quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

Falta a MP da recuperação


Semana de 11 a 17 de dezembro de 2017

Nelson Rosas Ribeiro[i]

           
Pelas notícias que têm chegado as perspectivas para 2018, na economia mundial, são animadoras. Tudo indica que o Produto Interno Bruto (PIB) dos países mais desenvolvidos continuará crescendo, embora a taxas moderadas, apesar de toda a estupidez do governo Trump e das tensões que sua política continua a provocar. É claro que não estamos considerando o “wild card” que seria o lançamento de bombas atômicas na Coreia do Norte ou o desembarque de tropas americanas em mais um país qualquer.
Como esperado, os Bancos Centrais (BCs) do mundo desenvolvido emitiram sinais de que as coisas evoluem normalmente e que a recuperação continua. O Federal Reserve (Fed), BC americano, aumentou mais uma vez os juros em 0,25% passando para a faixa de 1,25% a 1,5%. Agora o Fed estima o crescimento da economia em 2,5%, em 2017 e 2018, e promete continuar a elevação durante 2018. Os BCs europeus, apesar das declarações de tranquilidade e de esperarem um forte crescimento na Zona do Euro até 2020, mantiveram-se mais cautelosos não elevando suas taxas de juros. Apenas anunciaram a redução dos programas de estímulos para os próximos meses. O conselho do Banco Central Europeu (BCE) espera que a economia da Zona do Euro cresça 2,3% em 2018 e pretende manter as compras de títulos até setembro desse ano, mas num valor máximo de 30 bilhões de euros por mês. Os BCs da Suíça e da Noruega mantiveram suas taxas de juros em -0,75% e 0,5% respectivamente e o Banco da Inglaterra (BoE) também manteve os seus em 0,5%.
Este cenário internacional é um grande alento para o governo Temer. Sem credibilidade, acossado pela Justiça, com taxa de aprovação inferior a 5%, responsável pela liquidação das conquistas dos trabalhadores nos últimos 30 anos e pelas reformas contra os interesses do povo, vendendo todo o patrimônio da nação, Temer e as forças que o apoiam, só têm uma salvação: a recuperação da economia nos próximos meses. Se isto não ocorrer, as eleições estarão perdidas.
Depois da destruição da legislação trabalhista, cujos efeitos já começam a ser sentidos pelos trabalhadores, a aposta total agora é a reforma da Previdência que já custou muito dinheiro aos cofres públicos o que ainda não foi suficiente para a compra dos parlamentares cujo preço sobe na medida em que se aproximam as eleições. Desmoralizado por não contar com os votos necessários para a aprovação o governo retirou a proposta adiando o processo para fevereiro. Mais dinheiro será gasto e preparemo-nos para o massacre midiático que sofreremos nos próximos meses, através de todos os meios de comunicação. Além da propaganda do governo e dos partidos teremos de enfrentar a ação unida da “classe empresarial” convocada para o campo de batalha. Temos agora como defensores dos pobres e desprotegidos e no combate aos privilégios, a força do capital representada pelos dirigentes das principais entidades patronais como a CNI, Fiesp, Febraban, Abimaq, Anfavea, Cbic, etc. É comovente ver as inflamadas declarações desses engravatados senhores em defesa dos humildes.
Nesta cruzada eles estão muito bem acompanhados. As três humanitárias agências de classificação de riscos de crédito Moody’s, Fitch Ratings e Standard & Poors Global Ratings já vieram a público declarar que, se a reforma da Previdência não for aprovada, o Brasil terá sua nota rebaixada. O FMI e o Banco Mundial já expressaram suas opiniões no mesmo sentido.
Com toda esta quadrilha a bordo da mesma belonave fortemente armada não é muito difícil saber onde está a razão e a verdade. Desesperado pela recuperação econômica o governo e seus agentes procuram falsificar estatísticas e divulgar notícias que possam alterar as expectativas. Embora haja sinais de recuperação econômica estes sinais são contraditórios. A construção civil, em 2017, apresenta uma retração de 6%, o investimento público não vai ultrapassar os 2%, o menor da história, o varejo simples teve queda de 0,9% e o ampliado, de 1,4%, em outubro, em relação a setembro. A indústria de papelão e embalagens no mês de novembro, em relação a outubro, apresentou uma queda nas vendas de 1,51%. Os indicadores para o 4º trimestre não estão muito famosos.
É preciso avisar ao debilitado Temer que ainda está faltando uma MP da recuperação. Talvez assim as coisas melhorem.


[i] Professor Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).
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