quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

Os “ses” que assombram 2019


Semana de 03 a 09 de dezembro de 2018

Rosângela Palhano Ramalho [i]

Sempre que se aproxima o final do ano, uma enxurrada de projeções para o ano seguinte é lançada. Na maioria das vezes, os prognósticos estão norteados pelas expectativas (daquilo que poderá acontecer) e por vezes, ignoram a realidade objetiva.
A realidade nos mostra que a atividade econômica mensurada trimestralmente, em 2018, não ultrapassou a barreira do 1%. O crescimento brando vem se impondo ao longo do tempo, apesar dos discursos “positivos” do governo. Salvar a economia da crise e das “políticas equivocadas” dos governos anteriores tornou-se a tônica, tanto do atual presidente (vice decorativo), quanto do futuro presidente (a “lisura em pessoa”).
Vai-se além... Não basta livrar-nos de “todos os pecados” cometidos anteriormente. Somos também convidados a disseminar o otimismo! Quem sabe assim, a coisa funciona! Torcer para que o novo governo dê certo virou discurso determinante para a realidade objetiva, embora a escolha dos nomes para os novos ministérios, por exemplo, aumente imensamente a probabilidade de dar errado. Age-se como se os fatos concretos dependessem diretamente dos nossos pensamentos e desejos.
Para o pífio crescimento deste ano, as mais variadas desculpas são dadas, como a “tensão” eleitoral de 2018, a greve dos caminhoneiros, o atraso do ajuste fiscal... Em contrapartida, para 2019, as previsões são de recuperação, semelhantes às realizadas nos anos anteriores e que, por sinal, vieram a se concretizar abaixo do esperado.
O UBS, por exemplo, está muito “confiante”. Avalia que estamos diante de um novo ciclo de expansão, começado em 2016 e que pode durar até 10 anos. O Credit Suisse estima que em 2019, o crescimento da economia brasileira mais do que dobrará: passará de 1,4%, neste ano, para 3%, ano que vem. A melhora do crédito e do mercado de trabalho aliados à possibilidade de realização das reformas pelo novo governo e a ociosidade elevada na economia, são fatores que, segundo a instituição, condicionarão este crescimento.
Já a pesquisa Focus realizada pelo Banco Central, mostrou que o mercado financeiro espera em 2019 um crescimento de 2,53% e, segundo a pesquisa, se a Reforma da Previdência acontecer, esta taxa pode superar os 3%. A projeção do economista Armando Castelar, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV), é de crescimento de 2,5% ou de 3% se houver a aprovação das reformas. Fechando o rol das projeções para 2019, o futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, já adiantou “acreditar” em um crescimento de 3,5%.
Mas, voltemos à realidade. Após o crescimento de apenas 0,8%, no terceiro trimestre, a produção industrial de outubro lançou um balde de água fria sobre a recuperação. Neste mês, segundo dados divulgados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a produção cresceu apenas 0,2%, sobre setembro. Os analistas esperavam alta de 1,2%. Esta leve alta vem seguida de quedas sucessivas registradas em julho (-0,2%), agosto (-0,7%) e setembro (-1,8%).
Como cientistas, devemos sempre nos amparar na análise da realidade. Torcer ou repetir um mantra não mudará os fatos. Portanto, é pouco provável que a nossa recuperação aconteça vigorosamente como preveem os analistas, pois o nível de utilização da capacidade instalada de novembro, segundo a Fundação Getúlio Vargas, foi de 75,2%. Em outubro, era de 76,4%.
Vários “ses” põem em dúvida a tal recuperação econômica. Se o ajuste fiscal for realizado iremos de novo, ao fundo do poço, pois, em nenhum país do mundo, reformas fiscais levaram ao automático crescimento. Nunca é demais lembrar que os mais ansiosos pelas “reformas” são os vampiros do mercado financeiro. Portanto, o paraíso dos especuladores passa pela aprovação de reformas que garantirão o equilíbrio das contas e consequentemente manterão o país com o selo de bom pagador de juros.
Será que se não fizermos a Reforma da Previdência, o mundo acaba? Há controvérsias...
Cadê os prometidos empregos gerados pela Reforma Trabalhista?

[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com.br) Contato: rospalhano@yahoo.com.br

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