Nelson Rosas Ribeiro[i]
As notícias que chegam do resto do mundo
dão conta de que 2017 foi um ano excepcional, “o mais positivo para os mercados
na história”. Comenta-se que “o crescimento mundial foi surpreendentemente
forte e sincronizado”, com baixa inflação, forte liquidez e políticas
monetárias expansivas. Há quem afirme que as fábricas “trabalham no limite de
suas capacidades” para atender à demanda crescente. Essas afirmações são
apoiadas pelos movimentos das bolsas de valores de todo o mundo que batem
sucessivos recordes de alta.
Há um ambiente de euforia na economia
mundial apesar dos atentados terroristas, das levas de refugiados, das mortes
provocadas pelo Estado Islâmico, talibãs, Boko Haram, etc., da estupidez do
grotesco governo Trump e da ameaça atômica dos mísseis da Coreia do Norte.
Por cá, mais uma vez, apesar da paz
interna, estamos perdendo o bonde da economia que sobe ladeira acima. Para
isto, contamos com a preciosa ajuda da equipe econômica do governo Temer, a
“equipe dos pesadelos”.
Aliás, é difícil se imaginar um governo tão
corrupto e incompetente como o atual. Transcrevo aqui o comentário de um
analista político que bem retrata a situação: “No Brasil um bandido indica
filha bandida que é substituída por bandido molestador de menor apoiada por
presidente bandido”. Diga-se que a posse da ministra objeto da referência foi
suspensa pela Justiça, por enquanto.
A situação é de tal ordem que uma recente
pesquisa feita pela “Ideia Big Data” constatou que a figura do presidente não
tem nenhuma conexão “com qualquer aspecto que poderia ser considerado
positivo”. Ele é considerado “com falta de credibilidade, inseguro, esnobe, sem
carisma, egoísta, cínico, irritante, antiético, manipulador, desonesto,” além
de “fraco, egoísta, corrupto, sujo e tomador de medidas impopulares”. O público
alvo pertence às classes C e D e representa 48% do eleitorado. O diretor da
empresa que fez a pesquisa, Mauricio Moura, declarou: “Não há a menor condição
de alguém apoiado por Temer vencer”. “Não querem Temer nem qualquer aliado
dele”.
Apesar disso, a recuperação da economia
brasileira, embora tardia e lenta, continua a ser vista através de indicadores
de conjuntura. Segundo o economista Gustavo Loyola trata-se de uma “recuperação
cíclica” que poderá ser abortada por fatores políticos como a eleição de alguém
que não tenha “responsabilidade macroeconômica” para manter as reformas e o
equilíbrio fiscal. Na verdade há alguns indicadores que mostram a tal
“recuperação cíclica”, embora propositalmente exagerados.
A Federação Nacional da Distribuição de
Veículos (Fenabrave) está otimista com as possibilidades das vendas em 2018. Em
2017, eles apontam que elas cresceram 9,23%. O presidente Alarico Assunção
Junior está exultante com esse número que ele considera “recuperação fenomenal
extraordinária” embora muito distante dos patamares de 2012 e 2013. Os
executivos em geral mostram-se otimistas. 47% deles confiam no crescimento da
economia e 84% no bom desempenho de suas empresas. Lamentavelmente, o IBGE
divulgou que a produção industrial, entre outubro e novembro, cresceu apenas
0,2%. Desde maio (crescimento de 1,4%) que o crescimento se mantém, mas a taxas
decrescentes.
A queda do desemprego de 13,7% para 12%
também não deixa muito para comemorar, pois os novos empregos criados são
informais, resultado da capacidade do brasileiro de “se virar” para não morrer
de fome.
O que preocupa é que, enquanto a nossa
lenta recuperação se arrasta, analistas internacionais alertam para nuvens que
se formam no horizonte: “há exagero no otimismo, onde há espaço para o desconhecido”.
Dirigentes de grandes bancos afirmam que “tanta exuberância nos mercados e
tanta liquidez por tanto tempo na praça global é uma história que não acabará
bem”.
Considerando-se que estamos em 2018, 10
anos após a crise de 2008, e que desde os anos 70 que o ciclo tem tido
periodicidade de 10 anos, será que estão levando a sério a ideia de que a
economia é cíclica?
Ou será que o “instinto animal” deles lhes
permite farejar acontecimentos que os economistas de determinadas correntes
teóricas não podem admitir?
[i] Professor
Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).
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