Rosângela Palhano Ramalho
[i]
O Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre
foi divulgado no dia 01 de dezembro pelo IBGE (Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística), e apresentou crescimento de 0,1%. Por setores, os
resultados apurados foram: alta de 0,8% na produção industrial, crescimento de
0,6% nos serviços e recuo de 3% na agropecuária. Sob a ótica da demanda, os
destaques foram para o consumo das famílias, que cresceu 1,2% e expansão de
1,6% da Formação Bruta de Capital Fixo, após 15 trimestres de queda. Mas, a
construção, setor que tem peso de 53% na taxa de investimento apresentou
retração de 4,7%%, no terceiro trimestre.
Os resultados do PIB brasileiro de 1%, 0,2% e 0,1%,
nos três primeiros trimestres do ano, evidenciam três altas consecutivas do
indicador, mas por outro lado, deixa claro que o nosso crescimento econômico se
dá a taxas decrescentes. Tais resultados têm sido comemorados pela equipe
econômica. Apesar da frustração, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles,
minimizou: “O crescimento do PIB entre julho e setembro, de 0,1% contra o
trimestre anterior, pode parecer baixo, mas é forte se analisado por setores. Sem
a agricultura, que caiu por razões sazonais, o crescimento foi de 1,1%.” Muito
conveniente o seu posicionamento. No primeiro trimestre, o ministro não excluiu
da estatística o crescimento de 12,9% da agricultura. Lembre caro leitor, que
foi esta atividade, a principal determinante do 1% do primeiro trimestre. Já o
ministro do Planejamento, Dyogo Oliveira, também pelo Twitter, lamentou: “O PIB
do 3º trimestre só não veio melhor porque as importações registraram forte
crescimento, o que não deixa de ser boa notícia, pois confirma que a economia
doméstica está mais aquecida e é mais um sinal de retomada.”.
Um alento parece ter vindo do crescimento de 0,2% da
produção industrial de outubro, primeiro mês do 4º trimestre, frente a
setembro. Neste período, 15 dos 24 ramos da indústria pesquisados pelo IBGE
elevaram sua produção, com destaque para medicamentos com alta de 20,3% e
bebidas 4,8%, que são setores que não tem grande efeito de arrastamento para
outros ramos industriais. Ao analisar os resultados, Rafael Cagnin, economista
do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), frisou que as
taxas positivas não debelaram o baixo nível de produção. Segundo ele: “A
recuperação existe, mas ímpeto não. Ainda estamos presos no fundo do poço”.
Por sua vez, o Comitê de Política Monetária (Copom)
do Banco Central (BC) reduziu novamente, a taxa básica de juros de 7,5% para 7%
ao ano. Segundo o Copom a decisão foi amparada pelo baixo nível da atividade
econômica, que demanda uma política monetária expansionista. Desde outubro do
ano passado, que o órgão promove quedas da taxa Selic, mas os efeitos esperados
destes recuos ainda não se concretizaram.
O bom senso parece ter passado longe da equipe
econômica “dos sonhos”. A tal retomada gradual, mesmo que com taxas
decrescentes, é motivo de comemoração. E sem qualquer modéstia, a equipe
econômica atribui a ela mesma o “grande feito”.
Vale salientar que o processo econômico é
determinado pelo grau de desenvolvimeto das forças produtivas e pelas relações
estabelecidas entre os indivíduos que se conectam por meio das coisas. A
análise dessas relações permite que os investigadores identifiquem as
regularidades do sistema econômico e as estudem. Uma dessas regularidades é a
crise. Não reconhecer que este evento é uma lei do sistema capitalista e que as
ações de política econômica produzem resultados limitados, parece ser uma
característica de todos os gestores de política econômica. Portanto, não serão
as equipes do Mantega, Levy, Meirelles, ou qualquer outro, que conseguirão
debelar a crise econômica.
Mas, o atual ministro da Fazenda continua a aguardar
que a “grande” recuperação que ele acredita ter produzido, o premie em 2019,
com a Presidência da República. Com sucessivos pibinhos trimestrais e intenção
de voto em 1%, segundo o Datafolha, sugerimos ao ministro que ponha as barbas
de molho.
[i] Professora
do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização
e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com.br)
Contato: rospalhano@yahoo.com.br
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