Nelson Rosas Ribeiro[i]
Enquanto o presidente Temer passeia em Davos
na Suíça, em Porto Alegre corre o julgamento do ex-presidente Lula. Foi este
julgamento que ocupou todas as manchetes da mídia. Para a alegria da classe
empresarial (leia-se burguesia) o esperado aconteceu. O veredicto ensaiado foi
proclamado e, por 3 x 0, o ex-presidente foi condenado a uma pena ainda maior.
A novela não está encerrada, mas tudo caminha para a punição de Lula e com ela
o encerramento da grande missão da lava-jato que poderá ser concluída.
A grande farsa estará completa e a lição
foi dada: todos podem ser corruptos menos os representantes dos trabalhadores.
A conciliação de classes e a pacificação de burgueses e proletários têm mais um
capítulo encerrado. A social democracia é demasiado perigosa para a
conservadora e reacionária burguesia brasileira. A classe trabalhadora que se
prepare para o pau que vai quebrar.
A reação dos empresários e políticos foi
imediata. Publicam os jornais que “surgiu no meio corparativo uma espécie de
euforia”. Muitos falam em antecipar investimentos e conclamam por uma política
“liberal”. Afirmam os empresários: “A condenação unânime nos leva mais perto de
um país com o qual sonhamos”.
Esta euforia materializou-se em números. Os
“mercados” comemoraram e a bolsa subiu. O Ibovespa teve alta de 3,72% e, pela
primeira vez na história, subiu acima de 83 mil pontos. O dólar caiu 2,4% para
R$3,157 e o dólar futuro também caiu mais de 3% chegando a 2,81% no final do
dia.
Além das repercussões econômicas do
julgamento poucas são as notícias. Os sinais da lenta recuperação interna
continuam a ser observados. Lamenta-se a falta de investimentos do governo e do
crédito para as empresas. As grandes empresas são as que mais lamentam embora a
queda nos juros anime a todos. Do lado do consumo, nota-se alguma recuperação
ajudada pela queda da inflação e dos juros, mas estes fatores ainda não foram
suficientes para mudar a percepção de bem estar das famílias, principalmente
das chamadas classes C, D e E. Segundo pesquisas estas famílias consideram sua
situação tão má quanto em 2015 e a queda da inflação ainda não foi sentida sem
falar nos 12,6 milhões de pessoas que permanecem desempregadas.
A nível internacional a cena foi ocupada
pelo 48º Fórum Econômico Mundial, realizado em Davos na Suíça, que reuniu
grandes empresários e dirigentes de muitos países do mundo entre os quais o
presidente Temer, que lá foi para tentar vender o Brasil para os
“investidores”. Apesar do sentimento geral de década perdida, desde a crise de
2008, foi consenso a recuperação da economia mundial. Observou-se, porém, o
temor de que uma nova grande crise está em gestação e que pode ser provocada
por um acidente. Lamentou-se que os “órgãos reguladores dos mercados têm agora
pouca munição para enfrentar uma eventual crise”. Houve muitas declarações de
grandes executivos e acadêmicos. David Rubenstein do grupo Carlyle afirmou
pessimista: “quando as pessoas estão muito felizes e contentes, alguma coisa
ruim acontece”. Kenneth Rogoff, de Harvard, mostrou preocupação com a China
identificando, no país, características de construção de uma crise financeira.
Bill Rhodes, do Citibank, apontou uma séria de sinais semelhantes a 2007 e
criticou o otimismo exagerado do mercado.
Em análises anteriores já alertamos pra o
retorno da fase da crise no ciclo econômico. No mundo já ronda a percepção do
fenômeno embora ninguém consiga explicar as causas. Tudo parece ser obra do
acaso. Vamos esperar para ver.
Enquanto esperamos a economia, esperamos os
novos capítulos da disputa jurídica do caso Lula. As batalhas serão
transferidas para os tribunais superiores, o STJ e o STF. E novos processos
contra o ex-presidente estão a caminho. Um juiz de Minas Gerais, por conta da
“operação Zelotes” mandou apreender o passaporte de Lula que ficou impedido de
participar de um fórum internacional na Etiópia. Ao mesmo tempo processos
contra outros políticos andam a passo de tartaruga ou são arquivados.
As aberrações do poder Judiciário
brasileiro transformam-se em escândalo internacional prejudicando ainda mais a
já desgastada imagem do país.
[i] Professor
Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).