terça-feira, 9 de julho de 2013

O panorama econômico pós-manifestações

Semana de 01 a 07 de julho de 2013


Eric Gil Dantas [i]



O governo ainda tateia respostas às grandes manifestações que varreram o Brasil no último mês. Em três semanas, segundo pesquisa da Datafolha, a popularidade da presidente Dilma – somando os que avaliam o seu governo entre ótimo e bom – caiu 27 pontos, saindo de 57%, na primeira semana de junho, para 30%, depois dos grandes protestos.
Entre as insatisfações apontadas, não concentradas em uma só bandeira, apesar da diminuição da tarifa ter sido a sua principal, está também uma economia que não para de escorregar. Os números da indústria brasileira divulgados na última semana, pelo IBGE, mais uma vez, preocupam. A queda da produção física, em maio, foi de 2%, ante o mês de abril. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) já diminuiu a previsão de crescimento do PIB industrial do ano de 2013, de 2,6%, para 1%. Para o PIB geral a queda da previsão da instituição foi de 3,2%, para 2%.
O outro dado preocupante, divulgado também pelo IBGE, foi o da inflação do mês de junho. No acumulado dos últimos 12 meses ela estourou o teto da meta (de 6,5%) ficando em 6,7%. Entre os componentes principais apontados para este aumento da inflação está o aumento do dólar, cuja cotação se aproximava dos R$2,28, um dos maiores valores dos últimos anos. Com isto, como a eterna receita do Banco Central manda, na reunião desta semana do Comitê de Política Monetária (COPOM) a taxa básica de juros (a SELIC) deverá ser novamente elevada, como política anti-inflacionária. A SELIC, que hoje está em 8,75%, deverá ter um aumento igual ao do mês de maio, quando subiu 0,5%. Segundo a pesquisa Focus, pesquisa semanal feita pelo Banco Central, esta taxa deverá terminar o ano de 2013 em 9,25%.
Em meio a todas estas dificuldades, o ministro da fazenda, Guido Mantega, deverá ainda anunciar um corte de gastos públicos da ordem de 15 bilhões de reais, para garantir o superávit primário (economia feita pelo governo para pagamento de juros da dívida pública) cuja meta foi estabelecida em 2,3% do PIB brasileiro, o que equivaleria a cerca de R$63,1 bilhões. O corte não deverá agradar muito os parlamentares, já que a previsão da maior parte dos cortes é de emendas parlamentares ao orçamento federal de 2013, que está em cerca de R$7 bilhões.
Para completar o quadro da complicada economia brasileira, temos uma queda dos preços das principais commodities de exportação brasileiras, o que tem sustentado parte do crescimento do país, na última década. Nas três primeiras semanas de junho, das 23 principais commodities mais importantes na exportação, relacionadas pelo Ministério do Desenvolvimento, 16 tiveram queda em relação ao preço médio do mesmo mês do ano anterior. O café caiu 24,7%, o minério de ferro 19%, e a soja 1,5%, para apenas citar alguns exemplos.
Este movimento está ligado à desaceleração da economia global, principalmente de países emergentes, como a China, que ajudaram a compensar a queda dos EUA e da Europa, nos últimos anos. O índice dos gerentes de compras do setor manufatureiro chinês, medido pelo HSBC, recuou para 48,2 em junho, comparado a 49,2, em maio (abaixo de 50 quer dizer contração da produção manufatureira). E isto impactou diretamente o Brasil, que tem a China como seu principal parceiro comercial desde 2009, já que houve um menor crescimento na produção de equipamentos de mineração e de matérias-primeiras.
Além do Brasil, isto tem impacto em todos os nossos vizinhos sul-americanos. O Chile que, neste ano, já sente a queda de 13% do cobre, seu principal produto de exportação, deverá crescer abaixo dos 5% pela primeira vez em quatro anos. Já o Peru, que havia crescido 6,3% no ano passado, já tem perspectiva de queda, com a diminuição dos preços do ouro e do cobre.
            A conclusão que podemos tirar é que, cada vez mais, caminhamos para uma situação onde não há dinheiro fácil. Os fluxos de capital privado para os mercados emergentes, que entre 2009 e 2012, chegaram a US$4,2 trilhões, começam a cessar, e o fluxo monetário retoma a direção dos EUA, para compra de títulos, que apesar da baixa rentabilidade, ainda são o porto seguro do capitalismo.



[i] Economista e mestrando no Programa de Pós-graduação em Ciência Política da Universidade Federal do Paraná; é pesquisador do ILAESE (Instituto Latino-americano de Estudos Socioeconômicos) e do Progeb (Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira) (progeb@ccsa.ufpb.br); (www.progeb.blogspot.com).
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