Semana de 26 de novembro a 02 de dezembro de 2018
Lucas Milanez de Lima
Almeida [i]
Na última sexta-feira, dia 30 de novembro, o
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou o resultado do
PIB brasileiro no terceiro trimestre de 2018: crescimento de 0,8% em relação ao
2º trimestre de 2018; 1,3% comparando-se com o 3º trimestre de 2017; e 1,4% no
acumulado dos últimos 4 trimestres (entre outubro de 2017 e setembro de 2018).
Apesar de não surpreender os analistas, nem o
próprio governo, que já esperavam uma expansão desta magnitude, seria
surpreendente o papel exercido pelos investimentos: cresceram 6,6%, na
comparação com o trimestre anterior, e 7,8% em relação ao mesmo trimestre de
2017. Este valor foi o resultado mais expressivo desde o 4º trimestre de 2009.
Será, então, que a economia brasileira voltou aos tempos áureos?
A justificativa para a forte elevação na chamada
Formação Bruta de Capital Fixo se deu por mera formalidade: só agora foram
contabilizados, nas estatísticas oficiais, alguns investimentos em plataformas
de petróleo realizados em anos anteriores. Diante disto, os dados foram
“inflados” por essa questão contábil. O mesmo pode-se dizer acerca da balança
comercial brasileira: os dados foram inflados por causa da contabilização das
plataformas no fluxo comercial. De acordo com o IBGE, sem esta simples questão
formal de registro de transações passadas, o crescimento do investimento, entre
os 3º trimestres de 2018 e 2017, seria de 2,7%. Isto significa que não foram
produzidas tantas máquinas e equipamentos a mais. Assim, podemos responder à
questão final do parágrafo anterior: não, a economia brasileira não está
“quente”, no máximo febril (e olhe lá) ...
Olhando a despesa nacional, vemos que o principal
motor da economia em 2018 está sendo o consumo das famílias, No acumulado de 4
trimestres, encerrados em setembro, 64,1% do PIB brasileiro destinou-se ao
consumo das famílias; seguido do consumo do governo, que absorveu 19,1% do PIB;
e investimentos, que corresponderam a um total de 16,4% do PIB. O saldo
comercial líquido (exportações menos as importações) representaram 0,3%. Isto
demonstra que a economia nacional ainda está longe de apresentar um crescimento
forte, tendo em vista que o consumo das famílias, apesar de importante, não é o
elemento mais dinâmico e fomentador do crescimento. Este papel deve ser dos
investimentos. Só para termos uma base de comparação, ao longo de 2013, quando
a atividade econômica brasileira se expandiu em “apenas” 3,0%, a Formação Bruta
de Capital Fixo consumiu um total de 20,9% do PIB.
Do lado da produção, quase todos os setores
apresentaram expansão na comparação entre o 2º e o 3º trimestre de 2018. A
agropecuária cresceu 0,7%, a indústria 0,4% e os serviços 0,5%. Vimos que, nos
últimos 4 trimestres (entre outubro de 2017 e setembro de 2018), o PIB
brasileiro cresceu 1,4%. As atividades que mais contribuíram para isto foram
comércio (0,4%), indústria de transformação (0,3%) e atividades imobiliárias
(0,2%). A única que se contraiu foi a construção civil (-0,1%). Já a indústria
extrativa, os serviços industriais de utilidade pública (água, esgoto, energia,
etc.), os serviços de informação e os serviços de intermediação financeira em
nada contribuíram para aquele crescimento.
Estes dados mostram que a atual situação do país,
apesar da melhora, não é de expansão generalizada do consumo e da produção.
Significa, na verdade, que estamos caminhando em passos curtos na recuperação
da crise vivida entre 2014 e 2016. Segundo o próprio IBGE, só agora a economia
nacional atingiu um patamar de produção igual àquele vivido em 2011, mas ainda
longe do pico registrado no começo de 2014. Para piorar, cresce cada vez mais o
número de analistas internacionais e nacionais que preveem uma nova crise em
escala mundial para os próximos anos. Isto seria desastroso para nossa
recuperação, que, como mostram os dados, ainda não engatou nem a segunda
marcha.
A situação do próximo governo será desafiadora. A
economia nacional andando devagar, a promessa de medidas liberalizantes e de
austeridade, e um contexto internacional de crise.
Preparemo-nos, pois tempo difíceis virão.
[i] Professor
do Departamento de Economia da UFPB e coordenador do PROGEB – Projeto
Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com;
lucasmilanez@hotmail.com)
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