Nelson Rosas Ribeiro[i]
Mais uma semana dominada pelos
acontecimentos políticos. Na quarta-feira, 2, a câmara não aprovou a
autorização para o prosseguimento do processo contra o presidente Temer no STF.
Temos agora um presidente blindado, embora ilegítimo, contestado por 95% da
população, acusado de corrupção, que se mantém no poder apoiado por um Congresso
corrupto e desmoralizado e por uma classe empresarial reacionária, incompetente
e acostumada a sobreviver à custa de favores do Estado.
Encerrado o caso, são feitas as contas de
quanto custou tamanha proeza. Os números variam, mas situam-se na casa dos
bilhões. Só a liberação das emendas dos parlamentares, refinanciamento das
dívidas dos produtores rurais e os royalties da mineração são estimados em uma
perda de R$13,2 bilhões para os cofres públicos. Os ruralistas receberam um
presente de uma renúncia do governo de R$7,6 bilhões das dívidas do Funrural,
além da liberação da exploração de 300 mil hectares da Floresta do Jamanxim. Os
empresários caloteiros também foram premiados com as alterações no Refis que
provocaram a perda de outros R$14 bilhões da arrecadação esperada.
O país assistiu ao espetáculo deprimente e
desmoralizante da montagem de um balcão de negócios que funcionou até dentro da
própria Câmara, para a desesperada compra de votos onde tudo era possível. A
casa dos deputados transformou-se em um grande mercado. Cada um tinha seu preço
com emendas, nomeações, dinheiro.
Triste espetáculo!
No rescaldo agora assistimos a disputa dos
partidos pelos cargos. Demitem-se os traidores e nomeiam-se os fiéis aliados.
Os partidos racharam particularmente o PMDB e o PSDB.
E o povo a tudo assistiu calado. Não houve
mobilização de massas, panelaços, buzinaços. Apenas pequenas escaramuças. Como
entender essa passividade?
A classe empresarial está exultante com a
esperança de avanço das “reformas”. Para ela “se for mantida a política
econômica não faz diferença quem é o presidente da República.” Não há moral,
ética, princípios. É pular na garganta da presa. O Estado por um lado e a
classe empresarial, por outro. As tais reformas não representam nada mais que a
destruição dos direitos e conquistas do povo trabalhador.
Enquanto isso ocorre, a economia continua a
se arrastar. Os sinais de recuperação, embora existam, são fracos e
contraditórios. A política econômica da “equipe dos pesadelos” contribui para dificultar
essa recuperação.
Segundo o Instituto de Estudos para o
Desenvolvimento Industrial (Iedi), o único setor que cresceu no primeiro
trimestre foi o setor automotivo e isto se deveu às exportações. O Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) publicou os dados da Pesquisa
Industrial Mensal de Produção Física (PIM-PF), para o segundo trimestre. Eles
mostraram que a produção industrial cresceu 0,9%, na comparação com o primeiro
trimestre. Comparando com o primeiro semestre de 2016, o crescimento no
semestre de 2017 foi de 0,5%.
O gerente da coordenação da indústria do
IBGE, André Macedo, lamentou que a produção industrial ainda não apresenta
recuperação consistente. Dos 24 ramos pesquisados, 12 tiveram queda na
produção, em junho, contra maio. Só nove tiveram aumento da produção. Os dados
do IBGE mostraram que o crescimento foi puxado pela fabricação de veículos.
Este segmento aumentou sua produção em 1,17%, de janeiro a março, e 5,8%, entre
abril e junho. Os demais setores alternaram entre altas e baixas. O consumo
interno tem sido fraco e as exportações deram o grande empurrão. As compras de
máquinas e equipamentos continuam encolhendo o que demonstra que os
investimentos estão travados diante da grande capacidade ociosa existente, que
em média atinge 25%.
Como de costume os bancos continuam a
soltar foguetes. Os três grandes bancos privados Itaú Unibanco, Bradesco e
Santander tiveram R$26,3 bilhões de lucros, 17% maior que no primeiro semestre
do ano passado, embora os financiamentos tenham caído 0,7%. Culpa da queda da
demanda, dizem os bancos.
E continuamos aguardando os novos
escândalos que se anunciam.
[i] Professor
Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).
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