quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

Sobre o Ciclo Econômico Mundial


Semana de 08 a 14 de janeiro de 2018

Antonio Carneiro de Almeida Júnior [i]
           
A crise econômica e política pela qual tem passado o Brasil certamente fez com que os olhos da impressa nacional especializada no assunto se voltassem para o cenário interno, na intenção de acompanhar cada desdobramento. Isso porque, por mais que seja natural que países onde o capitalismo é suficientemente maduro se desenvolvam através de ciclos de expansão e crise, é certo que a atual fase da economia brasileira é bastante peculiar. Ao mesmo tempo, contudo, é certo que o ciclo econômico brasileiro está longe de ser independente do ciclo econômico mundial. Na realidade, muitas das alterações sofridas pelo primeiro são uma resposta a transformações do último. Nesse sentido, o PROGEB realizou uma breve análise da World Economic Outlook Database de outubro de 2017, base de dados acerca das economias do mundo publicada pelo Fundo Monetário Internacional, FMI, para ter uma ideia da atual situação do referido ciclo econômico mundial. Tomamos como referência para o movimento cíclico uma série de economias que estão dentro do grupo de países desenvolvidos, de acordo com o FMI. São eles: Austrália, Áustria, Bélgica, Canadá, República Checa, Finlândia, França, Alemanha, Grécia, Islândia, Irlanda, Itália, Japão, Holanda, Nova Zelândia, Noruega, Portugal, Espanha, Suécia, Suíça, Reino Unido e Estados Unidos.
Através da análise das taxas de crescimento real do Produto Interno Bruto, PIB, dos países supracitados, é possível inferir que boa parte da situação atual do ciclo econômico mundial pode ser explicada pela resposta dada pelos governos dessas economias às alterações no cenário econômico provocadas pelo estouro da bolha imobiliária do mercado financeiro estadunidense, que ocorreu em 2007. Já em 2008, percebem-se expressivas quedas nas taxas de crescimento do PIB dos países selecionados, com nove destes apresentando taxas negativas de crescimento e com Japão e Itália apresentando as quedas mais expressivas: -1,09% e -1,05%, respectivamente. Em 2009, a crise se torna mais acentuada, e a quase totalidade dos países, excetuando-se Austrália e Nova Zelândia, tiveram taxas negativas de crescimento, com Finlândia, Islândia, Alemanha, Itália, Japão e Suécia apresentando as quedas mais expressivas: -8,27%, -5,56%, -5,48%, -5,42%, -5,19%, respectivamente. Além disso, a totalidade desses países apresentou queda no PIB per capta no referido ano.
A partir daí, como mencionado em várias análises de conjuntura produzidas por nós para esse período, as políticas anticíclica dos governos ao redor do mundo começam a surtir efeito, e essas economias iniciam a retomada do crescimento econômico a taxas pouco expressivas. Em 2012, contudo, a capacidade de manutenção dos estímulos de política econômica começa a se esgotar, dada a crise fiscal enfrentada por uma série de países europeus. Novas quedas nas taxas de crescimento econômico são evidenciadas, com atenção especial para as taxas de decrescimento de Grécia, Espanha e Portugal: -7,3%, -4,03% e -2,93%, respectivamente. Desse ano em diante, o que se observa são economias estagnadas com algumas apresentando decrescimento econômico. O processo de recuperação nesses países apenas foi retomado por volta de 2015. Sobre este processo de recuperação, é importante chamar a atenção para um crescimento mais ou menos persistente do desemprego ao longo do período, que arrefece também por volta de 2015. Merecem destaque as taxas apresentadas por Grécia e Espanha, que ultrapassaram os 20%. Ademais, chama a atenção, a completa estagnação das taxas de crescimento da renda per capta da totalidade desses países.
O que se pode concluir dessa rápida análise, portanto, é que a política econômica anticíclica aplicada pelos ministérios responsáveis pelas economias dos países ao redor do globo provocou fortes deformações no ciclo econômico mundial. Não é apenas o Brasil que passa por uma situação econômica difícil. O capitalismo mundial ainda parece patinar na tentativa de sair de uma crise que surpreendentemente ocorreu há mais de 10 anos.


[i] Professor Substituto do Departamento de Relações Internacionais da UFPB e pesquisador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com).
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