Semana de 24 a 30 de dezembro de 2018
Rosângela Palhano Ramalho
[i]
Nesta última semana do ano disponibilizamos a
derradeira análise de conjuntura de 2018 agradecendo àqueles que nos acompanharam
semanalmente. Nos despedimos do ano que finda desejando o melhor para o ano
vindouro. Mas como temos consciência de que os nossos desejos nem sempre se
tornam realidade, vamos aos fatos.
Embora a maioria dos prognósticos econômicos para
2019 sejam positivos, com média de crescimento para o PIB de 3%, os últimos
dados da conjuntura não permitem afirmar que este número será real. A
Associação Brasileira de Lojistas de Shopping (Alshop) apurou que as vendas dos
lojistas em shopping centers cresceram nominalmente 5,5% neste Natal em relação
ao mesmo período do ano passado. A alta foi menor 0,5 ponto percentual que a
apresentada em 2017. Se a inflação do período for considerada, a queda é mais
clara: o crescimento real nas vendas das lojas de shoppings fechou em 1,8%
quando a elevação de 2017 foi de 3%.
Quanto ao emprego, os últimos números da Pesquisa
Nacional por Amostra de Domicílios Contínua do IBGE (Pnad contínua) mostram que
a taxa de desocupação fechou em 11,6% no trimestre móvel encerrado em novembro
de 2018. Houve queda de 0,5 ponto percentual em relação ao trimestre de junho a
agosto de 2018 e, em relação ao mesmo trimestre móvel de 2017, a queda foi de
0,4 ponto percentual. O número de trabalhadores desalentados, que ainda é muito
alto (4,7 milhões), ficou estável em relação ao trimestre junho a agosto de
2018 e subiu 9,9% em relação ao mesmo trimestre de 2017. O número de empregados
no setor privado com carteira assinada foi de 33 milhões mantendo-se estável.
11,7 milhões é o total de empregados sem carteira assinada e 23,8 milhões
representa o total de trabalhadores por conta própria, ambos apresentando o
maior contingente da série histórica. É uma tragédia. A resiliência do mercado
de trabalho brasileiro mostra que o problema não reside apenas nas questões
políticas. A saída de Dilma e dos “petistas” do poder, o desmonte de algumas
políticas econômicas e a aprovação da reforma trabalhista não salvaram o Brasil
do desemprego, nem produziram grandes prodígios econômicos.
Portanto, o que esperar em 2019? Indicadores
econômicos já apresentados em análises anteriores mostram que o milagre
esperado, com a ascensão de um novo presidente da República ao Planalto, não
irá acontecer. A análise pragmática da realidade nos apresenta uma economia com
alta capacidade ociosa, níveis baixíssimos de investimento público, baixa taxa
de juros, baixa inflação e alto desemprego. São enormes os desafios da próxima
gestão mesmo sem considerar as ameaças externas.
Os prognósticos ficam ainda piores se olharmos para
os diferentes interesses dos grupos que formatam o governo Bolsonaro: além da
prole do presidente temos os liberais, militares, evangélicos e ruralistas.
Desengessar, desmontar, reduzir o tamanho do Estado, desregulamentar, são as
palavras de ordem dos integrantes do novo governo.
O discurso soa fácil. E daí, se o Estado perder a
sua função social? E daí, se o mercado de trabalho estiver cada vez mais
próximo da informalidade? E daí, se o sistema S for liquidado? Quem liga para o
Mercosul? E daí, se os trabalhadores sem-terra forem tratados como terroristas?
E daí, se fecharmos o supremo apenas com um soldado e um cabo? E daí, se a
posse de arma de fogo for liberada ao cidadão comum? E daí, se as relações com
Israel forem estreitadas e desagradarem alguns “árabes”? E daí, se eliminarmos
os “vermelhos”?
O que mais assusta é o desinteresse em relação às
consequências destes atos, caso se concretizem. Parece que se ignora que elas
recairão sobre uma sociedade formada por pessoas, seres humanos.
Neste cenário tudo leva a crer que o tal mito,
figura alegórica criada por alguns e encampada por seguidores em redes sociais
(que representam apenas 3,92% da população brasileira), terá que descer do seu
pedestal artificial e reduzir-se a sua verdadeira pequenez sabendo que governará
para 209,2 milhões de brasileiros.
Será 2019 o ano do mito ou do mico?
[i] Professora
do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização
e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com.br)
Contato: rospalhano@yahoo.com.br