quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

Uma nova crise se aproxima?


Semana de 15 a 21 de janeiro de 2018

Rosângela Palhano Ramalho [i]

Raras são as boas notícias advindas do universo político e econômico brasileiro. O nosso presidente continua a nos envergonhar. Em primeiro lugar, por ter tomado tardiamente, a decisão de afastar quatro dos 12 vice-presidentes da Caixa Econômica Federal. O pedido de afastamento tinha sido feito em dezembro e só foi atendido pelo governo após os procuradores ameaçarem responsabilizar o presidente na esfera cível, pelas safadezas promovidas por aqueles cidadãos. Há indícios, segundo o Ministério Público Federal do Distrito Federal e o Banco Central, de práticas de corrupção na Caixa. As investigações apuram desvios em fundos de pensão de bancos e de estatais e irregularidades no Fundo de Investimentos do FGTS (FI-FGTS).
A segunda ação do governo que fez despertar a vergonha alheia foi a indicação da deputada Cristiane Brasil (PTB-RJ) para o Ministério do Trabalho. O anúncio foi feito pelo pai da mesma, Roberto Jefferson, ratazana que ressurge dos piores esgotos da política, um dos condenados no escândalo do “Mensalão”. O único critério governamental que justifica a escolha é a garantia dos votos do PTB para a reforma da Previdência. Felizmente, um processo movido por um grupo de advogados trabalhistas, impediu a posse, após a ampla divulgação de que a digníssima deputada foi condenada pela Justiça do Trabalho a pagar 74 mil reais a dois ex-motoristas referentes a horas-extras, férias, 13º salário, FGTS e verbas rescisórias não pagas, além de multa. Sob o argumento de que a decisão de nomear e dar posse a ministros de Estado é privativa do presidente da República, o governo continua a travar uma luta judicial para viabilizar a posse da indicada.
Para fechar com chave de ouro, o presidente Michel Temer se prepara para convencer o povo de que a Reforma da Previdência é o único caminho para salvar o país. Para isso, conversou com o pastor José Wellington, presidente da Igreja Evangélica Assembleia de Deus em São Paulo e recebeu no Planalto Valdemiro Santiago, fundador da Igreja Mundial do Poder de Deus. Por fim, vai participar do programa de Amaury Jr na TV Bandeirantes, do programa de Sílvio Santos no SBT e cogita participar do programa do apresentador Ratinho também no SBT. Todo o seu discurso está baseado na reles ideia de que a reforma não prejudicará os mais pobres, apenas atacará “privilégios”.
Quando nos voltamos à esfera econômica, uma notícia se destaca. Em novembro, o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) apresentou alta de 0,49%. É o terceiro mês consecutivo de crescimento, segundo o indicador do Banco Central, que mostrou um crescimento de 0,40%, em setembro, e 0,37%, em outubro. A produção industrial teve alta de 0,2%, o varejo restrito e ampliado cresceram de 0,7% e 2,5% respectivamente. Nos serviços, o crescimento foi de 1%.
Enquanto o governo brasileiro festeja os resultados econômicos internos e os vende no Fórum Econômico Mundial de Davos, que se inicia em 23 de janeiro, na Suíça, o mercado financeiro mundial fareja a possibilidade de uma nova crise. Especialistas do setor participarão de sessões nesse Fórum intituladas: “Nova Crise Financeira?” e “Poderia 2018 ser o ano de nova crise financeira?”.
De fato, uma nova crise pode ser realidade em 2018. E a teoria econômica dos ciclos econômicos fornece a base de explicação para o período de ocorrência e suas causas. Mas, a Teoria Econômica oficial, que vigora no mundo inteiro, não é capaz de explicá-los. Por isso, os governos fingem que o fenômeno não existe. O mercado financeiro, entretanto, sem saber o porquê, intui que após o oitavo ano seguido de alta, um novo “crash” deverá acontecer.
Portanto, em relação à economia, a euforia de Temer e da sua equipe econômica pode estar com os dias contados. Se uma nova crise mundial ocorrer seremos arrastados inevitavelmente por ela, como o fomos quando da “marolinha” de 2008.
O governo trate de rezar para que isso não ocorra antes das eleições.


[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com.br) Contato: rospalhano@yahoo.com.br
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