Antonio Carneiro de Almeida Júnior [i]
A crise econômica e política pela qual tem
passado o Brasil certamente fez com que os olhos da impressa nacional
especializada no assunto se voltassem para o cenário interno, na intenção de
acompanhar cada desdobramento. Isso porque, por mais que seja natural que
países onde o capitalismo é suficientemente maduro se desenvolvam através de
ciclos de expansão e crise, é certo que a atual fase da economia brasileira é
bastante peculiar. Ao mesmo tempo, contudo, é certo que o ciclo econômico
brasileiro está longe de ser independente do ciclo econômico mundial. Na
realidade, muitas das alterações sofridas pelo primeiro são uma resposta a
transformações do último. Nesse sentido, o PROGEB realizou uma breve análise da
World Economic Outlook Database de outubro de 2017, base de dados acerca das
economias do mundo publicada pelo Fundo Monetário Internacional, FMI, para ter
uma ideia da atual situação do referido ciclo econômico mundial. Tomamos como
referência para o movimento cíclico uma série de economias que estão dentro do
grupo de países desenvolvidos, de acordo com o FMI. São eles: Austrália,
Áustria, Bélgica, Canadá, República Checa, Finlândia, França, Alemanha, Grécia,
Islândia, Irlanda, Itália, Japão, Holanda, Nova Zelândia, Noruega, Portugal,
Espanha, Suécia, Suíça, Reino Unido e Estados Unidos.
Através da análise das taxas de crescimento
real do Produto Interno Bruto, PIB, dos países supracitados, é possível inferir
que boa parte da situação atual do ciclo econômico mundial pode ser explicada
pela resposta dada pelos governos dessas economias às alterações no cenário
econômico provocadas pelo estouro da bolha imobiliária do mercado financeiro
estadunidense, que ocorreu em 2007. Já em 2008, percebem-se expressivas quedas
nas taxas de crescimento do PIB dos países selecionados, com nove destes apresentando
taxas negativas de crescimento e com Japão e Itália apresentando as quedas mais
expressivas: -1,09% e -1,05%, respectivamente. Em 2009, a crise se torna mais
acentuada, e a quase totalidade dos países, excetuando-se Austrália e Nova
Zelândia, tiveram taxas negativas de crescimento, com Finlândia, Islândia,
Alemanha, Itália, Japão e Suécia apresentando as quedas mais expressivas:
-8,27%, -5,56%, -5,48%, -5,42%, -5,19%, respectivamente. Além disso, a
totalidade desses países apresentou queda no PIB per capta no referido ano.
A partir daí, como mencionado em várias
análises de conjuntura produzidas por nós para esse período, as políticas
anticíclica dos governos ao redor do mundo começam a surtir efeito, e essas
economias iniciam a retomada do crescimento econômico a taxas pouco
expressivas. Em 2012, contudo, a capacidade de manutenção dos estímulos de
política econômica começa a se esgotar, dada a crise fiscal enfrentada por uma
série de países europeus. Novas quedas nas taxas de crescimento econômico são
evidenciadas, com atenção especial para as taxas de decrescimento de Grécia,
Espanha e Portugal: -7,3%, -4,03% e -2,93%, respectivamente. Desse ano em
diante, o que se observa são economias estagnadas com algumas apresentando
decrescimento econômico. O processo de recuperação nesses países apenas foi
retomado por volta de 2015. Sobre este processo de recuperação, é importante
chamar a atenção para um crescimento mais ou menos persistente do desemprego ao
longo do período, que arrefece também por volta de 2015. Merecem destaque as
taxas apresentadas por Grécia e Espanha, que ultrapassaram os 20%. Ademais,
chama a atenção, a completa estagnação das taxas de crescimento da renda per
capta da totalidade desses países.
O que se pode concluir dessa rápida análise,
portanto, é que a política econômica anticíclica aplicada pelos ministérios
responsáveis pelas economias dos países ao redor do globo provocou fortes
deformações no ciclo econômico mundial. Não é apenas o Brasil que passa por uma
situação econômica difícil. O capitalismo mundial ainda parece patinar na
tentativa de sair de uma crise que surpreendentemente ocorreu há mais de 10
anos.
[i] Professor
Substituto do Departamento de Relações Internacionais da UFPB e pesquisador do
Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com).
0 comentários:
Postar um comentário