Antonio Carneiro de Almeida Júnior [i]
Há, hoje em dia, uma série de indicadores
que podem fornecer um retrato das condições em que vive a população de um país.
Um desses indicadores que é bastante importante para a análise dos padrões de
vida de uma população, por sua vez, é o número de pessoas que se encontra em
situação econômica ruim ou precária. No
que tange a esse quesito, é seguro afirmar que a economia brasileira não vai
nada bem.
De acordo com levantamento do Instituto de
Estudos do Trabalho e Sociedade, Ieds, divulgado na segunda-feira passada
(18/12) pelo Valor Econômico, o número de pessoas que se encontram abaixo da
linha de pobreza e da de extrema pobreza aumentou tanto em 2015, quanto em
2016. O referido levantamento foi realizado com base no cruzamento de dados da
“Síntese dos Indicadores Sociais” e da Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios (Pnad), ambas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística,
IBGE. Nele, apontou-se que o número de pessoas em situação de pobreza em 2014,
2015 e 2016 foi respectivamente 43,1 milhões, 48,5 milhões e 52,2 milhões. Isso
representa um crescimento de 12,53% em 2015 e de 7,63% em 2016. Já no que tange
às pessoas que estão abaixo da linha de extrema pobreza, os números referentes
aos anos de 2014, 2015 e 2016 são respectivamente 8 milhões, 9,8 milhões e 13,3
milhões, representando um crescimento de 22,50% em 2015 e 35,71% em 2016. Ambos
os números vinham em queda desde 2004 (excetuando-se a elevação de 4% no
indicador de extrema pobreza de 2012 para 2013).
No ano de 2017, por sua vez, de acordo com
os cálculos do diretor do FGV Social, Marcelo Neri, a tendência do indicador
foi novamente revertida. Em entrevista ao Valor Econômico, o diretor aponta
queda no número de pessoas que estão abaixo da linha de pobreza, mas não
especifica exatamente a magnitude dessa queda. De toda forma, o cálculo do
referido diretor não pode ser comparado ao levantamento realizado pelo Ieds,
uma vez que são definidas linhas de pobreza distintas para cada um deles.
Ao passo que o levantamento do Ieds utiliza
as mesmas linhas de corte para pobreza e para pobreza extrema utilizadas pelo
IBGE e pelo Banco Mundial, o diretor da FGV Social define a sua própria. Um exemplo
da diferença que esta definição pode fazer é a discrepância entre os cálculos
do número de pessoas que passaram a integrar a população pobre do Brasil entre
2014 e 2016. Quando a linha de corte é a estabelecida por Neri (uma renda per
capta mensal de R$223,00), de 2014 a 2016 há um aumento de 5,4 milhões no
número de pessoas que estão abaixo da linha de pobreza. Já quando a linha de
corte é a utilizada pelo Ieds, IBGE e Banco Mundial (uma renda per capta mensal
de R$387,07), esse número sobre para 9,1 milhões, ou seja, quase o dobro. O que
pode estar acontecendo, portanto, é que há uma série de pessoas que estão
cruzando a linha estabelecida por Neri, mas permanecendo abaixo da estabelecida
pelas instituições supracitadas.
É interessante acrescentar a essa discussão
que, de acordo com o Ieds, o aumento da pobreza nos anos de 2015 e 2016 foi um
reflexo da deterioração do emprego e da renda. Com base nisso, ao nos voltarmos
para 2017, vemos não só uma taxa de desocupação da população economicamente
ativa praticamente estagnada (era 11,9% em novembro de 2016 e estava em 12,2%
em novembro do presente ano), como também uma deterioração das condições de
emprego, com a “pejotização” já mencionada em outras análises nossas.
Ao que tudo indica, portanto, enquanto leva
a cabo as reformas tão desejadas pela classe empresarial do país, ao mesmo
tempo em que perdoa bilhões em dívidas dos mesmos empresários, o governo Temer
condena cada vez mais brasileiros às condições de pobreza e extrema pobreza.
Diante disso, há apenas duas explicações para a ausência de manifestações
políticas contra o atual governo: ou a população não se importa o suficiente
para se opor à política econômica do governo, ou este último finalmente
conseguiu convencer a classe trabalhadora de que é ela que deve arcar com todos
os custos da crise econômica que afeta o Brasil.
[i] Professor
Substituto do Departamento de Relações Internacionais da UFPB e pesquisador do
Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira.
(www.progeb.blogspot.com).
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