quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

Sobre os Padrões de Vida da População Brasileira


Semana de 18 a 24 de dezembro de 2017

Antonio Carneiro de Almeida Júnior [i]

           
Há, hoje em dia, uma série de indicadores que podem fornecer um retrato das condições em que vive a população de um país. Um desses indicadores que é bastante importante para a análise dos padrões de vida de uma população, por sua vez, é o número de pessoas que se encontra em situação econômica ruim ou precária.  No que tange a esse quesito, é seguro afirmar que a economia brasileira não vai nada bem.
De acordo com levantamento do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade, Ieds, divulgado na segunda-feira passada (18/12) pelo Valor Econômico, o número de pessoas que se encontram abaixo da linha de pobreza e da de extrema pobreza aumentou tanto em 2015, quanto em 2016. O referido levantamento foi realizado com base no cruzamento de dados da “Síntese dos Indicadores Sociais” e da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), ambas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, IBGE. Nele, apontou-se que o número de pessoas em situação de pobreza em 2014, 2015 e 2016 foi respectivamente 43,1 milhões, 48,5 milhões e 52,2 milhões. Isso representa um crescimento de 12,53% em 2015 e de 7,63% em 2016. Já no que tange às pessoas que estão abaixo da linha de extrema pobreza, os números referentes aos anos de 2014, 2015 e 2016 são respectivamente 8 milhões, 9,8 milhões e 13,3 milhões, representando um crescimento de 22,50% em 2015 e 35,71% em 2016. Ambos os números vinham em queda desde 2004 (excetuando-se a elevação de 4% no indicador de extrema pobreza de 2012 para 2013).
No ano de 2017, por sua vez, de acordo com os cálculos do diretor do FGV Social, Marcelo Neri, a tendência do indicador foi novamente revertida. Em entrevista ao Valor Econômico, o diretor aponta queda no número de pessoas que estão abaixo da linha de pobreza, mas não especifica exatamente a magnitude dessa queda. De toda forma, o cálculo do referido diretor não pode ser comparado ao levantamento realizado pelo Ieds, uma vez que são definidas linhas de pobreza distintas para cada um deles.
Ao passo que o levantamento do Ieds utiliza as mesmas linhas de corte para pobreza e para pobreza extrema utilizadas pelo IBGE e pelo Banco Mundial, o diretor da FGV Social define a sua própria. Um exemplo da diferença que esta definição pode fazer é a discrepância entre os cálculos do número de pessoas que passaram a integrar a população pobre do Brasil entre 2014 e 2016. Quando a linha de corte é a estabelecida por Neri (uma renda per capta mensal de R$223,00), de 2014 a 2016 há um aumento de 5,4 milhões no número de pessoas que estão abaixo da linha de pobreza. Já quando a linha de corte é a utilizada pelo Ieds, IBGE e Banco Mundial (uma renda per capta mensal de R$387,07), esse número sobre para 9,1 milhões, ou seja, quase o dobro. O que pode estar acontecendo, portanto, é que há uma série de pessoas que estão cruzando a linha estabelecida por Neri, mas permanecendo abaixo da estabelecida pelas instituições supracitadas.
É interessante acrescentar a essa discussão que, de acordo com o Ieds, o aumento da pobreza nos anos de 2015 e 2016 foi um reflexo da deterioração do emprego e da renda. Com base nisso, ao nos voltarmos para 2017, vemos não só uma taxa de desocupação da população economicamente ativa praticamente estagnada (era 11,9% em novembro de 2016 e estava em 12,2% em novembro do presente ano), como também uma deterioração das condições de emprego, com a “pejotização” já mencionada em outras análises nossas.
Ao que tudo indica, portanto, enquanto leva a cabo as reformas tão desejadas pela classe empresarial do país, ao mesmo tempo em que perdoa bilhões em dívidas dos mesmos empresários, o governo Temer condena cada vez mais brasileiros às condições de pobreza e extrema pobreza. Diante disso, há apenas duas explicações para a ausência de manifestações políticas contra o atual governo: ou a população não se importa o suficiente para se opor à política econômica do governo, ou este último finalmente conseguiu convencer a classe trabalhadora de que é ela que deve arcar com todos os custos da crise econômica que afeta o Brasil.


[i] Professor Substituto do Departamento de Relações Internacionais da UFPB e pesquisador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com).
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