Semana de 03 a 09 de dezembro de 2018
Rosângela Palhano Ramalho
[i]
Sempre que se aproxima o final do ano, uma enxurrada
de projeções para o ano seguinte é lançada. Na maioria das vezes, os
prognósticos estão norteados pelas expectativas (daquilo que poderá acontecer)
e por vezes, ignoram a realidade objetiva.
A realidade nos mostra que a atividade econômica
mensurada trimestralmente, em 2018, não ultrapassou a barreira do 1%. O
crescimento brando vem se impondo ao longo do tempo, apesar dos discursos
“positivos” do governo. Salvar a economia da crise e das “políticas
equivocadas” dos governos anteriores tornou-se a tônica, tanto do atual
presidente (vice decorativo), quanto do futuro presidente (a “lisura em
pessoa”).
Vai-se além... Não basta livrar-nos de “todos os
pecados” cometidos anteriormente. Somos também convidados a disseminar o
otimismo! Quem sabe assim, a coisa funciona! Torcer para que o novo governo dê
certo virou discurso determinante para a realidade objetiva, embora a escolha
dos nomes para os novos ministérios, por exemplo, aumente imensamente a probabilidade
de dar errado. Age-se como se os fatos concretos dependessem diretamente dos
nossos pensamentos e desejos.
Para o pífio crescimento deste ano, as mais variadas
desculpas são dadas, como a “tensão” eleitoral de 2018, a greve dos
caminhoneiros, o atraso do ajuste fiscal... Em contrapartida, para 2019, as
previsões são de recuperação, semelhantes às realizadas nos anos anteriores e
que, por sinal, vieram a se concretizar abaixo do esperado.
O UBS, por exemplo, está muito “confiante”. Avalia
que estamos diante de um novo ciclo de expansão, começado em 2016 e que pode
durar até 10 anos. O Credit Suisse estima que em 2019, o crescimento da
economia brasileira mais do que dobrará: passará de 1,4%, neste ano, para 3%,
ano que vem. A melhora do crédito e do mercado de trabalho aliados à
possibilidade de realização das reformas pelo novo governo e a ociosidade
elevada na economia, são fatores que, segundo a instituição, condicionarão este
crescimento.
Já a pesquisa Focus realizada pelo Banco Central,
mostrou que o mercado financeiro espera em 2019 um crescimento de 2,53% e,
segundo a pesquisa, se a Reforma da Previdência acontecer, esta taxa pode
superar os 3%. A projeção do economista Armando Castelar, pesquisador do
Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV), é de
crescimento de 2,5% ou de 3% se houver a aprovação das reformas. Fechando o rol
das projeções para 2019, o futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, já
adiantou “acreditar” em um crescimento de 3,5%.
Mas, voltemos à realidade. Após o crescimento de
apenas 0,8%, no terceiro trimestre, a produção industrial de outubro lançou um
balde de água fria sobre a recuperação. Neste mês, segundo dados divulgados do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a produção cresceu
apenas 0,2%, sobre setembro. Os analistas esperavam alta de 1,2%. Esta leve
alta vem seguida de quedas sucessivas registradas em julho (-0,2%), agosto
(-0,7%) e setembro (-1,8%).
Como cientistas, devemos sempre nos amparar na
análise da realidade. Torcer ou repetir um mantra não mudará os fatos.
Portanto, é pouco provável que a nossa recuperação aconteça vigorosamente como
preveem os analistas, pois o nível de utilização da capacidade instalada de
novembro, segundo a Fundação Getúlio Vargas, foi de 75,2%. Em outubro, era de
76,4%.
Vários “ses” põem em dúvida a tal recuperação
econômica. Se o ajuste fiscal for realizado iremos de novo, ao fundo do poço,
pois, em nenhum país do mundo, reformas fiscais levaram ao automático
crescimento. Nunca é demais lembrar que os mais ansiosos pelas “reformas” são
os vampiros do mercado financeiro. Portanto, o paraíso dos especuladores passa
pela aprovação de reformas que garantirão o equilíbrio das contas e
consequentemente manterão o país com o selo de bom pagador de juros.
Será que se não fizermos a Reforma da Previdência, o
mundo acaba? Há controvérsias...
Cadê os prometidos empregos gerados pela Reforma
Trabalhista?
[i] Professora
do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização
e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com.br)
Contato: rospalhano@yahoo.com.br
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