quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

Expectativas para o novo ano e governo


Semana de 10 a 16 de dezembro de 2018

Nelson Rosas Ribeiro[i]
           
O panorama externo continua sombrio. Nos EUA, empresas como a Pimco, que administra US$1,72 trilhão em recursos, avisou seus clientes que a probabilidade de recessão no país subiu para 30%, nos próximos 12 meses. Na União Europeia (UE), o Banco Central Europeu (BCE) vê a desaceleração na zona do euro e estima em 1,9% a taxa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2018, preocupado com a situação da Itália, Alemanha e França. Decidiu manter suas taxas de juros incluindo as taxas negativas de 0,4% para os depósitos bancários. Demonstrou preocupação com a situação de 19 países. Mario Draghi, seu presidente, lastima que precisará de mais tempo para reduzir os estímulos que o banco vinha praticando, afirmando que os riscos aumentaram por causa da onda protecionista, das turbulências geopolíticas e da vulnerabilidade dos mercados emergentes. No terceiro trimestre a taxa de crescimento caiu para 0,2%.
A relação EUA x China subiu de tenção com a prisão, no Canadá, a pedido dos americanos, de Meng Wanzhou, diretora da Huawei, gigante chinesa da informática.
Depois das declarações do presidente da França Emmanuel Macron de que não negociará com países que não respeitam o acordo do clima de Paris, foi a vez de Ângela Merkel, premier da Alemanha, fazer declaração no mesmo sentido. São mais dificuldades para o acordo de livre comércio Mercosul e União Europeia.
Estas são novidades que apontam para o agravamento do ambiente externo.
Internamente continua a “tragédia lenta e errática da recuperação da atividade econômica” segundo as palavras da MCM Consultores Associados.
De fato, o IBC-Br, indicador antecedente do PIB calculado pelo Banco Central (BC), apontou para um crescimento de apenas 0,02% da economia, em outubro. Outro indicador negativo veio da Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em outubro, as vendas do varejo restrito caíram 0,4% e as do varejo ampliado (que inclui veículos e materiais de construção) caíram 0,2%. As quedas foram generalizadas: tecidos, vestuários e calçados (-2%), móveis e eletrodomésticos (-2,5%), equipamentos e materiais de escritório (-0,8%). A principal causa apontada foi o desemprego.
Tudo indica que os resultados para o quarto trimestre serão mornos.
O IBGE divulgou ainda uma série de indicadores que mostram a gravidade dos problemas sociais que afetam a desigualdade de renda, a educação, a habitação e o mercado de trabalho. Em 2017 o número de pobres aumentou 1,97 milhão, ou seja, 3,7%, passando a 52,8 milhões de pessoas, 26,5% da população. A extrema pobreza também cresceu 12,5%, passando a 15,2 milhões e representando 7,4% da população do país. A taxa de desemprego subiu de 6,9%, em 2014, para 12,5%, em 2017 e o trabalho informal neste ano alcançou 37,3 milhões de pessoas, ou seja, 40,8% da população ocupada.
A fragilidade da situação econômica levou o Comitê de Política Monetária (Copom), órgão do BC, a manter a Selic em 6,5%, considerando também que os núcleos da inflação estão sob controle e em nível “confortável”, substituindo a palavra “apropriado”. No entanto também alertou para o cenário externo, com as incertezas do comércio global e o aumento da aversão ao risco.
Neste ambiente, uma ampla maioria da população (64%) tem expectativas positivas sobre o novo governo, segundo pesquisa do IBOPE/CNI e 74% acham que ele está no caminho certo.
Parece que os escândalos envolvendo a família Bolsonaro e os processos pendentes sobre vários de seus ministros (além da quase debilidade mental demonstrada por alguns deles) e nem mesmo as falas do presidente eleito defendendo praticamente a extinção da legislação trabalhista, abalaram a fé das multidões.
Nem a fé do novo “time dos sonhos” agora formada pelos Chicago’s oldies (velhos de Chicago) como se auto intitula a equipe do ministro Guedes.

[i] Professor Emérito da UFPB e Vice-Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).

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