quarta-feira, 7 de maio de 2014

Mantega garante um ciclo de expansão econômica



Semana de 28 de abril a 04 de maio de 2014

Rosângela Palhano Ramalho[i]

            Caro leitor. É incrível o posicionamento contraditório do governo em relação às questões econômicas. Enquanto o mundo se recupera lentamente, os indícios de que teremos um ano ruim, com crescimento baixo, aumentam. Mesmo assim, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, continua a sustentar que a inflação ficará na meta, quer dizer, no teto da meta. Enquanto isso, o Boletim Focus, elaborado pelo Banco Central, antes mesmo da finalização do primeiro semestre, já prospecta uma taxa no limite máximo da meta, indicativo de que no final do ano o teto será ultrapassado.
            Mas isto não é o mais surpreendente. Esta semana, Mantega detonou mais uma pérola. Afirmou que o Brasil está frente a um novo ciclo de expansão econômica. E mais: este novo ciclo, que começará este ano, se estenderá até 2022 e contará com crescimento de 7% ao ano nos investimentos e de 3,6% no consumo. Segundo Mantega, o Produto Interno Bruto (PIB) crescerá a um ritmo médio de 4% ao ano, no referido período.
            Está cada vez mais difícil acreditar nas palavras do ministro. O ciclo econômico, assim definido, teria oito anos de expansão! Seria o tal crescimento sustentado? A nossa última análise frisou que o crescimento médio do PIB dos últimos cinco anos foi de 1,8%. Para sustentar uma taxa média de 4% teríamos que crescer, a cada ano, até 2022, 2% a mais em relação aos índices apresentados nos últimos anos.
            A desaceleração da indústria, no primeiro trimestre, e em especial, do setor automobilístico, é um problema que vem se agravando com o passar do tempo. No primeiro trimestre, a indústria automotiva apresentou uma queda nas vendas de 2,1% e, contando com o mês de abril, esta queda já chega a 4%.
            No setor de veículos pesados, a situação é crítica. Este ano, segundo estimativas das maiores montadoras, as vendas de caminhões cairão entre 5% a 12%. Esta projeção parece bastante otimista, já que no primeiro trimestre, o setor acumula queda de 11% e, considerando o quadrimestre, as vendas recuaram 22%.
            Os fornecedores da indústria automotiva também estão desacelerando. As vendas de aço, por exemplo, irão declinar 7,5%, em abril, segundo estimativas das empresas.
            Os impactos negativos, como frisado na análise anterior, também se estendem sobre o emprego. A MAN, que é líder no setor de caminhões no Brasil, interrompeu a partir de abril, durante cinco meses, os contratos de trabalho de 200 trabalhadores. Desde o final do ano passado que a empresa concede férias coletivas, reduz a jornada de trabalho, além de usar o banco de horas. A fábrica da Mercedes-Benz em São Bernardo do Campo está realizando modificações em sua linha de produção e irá reduzir o pessoal empregado. O presidente da empresa, seguindo os passos dos seus concorrentes, lançou um programa de demissão voluntária e a meta é dispensar até 2.000 trabalhadores. 700 trabalhadores já aderiram ao programa.
            O governo, a pedido da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) e da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), estuda medidas para melhorar o acesso ao crédito. Segundo o ministro Mantega, a situação deste ramo industrial pode ser resolvida por meio do aumento do crédito ao consumo, pois os bancos, apesar da queda da inadimplência, estão mais rigorosos na concessão de empréstimos. O ministro se queixa que antes “... era possível financiar um carro com 10% ou 20% de entrada. Mas hoje exigem entrada de 50%.” Será que são só estas as dificuldades que entravam as vendas do setor automobilístico?
            Com grande preocupação, analistas já sugerem a existência de uma “bolha automobilística” que estourará a qualquer momento. O setor cresceu bastante nos últimos anos, com a entrada de várias montadoras no país. Além disso, vários subsídios foram dados e o crédito foi facilitado possibilitando um aumento exagerado do consumo.
            Estes dados negam a existência do tal ciclo de expansão. Não se trata aqui, como muitos defendem, de otimismo ou pessimismo. É a observação da realidade objetiva que nos permite chegar à conclusão de que o Mantega continua a viver no mundo da fantasia e, por isso, suas declarações em nada contribuem para a credibilidade do governo.


[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com)
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