicada economia brasileira, temos uma queda dos preços das principais commodities de exportação brasileiras, o que tem sustentado parte do crescimento do país, na última década. Nas três primeiras semanas de junho, das 23 principais commodities mais importantes na exportação, relacionadas pelo Ministério do Desenvolvimento, 16 tiveram queda em relação ao preço médio do mesmo mês do ano anterior. O café caiu 24,7%, o minério de ferro 19%, e a soja 1,5%, para apenas citar alguns exemplos.
Este movimento está ligado à desaceleração da economia global, principalmente de países emergentes, como a China, que ajudaram a compensar a queda dos EUA e da Europa, nos últimos anos. O índice dos gerentes de compras do setor manufatureiro chinês, medido pelo HSBC, recuou para 48,2 em junho, comparado a 49,2, em maio (abaixo de 50 quer dizer contração da produção manufatureira). E isto impactou diretamente o Brasil, que tem a China como seu principal parceiro comercial desde 2009, já que houve um menor crescimento na produção de equipamentos de mineração e de matérias-primeiras.
Além do Brasil, isto tem impacto em todos os nossos vizinhos sul-americanos. O Chile que, neste ano, já sente a queda de 13% do cobre, seu principal produto de exportação, deverá crescer abaixo dos 5% pela primeira vez em quatro anos. Já o Peru, que havia crescido 6,3% no ano passado, já tem perspectiva de queda, com a diminuição dos preços do ouro e do cobre.
            A conclusão que podemos tirar é que, cada vez mais, caminhamos para uma situação onde não há dinheiro fácil. Os fluxos de capital privado para os mercados emergentes, que entre 2009 e 2012, chegaram a US$4,2 trilhões, começam a cessar, e o fluxo monetário retoma a direção dos EUA, para compra de títulos, que apesar da baixa rentabilidade, ainda são o porto seguro do capitalismo.



[i] Economista e mestrando no Programa de Pós-graduação em Ciência Política da Universidade Federal do Paraná; é pesquisador do ILAESE (Instituto Latino-americano de Estudos Socioeconômicos) e do Progeb (Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira) (progeb@ccsa.ufpb.br); (www.progeb.blogspot.com).
Share:

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Comentando a Economia


Pessoas mais ricas do mundo ganham meio PIB do Brasil em um ano[i]


                                                                                Christiano Souto[ii]

    Em 2012, a elite financeira mundial, da qual mais da metade encontra-se nos EUA, elevou suas posses em 2,6%, enquanto o PIB mundial avançou apenas 1,6%. Os "investimentos" das 111 mil pessoas mais ricas do mundo é comparável ao PIB de um país, como o Brasil. É usual a ideia da suprema importância da existência do mercado financeiro como condição vital para a sobrevivência da sociedade capitalista. Neste mercado a remuneração se dá através de uma taxa que é aplicada sobre um montante chamado “investimento”. A lei geral da acumulação capitalista nos diz que esta acumulação se dá através da produção de riqueza, de um lado, da alta produtividade social do trabalho provocada pelo progresso tecnológico, e de outro lado, pela criação de um contingente de excluídos do processo de geração e participação na riqueza. Contudo, essa riqueza nem sempre é real, pode ser “criada” também pela especulação que gera apenas riqueza fictícia. Os "investimentos" dos especuladores de nível "ultra high" são impulsionados pela necessidade de acumulação do capital e pelo desenvolvimento desigual das economias dos países, o que os levam a emigrar para qualquer parte do mundo onde o lucro em geral seja mais elevado. Ganhos e perdas nascidos das diferenças de valorização de títulos e ações, nesse momento em que as grandes economias mundiais ainda sofrem os efeitos da crise iniciada em 2008, realçam ainda mais a marca de parasitismo do mercado financeiro.

Share:

Novidades

Recent Posts Widget

Postagens mais visitadas

Arquivo do blog