Rosângela Palhano Ramalho
[i]
A conjuntura econômica brasileira continua a dar
sinais dúbios. Em junho, por exemplo, a produção industrial brasileira ficou
estável, após ter crescido 1,3% em abril e 1,2% em maio. No primeiro semestre
do ano, o setor cresceu 0,5% quando comparado ao primeiro semestre de 2016,
segundo informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A
demanda externa e a safra recorde na agricultura tem sustentado o cenário de
estabilidade. O Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea) apurou queda
de 3,1% no Indicador de Consumo Aparente da Indústria (Produção interna
acrescida das importações e subtraída das exportações) nos 12 meses terminados
em junho. Este resultado derivou da redução de 1,9% da produção industrial, do
aumento de 2,1% das exportações e de 0,9% das importações.
Embora a indústria tenha apresentado resultado
positivo para o emprego, com a criação de 35,9 mil vagas em julho, segundo o
Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), a construção civil
continua a desempregar. O emprego no setor caiu 0,39% em julho, o que
corresponde ao fechamento de 9.675 vagas. O Sindicato da Indústria da
Construção Civil do Estado de São Paulo (SindusCon-SP) apurou que as regiões
Sul, Nordeste e Sudeste apresentaram quedas no emprego e segundo a instituição,
não há perspectivas de retomada, pois, as obras de infraestrutura no país
continuam paralisadas e o desemprego compromete a construção de residências.
Outro fator preocupante em relação à indústria
brasileira é a persistência da alta ociosidade. A oscilação dos estoques tem
sido uma constante e o nível de utilização da capacidade instalada calculado
pela Fundação Getulio Vargas fechou em 74,7% no mês de julho. A redução dos
estoques em virtude do aumento das exportações foi apenas momentânea. A
Confederação Nacional da Indústria (CNI) compartilha a ideia de que, com estas
constantes oscilações, não há retomada sólida. Em sondagem, a CNI detectou que
as intenções de investimentos ainda continuam apresentando índice abaixo de 50
pontos, o que acontece desde o início de 2015. Segundo dados fornecidos pelas
Associações Nacionais dos Produtores, o setor de calçados, apresenta nível de
utilização da capacidade instalada em torno de 72%, o de alimentos, índice de
67%, o setor de eletroeletrônicos opera com 71% da capacidade, o de máquinas e
equipamentos tem 70%, na produção de automóveis a utilização média da
capacidade é de 55% e no setor de plásticos, 67% de uso da capacidade.
Por outro lado, como reflexo da crise, o Índice
Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) aumentou apenas 0,24% em julho.
Desde o início do ano o índice acumula taxa de 1,43%, já em 12 meses a inflação
fechou em 2,71%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE). Os gastos com habitação tiveram alta de 1,64% e os gastos com
transporte cresceram 0,34%, mas as menores despesas com alimentação
contribuíram com uma deflação de 0,47% em julho.
A equipe econômica continua a dar declarações
alimentando o discurso de que tudo está indo bem e que para ser melhor, é
necessário aprovar as reformas. Como benesse, o governo resolveu injetar R$ 7
bilhões na economia nacional ao anunciar a divisão, entre os trabalhadores, do
lucro do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS). Esse valor é
correspondente à metade do lucro do FGTS obtido em 2016.
Mas, enquanto logra o povo com o discurso de que é
necessário ter responsabilidade fiscal, o governo não se fez de rogado ao
“negociar” os votos para barrar a denúncia contra o presidente Temer no Supremo
Tribunal Federal. Segundo levantamento do jornal Valor Econômico, os 263 votos
favoráveis ao arquivamento do processo custaram ao povo R$ 13,4 bilhões, entre
emendas parlamentares e outros favores, como o perdão de dívidas ao setor
ruralista. Uma bagatela de R$ 51 milhões por deputado.
Enquanto isso, o governo já assumiu que foi incapaz
de cumprir a “meta de rombo fiscal” de R$ 139 bilhões estipulada para este ano
e já mudou para um rombo de R$ 159 bilhões para 2017 e 2018. O governo do “faça
o que eu digo, mas não o que eu faço”, mais uma vez, mostra que nada mudou.
[i] Professora
do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização
e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com.br)
Contato: rospalhano@yahoo.com.br
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