quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

Novos Itens no Bazar do Governo Temer


Semana de 27 de novembro a 03 de dezembro de 2017

Antonio Carneiro de Almeida Júnior [i]

           
Como meio de equilibrar as contas públicas, uma das medidas mais defendidas pelo atual presidente, Michel Temer, é precisamente venda do patrimônio da União no intuito de fazer receita. É como aquele bazar de garagem que o cidadão comum faz, quando enfiou os pés pelas mãos e precisa de um dinheiro extra. Contudo, uma diferença essencial entre ambos é que, no bazar do governo Temer, os itens à disposição não são tralhas que não tem mais serventia, mas sim itens de grande valor desejados por capitalistas nacionais e estrangeiros. Esse bazar, por sua vez, recebeu recentemente um novo item e uma boa promessa: o Fundo Soberano do Brasil, FSB, e as Universidades Públicas.
O FSB, que foi criado com o intuito de servir à realização de investimentos no Brasil e no exterior, podendo também ser usado para a formação de poupança pública, para o combate de crises econômicas e financiamento de ações estratégicas do país no exterior, está com seus dias contados. Entre junho e novembro, o governo já vendeu metade dos recursos do fundo que estavam sob a forma de ações do Banco do Brasil. De acordo com nota divulgada pelo Tesouro Nacional, até maio de 2019, espera-se vender o restante dessas ações e, por fim, extinguir o fundo. Isso reduzirá a participação do governo no BB, que é de 54,4%, para 50,7%.
Já no que diz respeitos às universidades federais, a proposta é transformá-las em Organizações Sociais, OS. Tal medida tornaria possível que elas obtivessem receita privada para sustentar seus gastos. Não é preciso dizer que, uma vez que isso se torne possível, é muito provável que o governo comece a se eximir gradualmente da responsabilidade de financiar tais instituições, embora a educação seja, de acordo com a constituição, um dever do Estado. Como resultado disso, teríamos universidades cujas pesquisas científicas e demais ações estariam totalmente a mercê das vontades do mercado, independente de quais sejam estas.
Seguindo a mesma linha de raciocínio do bazar, que é obter receita emergencial sem se preocupar com os efeitos futuros, continua em marcha o projeto de refinanciamento de dívidas de empresas com a união, o Refis, agora para micro e pequenas empresas. Para obter um sinal de 5% do valor dessas dívidas, o governo se dispôs a abrir mão de um volume de recursos muito maior. De acordo com um relatório do Banco Mundial, a renúncia fiscal total do programa será o equivalente a 1,2% do Produto Interno Bruto, PIB, ou R$80 bilhões, o que corresponde a mais da metade do déficit fiscal previsto para esse ano, que é de R$159 bilhões.
Com todas essas medidas, que privilegiam empresários e especuladores, em detrimento do restante da população, e que reduzem a capacidade do Estado de estimular a economia, tem-se que os ajustes acabam sendo realizados nos investimentos. Em relação a 2016, o dinheiro destinado ao Programa de Aceleração do Crescimento, PAC, caiu 40,9%. Nessa queda, a redução de 61,4% dos recursos destinados ao programa Minha Casa, Minha Vida, que faz parte do PAC, teve uma participação expressiva.
É notório, portanto, que o atual governo não consegue enxergar um palmo a frente do seu nariz. Com medidas imediatistas que negligenciam completamente o que ocorrerá futuramente, faz-se caixa para compensar as benesses que são dadas para empresários e especuladores, enquanto a grande massa da população sofre com a perda de direitos trabalhistas e a ameaça de perda de direitos previdenciários. A informação divulgada na quinta-feira passada, 30/11, pelo IBGE, de que os 1% mais ricos do país, em 2016, ganhavam uma renda média 36 vezes maior do que a dos 50% mais pobres, portanto, não interessa ao governo. Para ele, é necessário melhorar ainda mais a situação desses indivíduos abastados.
Para nós a razão para isso não é nenhum mistério. Por que outro motivo os referidos indivíduos financiariam as campanhas eleitorais?




[i] Professor Substituto do Departamento de Relações Internacionais da UFPB e pesquisador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com).
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