Semana de 17 a 23 de dezembro de 2018
Lucas Milanez de Lima
Almeida [i]
Prezado leitor, apesar da presente coluna tratar de
análise de conjuntura econômica, não podemos deixar de lado o entendimento das
alianças realizadas em torno daqueles que irão exercer o poder político nos
próximos quatro anos. Dentre outras coisas, o resultado dos acordos realizados
entre as classes sociais (e suas frações) será o grande fio condutor das ações
governamentais daqui por diante.
A primeira coisa a destacar, e mais flagrante, é que
os grupos de maior poder econômico são aqueles com maior potencial de impor
suas pautas e interesses. Por isso, existem frações da sociedade que tendem a
ser mais beneficiadas nas políticas públicas. No Brasil, desde a década de
1990, a elite financeira tem seus interesses atendidos pelos sucessivos
governos. Atualmente, uma forma prática de vermos isto é através dos resultados
dos balanços anuais dos bancos, que, ano após ano, apresentam lucros cada vez
maiores. No governo que se forma, para o período 2019-2022, o superministro
Paulo Guedes e sua equipe devem garantir a manutenção e, sem dúvida, reforçar
esta situação de dominação.
Uma das grandes bandeiras levantadas pelo setor
financeiro é a liberalização e desregulamentação dos mercados: quanto mais
“livre” for a mobilidade de dinheiro (entrando e saindo nas diferentes áreas),
mais fácil se pode ampliar a rentabilidade das aplicações. A forma de abertura,
contudo, pode não ser do interesse de toda classe empresarial. Já citamos, em
colunas anteriores, algumas pérolas do futuro superministro. Dentre tantas,
lembramos aquela sobre o Mercosul, quando Guedes, além de reduzir a importância
do bloco, resolveu criticar e ameaçar os acordos vigentes. Caso cumpra as
promessas, suas ações atingirão em cheio grande parte da elite industrial que
tem como principal destino das exportações dos seus produtos os mercados da
região latino-americana.
Engrossando a fileira dos prováveis insatisfeitos
com as medidas favoráveis ao setor financeiro estão os integrantes de alta
patente das forças armadas brasileira. Apesar de um general de quatro estrelas
ser o vice-presidente, ele está na reserva, goza de menor influência sobre os
ativos e, tal como o próprio Bolsonaro, não é unanimidade dentre os oficiais
superiores e generais ativos. O motivo maior para a insatisfação dos milicos é
a perda de soberania nacional resultante do processo de privatização
generalizada defendido pelo super ministro, Paulo Guedes. Já prontos, deixados
de presente por Temer, existem projetos de leilões para 12 aeroportos, 4
terminais portuários e 1.537 km de ferrovias. Além dessas, existem 80 projetos
que podem ser realizados nos próximos anos.
Mas, isto não significa que interesses de outras
frações da elite econômica não sejam atendidos. Por exemplo: a quem interessa a
mudança no processo de demarcação de terras e a estúpida lógica de “integração
do índio ao Brasil”? Isto é uma bandeira de setores da agroindústria, que é pop
mas não é besta. A parcela mais atrasada da elite rural, que se baseia na
agropecuária extensiva, e os empresários do setor extrativo, que buscam
explorar seus recursos naturais, são os que mais se beneficiariam com as mudanças
nas leis que tratam do meio ambiente e dos povos tradicionais.
A ideia de jerico de unir os Ministérios do Meio
Ambiente e da Agricultura logo foi descartada. Não por um lampejo de
consciência, mas porque os grandes exportadores da agroindústria foram
internacionalmente ameaçados de suspensão das compras, caso o Brasil não
apresentasse o mínimo de respeito à natureza e aos povos locais. Coisa parecida
está acontecendo com o Acordo de Paris, que foi novamente criticado por
Bolsonaro e já gerou reação dos chefes de governo da Alemanha e da França, que
ameaçaram não realizar negócios com “países poluidores”.
E olhe que não reservamos espaço para falar da
loucura desvairada dos ministros pitorescos. A partir do que vimos na campanha,
por não dizer muita coisa para além do “mudar isso daí”, o caro leitor acha que
Bolsonaro vai conseguir harmonizar as contradições durante todo seu governo?
Se não há resposta, perguntemos no Posto Ipiranga.
Quem sabe eles nos digam onde está o Queiroz...
[i] Professor
do Departamento de Economia da UFPB e coordenador do PROGEB – Projeto
Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com;
lucasmilanez@hotmail.com)
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