quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Os dados oficiais do 2º trimestre de 2013



Semana de 26 de agosto a 01 de setembro de 2013


Lucas Milanez de Lima Almeida[i]




            Foram divulgados os tão aguardados dados trimestrais das Contas Nacionais (sistema que registra e mensura as principais variáveis econômicas do país). Governo e “mercado”, que travaram uma “guerra labial” nas últimas semanas, agora podem apontar os dedos uns para os outros. O cenário era o seguinte: segundo a média das estimativas feitas pelo “mercado”, a economia cresceria 1% do 1º para o 2º trimestre de 2013. A previsão mais otimista era da LCA Consultores, com 1,3%, sendo as mais pessimistas as do Banco Indusval & Partners e Tendências Consultoria, ambas com previsões de 0,7%. Para o Governo as estimativas não eram muito diferentes. Segundo a equipe econômica do Planalto Central, o valor estaria entre 0,7% e 1,1%.
            Os números divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística surpreenderam a todos. Em relação aos três primeiros meses de 2013, o crescimento do PIB brasileiro, de abril a junho, foi de 1,5%. Dentre as principais economias do mundo, o país só ficou atrás da China, que cresceu 1,7% na mesma comparação.
            Segundo a origem da produção, o setor que mais cresceu foi o agropecuário, com 3,9%, graças às colheitas recordes que o país vem tendo desde o começo do ano. Em segundo lugar, veio a indústria, que elevou sua produção em 2%. Tal número, porém, é questionável, pois este crescimento foi registrado sobre o decrescimento de 0,2% nos três primeiros meses de 2013. O que enfraquece ainda mais esta cifra é o fato de que, em 2012, a indústria já havia se retraído 0,8%. Dentro do setor, quem mais cresceu foi a construção civil (3,8%), a indústria de transformação (1,7%) e a extrativa mineral (1,0%). Por fim, os serviços foram os que menos contribuíram para o crescimento do PIB, registrando elevação total de apenas 0,8%. Os destaques positivos do setor foram o comércio (1,7%), a intermediação financeira e seguros (1,1%) e os transportes (1,0%). Na outra ponta, temos a administração, saúde e educação públicas, com uma elevação de apenas 0,1%.
            Sob o ponto de vista do destino do produto, quem mais contribuiu no 2º trimestre, em relação ao primeiro, foram as exportações, com crescimento 6,9%. Porém, tal como a indústria, no 1º trimestre as exportações caíram os mesmo 6,9%. Ou seja, o crescimento foi registrado sobre um valor que já tinha apresentado uma retração anterior. Em compensação, a entrada de produtos estrangeiros desacelerou. No 1º trimestre as importações haviam crescido 5,7%, enquanto no segundo este valor foi de apenas 0,6%. Um dos fatores que contribuiu para estes números foi o câmbio que, em média, cresceu 3,8% no período. A cotação mínima dos seis primeiros meses chegou a R$ 1,95 por dólar, em março, e a máxima foi registrada em junho (R$ 2,26).
            Ainda do ponto de vista da demanda, o consumo das famílias e do governo cresceram pífios 0,3 e 0,5%, respectivamente, sobre os três meses anteriores. Ambos já haviam apresentado uma estabilidade no 1º trimestre de 2013, quando não se alteraram, em relação ao fim de 2012. Resta-nos agora analisar os investimentos, representados pela formação bruta de capital fixo (FBCF).
            Com a aceleração da produção industrial, a desaceleração das importações e o fraco crescimento do consumo, boa parte desta produção foi absorvida pelos investimentos e pelos estoques. O crescimento da FBCF, no 2º trimestre do ano, foi de 3,6%, ante um crescimento de 4,7% no trimestre anterior. Com isto, a relação entre os investimentos e o PIB saltou de 17,9% para 18,6%. Já os estoques quase dobraram no mesmo período.
            Se a economia brasileira tivesse combustível para manter-se aquecida desta maneira, ao fim do ano poderíamos ter um crescimento total em torno de 5%. Do lado da agricultura os bons números devem se manter, com expectativa de crescimento de 14,7% em relação a todo o ano de 2012. Porém, o balde de água fria já foi jogado. Em julho, a indústria brasileira decresceu 2%, em relação ao mês anterior, 1,95% em relação ao início do 2º trimestre e 1,67% em relação ao primeiro mês do ano.
            Com todos estes números, podemos, agora, arriscar um diagnóstico sobre o Brasil. Diante das taxas de crescimento dos últimos anos (2008-2012: 5,2%, -0,3%, 7,5%, 2,7%, 0,9%, respectivamente) e da expectativa de 2,1% em 2013 só uma catástrofe pode fazer o crescimento ficar abaixo do registrado em 2012.
            Podemos afirmar então que, se esta tendência for mantida, a economia estará saindo lentamente do fundo do poço.


[i] Professor do Departamento de Economia da UFPB e pesquisador do Progeb. (www.progeb.blogspot.com; lucasmilanez@hotmail.com)
Share:

0 comentários:

Postar um comentário

Novidades

Recent Posts Widget

Postagens mais visitadas

Arquivo do blog