Rosângela Palhano Ramalho
[i]
Mais um ano se foi. Temos mais motivos para esquecer
do que para comemorar. E, assim, como dissemos no final de 2016, possivelmente
o ano que se inicia não será venturoso. Os problemas econômicos do ano que
findou resumiram-se aos mesmos. A tal recuperação econômica e o desenvolvimento
sustentado tão prometido, não se concretizaram. Apesar de ter declarado, em
março de 2017, que “a economia deu certo num prazo recorde”, o presidente Temer
viu sua constatação degringolar ladeira abaixo com o PIB fechando o terceiro
trimestre em trajetória decrescente.
Na última semana do ano, os únicos bons resultados
resumiram-se ao aumento das vendas de fim de ano no varejo. A Associação de
Lojistas de Shoppings (Alshop) divulgou aumento de 6% nas vendas. O Serviço de
Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e a Confederação Nacional dos Dirigentes
Lojistas (CNDL) registraram alta de 4,72% em dezembro. Segundo a Serasa
Experian, as vendas se elevaram em 5,6%. E a Confederação Nacional do Comércio
de Bens, Serviços e Turismo (CNC), estima que 30% dos trabalhadores temporários
para a época das festas de fim de ano, serão contratados pelo comércio.
Na indústria, os principais setores ainda não
apresentam indícios fortes o suficiente para uma recuperação econômica. O setor
de máquinas decresceu 3% em 2017 e como projeção, espera expansão entre 5% e 8%
em 2018. Mas, José Velloso Dias Cardoso, presidente da Associação Brasileira da
Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), afirma que a retomada dos
investimentos estará condicionada às reformas previdenciária e tributária, manutenção
de taxa de juro real baixa e a retomada da oferta de crédito.
Um balde de água fria caiu sobre os defensores da
famigerada Reforma Trabalhista. Ele veio do mercado de trabalho. Em novembro,
primeiro mês de vigência da reforma (aquela que provocaria o milagre da
multiplicação de empregos), foram encerradas 12.292 vagas. Segundo o Cadastro
Geral de Empregados e Desempregados (Caged), o número interrompeu uma sequência
de sete altas seguidas. Por categoria, apenas o “bendito” trabalho intermitente
criou empregos no total de 3.067 vagas. E por setor de atividade, só o comércio
registrou saldo positivo de 68.602 vagas. A indústria fechou 29.006 vagas, os
serviços, 2.972 e agricultura, 21.761 vagas. Mas, segundo o ministro do
Trabalho, Ronaldo Nogueira, o fechamento de vagas não significa interrupção do
processo de crescimento econômico, mas vamos encerrar 2017 com um total de zero
posto formal criado.
Que grande sucesso do governo Temer! E, batendo o
prego do caixão, Mário Magalhães, coordenador-geral de Cadastro, Identificação
Profissional e Estudos do Ministério do Trabalho, afirmou que a chance de se
ter um número levemente negativo ao final do ano é maior do que de um resultado
final positivo. Mas Nogueira antes de deixar o cargo deixou a promessa de que “no
fim de 2018, estaremos comemorando mais de dois milhões de empregos”. Vamos
ficar de olho.
Para 2018, a maioria dos analistas está prevendo uma
expansão para o PIB entre 2,5% e 3%, liderada principalmente pelo consumo e
investimento. Muito mais otimista está o ministro da Fazenda, Henrique
Meirelles, que projeta crescimento de 4% para 2018. Somos bastante céticos em
relação às projeções do ministro, pois desculpas já foram dadas para o fracasso
das suas projeções para 2017 ao estimar crescimento de 1% para o PIB. Segundo
ele, a “... média de crescimento do PIB em 2017 é de 0,5% porque caiu muito em
2016, mas o PIB marginal é bem maior”. Uma explicação que explica nada. Ainda
há uma projeção do ministro a verificar: a de que o crescimento do PIB no quarto
trimestre de 2017 será 2,7% quando comparado ao mesmo período de 2016.
Em meio às desculpas e diante dos cinzentos cenários
que se desenham, não custa nada desejar: Feliz 2018!
[i] Professora
do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização
e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com.br)
Contato: rospalhano@yahoo.com.br
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