Nelson Rosas Ribeiro[i]
Enquanto os médicos se esforçam para
desentupir o presidente mais rejeitado da história, o STF não consegue entupir
o cano da corrupção que cobre o país de lama e vergonha. Agora foi a vez do
ministro Dias Toffoli dar sua colaboração com o pedido que engavetou o processo
do fim do foro privilegiado que sustenta a impunidade no país. Já não nos abala
a divulgação dos novos escândalos de corrupção que acontecem a cada dia. Está
caindo na rotina.
Continuamos a nos afogar na lama e praticar
uma política econômica suicida, conduzida pela “equipe dos pesadelos” regida
pelo maestro Meirelles. Assim vamos perdendo as oportunidades que ainda se
apresentam, geradas por uma conjuntura mundial favorável. Esta preocupação
ficou explícita no recente “Simpósio de Gestores” promovido pelo Santander, na
semana passada.
Vários analistas mostraram-se preocupados
com a situação. Rodrigo Azevedo, da Ibiuna, após perguntar “Será que estamos
próximos de uma outra grande crise?” acrescentou: “acho que não, mas o melhor
da festa pode ter ficado para trás”. Carlos Calabresi, da Garde Asset
Management, mostrou preocupação com a injeção de US$10 trilhões, pelos Bancos
Centrais (BCs.) no mundo e mais US$ 8 trilhões de dívida soberana e corporativa
girando pelo mundo. André Jakurski, da JGP Gestão, destacou as condições
favoráveis e grande liquidez e taxas de juros baixos que marcam “uma das
expansões mais longas em 150 anos” e que “apesar dos BCs continuarem injetando
dinheiro o ar está murchando”.
Essas preocupações coincidem com afirmações
que temos feito aqui nesta coluna. O mundo está vivenciando uma complexa
recuperação cíclica desde a crise iniciada em 2008. O ciclo completará, em
2018, os 10 anos simbólicos que tem marcado o movimento cíclico desde os anos
70. Será que a nova crise já está a caminho?
A recuperação da economia mundial tem se
dado a ritmos moderados puxada pelos EUA. A União Europeia (UE) lentamente vai
se somando ao esforço geral. Agora é a economia da França que dá um impulso ao
comboio da zona do Euro, enquanto a Alemanha continua “desgovernada” depois da
derrota eleitoral da Angela Merkel e do fracasso da tentativa de formar governo
com o FDP (liberais) e os Verdes (esquerda).
A situação da China também continua
duvidosa. A incerteza é grande e todos aguardam as decisões dos BCs em relação
à elevação dos juros e ao fim do afrouxamento monetário (QE) tantas vezes
anunciado, mas não iniciado. Há o temor geral do aborto da recuperação. No
nosso entender não é abortar, mas sim deflagrar uma nova fase de crise que é
inevitável. A questão está em prever o início.
No Brasil, os dados da economia continuam a
confirmar o início de uma lenta recuperação. Afundamos tanto que chegado ao
fundo do poço é inevitável começar a subir. O índice de Atividade Econômica do
Banco Central (IBC-Br) fechou o terceiro trimestre com alta de 0,58%. Lembremos
que ele já se apresentava positivo no primeiro semestre (1,1%) e no segundo
(0,39%). Com isto o Ministério da Fazenda estima um crescimento do PIB de 0,7%,
em 2017, embora o BC sugira 0,5% para este valor.
No setor empresarial também há indicadores
positivos. Um estudo feito pelo Valor Econômico que envolveu 238 empresas de
capital aberto, excluindo Petrobrás, Vale e Eletrobrás, mostrou um lucro
líquido de R$13,5 bilhões, um aumento de 30% na comparação anual. Apesar disso,
enquanto 144 empresas (60%) melhoraram 78 empresas (32%) ainda mostraram
prejuízo.
Na contramão, a orientação “austera” do
governo fez com que o BNDES tivesse uma redução nos desembolsos 20% menor que
no ano passado (R$55,18 bilhões). O resultado foi o pior desde 2003. As
consultas de empréstimos foram 14% menores que no ano passado. Entre janeiro e
outubro, na indústria, os desembolsos caíram 49% e as consultas 33%. As causas
apontadas são: a grande capacidade ociosa, a baixa demanda e os juros mais
elevados das linhas de crédito.
Outro fator negativo que surge no horizonte
é o setor agrícola, pois estão previstas safras menores de arroz, feijão,
milho, soja, açúcar e álcool. Segundo o IBGE espera-se uma queda de 8,9%. Só na
indústria sucroalcooleira 76 unidades não vão operar.
O desafio está posto. E enquanto o governo
só pensa na reforma da previdência corremos o risco de ter mais uma década
perdida.
[i] Professor
Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).
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