quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

‘Plano de fuga’

Semana de 23 a 29 de novembro de 2015

Raphael Correia Lima Alves de Sena[i]

Pela segunda vez na história do país, um senador no exercício de suas funções foi preso. E de forma inédita, realizou-se uma sessão no Senado para discutir a manutenção ou relaxamento da pena de congressista preso. O Supremo Tribunal Federal (STF) não teve outra opção a não ser emitir a ordem judicial que determinou a prisão do senador Delcídio do Amaral, líder do governo no Senado, após ouvir a gravação em que o senador citou os nomes de alguns ministros do STF, de importantes políticos, como o vice-presidente da República, Michael Temer (PMDB-SP) e Renan Calheiros (PMBD-AL) comprometendo-os com ações ilícitas. A prisão representa mais um revés para o governo, que perdeu seu principal articulador na casa.
            Ao ritmo das prisões, o governo assistiu o retorno ao caos. Dias antes, a presidente Dilma Rousseff vislumbrava uma melhora no panorama político. As principais votações do ajuste fiscal encaminhavam-se no Senado e parecia que teriam o resultado esperado. No entanto, em menos de vinte e quatro horas o governo viu o retorno da agonia dos últimos meses. A prisão do senador Delcídio (PT-MS) provocou, de quebra, a paralisação política dos trabalhos no Senado. O ajuste ficou mais distante e o clima voltou a ser bastante conturbado.
            Diante do impacto causado pelo evento, a economia passou para o segundo plano. Enquanto a crise política se agrava, a cada nova prisão, a crise econômica continua a sua marcha, sem sinal de que o fundo do poço está próximo. Dados da Pesquisa Mensal de Amostras por Domicílio (Pnad – IBGE) apontam que 11 capitais já apresentam taxa de desemprego maior que 10% e que a média nacional é de 8,9%, no terceiro trimestre. A Ford em Camaçari e a General Motors em Gravataí anunciaram a suspensão do terceiro turno em suas fábricas. A crise passou a atingir até o setor de produtos de beleza, onde houve queda nas vendas reais de 6,7%, de janeiro a dezembro.
            O boletim Focus, publicação do Banco Central, mostrou mais uma rodada de deterioração dos resultados econômicos previstos para esse ano e o próximo. De acordo com os dados, a previsão do IPCA para o final deste ano subiu para 10,33%, e para 6,64%, em 2016, estourando, mais uma vez, o teto da meta. Assim, mesmo com a manutenção da Selic no patamar atual de 14,25%, a perspectiva para o próximo ano é da alta da taxa básica de juros. Os ‘interpretadores das atas’ do Copom notaram a exclusão do termo ‘a manutenção da Selic por período suficientemente prolongado’. Isso significa que o seu aumento no ano que vem passa a fazer parte de um cenário possível.
            Na Europa, a crise dos refugiados e os atentados terroristas do Estado Islâmico continuam a preocupar as principais autoridades econômicas da região enquanto o EI impunemente, se financia com a venda de petróleo no mercado negro. O Iraque não quer ver a destruição de nenhuma refinaria em posse do grupo terrorista. Predomina a esperança de que, após a eliminação dos fundamentalistas, os campos de petróleo retornariam às mãos dos iraquianos. Em Portugal, Antônio Costa, líder socialista, foi nomeado primeiro-ministro. Foi formada uma aliança com três partidos de extrema-esquerda e, da mesma forma como o Syriza na Grécia, o novo governo se apresenta como um oponente das políticas de austeridades. A experiência grega ficou longe de cumprir as promessas de campanha, resta saber agora como se comportará a portuguesa.
            Aqui pelo Brasil, o governo está cada vez mais fraco e debilitado. A série de escândalos envolvendo integrantes do alto escalão do PT não dá trégua. O cerco está cada vez mais perto das principais cabeças do partido. O ex-presidente Lula não deve estar muito ansioso para as próximas fases da operação Lava-Jato. As investigações em torno do seu filho, de seus amigos pessoais e dos líderes do governo estão minando a popularidade do ex-presidente. Pesquisa do Datafolha coloca Aécio Neves (PSDB-MG) em primeiro lugar para as próximas eleições.
            A opinião pública teve força suficiente para obrigar o Senado Federal a uma votação aberta e à manutenção da prisão do senador petista. Entretanto, após o episódio, uma mudez impressionante atingiu os principais líderes da oposição e da situação.
            Quem sabe o que ainda pode vir por ai? Há muito pescoço temeroso da guilhotina.

[i]Advogado e Pesquisador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br); (www.progeb.blogspot.com).
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