quarta-feira, 16 de agosto de 2017

Nada mudou


Semana de 07 a 13 de agosto de 2017

Rosângela Palhano Ramalho [i]

A conjuntura econômica brasileira continua a dar sinais dúbios. Em junho, por exemplo, a produção industrial brasileira ficou estável, após ter crescido 1,3% em abril e 1,2% em maio. No primeiro semestre do ano, o setor cresceu 0,5% quando comparado ao primeiro semestre de 2016, segundo informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A demanda externa e a safra recorde na agricultura tem sustentado o cenário de estabilidade. O Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea) apurou queda de 3,1% no Indicador de Consumo Aparente da Indústria (Produção interna acrescida das importações e subtraída das exportações) nos 12 meses terminados em junho. Este resultado derivou da redução de 1,9% da produção industrial, do aumento de 2,1% das exportações e de 0,9% das importações.
Embora a indústria tenha apresentado resultado positivo para o emprego, com a criação de 35,9 mil vagas em julho, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), a construção civil continua a desempregar. O emprego no setor caiu 0,39% em julho, o que corresponde ao fechamento de 9.675 vagas. O Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (SindusCon-SP) apurou que as regiões Sul, Nordeste e Sudeste apresentaram quedas no emprego e segundo a instituição, não há perspectivas de retomada, pois, as obras de infraestrutura no país continuam paralisadas e o desemprego compromete a construção de residências.
Outro fator preocupante em relação à indústria brasileira é a persistência da alta ociosidade. A oscilação dos estoques tem sido uma constante e o nível de utilização da capacidade instalada calculado pela Fundação Getulio Vargas fechou em 74,7% no mês de julho. A redução dos estoques em virtude do aumento das exportações foi apenas momentânea. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) compartilha a ideia de que, com estas constantes oscilações, não há retomada sólida. Em sondagem, a CNI detectou que as intenções de investimentos ainda continuam apresentando índice abaixo de 50 pontos, o que acontece desde o início de 2015. Segundo dados fornecidos pelas Associações Nacionais dos Produtores, o setor de calçados, apresenta nível de utilização da capacidade instalada em torno de 72%, o de alimentos, índice de 67%, o setor de eletroeletrônicos opera com 71% da capacidade, o de máquinas e equipamentos tem 70%, na produção de automóveis a utilização média da capacidade é de 55% e no setor de plásticos, 67% de uso da capacidade.
Por outro lado, como reflexo da crise, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) aumentou apenas 0,24% em julho. Desde o início do ano o índice acumula taxa de 1,43%, já em 12 meses a inflação fechou em 2,71%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os gastos com habitação tiveram alta de 1,64% e os gastos com transporte cresceram 0,34%, mas as menores despesas com alimentação contribuíram com uma deflação de 0,47% em julho.
A equipe econômica continua a dar declarações alimentando o discurso de que tudo está indo bem e que para ser melhor, é necessário aprovar as reformas. Como benesse, o governo resolveu injetar R$ 7 bilhões na economia nacional ao anunciar a divisão, entre os trabalhadores, do lucro do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS). Esse valor é correspondente à metade do lucro do FGTS obtido em 2016.
Mas, enquanto logra o povo com o discurso de que é necessário ter responsabilidade fiscal, o governo não se fez de rogado ao “negociar” os votos para barrar a denúncia contra o presidente Temer no Supremo Tribunal Federal. Segundo levantamento do jornal Valor Econômico, os 263 votos favoráveis ao arquivamento do processo custaram ao povo R$ 13,4 bilhões, entre emendas parlamentares e outros favores, como o perdão de dívidas ao setor ruralista. Uma bagatela de R$ 51 milhões por deputado.
Enquanto isso, o governo já assumiu que foi incapaz de cumprir a “meta de rombo fiscal” de R$ 139 bilhões estipulada para este ano e já mudou para um rombo de R$ 159 bilhões para 2017 e 2018. O governo do “faça o que eu digo, mas não o que eu faço”, mais uma vez, mostra que nada mudou.


[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com.br) Contato: rospalhano@yahoo.com.br
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