Semana de 10 a 16 de dezembro de 2018
Nelson Rosas Ribeiro[i]
O panorama externo continua sombrio. Nos
EUA, empresas como a Pimco, que administra US$1,72 trilhão em recursos, avisou
seus clientes que a probabilidade de recessão no país subiu para 30%, nos
próximos 12 meses. Na União Europeia (UE), o Banco Central Europeu (BCE) vê a
desaceleração na zona do euro e estima em 1,9% a taxa de crescimento do Produto
Interno Bruto (PIB) em 2018, preocupado com a situação da Itália, Alemanha e
França. Decidiu manter suas taxas de juros incluindo as taxas negativas de 0,4%
para os depósitos bancários. Demonstrou preocupação com a situação de 19
países. Mario Draghi, seu presidente, lastima que precisará de mais tempo para
reduzir os estímulos que o banco vinha praticando, afirmando que os riscos
aumentaram por causa da onda protecionista, das turbulências geopolíticas e da
vulnerabilidade dos mercados emergentes. No terceiro trimestre a taxa de
crescimento caiu para 0,2%.
A relação EUA x China subiu de tenção com a
prisão, no Canadá, a pedido dos americanos, de Meng Wanzhou, diretora da
Huawei, gigante chinesa da informática.
Depois das declarações do presidente da
França Emmanuel Macron de que não negociará com países que não respeitam o
acordo do clima de Paris, foi a vez de Ângela Merkel, premier da Alemanha,
fazer declaração no mesmo sentido. São mais dificuldades para o acordo de livre
comércio Mercosul e União Europeia.
Estas são novidades que apontam para o
agravamento do ambiente externo.
Internamente continua a “tragédia lenta e
errática da recuperação da atividade econômica” segundo as palavras da MCM
Consultores Associados.
De fato, o IBC-Br, indicador antecedente do
PIB calculado pelo Banco Central (BC), apontou para um crescimento de apenas
0,02% da economia, em outubro. Outro indicador negativo veio da Pesquisa Mensal
do Comércio (PMC) feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE). Em outubro, as vendas do varejo restrito caíram 0,4% e as do varejo
ampliado (que inclui veículos e materiais de construção) caíram 0,2%. As quedas
foram generalizadas: tecidos, vestuários e calçados (-2%), móveis e
eletrodomésticos (-2,5%), equipamentos e materiais de escritório (-0,8%). A
principal causa apontada foi o desemprego.
Tudo indica que os resultados para o quarto
trimestre serão mornos.
O IBGE divulgou ainda uma série de
indicadores que mostram a gravidade dos problemas sociais que afetam a
desigualdade de renda, a educação, a habitação e o mercado de trabalho. Em 2017
o número de pobres aumentou 1,97 milhão, ou seja, 3,7%, passando a 52,8 milhões
de pessoas, 26,5% da população. A extrema pobreza também cresceu 12,5%,
passando a 15,2 milhões e representando 7,4% da população do país. A taxa de
desemprego subiu de 6,9%, em 2014, para 12,5%, em 2017 e o trabalho informal
neste ano alcançou 37,3 milhões de pessoas, ou seja, 40,8% da população
ocupada.
A fragilidade da situação econômica levou o
Comitê de Política Monetária (Copom), órgão do BC, a manter a Selic em 6,5%,
considerando também que os núcleos da inflação estão sob controle e em nível
“confortável”, substituindo a palavra “apropriado”. No entanto também alertou
para o cenário externo, com as incertezas do comércio global e o aumento da
aversão ao risco.
Neste ambiente, uma ampla maioria da
população (64%) tem expectativas positivas sobre o novo governo, segundo
pesquisa do IBOPE/CNI e 74% acham que ele está no caminho certo.
Parece que os escândalos envolvendo a
família Bolsonaro e os processos pendentes sobre vários de seus ministros (além
da quase debilidade mental demonstrada por alguns deles) e nem mesmo as falas
do presidente eleito defendendo praticamente a extinção da legislação
trabalhista, abalaram a fé das multidões.
Nem a fé do novo “time dos sonhos” agora
formada pelos Chicago’s oldies (velhos de Chicago) como se auto intitula a
equipe do ministro Guedes.
[i] Professor
Emérito da UFPB e Vice-Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).
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