sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

Mais uma década perdida?


Semana de 20 a 26 de novembro de 2017

Nelson Rosas Ribeiro[i]

           
Enquanto os médicos se esforçam para desentupir o presidente mais rejeitado da história, o STF não consegue entupir o cano da corrupção que cobre o país de lama e vergonha. Agora foi a vez do ministro Dias Toffoli dar sua colaboração com o pedido que engavetou o processo do fim do foro privilegiado que sustenta a impunidade no país. Já não nos abala a divulgação dos novos escândalos de corrupção que acontecem a cada dia. Está caindo na rotina.
Continuamos a nos afogar na lama e praticar uma política econômica suicida, conduzida pela “equipe dos pesadelos” regida pelo maestro Meirelles. Assim vamos perdendo as oportunidades que ainda se apresentam, geradas por uma conjuntura mundial favorável. Esta preocupação ficou explícita no recente “Simpósio de Gestores” promovido pelo Santander, na semana passada.
Vários analistas mostraram-se preocupados com a situação. Rodrigo Azevedo, da Ibiuna, após perguntar “Será que estamos próximos de uma outra grande crise?” acrescentou: “acho que não, mas o melhor da festa pode ter ficado para trás”. Carlos Calabresi, da Garde Asset Management, mostrou preocupação com a injeção de US$10 trilhões, pelos Bancos Centrais (BCs.) no mundo e mais US$ 8 trilhões de dívida soberana e corporativa girando pelo mundo. André Jakurski, da JGP Gestão, destacou as condições favoráveis e grande liquidez e taxas de juros baixos que marcam “uma das expansões mais longas em 150 anos” e que “apesar dos BCs continuarem injetando dinheiro o ar está murchando”.
Essas preocupações coincidem com afirmações que temos feito aqui nesta coluna. O mundo está vivenciando uma complexa recuperação cíclica desde a crise iniciada em 2008. O ciclo completará, em 2018, os 10 anos simbólicos que tem marcado o movimento cíclico desde os anos 70. Será que a nova crise já está a caminho?
A recuperação da economia mundial tem se dado a ritmos moderados puxada pelos EUA. A União Europeia (UE) lentamente vai se somando ao esforço geral. Agora é a economia da França que dá um impulso ao comboio da zona do Euro, enquanto a Alemanha continua “desgovernada” depois da derrota eleitoral da Angela Merkel e do fracasso da tentativa de formar governo com o FDP (liberais) e os Verdes (esquerda).
A situação da China também continua duvidosa. A incerteza é grande e todos aguardam as decisões dos BCs em relação à elevação dos juros e ao fim do afrouxamento monetário (QE) tantas vezes anunciado, mas não iniciado. Há o temor geral do aborto da recuperação. No nosso entender não é abortar, mas sim deflagrar uma nova fase de crise que é inevitável. A questão está em prever o início.
No Brasil, os dados da economia continuam a confirmar o início de uma lenta recuperação. Afundamos tanto que chegado ao fundo do poço é inevitável começar a subir. O índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) fechou o terceiro trimestre com alta de 0,58%. Lembremos que ele já se apresentava positivo no primeiro semestre (1,1%) e no segundo (0,39%). Com isto o Ministério da Fazenda estima um crescimento do PIB de 0,7%, em 2017, embora o BC sugira 0,5% para este valor.
No setor empresarial também há indicadores positivos. Um estudo feito pelo Valor Econômico que envolveu 238 empresas de capital aberto, excluindo Petrobrás, Vale e Eletrobrás, mostrou um lucro líquido de R$13,5 bilhões, um aumento de 30% na comparação anual. Apesar disso, enquanto 144 empresas (60%) melhoraram 78 empresas (32%) ainda mostraram prejuízo.
Na contramão, a orientação “austera” do governo fez com que o BNDES tivesse uma redução nos desembolsos 20% menor que no ano passado (R$55,18 bilhões). O resultado foi o pior desde 2003. As consultas de empréstimos foram 14% menores que no ano passado. Entre janeiro e outubro, na indústria, os desembolsos caíram 49% e as consultas 33%. As causas apontadas são: a grande capacidade ociosa, a baixa demanda e os juros mais elevados das linhas de crédito.
Outro fator negativo que surge no horizonte é o setor agrícola, pois estão previstas safras menores de arroz, feijão, milho, soja, açúcar e álcool. Segundo o IBGE espera-se uma queda de 8,9%. Só na indústria sucroalcooleira 76 unidades não vão operar.
O desafio está posto. E enquanto o governo só pensa na reforma da previdência corremos o risco de ter mais uma década perdida.


[i] Professor Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).
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