quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Um 2016 sombrio

Semana de 21 a 27 de dezembro de 2015

Nelson Rosas Ribeiro[i]

           
Neste último dia do ano, com toda a sinceridade, desejamos a todos os nossos leitores as maiores felicidades e sucessos no ano que se inicia.
Como analistas de conjuntura o rigor científico nos obriga, no entanto, a prevenir e avisar a todos que 2016 não será um ano fácil. As dificuldades que caracterizaram 2015 devem continuar e o quadro econômico deve se agravar, nesse novo ano.
O panorama internacional não apresenta boas expectativas, com a economia da União Europeia (UE) ainda sem definição e importantes mudanças políticas ocorrendo em vários países. De fato, governos de centro direita vem sendo derrotados em sucessivas eleições. É o caso da Grécia, Polônia, Portugal e Espanha, onde os partidos antiausteridade ganharam a maioria dos parlamentos e teme-se que o fenômeno se propague.
Nos EUA, o sinal para o aumento dos juros pelo Federal Reserve (Fed) continua aceso, mas a recuperação segue a ritmos muito lentos. O gigante chinês desacelera e suspeita-se que sua taxa de crescimento não atingirá os 7% almejados, sendo a menor taxa em 25 anos. Além disso, o país é abalado pelo desemprego, fechamento de empresas, etc. o que tem provocado fortes convulsões sociais.
A ameaça do terrorismo do Estado Islâmico (EI) continua a pesar sobre todo o mundo ocidental desafiando as grandes potências militares que lançam toneladas de bombas na Síria e no Iraque, mas, por baixo do pano, financiam os fanáticos através de seus fieis aliados como a Arábia Saudita e a Turquia, a grande compradora do petróleo sírio extraído pelo EI, e contrabandeado através de suas fronteiras. Neste clima não se pode esperar nenhum alento vindo da economia mundial.
Internamente, a situação é ainda pior. Todos os indicadores econômicos apontam para uma deterioração da conjuntura. Estamos pagando o preço da canhestra política econômica anticíclica que transformou o tsunami, iniciado em 2008, em “marolinha”, por alguns anos. A atual política econômica, que tem por base a austeridade fiscal e monetária, sendo uma política pró-cíclica, agrava ainda mais a situação. Tudo indica que a substituição do ministro Levy pelo Nelson Barbosa não provocará grandes alterações. A ideologia econômica dominante não encontra outro remédio senão o aumento dos juros e a austeridade fiscal. Continuamos na contramão do mundo. O pior é que o fanatismo ideológico assume foros de verdade única e natural e as receitas passam a serem repetidas pelos comentaristas e jornalistas econômicos, políticos, TVs, jornais, rádios, etc. O país ajoelha-se diante de dois grandes problemas: a inflação e o equilíbrio do orçamento da nação. A inflação (que não é inflação, mas estagflação) está fora de controle e o Banco Central (BC) já prepara sua carta ao congresso com desculpas esfarrapadas para justificar o seu fracasso e, certamente, ameaçará com o único remédio que a sua primária teoria conhece, “o instrumento clássico de combate à inflação”: a elevação da taxa de juros, que deverá ser mais rigorosa. Isso depois de ter apontado como fatores fundamentais para a perda de controle, o reajuste de 18% nos preços administrados e a depreciação cambial de 30%, fatores que não são atingidos pela taxa de juros.
O equilíbrio do orçamento, pelo lado da receita volta-se contra os menos favorecidos com o aumento de taxas e impostos. Pelo lado da despesa também cai sobre a população ao atingir os orçamentos da saúde, educação, previdência e programas sociais. Ninguém fala no aumento dos impostos sobre os ricos, nem na cobrança dos débitos fiscais das grandes empresas, nem nas taxas de juros que enriquecem o capital financeiro. Para agravar a situação continua o massacre político da presidente Dilma com a ameaça de impeachment a qualquer custo e a utilização de todo tipo de recursos, os mais escusos, visando sabotar qualquer iniciativa do governo para tentar a retomada do crescimento.
Aliando-se à crise, a histeria da direita mais reacionária, que atinge até o nosso Chico Buarque, prenuncia um 2016 de conflitos e ódio.

[i] Professor Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).
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